TVT entra no ar com promessa de dar voz aos trabalhadores

Imagens antigas de Lula foram exibidas durante cerimônia que marcou o início das transmissões da TVT, com a presença do presidenteEntrou no ar às 18h59 desta segunda-feira (23), um minuto antes do programado, a TVT (TV dos Trabalhadores).

A cerimônia de abertura contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e do presidente da CUT, Artur Henrique, entre outros.
 
A emissora, que a princípio terá uma hora e meia de programação inédita de segunda a sexta-feira, dedicando os demais horários a reprises e ao conteúdo da TV Brasil, é uma antiga reivindicação dos metalúrgicos do ABC
A história da TVT, contada na edição 50 da Revista do Brasil, é marcada por sucessivas negativas aos pedidos de concessão de uma frequência.
 
Em 2009, por fim, os trabalhadores conseguiram ter o pedido atendido. O resultado é a emissora que, como enfatizaram todos os presentes, terá uma programação voltada aos interesses da sociedade.
 
“Queremos um projeto de comunicação que não seja simplesmente alternativo, mas retrate uma realidade que não está na TV convencional. O mundo do trabalho sequer é retratado na TV”, destacou Valter Sanches, diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e presidente da Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho, que dirige o projeto.
 
Ele enfatizou que a página da emissora na internet terá espaços abertos para a participação dos espectadores, uma tentativa de abrir um canal de diálogo com a sociedade.
 
A mensagem foi reforçada por vídeos institucionais nos quais, em gravações antigas ou recentes, os metalúrgicos pediam uma televisão que retratasse “a visão do trabalhador, e não a do patrão”.
 
Na mesma mão foi o ministro Franklin Martins, que entende que é fundamental que a TV seja inaugurada em um momento em que a comunicação faz uma transição para uma nova era, na qual deixa de existir uma massa passiva que consome o jornalismo para haver a criação de um público que também é capaz de produzir informação. “Tenho extremo otimismo pelas possibilidades do que se pode fazer.”
 
O presidente Lula também demonstrou entusiasmo. Doador da primeira câmera da TVT, ainda no tempo da ditadura, ele destacou que a inauguração dá um novo vigor à liberdade de imprensa e que o respeito às diferentes vozes é um dos conceitos da democracia plena. “A estreia da TVT é um dos episódios importantes e simbólicos da história recente da República.”
 
Desafios
 
Os discursos da noite lembraram a longa trajetória da televisão, iniciada na reunião com o então ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, em 1987. Como todos reforçaram, o trecho da Constituição de 1988 que prevê pluralidade nas concessões de televisões, com representações dos diferentes grupos da sociedade, caiu em esquecimento.
 
Tereza Cruvinel, diretora-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela TV Brasil, ponderou que a televisão aproxima-se de seu sexagésimo aniversário de chegada ao país sem de fato contemplar todas as posições. “É um bem público que serviu apenas à exploração da TV comercial, que deixa de fora de sua grade uma série de conteúdos, uma série de vozes que não se expressam.”
 
O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tributou a Lula a conquista dos trabalhadores. “Não se preocupem com a TVT. Não queremos tirar o lugar de absolutamente ninguém. O que queremos é o direito de dar voz a quem constrói este país e muitas vezes  não tem voz”, afirmou, sob aplausos.
 
Para o presidente, apesar da longa trajetória de luta, o que ocorreu nesta segunda-feira foi a parte mais fácil: o difícil será convencer as pessoas de que vale a pena ver a TVT, transformando-a em sinônimo de qualidade.
“Agora temos que provar que valeu a pena lutar 23 anos para ter uma TV (…) Queremos ter conteúdo, queremos ter qualidade e queremos informar o povo com mais isenção do que até agora está sendo informado”, destacou Lula.
 
Com orçamento inicial de R$ 15 milhões para os primeiros três anos, a TVT terá programas inéditos, incluindo um telejornal, de segunda a sexta entre 19h e 20h30. As emissoras próprias em São Paulo (UHF 48) e no Rio de Janeiro (UHF 26) garantirão cobertura às duas regiões metropolitanas.
 
Além disso, parcerias foram firmadas com canais comunitários para transmissões em TV aberta e a cabo. A sintonia de cada região e a programação podem ser conferidas pelo site da TVT.
 
Mais informarmações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/tvt-entra-no-ar-com-promessa-de-dar-voz-aos-trabalhadores
 

No 1º semestre, 97% dos acordos salariais ficaram acima ou iguais à inflação

Beneficiadas pelo crescimento econômico e por uma inflação sob controle, as campanhas salariais no primeiro trimestre conseguiram, em sua quase totalidade, fechar acordos com reajustes iguais ou acima da inflação.

Segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (26) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de 290 campanhas pesquisadas, 255 (87,9%) tiveram reajustes salariais acima da variação do INPC-IBGE, enquanto 26 (9%) tiveram reajustes equivalentes à inflação. Assim, 97% das convenções ou acordos coletivos foram fechados com no mínimo a inflação, superando os resultados de 2008 (87%) e 2009 (93%). Assim, apenas nove acordos (3,1%) ficaram abaixo da inflação.

A pesquisa mostrou alguma melhoria em relação ao reajuste total, embora grande parte dos acordos ainda seja fechada em níveis muito próximos ao da inflação. No primeiro semestre deste ano, dos 255 acordos com reajuste acima do INPC, 117 tiveram reajuste de 0,01 a 1 ponto percentual acima. Isso representa 40,3% de todos os 290 acordos, ante 47,2% em 2009. Já os acordos com reajuste mais de 5 pontos acima do INPC passaram de 1,7% do total para 5,5%.
 
Entre os três setores pesquisados, a indústria teve 97,6% dos acordos (124) fechados acima (109, ou 87,9%) ou equivalentes ao INPC (12,ou 9,7%) Só três (2,4%) perderam da inflação. Tanto em 2008 como em 2009, o percentual de acordos abaixo da inflação na indústrial foi de 8,9%. Segundo o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, responsável pelo estudo, o resultado mostra recuperação do setor após a crise mundial. Mas ele observa que ainda há fatores a serem considerados, como a rotatividade – é comum que os trabalhadores que entram no mercado recebam menos daqueles que saem. “O salário médio no Brasil não cresce fundamentalmente por causa da rotatividade.”
 
No setor de serviços, que teve 129 acordos pesquisados, 110 (85,3%) ficaram acima da inflação, ante 73,6% em 2009 e 65,1% em 2008. Outros 14 (10,9%) foram fechados com reajustes equivalentes ao INPC, enquanto cinco (3,9%) ficaram abaixo. No comércio, 36 de 37 acordos (97,3%) superaram o INPC e apenas um (2,7%) ficou abaixo da variaçã da inflação do período.
 
O técnico do Dieese lembrou que os acordos pesquisados só consideram reajustes que incidem sobre o salário, excluindo, portanto, itens como participação nos lucros ou resultados (PLR). A inflação média considerada foi de 5,7% em 2008, 6,1% em 2009 e 5% em 2010.
 
Para Silvestre, o resultado positivo é reflexo do crescimento econômico, da redução da inflação e da ação sindical. Mas é necessário melhorar a distribuição da renda, observou. “Os ganhos reais estão abaixo da produtividade. A incorporação da produtividade apenas mantém a distribuição de renda. É preciso que se aumente a participação dos salários na renda nacional”, observou.
 
Diversas categorias de grande parte estão em campanha salarial neste segundo semestre, casos de bancários, metalúrgicos, petroleiros e químicos. A secretária de Formação da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), Michele Ida Ciciliato, observou que um dos desafios é unificar as datas-base, como aconteceu em São Paulo, e negociar um contrato coletivo nacional.

Analfabetismo funcional chega aos bancos universitários, afirmam professores

Deficiências na educação básica levam estudantes com problemas de alfabetização ao ensino superior. Professores ouvidos pela Rede Brasil Atual sustentam que alguns alunos da rede pública estadual paulista ingressam em universidades podendo ser classificados como analfabetos funcionais.

O professor universitário Anselmo Büttner, à beira de completar 40 anos de docência e autor de livros na área de administração e marketing, traça um cenário preocupante. “Eles (estudantes) não sabem escrever mesmo”, responde com ar grave. “É simples ver isto, eu peço sempre: ‘façam uma dissertação’. E se você ler o que vem escrito é… lamentável”, detalha.
 
Outro professor universitário, há nove anos nas salas de aula de ensino superior e executivo de uma empresa de gestão de recursos humanos, vai mais longe. O docente, que pediu para não ser identificado, calcula que 30% dos alunos de suas turmas na universidade podem ser classificados como analfabetos funcionais. “Para eles (alunos) não existe mais acentuação, nem pontuação. Cerca de 30% dos alunos até lê mas não compreende. Eles não sabem estruturar ideias, nem se expressar”, afirma.
 
Para ele, com esse quadro há poucas possibilidades de formar profissionais qualificados. “Sem a capacidade de compreender e se expressar, o profissional vira só um ‘papagaio'”, avalia. “Com o sistema de progressão continuada e a vontade do governo (do estado de São Paulo) de ter estatísticas positivas sobre alunos formados, os jovens chegam à universidade com enorme deficiência (de alfabetização)”, delata.
 
Como ex-professor da rede pública estadual, Eduardo (nome completo em sigilo, a pedido do entrevistado) considera contraditória a orientação educacional do estado de São Paulo, que encampou a metodologia da progressão automática, sem a contrapartida em capacitação de professores e infraestrutura. “O mercado exige cada vez mais e as escolas oferecem cada vez menos”, detecta.
 
Dribles
 
No caso do professor Büttner, a saída foi criar metodologias específicas. “Eu levo figuras e desenho no quadro o que é almoxarifado, por exemplo, para eles compreenderem”, relata. “Eles não conseguem juntar as informações, não conseguem montar uma sequência, não têm base de gramática e ortografia, mas não é só. Há limitações também na capacidade de raciocínio lógico e matemático”, alerta.
 
Rosana Almeida, professora de sociologia do ensino médio da rede pública estadual paulista, pondera que o jovem com deficiências na leitura e escrita vai enfrentar sérios problemas no mercado de trabalho, não importa a área em que decida atuar.
 
“O aluno de direito, para fazer uma peça, tem de escrever”, cita. “Por isso, em algumas faculdades é obrigatório o ensino de Língua Portuguesa em todos os cursos. Já sabem que os jovens chegam sem saber escrever”, informa.
 
Büttner também é crítico em relação aos colegas professores. Apesar da gravidade da questão, ele insiste que os educadores devem se adequar às necessidades educacionais dos alunos, com estratégias que os auxiliem a compreender o conteúdo. “O problema existe e é grave com alunos da escola pública, mas eu tento levar o conhecimento ao patamar dos alunos”.
 
Mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/educacao/analfabetismo-funcional-chega-aos-bancos-universitarios-afirmam-professores

Com exceção de Serra, candidatos prometem continuar conferências

Após as críticas de José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República, ao modelo de conferências, adotado pelo governo federal como mecanismo de participação direta da população, Dilma, Marina e Plínio afirmaram à Rede Brasil Atual que vão dar continuidade às conferências realizadas em diversas áreas.

Em discurso no 8º Congresso Brasileiro de Jornais, no Rio, Serra chamou as conferências realizadas durante o governo de Lula de “conferencismo”. O candidato também atribuiu às conferências de comunicação, de direitos humanos e  de cultura, a tentativa de cercear a liberdade de imprensa. “[…] as três se voltaram para um controle da nossa imprensa, um cerceamento da liberdade de expressão e da liberdade de informação. De que maneira? Através do controle – suposto – da sociedade civil”, criticou.
 
A candidata Marina Silva (PV) defende que é preciso aprofundar a participação democrática e o envolvimento da sociedade como pilares de sustentação do governo. “[Vamos] fazer do processo de participação uma oportunidade de desenvolvimento da consciência política e dos valores democráticos”, descreve a senadora.
Marina aponta que a legitimidade de um governo depende da “participação direta e sistemática da sociedade nas decisões de caráter público”.
 
Dilma Roussef (PT) disse que pretende manter a participação da sociedade e dos movimentos organizados em conselhos e conferências, caso seja eleita. “Elas são espaços de democracia importantes e necessários para a construção de diretrizes e políticas públicas.”
 
A petista admite que nem sempre é possível transformar decisões de conferências em realidades imediatas, mas é fundamental a um governo democrático saber o que a sociedade pensa. “O diálogo sempre traz respostas positivas, mesmo onde haja discordâncias”, sintetiza.
 
O candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, relata que seu partido tem participado de todas as conferências e defende a implementação das resoluções. O presidenciável propõe a criação de fóruns para complementar a política de conferências. “No caso de ocupar a chefia do Executivo, o PSOL não apenas daria continuidade a essa política como investiria na construção de fóruns que possibilitassem a deliberação com maior participação popular”, defende Plínio.
 
Nem o candidato José Serra, nem sua coordenadoria de campanha responderam às solicitações da Rede Brasil Atual para confirmar as posições contrárias à participação popular em um eventual governo seu.
 
Resposta federal
 
Ainda na semana passada, o  ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, respondeu às críticas de José Serra às conferências e classificou as opiniões do tucano de “concepção elitista de democracia, na qual a população não tem o direito de ser ouvida nas decisões de governo” (acesse a matéria completa no quadro acima).
 
A Secretaria-Geral da Presidência calcula que 5 milhões de pessoas participaram de processos referentes a 73 conferências realizadas nos últimos oito anos.
 
Mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/com-excecao-de-serra-candidatos-prometem-continuar-conferencias

Ex-menina de rua de SP estuda Medicina em Cuba

Graças a alguns “papa-hóstias”, como costumo chamar meus amigos da igreja, fiquei sabendo da história dela durante um agradável almoço na Feijoada da Lana, na Vila Madalena, a melhor da cidade. Repórter vive disso: tem que andar por aí, conversar com todo mundo para descobrir as novidades, ficar sabendo de personagens cuja vida vale a pena ser contada.

É este o caso da jovem Gisele Antunes Rodrigues, de 23 anos, ex-menina de rua de São Paulo, nascida em Ribeirão Pires,  que deu a volta por cima e hoje está no terceiro ano de Medicina. Detalhe: ela estuda no Instituto Superior de Ciências Médicas de La Habana, em Cuba, onde estão matriculados outros 275 brasileiros.
Gisele veio passar as férias no Brasil e, na próxima semana, volta a Cuba. Como ela foi parar lá? Ninguém melhor do que a própria Gisele, que escreve muito bem, para nos contar como é a vida lá e como foi esta sua incrível travessia das ruas de São Paulo até cursar uma faculdade de Medicina em outro país.
 
A meu pedido, Gisele enviou seu depoimento nesta sexta-feira e eu pedi autorização para  poder reproduzí-lo aqui no Balaio. Tenho certeza de que esta comovente história com final feliz pode servir de estímulo e inspiração a outros jovens que vivem em dificuldades.
Para: Ricardo Kotscho
Olá!!!
Autorizo o senhor a publicar essa história. Caso deseje, pode corrigir os erros. Mas, por favor, sem sensacionalismo. Tente seguir mais o menos o texto abaixo. Desculpa por escrever isso, mas eu já tive problemas.
Gosto do seu blog, vou tentar acessar  nele em Cuba.
Abraços
Gisele Antunes
***
Só mais uma brasileira
Saí de casa com 9 anos de idade porque minha mãe espancava  eu e meu irmão. Não tínhamos comida,  o básico para sobreviver. Meu pai nunca foi presente. É um alcoólatra que só vi duas vezes na vida. Minha mãe é uma mulher honesta, mas que não conseguia educar seus filhos. Já foi constatado que ela tem problemas mentais.
 
Ela trabalhava como cigana na Praça da República. Quando eu fugi de casa segui esse caminho, e encontrei uma grande quantidade de meninos e meninas de rua. Apresentei-me a um deles, este me ensinou como chegar em um albergue para jovens, e a partir desse momento passei a ser menina de rua. Só comparecia nessa instituição para comer, tomar banho e ter um pouco de infância (brincar). No meu quinto dia na rua, comecei a cheirar cola e depois maconha.
 
Alguns educadores preocupados com a minha situação tentavam me orientar, mas de nada valia. Foi quando me apresentaram a uma religiosa, a irmã Ana Maria, que me encaminhou para um abrigo, o  Sol e Vida. Passei uns três anos lá e deixei de usar dogras. Esta instituição não era financiada pelo governo. Quando foi fechada, me encaminharam a outros abrigos da prefeitura, entre eles o Instituto Dom Bosco, do Bom Retiro. E assim foi, até os 17 anos.
 
Para alguém que usa droga, não era fácil seguir regras. Foi por muita persistência e um ótimo trabalho de vários educadores que eu consegui deixar a drogas, sair da desnutrição e recuperar a saúde após anemia grave.
Na infância, era rebelde, não queria aceitar a minha situação. Apenas queria ter uma família. Mas havia algo que eu valorizava _ a escola e os cursos que eu fazia na adolescência. Aos 14 anos de idade, comecei a jogar futebol, tive a minha  primeira remuneração. Aos 16 anos, entrei em uma empresa, a Ericsson, que capacitava jovens dos abrigos para o mercado de trabalho. Essa empresa financiou meu curso de auxiliar de enfermagem e o inicio do técnico. O último não foi possível concluir.
 
Explico: existe uma lei nas instituições públicas segunda a qual o jovem a partir dos 17 anos e 11 meses não é mais sustentado pelo governo, tem que se manter sozinho. Como eu não tinha contato com a minha família, quando se aproximou a data de completar essa idade, entrei em desespero.
 
A sorte foi que a entidade, o Instituto Dom Bosco Bom Retiro, criou um projeto  denominado Aquece Horizonte. Este projeto é uma república para jovens que, ao sair do abrigo, podem ficar lá até os 21 anos. Os coordenadores e patrocinadores acompanham o desenvolvimento do jovem neste período de amadurecimento.
As regras mais básicas da república são: trabalhar, estudar e querer vencer na vida. No segundo ano de república, eu desejava entrar na universidade, mas sabia que não tinha condições de pagar a faculdade de enfermagem ou conseguir passar na universidade pública.
 
Optei então por fazer a faculdade de pedagogia. É uma área que me encanta, e a única que podia pagar. No primeiro semestre da faculdade de pedagogia,  um educador do abrigo, o Ivandro, me chamou pra uma conversa e me informou sobre um  processo seletivo para estudar medicina em Cuba. Fiquei contente e aceitei participar da seleção.
 
Passei pelo processo seletivo no consulado cubano e estou desde 2007 em Cuba. Dou inicio ao terceiro ano de medicina no dia 06 de setembro de 2010. São 7 anos no país, sendo 6 de medicina e um de pré-médico.
Ir a Cuba foi minha maior conquista. Além de aprender sobre a medicina, aprendo sobre a vida, a importância dos valores.  Antes de ir,  sempre lia reportagens negativas sobre o país, mas quando cheguei lá, não foi isso que vi. Em Cuba, todos têm direito a educação, saúde, cultura, lazer e o básico pra sobreviver.
 
Li em muitas revistas que o Fidel Castro é um ditador, e descobri em Cuba, que ele é amado e idolatrado pelos cubanos. Escrevem que Cuba é o país da miséria. Mas de que tipo de miséria eles  falam? Interpreto como miséria o que passei na infância. Em casa, não tinha água encanada, luz, comida.
 
Recordo que tinha dias em que eu, meu irmão e minha mãe não conseguíamos  nos  levantar da cama devido a fraqueza por falta de  alimento. Tomávamos água doce pra esquecer a fome. Então, quando abro uma revista publicada no Brasil e nela está escrito que Cuba é um país miserável, eu me pergunto: se em Cuba, onde todos têm os direitos a saúde, educação, moradia, lazer e alimento, como podemos denominar o Brasil?
 
Temos um país com riqueza imensa, que conquistou o 8º lugar no ranking dos países mais ricos, mas sua riqueza se concentra nas mãos de poucos, com uns 60 % da população vivendo em uma miséria verdadeira, pior que a miséria da minha infância.
 
Cuba sofre um embargo econômico imposto pelos estados Unidos por ser um país socialista e é criticado por outros  governos. No entanto, consegue dar bolsa para mais de 15 mil estrangeiros de vários países, se destaca na área da saúde (gratuita), educação (colegial, médio, técnico e superior gratuito para todos) e esporte (2º lugar no  quadro de medalhas, na historia dos Jogos Panamericanos), é livre de analfabetismo.
 
A cada mil nascidos vivos morrem menos de 4.  Vivenciando tudo isso, eu queria também que o Brasil fosse miserável como Cuba, como é escrito em varias revistas. Acho que o brasileiro estaria melhor e não seria tão comum encontrar tantos jovens sem educação, matando, roubando e se drogando nas ruas.
 
Vou passar mais quatro anos em  Cuba e não quero deixar o curso por nada. Desejo concluir a faculdade e ajudar esse povo carente que sonha com melhoras na área da saúde, quero ajudar outros jovens a realizar os seus sonhos , como me ajudaram. Também pretendo apoiar meu irmão, que deseja estudar direito.
 
Tenho meu irmão como exemplo de superação. Saiu de casa com 13 anos de idade, mas não foi para uma instituição governamental. Morou em um cômodo que seu patrão lhe ofereceu. Enquanto eu estudava e fazia cursos, ele estava trabalhando para ter o pão de cada dia. Hoje, ele é um homem com 25 anos de idade, casado e tem uma filha linda, e mesmo assim encontra tempo pra me apoiar e me dar conselhos.
 
Foi muito bom visitar o Brasil. Depois de longos 13 anos tive um tipo de comunicação com a minha mãe. Isso  pra mim é uma vitoria. Quero estar próxima dela quando voltar.
 
Conto um pouco da minha história, mas sei que muitos brasileiros ultrapassaram barreiras piores, até realizarem seus sonhos. Peço ao povo brasileiro que continue lutando. É período de eleições, peço também  que todos votem com consciência, escolha a pessoa adequada pra administrar o nosso país tão injusto.
 
Gisele Antunes Rodrigues
Ser culto é o único modo de ser livre (José Martí)
 

A fronteira da morte e da desumanização

A recente descoberta dos cadáveres de 72 imigrantes ilegais em San Fernando, na fronteira do México com os Estados Unidos, é mais um exemplo trágico do nível de perversidade e desumanização de um sistema que transforma pessoas em mercadoria e reduz vidas a instrumentos descartáveis do capital.

Entre as vítimas estão homens e mulheres de El Salvador, Honduras e Equador, além de quatro brasileiros, trucidados por redes de narcotraficantes e traficantes de pessoas antes de virarem mão de obra barata, a quem são sempre relegados os trabalhos mais duros, insalubres e perigosos. Antes de se somarem aos porões da sociedade estadunidense, e a passarem a compor a longa lista de escravos modernos, ou de exilados, refugiados e deportados, estes trabalhadores viraram número macabro nas estatísticas da ação de gangues.
 
A tragédia aponta para a necessidade de uma melhoria nas estruturas políticas e econômicas, onde a valorização dos salários e a ampliação do emprego e dos direitos deem condições mínimas de dignidade ao trabalhador, para que o desespero não o lance ao exílio, na ânsia de melhores dias para si e para os seus. Também é preciso que o sangue derramado não corra em vão e sirva para regar a reflexão da necessidade de uma mudança imperiosa nas relações internacionais, que devem ser mais integradas e solidárias, derrubando os muros do preconceito e do racismo que separam – e desintegram – países e povos.
 
Ao mesmo tempo em que continuará lutando por avanços que abram caminho para a cidadania plena a todos os brasileiros, a Central Única dos Trabalhadores reafirma o compromisso de redobrar esforços para fortalecer a integração solidária e soberana.
 
João Antonio Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT
 
Mais informações acesse: http://www.cut.org.br/destaque-central/43299/a-fronteira-da-morte-e-da-desumanizacao
 

Economia brasileira tem condições de crescer 5,5% ao ano até 2014, diz Mantega

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje (30) que a economia brasileira tem condições de crescer a uma taxa média anual de 5,5% nos próximos quatro anos. Segundo ele, esse patamar pode ser atingido já em 2011.

Ao participar hoje (30), em São Paulo (SP), do 7º Fórum de Economia, promovido pela Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mantega disse acreditar que Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha crescido de 0,5% a 1% no segundo trimestre do ano. O resultado será divulgado na sexta-feira (3).
 
De acordo com Mantega, o crescimento da economia brasileira é “sustentável”, já que a inflação está sob controle e houve, nos últimos anos, um aumento do poder de compra de milhares de brasileiros que, ao alimentar o consumo interno, permitiram que o setor produtivo enfrentasse a última crise econômica mundial. Para o ministro, a taxa de inflação anual não deverá ultrapassar 5,2%, “o que, com um crescimento de 7%, é algo favorável”.
 
Quanto às previsões de que o PIB cresça 7% este ano, Mantega destacou que, caso isso se confirme, será o melhor resultado dos últimos 24 anos. “Isso não é um resultado pontual, mas sim fruto de um processo. O Brasil alcançou um outro patamar de crescimento, que é qualitativo e sustentável”, destacou.
 
Mais informações acesse: http://agenciabrasil.ebc.com.br/home;jsessionid=359D101F12846918663108F3AAD0F68D?p_p_id=56&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_pos=1&p_p_col_count=2&_56_groupId=19523&_56_articleId=1031389

Censo 2010 já concluiu coleta de dados em oito municípios

A coleta de dados do Censo 2010 já foi concluída em oito dos 5.565 municípios do país, divulgou hoje (30) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quatro deles ficam em Santa Catarina (Lajeado Grande, Arvoredo, Pinheiro Preto e Entre Rios), um em São Paulo (Bora, no interior, o menor município do país), um no Tocantins (Oliveira de Fátima), um em Minas Gerais (Santo Antônio do Rio Abaixo) e o último, Fernando de Noronha, em Pernambuco.
 

O IBGE também divulgou que está mais rápida a coleta de dados nos estados de Rondônia, Roraima e da Paraíba, onde já foram visitados 73,1%, 71,6% e 67,3% domicílios, respectivamente.

Com a menor cobertura, devido ao problema de longas distâncias ou ainda de atraso na coleta por falta de material, estão o Acre (42,4%), Amazonas (47,6%) e Rio Grande do Sul (48,1%), onde os coletes dos recenseadores demoraram a chegar.
 
“As grande dificuldades são em municípios como os da Região Norte, com [longas] distâncias que precisam ser percorridas. Esses percursos são feitos de barco, consequentemente o tempo de descolamento e de ransmissão de dados é muito maior”, justificou o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.
 
O problema também atrasou o trabalho em Santa Catarina, São Paulo e Paraná – estados onde cerca de metade dos domicílios foi visitada. Embora atrás de outros estados, o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, informou que a coleta nessas localidades está dentro do prazo e que a média de domicílios recenseados por estado é de 33%.
 
Mais informações acesse: http://agenciabrasil.ebc.com.br/home;jsessionid=A4A97156AB57C9CE87427B2EF1363DC3?p_p_id=56&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_pos=1&p_p_col_count=2&_56_groupId=19523&_56_articleId=1031305

Sintomas de uma década vitoriosa

O Brasil vem assistindo, pelo menos desde 2003, à recuperação da atividade econômica e do nível de emprego e, com isso, a retomada da vitalidade das lutas. Esse contexto tem permitido ao movimento sindical fortalecer as negociações coletivas, conquistando, assim, reajustes reais nos salários.

Entre 2003 e 2010 foram gerados mais de 12 milhões de postos de trabalho, esse número corresponde a toda a população da cidade de São Paulo. Chegar a esse resultado só foi possível porque a economia cresceu de forma sustentável.
 
O salário mínimo obteve um crescimento real, descontada a inflação, de 73%. A quantidade de dinheiro que entrou na economia na forma de salários cresceu 42% entre 2003 e 2010.
 
Essas conquistas sociais desencadeadas a partir de 2003 são fruto de um mesmo processo: a derrota do projeto neoliberal e a retomada da pressão pelas mudanças em favor dos mais desfavorecidos.
 
Uma das conseqüências mais relevantes dessas mudanças é a redução da pobreza no país. Conforme análises do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os resultados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de 2008 demonstraram a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil.
 
As políticas públicas de combate à pobreza e de geração de emprego e renda apresentam resultados concretos e positivos. Os indicadores sociais confirmam que diminuiu o número de pobres: 30 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza e 20 milhões ingressaram na nova classe média.
 
Em 2001, a renda média dos 20% mais ricos era 27 vezes a dos 20% mais pobres; em 2008 essa diferença caiu para 19 vezes, ou seja, uma redução de 30% na desigualdade em sete anos.
 
As transformações que vivemos hoje no Brasil são fruto de um governo democrático e popular comprometido com uma parcela da sociedade, da atuação de setores progressistas e de partidos de esquerda e, sobretudo, da atuação da classe trabalhadora. Nas conquistas alcançadas nessa década que se encerra daqui a quatro meses encontramos a presença e a disposição de luta dos trabalhadores, seja na luta pela valorização do salário mínimo, na aprovação da convenção 151 da OIT, na redução da jornada de trabalho, nos ganhos reais de salários, entre tantas outras. Elas materializam muitas das propostas que os trabalhadores vêm lutando há décadas.
 
Entretanto, os desafios ainda são muitos, como integrar de forma mais igualitária as mulheres, os negros e a juventude no mercado de trabalho, conquistar a redução da jornada para 40 horas semanais, aprovar o projeto das centrais que inibe a terceirização, ampliar os vínculos de empregos formais e reduzir a precarização e o trabalho escravo e reverter o processo de mercantilização de bens públicos como saúde e educação. Esses são os desafios para a próxima década.
 

Shell e Basf são condenadas a pagar R$ 620 milhões por contaminação em SP

A Justiça do Trabalho de Paulínia (117 km de SP) condenou nesta quinta-feira as empresas multinacionais Shell e a Basf a pagar R$ 620 milhões de indenização por danos morais devido a um caso de contaminação de trabalhadores por substâncias tóxicas.

As empresas também terão que custear assistência médica aos ex-funcionários e indenizações individuais a eles. Cabe recurso à decisão.
 
A sentença é resultado de uma ação coletiva movida pelo Ministério Público do Trabalho e pela associação dos ex-trabalhadores da extinta fábrica de agrotóxicos no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia.
Os filhos de empregados contratados, autônomos e terceirizados que nasceram durante ou após a prestação de serviços também receberão assistência médica.
 
Os R$ 620 milhões de indenização terão de ser revertidos ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), ligado ao Ministério do Trabalho.
 
De acordo com a Justiça, os ex-funcionários que trabalharam na fábrica de agrotóxicos foram expostos e contaminados por substâncias químicas. O caso é apurado desde de 2001.
 
A Shell iniciou produção de agrotóxicos no local em 1977. Em 1994, a Shell vendeu a fábrica para a Cyanamid e, em 2000, a Basf comprou a mesma área e o passivo da Cyanamid. A fábrica foi desativada em 2002. Pelo menos mil funcionários passaram pelas empresas no período.
 
A Shell informou por meio de nota que, “confiando na Justiça e na defesa de seus direitos, irá recorrer às instâncias superiores”.
 
A Basf informou, em nota, que “vai recorrer da decisão, pois não concorda com o absurdo da sentença proferida que se baseou na contaminação ambiental causada e assumida pela Shell”.
 
A Justiça também determinou que as empresas têm cinco dias, a partir de hoje, para publicar um edital de convocação dos trabalhadores e descendentes abrangidos pela decisão nas duas maiores emissoras de TV do país, em duas oportunidades.
 
Cada ex-trabalhador e cada filho de ex-trabalhador nascido durante ou depois da prestação de serviços também deverá receber o montante de R$ 64.500.
 
Mais informações acesse: http://idec.org.br/noticia.asp?id=12740