Construir uma nova hegemonia é desafio para América Latina

O processo político da última década na América Latina deu como resultado governos de um sinal distinto do neoliberalismo. Alguns decididamente opostos, outros com “traços contraditórios”, segundo a expressão empregada por Emir Sader, analista político brasileiro e diretor executivo do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso). Apesar das coincidências que se observam em muitos sentidos, no plano econômico os países da região parecem não terminar de romper o molde que a enquadra nem de afastar de cima de si as sombras de seu passado.

Sobre estes e outros temas, Emir Sader conversou com o Página 12.
O que está faltando aos países da região para integrar-se e avançar de forma mais acelerada rumo a um processo de transformação?

Emir Sader: Um projeto estratégico de futuro, uma compreensão mais clara do que é a América Latina hoje, da natureza de seus regimes econômicos e sociais em função do papel do Estado. E pensar que futuro pode haver para além do neoliberalismo.

Na sua avaliação, em que aspectos se avançou?

Emir Sader: Alguns ladrilhos dessa construção já existem, seja como realidades ou como menções no discurso. O Banco do Sul, a idéia de uma moeda única, o Banco Central único, tudo o que significaria uma política econômica única, são elementos importantes. Mas, ao mesmo tempo, é preciso discutir que modelo de sociedade queremos e isso significa pronunciar-se a favor de uma sociedade desmercantilizada. Discutir que tipo de Estado queremos, propondo um Estado que não esteja dominado pela financeirização. Definir que tipo de cultura, que identidade e diversidade cultural devemos ter. Dizer que tipo de espaço alternativo criamos, por fora da hegemonia unipolar norte-americana.

Leia a entrevista na integra: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15203

A América Latina é um continente solitário na grande imprensa brasileira

Um rápido olhar pelas páginas dos jornais ou pelas manchetes de televisão denunciam uma solidão latino-americana tão forte quanto a retratada por Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão.

A indústria jornalística, principalmente a brasileira – porque o mesmo processo pode ser percebido nas mídias equivalentes dos vizinhos latino-americanos – não tem a América Latina como categoria de seleção de notícias. A indústria jornalística é formada por todos os veículos de comunicação que seguem o padrão industrial de acumulação capitalista: busca pelo lucro, serialização das funções para diminuir o tempo e as inconformidades da produção. Nessa categoria se encaixam jornais como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, revistas como Veja, Isto É e Época e emissoras de TV como Globo, Record e SBT.

Este tipo de imprensa tem o olhar voltado para o eixo Europa-EUA, portanto é mais fácil encontrar uma manchete sobre uma bebida oferecida pelos bares de Nova Iorque do que sobre um movimento cultural nos países andinos. A cobertura palaciana de presidentes e encontros comerciais no velho mundo ganha mais importância do que os conflitos sociais nos campos latino-americanos.
Há diferentes fatores que explicam este cenário de solidão e que podem ser encontrados em dois eixos de análise.

No primeiro eixo está o mundo do jornalismo, que, assim como outras categorias, sofre com a exploração das relações de trabalho. O resultado pode ser visto em coberturas medíocres, feitas com o objetivo de atrair a maior quantidade de público em menos tempo. Além disso, dentro de uma redação, na tentativa de manter o emprego o jornalista adota as mesmas categorias de pensamento de seus patrões.

Em pouco tempo dentro de uma indústria jornalística, o repórter passa a defender os mesmos interesses dos grupos econômicos e políticos proprietários dos veículos de comunicação.

Em outro eixo de análise está a história latino-americana. O continente foi cindido historicamente em duas regiões: a América Latina Oficial e a América Latina Popular. Na América Latina Oficial estão as grandes cidades, a elite branca do litoral e dos centros econômicos. Já a América Latina Popular é a dos rincões, dos sertões, dos pântanos, das montanhas, mestiça, negra, índia, operária e camponesa.

A América Latina Oficial impõe o domínio à Popular, mas é dominada pelos EUA e pela Europa. A indústria jornalística é orgânica da América Latina Oficial, por isso criminaliza e despreza movimentos sociais e todas as manifestações da América Latina Popular.

Da mesma forma que a historiografia oficial tentou apagar da história as tentativas populares de revolução – desde os quilombolas, passando por Canudos até as guerrilhas dos anos 60, a indústria jornalística constrói um mundo baseado apenas nos desejos de consumo dos centros econômicos da burguesia latino-americana, profundamente dependente do capital norte-americano e europeu.

O outro lado da história hoje só é contado pela mídia independente, orgânica da América Latina Popular, ligada aos movimentos sociais camponeses e operários. São veículos como o jornal e revista do MST, as revistas Caros Amigos e Fórum, o jornal Brasil de Fato, as agências na Internet Carta Maior, ALAI e Adital.

A saída para a América Latina Popular sair dessa solidão a que parece condenada é fortalecer ainda mais os meios de comunicação ligados aos movimentos sociais. Deve incentivar uma mídia que não siga a lógica da indústria jornalística e adote outras categorias de seleção de notícias que contemplem a história, as lutas, a cultura e o cotidiano da América Latina Popular.

Alexandre Barbosa, professor universitário (Uninove) e jornalista. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP e especialista em Jornalismo Internacional pela PUC-SP. O texto é um resumo da palestra promovida pela AELAM na Unisantos, em maio de 2006. A análise completa – a dissertação de mestrado que trata deste tema – pode ser encontrada na Biblioteca Virtual de Teses da USP (www.teses.usp.br) com o título “A solidão da América Latina na grande imprensa brasileira”.

Brasil cresce 6% no primeiro semestre de 2008

No primeiro semestre de 2008 o país cresceu 6% comparado ao primeiro semestre de 2007. No segundo trimestre de 2008, o PIB em valores correntes alcançou R$ 716,9 bilhões. Ainda no segundo trimestre de 2008, o PIB cresceu 1,6% em relação ao primeiro do ano. Confira em detalhes o crescimento da economia brasileira:
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1226&id_pagina=1