Mais de 2 mil mortes em 24h e 440 mil vidas perdidas

O Brasil registrou 2.517 mortes em 24 horas e se aproxima da triste marca de 440 mil vidas perdidas por Covid-19. Já são 118 dias com a média morte acima da marca de 1 mil. De março até o dia 10 de maio, foram 55 dias seguidos com essa média acima da marca de 2 mil. No total, já são 439.379 óbitos desde o início da pandemia. A média móvel de mortes nos últimos 7 dias chegou a 1.953 – maior que a da véspera pelo terceiro dia seguido.

O país vem sendo alertado por cientistas sobre o risco de uma terceira onda de infecções. A projeção foi feita pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que mostra que a situação da pandemia no país está sem controle.

O estado de São Paulo é ainda o líder em casos e mortes em todo o país quando considerados os números absolutos. São 3.112.624 e 105.105, respectivamente. O estado registra um aumento na lotação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) na última semana, o que já mostra que o país pode já estar vivendo a terceira onda Covid-19. A ocupação dos leitos saltou de 79% para 85%.

Dados de vacinação

Até agora, o Brasil aplicou quase 60 milhões de doses de vacinas contra a Covid, somando a primeira e a segunda doses, de acordo com novo balanço do consórcio de veículos de imprensa, consolidados às 20h desta terça-feira (18). São 59.609.468 doses aplicadas em todo o país.

Especialistas afirmam que o Brasil  só conseguirá evitar uma terceira onda devastadora,  com a aceleração da vacinação.

Governo Bolsonaro destruiu relações com a China

Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo tentou negar que houvesse criado atritos com a China. Mas admitiu que chegou a  pedir a demissão do embaixador do país no Brasil, Yang Wanming. Ainda no início do ano passado, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) culpar a China pela pandemia, Yang exigiu que o governo brasileiro pedisse desculpas. Ernesto então saiu em defesa do filho do presidente.

Esta é apenas uma das situações que revelam o mal-estar entre Brasil e China, desde o início do governo Bolsonaro.  O país já exportou cerca de 240 milhões de doses de vacinas e os chineses vem firmando várias parcerias para a transferência de tecnologia para a produção de vacina. Na semana passada firmou acordo com o Egito.

De acordo com o pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Marcos Fernandes, o Brasil perde uma “oportunidade histórica” ao deixar de estabelecer uma cooperação mais estreita com a China. Segundo ele, os últimos dois anos foram caracterizados por uma quase destruição das relações diplomáticas entre os dois países.

*Com informações da Rede Brasil Atual

Aumenta o número de jovens que não trabalha e não estuda

De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) 25,5% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora do mercado de trabalho e sem estudar em 2020.

Em 2018 eram  23,6%, em 2019, 24% e no ano passado, passou para mais de 25%.

O aumento no número dos chamados jovens ‘nem-nem’ – nem trabalham nem estudam – é mais um reflexo da crise econômica, agravada pela pandemia do novo coronavírus e pela falta de propostas efetivas do governo para aquecer a economia.

O economista da FGV, Marcelo Neri, aponta no estudo que uma das alternativas para reverter o quadro seria a redução de jornada de trabalho para que os jovens pudessem dedicar mais tempo à formação. Dessa forma, mais vagas poderiam ser criadas para um número maior de pessoas nessa faixa etária.

A iniciativa é válida desde que aliada a outras políticas públicas, como a geração de empregos propriamente dita, analisa a técnica da subseção do Dieese da CUT, Adriana Marcolino. “De nada adiantaria reduzir jornada se não houver uma política de geração de emprego para todos, particularmente para as pessoas chefes de família, reduzindo a pressão para que os jovens procurem uma ocupação remunerada, além da geração de empregos de qualidade para a juventude”, diz Adriana.

A técnica do Dieese afirma ainda que uma redução de jornada não poderia vir acompanhada de uma redução salarial e, no que diz respeito à formação, políticas de inclusão dos jovens também teriam de ser priorizadas. “O melhor seria ter uma política adequada de educação, incentivar o jovem a frequentar a universidade, ou mesmo retomar o Pronatec, com bolsas para que o jovem possa ter  uma remuneração adequada e formação de qualidade”, explica a técnica do Dieese.

Ela reforça ainda que iniciativas como a ideia do ministro Paulo Guedes, de criar um programa que aproveite mão de obra jovem, com renda abaixo do salário mínimo, a pretexto de formação profissional, na verdade é desculpa para passar a carteira verde e amarela e retirar ainda mais direitos dos trabalhadores.

*Com informações da CUT

Justiça garante transporte gratuito para idosos acima de 60 anos

Os idosos acima de 60 anos voltaram a ter gratuidade nos transportes públicos do estado de São Paulo conforme  sentença proferida pela 3ª Vara da Fazenda Pública da Capital que suspendeu os efeitos do decreto estadual nº 65.414/20 que trata da gratuidade.

Para o juiz Luís Manuel Fonseca Pires, o Executivo excedeu as suas atribuições revogando a gratuidade nos transportes públicos. “A competência discricionária deve ser exercida dentro da moldura conferida por lei, ou seja, não pode apresentar objeção ou exceder tal lei”, afirmou.

Pela análise do magistrado, a Lei Estadual nº 15.187/13 garante obrigatoriedade de gratuidade aos idosos maiores de 60 anos nos transportes públicos e não pode ser embargada por um Decreto Estadual, dessa forma, o decreto que proibia o acesso gratuito dos idosos não estava em conformidade com a lei.

Vários sindicatos e organizações, inclusive o nosso Sindicato, entraram com ações exigindo o retorno do transporte gratuito para os idosos acima de 60 anos.

O impacto econômico dessa medida nos cofres do poder público é bem pequeno, no entanto no orçamento do trabalhador, já bastante apertado, é um impacto muito grande.  “Entendemos que essa medida, em plena pandemia do coronavírus, com o bolso das famílias já bastante afetado, é completamente descabida”, defendeu na ocasião o coordenador geral do Sindicato,  Hélio Rodrigues.

Prejuízos

Em meio à crise sanitária, política e econômica que o país enfrenta, os governos do município e do estado de São Paulo agravaram ainda mais a vulnerabilidade de 851 mil idosos na faixa etária de 60 a 65 anos, eliminando um direito adquirido há mais de sete anos.

O Coletivo Direitos da Pessoa Idosa participou de uma Audiência Pública promovida pela Comissão Extraordinária do Idoso na Câmara Municipal, na última terça-feira (11), para apoiar a revogação do veto.

Segundo Maria do Carmo Guido, membro do Coletivo, “cerca de 70% desta população são trabalhadores de baixa renda cujo rendimento contribui com 50% ou mais da receita dos seus domicílios. São trabalhadores autônomos e na informalidade como pedreiros, ambulantes, faxineiros e muitas outros excluídos do trabalho formal, declarou.

Datafolha: Lula lidera pesquisas com 55% dos votos, Bolsonaro tem maior rejeição

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece como líder nas intenções de voto, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha. Na pesquisa divulgada nesta quarta-feira (12), Lula lidera as intenções de voto com 41%, se o primeiro turno da eleição fosse hoje, bem à frente de Bolsonaro, com 23%.

Num eventual segundo turno, Lula teria 55% contra 32% de Bolsonaro. Na pesquisa espontânea – em que o entrevistado aponta em quem votaria sem ser apresentado a algum nome – Lula também lidera, com 21% das intenções, ante 17% do atual presidente.

Bolsonaro só lidera no quesito rejeição: 54% não votariam nele de jeito nenhum.

Moro (sem partido), aparece em terceiro na pesquisa, com 7% das intenções de voto em primeiro turno. Em seguida vêm Ciro Gomes (PDT), com 6%, e Luciano Huck (sem partido), com 4%. O governador de São Paulo, Joao Doria (PSDB), aparece com 3%, e Luiz Henrique Mandetta (DEM) e João Amoêdo (Novo), com 2%.

O Datafolha realizou a pesquisa dois meses depois de o ex-presidente Lula reconquistar na Justiça seus direitos políticos. Lula tornou-se novamente elegível depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o ex-juiz Sergio Moro incompetente e suspeito para sentenciá-lo.

A pesquisa foi realizada com 2.071 pessoas em 146 municípios, com margem de erro de dois pontos percentuais, nos dias 11 e 12 de maio.

 

Guedes quer trabalho precário para jovens

O ministro da economia, Paulo Guedes, quer pagar menos de um salário mínimo para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho, com o argumento de que eles receberão qualificação profissional.

A proposta é pagar um salário de R$ 600 para o jovem trabalhar  em caráter de treinamento por um período determinado de quatro meses, de acordo com Guedes. Metade desse valor seria bancado pelo governo e a outra metade (R$300) pelas empresas que se dispuserem a contratar.

O Jornal Folha de S. Paulo apurou que o governo acena com a possibilidade de o programa se tornar permanente após a crise sanitária. “Não dá para aceitar uma iniciativa oportunista que vai  deteriorar ainda mais o mercado de trabalho” explica o secretário de Relações do Trabalho da CUT, Ari Aloraldo Nascimento

A ideia de Guedes vem na esteira da Medida Provisória que instituiria a Carteira Verde Amarela, programa do governo que propunha flexibilizar direitos, reduzindo custos de patrões a pretexto de estimular contratação de jovens de 18 a 29 anos.

A CUT é totalmente contra o plano de Guedes, que incentiva ainda mais a precarização da mão de obra jovem.

Deputados de direita querem mudar regimento para passar boiada

A Câmara dos Deputados aprovou requerimento de urgência para tramitação do Projeto de Resolução (PRC nº 35/21), que modifica diversas regras de discussão e votação de projetos no Plenário da Casa. A ideia é aprovar tudo com pressa para não dar tempo de debater e mobilizar a sociedade contra propostas que prejudicam os brasileiros.

A proposta, assinada pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB) e outros 14 parlamentares de diferentes partidos de direita, acaba com os limites hoje estabelecidos para a Ordem do Dia, reduz tempos de falas e limita a duração de sessões não deliberativas com o objetivo de possibilitar a análise de proposições em votação.

O deputado Pedro Uczai (PT-SC) já se manifestou, preocupado com a democracia do Parlamento e com a possibilidade que o projeto abre de deputados de direita, contrários aos interesses do povo, passarem a boiada em suas propostas.  “Essa proposta não é para modernizar o Regimento Interno, é para passar o trator, é para implantar o autoritarismo”, denunciou.

“É uma proposta que fere a democracia, limita o debate e é um retrocesso no direito de expressão da minoria”, enfatizou o deputado Bohn Gass (PT-RS).

 *Com informações da CUT

 

Problemas de saúde mental se agravam na pandemia

Diversas pesquisas divulgadas recentemente mostram que os problemas de saúde mental estão se agravando durante a pandemia em decorrência do medo do desemprego e das longas jornadas daqueles que estão à disposição do patrão, seja nas fábricas ou em casa (home office).

Resultados de pesquisas sobre saúde mental

A situação de saúde mental se agrava tanto entre setores gerenciais nos locais de trabalho, e principalmente entre aquelas pessoas de ocupações médias e de chão de fábrica.

O maior problema destacado é o Burnout ( ansiedade, depressão e esgotamento no trabalho). Várias consultorias ligadas à administração de empresas constatam isso, conforme noticiado pelo Valor Econômico no último dia 07/05.

Mulheres sofrem mais

A FDC/Talenses no final de abril de 2021 constatou que mulheres, jovens e profissionais de médio escalão integram a classe de trabalhadores que mais sofreram com as incertezas trazidas pela pandemia.

As mulheres sofrem em dobro em relação aos homens ( 25,1% ante 13,1).  Na pesquisa 64% souberam que colegas pediram demissão por não aguentar as pressões do trabalho no contexto da pandemia.

As jornadas aumentaram, com dupla e tripla jornada, principalmente para as mulheres. Muitos gestores se perderam na organização de tarefas e passaram a acumular mais trabalho e a colocar mais pressão nos subordinados. O trabalho excessivo fez a maioria perder o foco de suas tarefas e a criatividade gerando mais problemas mentais.

Analistas e especialistas tiveram muito prejuízo em sua saúde mental durante a pandemia, segundo a Fundação D. Cabral.

A saúde mental entre os profissionais de Saúde tem se agravado ainda mais, conforme pesquisas da Fundação Getúlio Vargas, Escola de Saúde Pública do CE e Fiocruz, com a OPAS ( Organização Pan-americana de Saúde).

Durante a pandemia 80,2% dos profissionais do SUS tiveram sua saúde mental abalada e principalmente relataram ter medo de se infectar e de infectar os familiares. Nestas pesquisas foi constatado que as mulheres no setor de saúde foram as que mais sofreram, com tristeza, estresse e cansaço devido a exaustão, que leva ao esgotamento físico e mental.

Na pesquisa realizada pela Fetquim/UNB, com 10 casos de infectados na área química e de petróleo,  durante a primeira onda da pandemia entre maio de junho do ano passado, foi constatado também entre químicos e petroleiros o medo, a depressão e a preocupação dos mesmos em infectarem suas famílias. Leia aqui.

Saúde mental  traz prejuízo trilionário para a economia mundial

O prejuízo em decorrência dos problemas mentais entre trabalhadores e a população geral é trilionário no mundo todo. Segundo  a Organização Mundial da Saúde (OMS), este prejuízo é calculado em 1 trilhão de dólares (5 trilhões de reais), com afastamentos, doenças, tratamentos e prejuízos de modo geral.  A própria Previdência Social brasileira afirmou que de 2019 para 2020  houve um crescimento de mais de 25% por afastamentos de transtornos mentais, atingindo principalmente jovens entre 21 e 30 anos. Entre os segurados em geral, que são a metade da força de trabalho brasileira,  houve  516 mil  pedidos  de benefícios para afastamento devido os problemas de saúde mental.

O assessor de  Saúde, Trabalho e Previdência da Fetquim, Remígio Todeschini, lembra que é  fundamental discutir  junto ao governo federal a necessidade de  uma Norma Regulamentadora (NR) que dê proteção aos problemas psicossociais que os trabalhadores sofrem no dia a dia nos locais de trabalho e também no home office. Necessário também, principalmente nas grandes e médias empresas, a um serviço de atenção psicológica a todos os trabalhadores, além  da ampliação desse serviço no  SUS.

 

Artistas lançam manifesto pelo impeachment de Bolsonaro

Eles estão acostumados a levar entretenimento ao Brasil. Nas telas, palcos, museus e até na rua, para rir, chorar, curtir um som ou apenas passar o tempo. Desta vez foi diferente. Vieram para fazer um chamamento de luta contra o desastre que se abateu no país após a eleição de Jair Bolsonaro. A arma é o manifesto Artistas Pelo Impeachment, um abaixo-assinado apresentado à sociedade em uma live realizada na noite desta segunda-feira (10). O documento, lançado por mais de 2,5 mil artistas de todas as áreas da cultura no país, é aberto a todos: basta acessá-lo e preencher alguns poucos campos para atender à convocação.

O DJ Eugênio Lima foi o mestre de cerimônias e comandou a turma. A atriz Georgette Fadel entrou com a missão de ler o manifesto. Logo depois, um minuto de silêncio em homenagem aos mais de 420 mil mortos, vítimas não apenas da pandemia da covid-19, mas também de um governo que tanto fez pouco caso do crise, quanto contribuiu para que ela fosse ainda pior. A necropolítica de Bolsonaro foi lembrada o tempo todo durante as duas horas de apresentação.

Lido o manifesto Artistas Pelo Impeachment e feita a solene homenagem, Renata Carvalho foi a primeira a aparecer. Começou certeira: “Que bom que vamos começar com uma travesti. Estamos aqui por Paulo Gustavo, por todas as mães que perderam seus filhos e filhas”. Além da pandemia, ela lembrou das vítimas de chacinas e dos intermináveis escândalos envolvendo a família Bolsonaro: rachadinhas, Queiroz, cheques para a Michelle Bolsonaro, mulher do presidente, compra de deputados em alusão ao Bolsolão, crimes ambientais, mansão de R$ 6 milhões de Flávio Bolsonaro e por aí foi. “Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson?”. Ela terminou com palavras de ordem: “Ele não, Ele nunca, impeachment já!”

Edgard Scandurra, icônico guitarrista da não menos icônica banda Ira!, lembrou que “há coisa de muitos anos apareceu um homem na televisão falando que a ditadura matou muito pouca gente, deveria ter matado mais. Depois essa pessoa foi extremamente ofensiva com os quilombolas, faz piada com as pessoas que precisam de oxigênio. Ele imita, achando que está sendo engraçado, a pessoa sufocada. Essa mesma pessoa autoriza o desmatamento de maneira indiscriminada, de uma maneira como nunca antes foi feito. Essa pessoa provoca um grande parceiro nosso que é a China, criando teorias de conspiração e uma crise internacional perigosíssima. Essa pessoa é o presidente do Brasil, talvez um dos piores seres humanos aqui deste país. Temos mais de cem pedidos no Congresso pelo impeachment desse senhor, que eu não digo o nome”.

Emoção, riso e tristeza

Talvez a fala mais emocionada tenha vindo do ator, autor e diretor Marcello Airoldi. Lembrou uma experiência própria para passar o recado. “Tem uma sala no museu do holocausto, que quando você entra, já se encontra com milhares e milhares de velas acesas. Por espelhos, vê uma sequência de velas infinitas. E cada uma dessas chamas representa uma criança que foi morta na segunda guerra mundial pelos nazistas. E a medida que você caminha, ouve o nome das mais de um milhão de crianças que foram assassinadas pelo nazismo. Você ouve o nome e vê a luz que cada pessoa representava. Nós precisamos pensar que tipo de memorial nós queremos para o nosso país. Será que a gente consegue se imaginar ouvindo mais de 420 mil nomes?”

Ailton Graça, famoso por interpretar personagens bem-humorados, citou um trecho da obra O Nome da Rosa, de Umberto Eco, para dizer que é preciso enfrentar Bolsonaro com o riso, com a arte, não se render à tristeza que ele tenta impor. “Quando o abade cego pergunta ao investigador William de Baskerville: ‘o que você realmente deseja?’ Baskerville responde: ‘Eu quero o livro grego, aquele que, segundo vocês, nunca foi escrito. Um livro que trata de comédia, que você odeia tanto quanto o riso. É provavelmente a única cópia preservada de um livro de comédia de Aristóteles. Existem muitos livros que tratam de comédia, porque esse livro é precisamente tão perigoso?’ O abade responde: ‘porque é de Aristóteles e vai fazer rir’. Baskerville pergunta: ‘o que é perturbador no fato de os homens poderem rir?’ O abada responde: ‘o riso mata o medo e sem medo não pode haver fé. Quem não teme o diabo, não precisa de Deus’”.

Matheus Nachtergaele, de tantos papéis emblemáticos no cinema e no teatro, começou usando o espaço para “declarar meu amor pelo Brasil, principalmente o Brasil que a gente vinha construindo com bastante alegria há uns vinte e tantos anos”, disse, antes de chamar de “suicida” o voto vencedor das eleições de 2018. “Eu percebo ao meu redor uma grande tristeza e uma grande insatisfação, que acontece muito antes de a pandemia chegar.” A seguir, mostrou otimismo. “Não vamos abandonar o sonho. O Brasil pode ser um lugar que vai ensinar a novidade para o futuro. Ainda pode ser. Mas se esse governo continuar, talvez não consiga mais. A devastação é muito grande”. Ele reforçou que que o manifesto Artistas Pelo Impeachment parte dos artistas, mas é um chamado para todos. “Quando mais assinaturas a gente conseguir, mais a gente vai ser ouvido.”

‘Barrar a nossa própria morte’

A jornalista Eliane Brum deixou um vídeo gravado com uma mensagem forte, encerrada com uma frase que foi lembrada por muitos que a sucederam na live: “Precisamos ser capazes de barrar a nossa própria morte”. A fala dela foi imponente do início ao fim. “Como um povo que se acostumou a morrer e se acostumou a assistir a outros morrerem, será capaz de barrar o seu próprio genocídio? A resposta que daremos é a mais importante da nossa geração”, disse. “Livros e filmes vão contar que um homem, chamado Jair Bolsonaro, executou um plano de disseminação do vírus para promover o que chamam de imunidade de rebanho. Esse extermínio já aconteceu e já matou quase meio milhão de pessoas”, acrescentou. “Se não formos capazes de barrar Bolsonaro, se barrar Bolsonaro não se tornar causa comum, em breve teremos que viver com a cabeça baixa”.

Projeto de continuidade

Já o ator Marco Ricca apareceu na cena dando um salve a todos e todas, e entrou de sola chamando a atenção para “a necessidade de tirar esse processo que está acontecendo. Há um método, sim. Não é coisa de um louquinho. Isso tem um projeto de poder que tá sendo passado diariamente. Temos que acabar com isso, porque está matando gente, matando a esperança do brasileiro, matando o futuro da nossa nação. Venho aqui apenas pedir que a gente consiga fazer as assinaturas necessárias para essa petição para forçar esse Congresso a colocar na pauta o processo de impeachment desse assassino e sua corja. É isso que precisamos. Eles são assassinos e temos que derrubá-lo. A luta é dura, mas ela é boa”.

O método visto por ele também foi notado por Denise Fraga. “Eu tenho me perguntado muito porque a gente tem aguentando tanto. O que está acontecendo com a gente?”, começou. “É tristeza”, respondeu. “É tomar na cabeça todo dia. E tem um projeto de continuidade, de um absurdo por dia. E não é conta-gotas, é pedrada, e vai nos abatendo. Então eu vou usar uma expressão muito boa que o Paulo (Betti) usou. Vamos ousar lutar? Ousar vencer? Mas para isso a gente precisa usar uma coisa que eles têm, que é continuidade”, disse.

Ela seguiu: “Esse homem está cometendo um crime de responsabilidade por dia. Ele é um criminoso desde a campanha, podia ser preso. Na nossa Constituição tem coisas para isso, porque não estão usando? Porque a gente precisa pressionar como população e falar do nosso desgosto. Eu estou sendo desrespeitada todo dia e não posso minguar, ficar em casa chorando. Eu convoco vocês”, acrescentou. “Eu preciso lutar pela minha sanidade. A questão do impeachment é por nós. Estamos afrontados, desrespeitados.”

Frases, convocações, rituais

E muitos outros se manifestaram: Ivan Lins, GOG, Sandra Nanayna, Elisa Lucinda, Malu Gali, Luis Miranda, Maria Bopp, Paulo Betti, Anna Muylaert, o ambientalista Ailton Krenak, Dira Paes. Todos, à sua maneira, foram expressando revolta, cobrando ações do Congresso Nacional e conclamando todos a participarem do manifesto Artistas Pelo Impeachment. “Peço apoio”, “divulguem”, “vamos nos unir”, “hora da raiva”, “hora de revolta”, “estamos numa guerra”, “não podemos nos acostumar com esse números”, “é muito grave o que estamos vivendo no país”, “desgoverno”, e, claro, “Fora Bolsonaro” e diversas palavras de apoio às vítimas da covid-19 no país.

Bolsonaro foi qualificado como “inominável”, “assassino”, “genocida”, “psicopata”, “ofensa pessoal”, “figura asquerosa”, “governo da morte”. O pintor Nuno Ramos resumiu: “Ele é a violência, aquilo que o político devia excluir”.

Avelin Buniacá Kambiwá, vestida com trajes típicos, reforçou a necessidade de a voz indígena ser ouvida. “Estamos sendo alvo desse genocida desde a campanha eleitoral quando ele disse que não ia ter mais um centímetro de terra indígena”. Em um pequeno ritual, com um canto forte, pediu força e coragem aos brasileiros. Preta Ferreira protestou: “Aos ricos, vacina, aos pobres, chacina”. Zeca Baleiro cantou uma canção.

Brincadeira tem hora

Teve também Emicida explicando porque é “completamente e radicalmente contra a gestão genocida de Jair Bolsonaro”. E, por isso, a favor de seu afastamento. “O estado de pesadelo contínuo que o Brasil entrou nos últimos anos faz com que a população implore por alguma humanidade de seus governantes. Esse é o tamanho da tragédia a qual todos nós estamos submersos. Por isso, e por uma série de outros fatores, que não são poucos, eu sou completamente e radicalmente contra a gestão genocida de Jair Bolsonaro. E por isso sou a favor de seu afastamento”.

O show dos artistas foi encerrado, com muito poder, por Lucas Afonso e sua poesia da quebrada matadora Brincadeira tem hora, que ganhou as redes. Para assinar o manifesto basta clicar aqui.

Estadão denuncia esquema de Bolsonaro para comprar parlamentares

O jornal Estadão denunciou a criação de um orçamento secreto com cerca de R$ 3 bilhões em emendas que beneficiam parlamentares do Centrão que defendem Bolsonaro no Congresso.

Entre os que mais conseguiram recursos do esquema está o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), um dos mandachuvas do “Bolsolão”, como o esquema denunciado está sendo chamado nas redes sociais.

Os parlamentares têm direito a indicar, no máximo, R$ 8 milhões, cada um, para bancar suas emendas, anualmente. O valor corresponde à metade da cota total de emendas impositivas individuais que deputados e senadores têm direito a enviar. A outra metade deve ir, obrigatoriamente, para a saúde. Essa regra vale para todos os 513 deputados e 81 senadores.

Com o Bolsolão, só Alcolumbre determinou a aplicação de R$ 277 milhões de verbas públicas do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Alcolumbre enviou R$ 81 milhões à Codevasf, estatal sob seu controle. Os documentos ainda mostram que o senador destinou R$ 10 milhões para obras e compras fora do Amapá. As máquinas seriam destinadas a prefeituras para auxiliar nas obras em estradas nas áreas rurais e vias urbanas e também nos projetos de cooperativas da agricultura familiar no Paraná.

As reportagens do Estadão revelam ainda que ele comprou tratores e equipamentos agrícolas por valores até 259% acima do preço de referência no mercado.

O esquema atropelou pelo menos três itens da Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO):  1) a lei determina que sejam estebelecidos critérios para definição das localidades beneficiadas; 2) sejam apresentados indicadores socioeconômicos ao distribuir os recursos; e, 3) os recursos devem priorizar a continuidade de obras iniciadas.

O jornal denuncia que o esquema turbinou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal loteada pelo Centrão e criada durante a ditadura militar, que tem uma trajetória marcada por corrupção e fisiologismo.

A série de reportagens que denuncia o esquema é do  jornalista Breno Pires.