Mesmo em tempos de crise, a luta pela igualdade entre homens e mulheres continua atual

Os eventos que envolvem o 8 de março deste ano têm como eixo principal à questão da igualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho.

Neste sentido, preparamos alguns dados juntamente com algumas reflexões sobre o nosso ramo e esperamos que este material,  para além do 8 de março, possa servir de estimulo para luta de todo o dia.

Uma das mais importantes transformações sociais ocorridas no Brasil, desde os anos de 1970, foi o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho. Contudo, esta inserção tem-se caracterizado por clara desvantagem em relação aos homens em termos de rendimentos.

Uma das questões que tem chamado a atenção refere-se à situação em que pessoas igualmente produtivas são diferentemente avaliadas com base em atributos não produtivos, neste caso, diz-se que existe discriminação no mercado de trabalho. A discriminação por gênero encontra-se presente em praticamente todas as sociedades, independentemente dos traços culturais e religiosos, e dos sistemas políticos e  econômicos.

As mulheres são discriminadas no mercado de trabalho, apesar de igualmente qualificadas, recebem pagamento inferior no desempenho da mesma função e/ou  recebem salários  menores porque têm acesso apenas às ocupações pior remuneradas.

Apesar da igualdade formal, presente na lei, é no cotidiano que se explicitam práticas discriminatórias que atentam contra o direito a igualdade estabelecido na Constituição Federal.

Portanto, o grande desafio dos movimentos sociais e dos poderes públicos, comprometidos com a igualdade e a justiça social,  é contribuir para que se eliminem as desigualdades entre homens e mulheres e se fortaleça a autonomia feminina nos diferentes espaços da vida cotidiana.

Embora as manifestações discriminatórias e sexistas possam ser identificadas em diferentes espaços da sociedade, mas é no mundo do trabalho que adquirem maior visibilidade.

As oportunidades de acesso ao mercado de trabalho se encontram bastante restringidas a determinados setores e ocupações. De acordo com os últimos dados disponíveis para o Brasil (2007), temos para o total do emprego formal 59% de homens e 41% de mulheres. Do total das mulheres 66,2% estão concentradas na área de serviços e apenas 14% na indústria, enquanto que a participação dos homens é de 25% para indústria.

A indústria brasileira (dados de 2007) é responsável por aproximadamente 20% dos empregos formais existentes, sendo que deste total 72% é composto por homens e 28% por mulheres. Se considerarmos o total dos setores (comércio, serviços, agricultura e indústria) as mulheres respondem por 5,7% do total dos empregos na indústria e 27% na área de serviços.

Portanto, existe um acentuado predomínio feminino em um conjunto de ocupações consistentes com os papéis de gênero tradicionais, especialmente nas áreas de saúde e educação.

Além disso, as possibilidades de inserção das mulheres no trabalho também estão limitadas pela desigualdade de gênero na capacitação técnica, derivada de estereótipos sexistas, resultando com isso em uma grande concentração nas atividades de apoio (serviços).

As mulheres do Ramo Químico

A participação das mulheres no ramo químico corresponde a 25%, percentual bastante próximo da participação das mulheres na indústria (27%).  Esta participação não é linear para todos os segmentos, em alguns como a indústria de produtos cosméticos e farmacêuticos o percentual supera os 40%, em outros segmentos com o setor de celulose e papel cai para menos de 20%. Há nestes dados uma nítida concentração de mulheres em segmentos mais associados ao trabalho feminino.

As mulheres químicas apresentam um perfil bastante jovem, em torno de 45%  estão concentradas nas faixas entre 18 a 29 anos. Acima de 50 anos temos pouco mais de 5% e entre 30 a 50 anos são 50%.

No que diz respeito ao grau de escolaridade, o fato do mercado de trabalho demandar uma escolaridade mais elevada das mulheres não significa uma inserção mais igualitária ou qualitativamente melhor comparativamente aos homens.  Em torno de 15% das mulheres químicas possuem superior completo, enquanto que entre os homens este percentual não chega a 9%. 

Embora os diferenciais de remuneração venham caindo ao longo dos anos, no entanto, a sua permanência segue sendo o destaque. Aproximadamente 71% das mulheres recebem até três salários mínimos, enquanto entre os homens o percentual é de 57%. Para as faixas acima de três salários mínimos temos 42% dos homens e apenas 27% das mulheres. Além disso, os rendimentos médios das trabalhadoras químicas representam 75% dos rendimentos masculinos, este percentual está abaixo da média nacional que é de 82%.

Uma das faces da desigualdade se manifesta quando se analisa o perfil das ocupações. Este universo é muito extenso, por isso foram selecionadas  algumas ocupações próprias de nosso ramo para demonstrar que ainda persistem as diferenciações por sexo, a despeito de um forte discurso não discriminatório.

Ocupando cargos de direção de empresa temos 85% de homens e 15% de mulheres; na condição de gerentes são 77% de homens e 23% de mulheres; entre os profissionais da área de física, química e engenharia, temos 79% de homens e 21% de mulheres; técnicos polivalentes são 70% de homens e 30% de mulheres; técnicos de nível médio nas áreas de física, química e engenharia, 83% de homens e 17% de mulheres; atendimento ao público 24% de homens e 76% de mulheres; trabalhadores em processo contínuo, 82% são homens e 18% mulheres; escriturários, 59% homens e 41% mulheres e trabalhadores dos serviços, 61% de homens e 39% de mulheres.

Esta segmentação explica, em parte, os rendimentos médios  inferiores das mulheres, uma vez que estão nas ocupações menos valorizadas.

Finalmente, uma importante dimensão para a análise das diferenças entre homens e mulheres no cotidiano é questão de como ambos distribuem suas atividades ao longo dos dias, ou  seja, como usam o seu tempo e quanto dedicam ao trabalho doméstico.

Neste sentido, cabe destacar a desproporção entre os sexos na distribuição dos afazeres domésticos. Conforme dados do IBGE, as mulheres gastam em média 27 horas por semana com os afazeres domésticos, enquanto que entre os homens o número de horas gasta não excede 10 horas.

A segregação ou discriminação tem importantes implicações para o descompasso salarial entre homens e mulheres, assim como no acesso a oportunidades de promoção. Dessa forma, compreender as causas e conseqüências da segregação profissional é decisivo para a formulação de políticas voltadas ao mercado de trabalho. As políticas de ação afirmativa, por exemplo, podem ser interpretadas como uma tentativa de reduzir a segregação profissional; e as políticas para igualar os salários podem ser vistas, em parte, como um esforço para reduzir as diferenças de renda que a segregação pode causar.

No entanto, apenas o compartilhamento do trabalho doméstico contribuirá decisivamente para que se construa relações de maior equidade no mundo do trabalho.

Dieese divulga estudo sobre a mulher e o mercado de trabalho

Para marcar a passagem do Dia Internacional da Mulher, o DIEESE e a Fundação Seade realizaram, no último dia 04 de março, a divulgação especial com dois estudos sobre a mulher no mercado de trabalho, na Região Metropolitana de São Paulo.

Um dos estudos mostra a evolução da participação da mulher no mercado de trabalho na comparação entre os anos 2007 e 2008, evidenciando o crescimento desta participação, o aumento de seu nível de ocupação e o comportamento de seus rendimentos.

No segundo, o enfoque é a relação entre a posição da mulher na família, a existência ou não de filhos, e a sua inserção no mercado de trabalho. Neste caso, os dados são para o biênio 2007/2008.

O estudo mostra que a taxa de participação das mulheres (que estão no mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas) voltou a crescer em 2008. Esse aumento ocorreu em todos os grupos de cidade, escolaridade, raça/cor e posição no domicílio (como chefe ou esposa), mas atingiu, particularmente, as mulheres de 50 a 59 anos, as que tinham pelo menos o ensino fundamental completo e as esposas.
Para as mulheres, o nível de ocupação cresceu mais do que para os homens, principalmente nos setores de serviços e de comércio.

Também houve a divulgação de estudos semelhantes nas regiões onde a PED é realizada: Distrito Federal e regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador.

CUT realiza o primeiro debate do mês da mulher trabalhadora

Mais de 30 entidades Cutistas de São Paulo e convidados especiais se reuniram no último dia 2 de março, na sede da entidade, para discutirem os próximos passos na luta pela equidade de gênero e o enfrentamento à violência contra a mulher. 

O tema abordado de maior destaque foi a necessidade de união entre mulheres e homens para combater a desigualdade e ações urgentes pela manutenção do emprego.

“Queremos oferecer conhecimento às companheiras e aos companheiros para que estejam juntos na defesa irrestrita da igualdade salarial e contra a violência” afirmou a Secretária Sobre a Mulher Trabalhadora da CUT-SP, responsável pela organização do evento, Cida Trajano, que abriu o encontro.

Em seguida, Rosane Silva, Secretária Nacional Sobre a Mulher Trabalhadora da CUT, explicou a escolha da cidade de Santana de Livramento, fronteira do Brasil com o Uruguai, como sede do ato que a Central promoverá no Dia Internacional da Mulher. “Faremos uma ação para denunciar a omissão da sociedade diante da violência contra a mulher. Na fronteira, muitos homens brasileiros abusam das mulheres e fogem para outro país, onde a legislação é branda. Queremos que o governo estabeleça um protocolo de extradição para esses casos”, sugeriu.

A dirigente comentou ainda a necessidade da ampliação da licença maternidade e da licença paternidade, pauta aprovada pela CUT em plenária do ano passado. “Se primeiro a mãe e depois o pai pudessem se afastar por um período de seis meses cada para cuidar dos filhos recém nascidos, certamente já daríamos um passo importante na divisão de tarefas dentro e fora do ambiente do mercado de trabalho. Assim, os patrões não poderão mais usar o argumento de que as trabalhadoras ficam um tempo maior fora do serviço e por isso recebem 70% do valor do salário dos homens, mesmo realizando função idêntica”, destacou. 

Veja a cobertura completa do evento na página da CUT

http://www.cutsp.org.br/2009/0120_fevereiro09.html

Carnaval de aumentos em São Paulo

Enquanto a população aproveita o feriado de carnaval, o governo Serra e a atual prefeitura de São Paulo dão mais um presente de grego ao povo paulista ao anunciar reajuste das passagens de ônibus a partir de 3 de março. O aumento é de 9,13% na categoria suburbano e de 9,07% na categoria rodoviário.

No último dia 9 de fevereiro, o governo Serra já havia presenteado os moradores das três regiões metropolitanas com um aumento de tarifa nos transportes públicos. O aumento, que até então era bienal, passou a ser anual. O Metrô e a CPTM subiram de R$ 2,40 para R$ 2,55, um aumento de 6,25%. O transporte de ônibus intermunicipal teve aumento de 7,45% na Região Metropolitana de São Paulo, de 8,60% na Região Metropolitana da Baixada Santista e de 9,18% na Região Metropolitana de Campinas.

Em plena crise financeira internacional, o governador José Serra segue na contramão de encontrar soluções para enfrentá-la, ao aumentar as tarifas de transporte coletivo em todo o Estado de São Paulo. E pior, o aumento foi bem acima da inflação anual de 2008.

O Prefeito Gilberto Kassab, seguindo a mesma linha de Serra, não deixou barato e deixou, também, o seu presente. Ele que prometeu em campanha, não aumentar a passagem de ônibus, em contrapartida, aumentou outro imposto, o IPTU. Acabou dando na mesma para a população.

Mais uma vez, o atual governo piora as condições de vida do povo paulista.

Crise legítima: comando permanente do Estado sobre sistema financeiro

Talvez o elo mais importante entre a crise atual e a de 29 esteja no seu DNA político, não no leque de dinâmicas e desdobramentos específicos a cada época.

Ao contrário de trazer algum conforto, esse diagnóstico pode ser tão devastador para os oráculos do Estado mínimo. E para governantes que mal ou bem ainda se movem nos limites dessa ideologia, quanto à derrocada financeira em marcha. Um a um, todos os principais ícones financeiros erguidos pelo livre mercado americano e europeu no pós-guerra tombam ou balançam perigosamente. Como um imenso João-bobo, eles já não conseguem mais ancorar a ordem mundial, tampouco oferecer um horizonte de previsibilidade ao cálculo econômico, sequer esboçar uma esperança de futuro à sociedade.

Carta Maior – Nada do que façam ou já fizeram terá tanto impacto quanto às respostas dos governantes à crise?

Fernando Ferrari – A turbulência dos últimos meses ensina mais sobre a economia e o capitalismo do que bibliotecas inteiras da gororoba monetarista vendida pelos jornais nos últimos 30 anos. Nisso ela se presta como um show-room das barbáries permitidas em nome do livre mercado. A preferência mórbida pela liquidez, que desloca recursos econômicos da esfera produtiva para a especulação, é uma delas. Na ‘bonança’ recente, fundos hedges fixavam em 25% ao ano o retorno do capital parasitário induzindo assim a uma espiral de adesões urbi e orbe em diferentes versões (downsinzing, reengenharia produtiva; privatizações; corte na ‘gastança social’; extinção de direitos trabalhistas; demonização da esquerda e dos sindicatos etc)

Na reversão pânica do ciclo o mundo sufoca enquanto a auto-regulação expele golfadas de descontrole e demissões em massa. Substituir imperativamente os pólos desse pêndulo é um requisito para seccionar os canais de transmissão que originam e realimentam a dinâmica da entropia. Essa é a tarefa mais importante dos governantes nesse momento.

Veja a entrevista completa na página da agência carta Maior:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15738