Acidentes de trabalho não estão sendo notificados corretamente

Apesar do governo federal ter instituído, em 2011, a obrigatoriedade de mortes e acidentes de trabalho serem notificados pelos órgãos municipais de saúde pública, um levantamento realizado pela Rádio Brasil Atual constatou que o descumprimento da norma tem adulterado os dados sobre a saúde do trabalhador brasileiro. Em Guarulhos, por exemplo, no ano de 2012, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) autorizou mais de 5 mil benefícios por acidente de trabalho, porém o Sistema de Informação de Agravos de Notifcação registrou apenas 71.

“Acreditamos que os servidores da saúde têm diversas atribuições. Então, essa notificação da saúde do trabalho, embora esteja na lei, os profissionais acabam deixando um pouco de lado por causa da demanda”, defende Marcelo Lemes, engenheiro de segurança do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador. Já Rosimeire Rosa Pereira, enfermeira e especialista em saúde do trabalho, aponta para o pequeno número de funcionários na área de Recursos Humanos das empresas, gerando uma falta de pessoal disponível para efetuar o registro – apesar do problema, porém, dados do Ministério da Saúde indicam que o Brasil é o quarto país do mundo em número de acidentes de trabalho.

Cantareira está cada dia mais seco

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) comunicou no último final de semana que o nível de água do Sistema Cantareira chegou a 8,1% da sua capacidade.

O nível do reservatório atingiu no sábado, o mesmo índice de maio quando a companhia decidiu captar a água do volume morto do Sistema para garantir o abastecimento. No domingo a quantidade de água dos reservatórios do Sistema Cantareira continuou caindo.

O índice pluviométrico de setembro deste ano (39,1 mm) está muito abaixo do que é registrado para o mês neste período (91,9 mm). A Companhia não declarou racionamento oficial, bem como não apresentou um plano de combate ao desabastecimento, colocando a carga desse momento crítico apenas na questão climática. 

A Sabesp também divulgou, por meio do site oficial, o nível de água de outros reservatórios. O Sistema Alto Tietê está com 12,6%; o Sistema Gurapiranga está com 53,4%; o Sistema Alto Cotia está com 35,4%; o Sistema Rio Grande está com 77,7% e o Sistema Rio Claro está com 65,5%. Os dados são atualizados diariamente.

Alckmin deixou de investir cerca de R$ 8 milhões no Metrô e na CPTM

A bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo apresentou um estudo sobre o corte de aproximadamente R$ 8 bilhões em investimentos no Metrô e na CPTM (Companhia Metropolitana de Trens Metropolitanos)  promovido pelo Governo de Geraldo Alckmin entre os anos de 2011 e 2013. As informações são do site Viomundo.

No Metrô deixaram de ser investidos R$ 7,490 bilhões, ou seja, 52,7% do total previsto no orçamento de R$ 14,197 bilhões. Abaixo alguns exemplos da queda dos investimentos em recapacitação e expansão das linhas:

Linha 1 – Azul – corte de R$ 142 milhões

Linha 5 – Lilás – corte de R$ 17 milhões

Linha 4 – Amarela – corte de R$ 780 milhões

Linha 17 (Monotrilho) – corte de R$ 894 milhões

Linha 18 (Monotrilho) – corte de R$ 639 milhões

Linha 16 – Prata – corte de R$ 25 milhões

Na CPTM foram prejudicados projetos de expansão e modernização de linhas. Entre os anos de 2011 e 2013, a gestão Alckmin deixou de aplicar na CPTM mais de R$ 600 milhões em recursos já previstos no Orçamento do
Estado para investimentos (obras). Abaixo alguns exemplos da queda dos investimentos em modernização de linhas férreas na Região Metropolitana de São Paulo:

Linha 10 – Luz-Rio Grande da Serra – corte de R$ 143,2 milhões

Linha 11 – Luz-Estudantes (Mogi das Cruzes) – corte de R$ 422,9 milhões

Linha 12 – Brás-Calmon Viana – corte de R$ 125,3 milhões

Linha 7 – Luz-Jundiaí – corte de R$ 33,3 milhões

A falta de investimentos afetou também os projetos de trens regionais de passageiros que atenderiam Santos, Jundiaí e Sorocaba. Segundo o estudo, no Orçamento de 2014 o governo Alckmin incluiu além dessas três ligações
regionais a implantação do Expresso ABC, Expresso Oeste-Sul e Metrô Leve Guarulhos-ABC. Entretanto, destinou apenas R$ 1 mil para esses projetos.

Dilma sobe nas pesquisas e amplia diferença com a segunda colocada

A última pesquisa do Datafolha apresenta a candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) com uma vantagem de 7 pontos percentuais sobre a segunda colocada: Dilma aparece com 37% das intenções de voto enquanto a segunda colocada, Marina Silva (PSB),  tem 30% das intenções. 

Em um eventual segundo turno, a pesquisa aponta um empate técnico entre as duas candidatas: 46% e 44%.

O terceiro colocado na pesquisa tem 17% das intenções de voto. A pesquisa também detectou aumento da rejeição ao PSB ( 22%). Há um mês, esse número era de 11%. O instituto atribui esse aumento aos constantes ataques realizados pela candidata do PSB ao pré-sal; o projeto de independência do Banco Central; suas alianças com banqueiros e uma proposta de revisão dos direitos da CLT, entre outros contraditórios do programa de governo.

O Datafolha ouviu 5.340 eleitores nas cinco regiões do país, e mostra a Presidenta Dilma como favorita em todas as regiões. Apenas no Sudeste, Dilma aparece numa situação de empate técnico.

Estudo alerta para sub-representação de minorias nas eleições

Um levantamento realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), batizado de Sub-representação de Negros, Indígenas e Mulheres: Desafio à Democracia, lançado na última sexta-feira (19), alerta para a sub-representação de minorias nas eleições deste ano, reforçando a necessidade de se promover uma reforma política. Esta será a primeira eleição na qual os candidatos tiveram de declarar raça e cor. “A partir de agora, com os dados oficiais, a gente tem uma forma concreta de pressionar uma mudança no sistema partidário, como foi com a questão do gênero que já tem a legislação que garante 30% de candidatas mulheres. A gente sabia que tinha desigualdade, mas não tinha um dado oficial”, esmiuçou Carmela Zigoni, assessora política do instituto.

O exemplo mais contundente de falta de representação se refere aos indígenas, que, em 2014, possuirão apenas 83 (0,32%) dos 25,9 mil candidatos que disputam as eleições, sendo que nenhum concorrerá à Presidência da República ou aos governos estaduais. Já no caso dos negros, embora já haja um equilíbrio maior em número de candidaturas com os brancos, Zigoni afirma que isso não se reflete na formação do Congresso. “Hoje quem financia as campanhas é um conjunto de interesses privados. Essas candidaturas  – de negros, índios e mulheres – normalmente são minoritárias, têm menos recursos e menos espaço na mídia”, explicou a assessora, realçando a dificuldade dessas candidaturas divulgarem suas propostas.

Dilma: povo não vai aceitar ameaça a direitos trabalhistas

No último sábado (20), em campanha no Largo Treze, São Paulo, a presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) voltou a abordar o tema dos direitos trabalhistas. Em sua visão, eles são conquistas históricas da sociedade e não podem ser ameaçados em qualquer circunstância – pelo contrário, devem ser continuamente defendidos. “Férias, décimo terceiro, horas extras, fundo de garantia. São conquistas que o povo brasileiro não vai deixar isso ser ameaçado ou combatido. O povo brasileiro não vai deixar. É algo que conquistamos ao longo da história de lutas”, afirmou.

Dilma também aproveitou a chance para enfatizar a boa situação do País em relação às taxas de desemprego, sobretudo, se os números forem comparados aos encontrados na Europa, onde, nos últimos quatro anos, houve uma redução de postos de trabalho e direitos trabalhistas. “Quando a gente conquista uma coisa, a gente quer conquistar mais. Tá certo isso. É assim que todo mundo quer. Agora, conquista que a gente fez é conquista que a gente defende. Por isso, vamos defender aquilo que conquistamos”, argumentou a presidenta.

As ameaças da terceirização

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, está prestes a julgar um agravo interposto pela empresa Cenibra. Condenada em todas as instâncias inferiores por ter contratado trabalhadores terceirizados para suas atividades-fim, a vitória da empresa pode deflagrar profundas transformações nas relações trabalhistas, O ministro Fux pretende dar “repercussão geral” à sua decisão sobre o mérito da questão.

Os brasileiros estão diante de mais uma etapa da flexibilização dos mercados de trabalho. “Flexibilização” é o codinome de “regressão dos direitos sociais”. Conquistados a duras penas, na Europa e nos Estados Unidos, pelas classes subalternas, depois de duas guerras mundiais e da Grande Depressão dos anos 30, os direitos sociais e econômicos estão prestes a sofrer as dores dos projetos de “competitividade” nascidos da intensificação da concorrência entre as grandes empresas que dominam a arena global. 
As consignas da “competitividade” são desfraldas em todos os rincões do planeta como solução para o declínio econômico das nações, mesmo que esses projetos, em sua execução, destruam as condições de vida dos cidadãos comuns que labutam cotidianamente na busca da sua sobrevivência e de sua família.

A economia capitalista dos últimos 40 anos foi restaurada em suas formas essenciais no momento em que a força política das classes proprietárias e dominantes submeteu o Estado e o colocou como executor dos projetos da desregulamentação financeira, como fautor da flexibilização dos mercados de trabalho e garantidor dos movimentos de internacionalização da grande empresa. Entregue ao jogo entre a proteção desmedida de seus propósitos pelo Estado e as forças “naturais” que a movem na direção da concentração da riqueza e da renda, a economia capitalista falhou com grande escândalo em sua capacidade de gerar empregos, de oferecer segurança aos que ainda conseguem empregar ou de alentar os já empregados com perspectivas de melhores salários.

A dita flexibilização e seus tormentos assolam os trabalhadores da economia globalizada. O desempenho sofrível dos rendimentos dos assalariados e da maioria dos que trabalham por conta própria combinou-se com a aceleração do crescimento dos rendimentos do capital para produzir um inevitável aumento nos índices de desigualdade na distribuição funcional da renda. Desde os anos 80, as reformas propostas para os mercados de trabalho não fazem outra coisa senão aumentar a participação dos rendimentos do capital na renda agregada. Leia Piketty.

Fatores decisivos para o comportamento decepcionante dos rendimentos da maioria da população nas regiões “ricas”, particularmente nos Estados Unidos, foram, sem dúvida, a diminuição do poder dos sindicatos e a redução no número de sindicalizados, o crescimento do trabalho em tempo parcial e a título precário e a destruição dos postos de trabalho mais qualificados na indústria de transformação, sob o impacto da migração das empresas para as regiões onde prevalece uma relação mais favorável entre produtividade e salários.

No mundo desenvolvido, a flexibilização das relações trabalhistas subordinou o crescimento da renda das famílias ao aumento das horas trabalhadas, sobretudo por causa da maior participação das mulheres, das casadas em particular, no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, as mães de família com filhos acrescentaram, entre 1979 e 2000, 500 horas de trabalho ao total despendido pelo casal.

Em artigo publicado na revista Science & Society de julho de 2010, o economista Edward Wolff sustenta que a evolução miserável dos rendimentos das famílias americanas foi determinada pelo desempenho deplorável dos salários. Entre 1973 e 2007, os salários reais por hora de trabalho caíram 4,4%, enquanto, no período 1947-1973, o salário horário cresceu 75%. A despeito da queda dos salários, durante algum tempo a renda familiar, como dito acima, foi sustentada pelo ingresso das mulheres casadas na força de trabalho. Entre 1970 e 1988, elas aumentaram sua participação de 41% para 57%. A partir de 1989, no entanto, o ritmo caiu vertiginosamente.

As políticas ditas neoliberais não deixaram de pé sequer a ilusão de que a maior desigualdade foi compensada por uma maior mobilidade das famílias e dos indivíduos, desde os níveis mais baixos até os mais elevados da escala de renda e riqueza. Para surpresa de muitos, o estudo mostra que a mobilidade social nunca foi tão baixa no país das oportunidades.

Após a eleição, um ataque aos direitos trabalhistas

O auxiliar de limpeza Anderson Baptista, pai de três filhos com idades entre 6 e 15 anos, não quer mais fazer parte de uma empresa terceirizada, condição de 12 milhões de trabalhadores formais no Brasil, o equivalente a 25% do total. Uma decisão tomada há três anos, quando foi contratado diretamente pela administração de um edifício comercial em São Paulo. Antes, passou por três empresas terceirizadas, além de frigoríficos e construtoras. “Prefiro fazer bico a voltar para esse mercado”, afirma.  Hoje ganha 1.080 reais (270 reais acima do salário mínimo), mais 400 reais em benefícios e horas extras por plantões aos sábados. Em 2007, exerceu a mesma função em uma terceirizada. Recebia um salário mínimo e um vale-cesta de 90 reais, sem possibilidade de fazer horas extras. Sempre havia serviço além do contratado e o pagamento às vezes atrasava. “Não vale a pena. Além de pagarem mal, demitem a todo momento.” O novo emprego permitiu-lhe pagar um curso de cabeleireiro para a esposa, dona de casa e disposta a montar um negócio próprio. Ele pensa em concluir os estudos, interrompidos no ensino médio, e estudar inglês e alemão.

A mudança profunda nas suas condições de vida foi possibilitada pelo seu ingresso na parte que melhor representa o mundo criado pelo presidente Getúlio Vargas, há mais de 70 anos. Em 1º de maio de 1943, no Rio de Janeiro, em um Estádio de São Januário repleto de trabalhadores, Vargas assinou o Decreto-Lei nº 5452, de criação da Consolidação das Leis do Trabalho, sistematização e unificação da legislação trabalhista a partir de 1930. Um “inegável avanço em relação ao período republicano anterior, no qual as relações entre capital e trabalho eram encaradas como uma questão de polícia e os empregados ficavam à mercê das arbitrariedades dos patrões, sem praticamente nenhuma legislação que lhes assegurasse os direitos básicos”, escreve o historiador Lira Neto na biografia Getúlio. A CLT regulamentou o salário mínimo, as férias anuais, o descanso semanal e outros benefícios à classe trabalhadora. O instrumento contribuiu para a sustentação política de Vargas e constituiu o seu “legado simbólico mais eloquente”, até hoje de pé. A normatização permitiu regulamentar as relações entre o capital e o trabalho em um período de expansão da indústria e aumento do número de operários e comerciários a partir da criação das estatais Companhia Siderúrgica Nacional e Vale do Rio Doce, grandes fornecedoras do setor manufatureiro, às quais se somaria a Petrobras, instituída em 1951.

Hoje há 48,9 milhões de trabalhadores formais no País, segundo a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho em 2013. A parcela de 25% de terceirizados recebe salários inferiores àqueles dos contratados diretos para as mesmas funções, tem menos benefícios, está mais sujeita a acidentes, à violação de direitos trabalhistas e ao trabalho em condições análogas às da escravidão. A forte pressão empresarial para ampliar o uso de terceirizados põe tudo em risco. Para o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, “franquear a terceirização é desconstruir todo o sistema trabalhista”, parte integrante da democracia brasileira.

Segundo levantamento da CUT e do Dieese, em 2010 os terceirizados recebiam em média 27% a menos do que os contratados diretos para exercer funções semelhantes, tinham uma jornada semanal 7% maior e permaneciam menos tempo no mesmo trabalho (em média 2,6 anos, ante 5,8 anos para os trabalhadores diretos). Em sondagem da CNI, 60% das empresas dizem oferecer aos terceirizados e aos contratados o mesmo tratamento.

Dos 40 maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à escravidão nos últimos quatro anos, 36 envolviam empresas terceirizadas, segundo levantamento do cientista social Vitor Filgueiras, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Doenças e mortes entre terceirizados são mais frequentes. Na construção de edifícios, com mortalidade duas vezes superior à média em acidentes de trabalho, 55,5% dos óbitos foram de terceirizados em 2013. A causa não seria a terceirização, mas falhas na fiscalização, dizem os empresários. “A terceirização benfeita evitará a precarização”, diz Romeu Camargo, assessor jurídico da Federação do Comércio de São Paulo. Cerca de 75% das empresas dizem fiscalizar o cumprimento do pagamento de encargos trabalhistas e das normas de saúde e de segurança das terceirizadas.

Desde 1993, a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho restringe o trabalho temporário aos serviços de vigilância e limpeza e a funções não relacionadas às principais atividades das empresas. Descumprir a lei custa indenizações milionárias às companhias, que reclamam de insegurança jurídica e de falta de clareza na definição dos conceitos de atividades-fim e meio. Há 17 mil processos contra terceirizadas em andamento na Justiça do Trabalho. “Existe uma cultura do ‘garantismo’ legal, mas precisamos privilegiar a negociação. Temos uma legislação fomentadora de conflitos”, diz Alexandre Furlan, vice-presidente da Confederação Nacional das Indústrias.

A articulação de entidades empresariais para derrubar as limitações à contratação de terceirizados ganhou força nos anos 1990, com o avanço do neoliberalismo e das propostas para reduzir custos e desregulamentar o trabalho. O Enunciado 256 do TST, vigente até 1993, proibia a terceirização no País e a Súmula 331 foi considerada um retrocesso pelo movimento sindical. Diante da ofensiva do setor empresarial, hoje os sindicatos lutam para manter a Súmula e garantir um limite.

Mais de dois terços das indústrias contrataram serviços terceirizados nos últimos três anos, segundo sondagem da Confederação Nacional da Indústria. Montagem e manutenção de equipamentos, logística e segurança são os serviços mais terceirizados e 84% das empresas pretendem manter ou aumentar o seu uso nos próximos anos.

A batalha para avançar na liberação sofreu revezes no TST e no Congresso, onde as entidades empresariais tentam aprovar o Projeto de Lei nº 4330, do deputado peemedebista e empresário Sandro Mabel, de acolhimento da terceirização em todas as atividades dos setores privado e público. A sua votação foi suspensa no fim do ano passado por pressão do movimento sindical e do TST. A proposta provocará uma “gravíssima lesão” de direitos contra os trabalhadores, argumentaram 19 dos 26 ministros da Corte em documento enviado ao autor do projeto. Mabel desconsiderou a ponderação dos ministros e prometeu publicamente ao empresariado colocar o projeto em votação logo após as eleições.

A terceirização, segundo a CNI, faz parte de uma tendência mundial e é essencial para o ganho de produtividade e competitividade. “Nos anos 90, os projetos neoliberais no Brasil falavam em ampliar as possibilidades de terceirização para gerar empregos. A ampliação não ocorreu, mas o emprego aumentou. Agora adotam uma nova justificativa, a do aumento da produtividade. É uma nova mentira”, rebate Magda Biavaschi, pesquisadora do Cesit e integrante do Fórum Nacional em Defesa dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização.  Na América do Sul, diferentemente do Brasil, a maioria dos países regulamentou a terceirização em lei e estabeleceu a responsabilidade solidária das empresas contratantes. Aqui, a responsabilidade é subsidiária e, portanto, recai sobre a companhia contratada, quando há condenação.

Um fato novo aumentou a esperança dos empresários na liberação da terceirização. Pela primeira vez, o assunto está nas mãos do Supremo Tribunal Federal, encarregado de apreciar o recurso da fabricante de celulose Cenibra, de Minas Gerais, contra a decisão da Justiça do Trabalho de condená-la a pagar 2 milhões de reais por terceirização ilegal. A condenação baseou-se em uma denúncia do Ministério Público do Trabalho e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Guanhães, de terceirização nas atividades de florestamento e o reflorestamento, ligadas à operação principal da empresa.

O ministro Luiz Fux, relator, no início rejeitou o recurso da Cenibra e a decisão foi mantida em agravo regimental. Em seguida, após apreciar embargos declaratórios, modificou radicalmente o seu entendimento e acolheu o recurso empresarial. O assunto seguiu para exame da existência de repercussão geral (indispensável ao julgamento dos recursos extraordinários), situação em que a decisão a ser tomada pela Corte deve ser aplicada a todos os casos em tramitação na Justiça. A maioria dos ministros considerou existente a repercussão geral, com votos contrários de Rosa Weber, Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski. O processo aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República e mobiliza, de um lado, inúmeras entidades de classe e sindicais preocupadas com os efeitos de uma possível aceitação definitiva do recurso e, na posição oposta, entidades empresariais, como a CNI, interessadas na ampliação das hipóteses de terceirização para reduzir os custos salariais.

Em reforço à ofensiva empresarial contra os direitos trabalhistas, foi proposta a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 324. Nela, a Associação Brasileira do Agronegócio pede a suspensão do andamento de qualquer processo em curso na Justiça do Trabalho em que se discuta a legalidade da terceirização empreendida por empresário. Caberá ao ministro Luís Roberto Barroso a relatoria da ação, contestada pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho e à espera de um parecer da Procuradoria-Geral da República.

“O que está em debate é a destruição ou a preservação de tudo o que construímos nos últimos cem anos de lutas trabalhistas no Brasil”, diz a secretária da CUT Maria das Graças Costa. Entidades sindicais, organizações de juristas do trabalho e instituições acadêmicas solicitaram uma audiência pública que deve ser agendada nas próximas semanas.

Marina Silva foi a única entre os candidatos à Presidência a defender de modo explícito a posição empresarial. “A terceirização de atividades leva à maior especialização produtiva, à maior divisão do trabalho e, consequentemente, à maior produtividade das empresas… Há no Brasil um viés contra a terceirização”, lê-se em seu programa de governo. Em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, do partido do candidato Aécio Neves, enviou ao Congresso um projeto de lei para acabar com as restrições ao trabalho terceirizado, engavetado em 2003, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, em encontros recentes com sindicatos, manifestou-se contrária à retirada de qualquer conquista trabalhista, mas a CUT cobra uma formalização do compromisso.

Para a pesquisadora Magda Biavaschi, a proposta de Marina Silva é radical e prevê a retirada da responsabilidade da Justiça do Trabalho para arbitrar sobre as normas das relações entre empregadores e empregados. Marina defende a fiscalização do cumprimento das normas pelos sindicatos, “mas com a terceirização sem limites, os patrões escolherão com quais sindicatos vão negociar”.

No setor público, o maior problema está relacionado à inadimplência das terceirizadas com os trabalhadores ao fim do contrato. A exigência da licitação pelo menor preço leva à contratação de empresas frágeis financeiramente. De acordo com o Sindicato dos Vigilantes da Bahia, em um caso há mais de 5 mil trabalhadores que reclamam uma dívida do governo do estado, de 15 mil reais por funcionário. Para coibir os calotes, o Distrito Federal, a Bahia e o governo federal assinaram medidas para obrigar a retenção dos valores relacionados ao pagamento dos direitos trabalhistas em uma conta que a terceirizada não pode movimentar sem a autorização do contratante.

Amado e combatido há mais de meio século, o legado getulista está nas mãos dos ministros do STF.

*Reportagem publicada originalmente na edição 817 de CartaCapital, com o título “Direitos Ameaçados”

Trabalhadores paulistas cobram R$ 50 mi do governo estadual

Em resposta à CUT São Paulo, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região de São Paulo (TRT-2) informou que a maior demissão em massa de servidores públicos da Fundação Casa (antiga Febem), considerada arbitrária, já soma aproximadamente R$50 milhões. O processo envolve 923 trabalhadores e foi aberto após a demissão de 1.751 agentes quando o atual governador Geraldo Alckmin (PSDB) também comandava o estado. A justiça determinou que parte dos funcionários fosse reintegrada em 2005 e 2007, porém o governo precisará expedir precatórios (dívida judicial do Estado) por conta dos salários atrasados, danos morais e direitos trabalhistas.

“Eles não negociam, esperam que a gente chegue aos tribunais para resolver as questões. Acabam gastando muito mais do dinheiro do contribuinte com as ações judiciais, em casos que poderiam ser resolvidos por meio do diálogo. O quinquênio, por exemplo, é um dos nossos benefícios que o governo não paga”, acusou Aldo Damião Antônio, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança, ao Adolescente e à Família (Sitraemfa). Na época, para justificar a demissão, Alckmin chegou a afirmar que estava dispensando agentes torturadores. “Isso causou danos porque funcionários passaram a ser ofendidos nas ruas, na própria vizinhança ou dentro da família. Temos casos de servidores que adoeceram, um que se tornou mendigo e quatro trabalhadores que cometeram suicídio”, relata Edson Brito, secretário de Assuntos Jurídicos do Sitraemfa.

Dilma defende manutenção de direitos trabalhistas

Após  participar de um encontro com empresários na Associação Comercial e Industrial de Campinas, semana passada,  a presidenta Dilma Rousseff (PT) afirmou que, em caso de um segundo mandato, não promoverá reformas na legislação trabalhista que retirem direitos dos trabalhadores conquistados ao longo dos anos. “Eu não mudo direitos na legislação trabalhista. Férias, décimo terceiro, FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço], hora extra, isso não mudo nem que a vaca tussa”, afiançou a candidata à reeleição.

Dilma acha possível, entretanto, realizar algumas atualizações na lei, sem, porém, efetuar qualquer redução nos direitos já garantidos. A presidenta citou, por exemplo, o caso de jovens aprendizes em micro e pequenas empresas, que, segundo a lei, devem ter a formação bancada pelos empresário – para estimular a contratação, o governo anunciou que, agora, os estudos serão custeados com recursos do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). “Quando se tem mudança na relação de trabalho, a legislação tem que mudar. Agora, essas mudanças na legislação não podem comprometer direitos”, sintetizou.