Porque a fórmula 85/95 vai melhorar as aposentadorias

A fórmula 85/95, aprovada nesta semana pela maioria dos deputados, vai melhorar bastante a vida dos futuros aposentados, na opinião da CUT. Vai diminuir o tempo para se aposentar e ainda vai aumentar o valor das aposentadorias.

Ao contrário do que muitos estão imaginando, as pessoas não terão de ter 85 anos ou 95 anos de vida para se aposentar. Nada disso.

A fórmula é simples. Os trabalhadores e trabalhadoras vão poder somar a idade e o tempo de contribuição à Previdência para se aposentar sem desconto.

Acompanhe:

Idade + tempo de contribuição = 85 (mulheres) e 95 (homens). Se a conta bater, o trabalhador ou trabalhadora terá aposentadoria integral.

Pelas regras, os homens têm de contribuir 35 anos para a Previdência. As mulheres, 30.

Vamos citar dois exemplos básicos:

  1. Homem com 60 anos + 35 anos de contribuição = 95 (aposentadoria sem desconto)
  2. Mulher com 55 anos + 30 anos de contribuição = 85 (aposentadoria sem desconto)

A idade das pessoas pode variar caso a caso, já que muitos começam a trabalhar desde muito cedo, e tantos outros trabalham alguns períodos sem fazer contribuições à Previdência – seja porque ficam um tempo sem carteira assinada ou não pagam o Guia da Previdência Social (GPS), quando autônomos.

“O que não muda é a certeza de que com a Fórmula 85/95 os brasileiros e brasileiras vão ter uma situação bem melhor do que a atual”, diz Vagner Freitas, presidente nacional da CUT.

Fator previdenciário

Hoje em dia existe o fator previdenciário, criado pelo governo FHC (PSDB), em 1998, que estica o tempo de trabalho das pessoas e encolhe as aposentadorias.

Com o fator previdenciário criado pelo FHC, mesmo quando o trabalhador e a trabalhadora já pagaram 30 anos ou 35 anos para o INSS, não podem se aposentar com o ganho integral, por causa da chamada “tábua de expectativa de vida”.

Ao longo das últimas décadas, a idade média da população vem subindo, em função das melhorias no atendimento médico, habitação e saneamento. Nossa expectativa de vida sobe todos os anos.

Por causa do fator previdenciário do FHC, toda vez que a expectativa de vida sobe, aumenta o tempo de trabalho necessário para se aposentar. É uma situação perversa que poderia ser ilustrada com a imagem de um pedestre que corre atrás de um carro veloz: vai tentar, mas nunca conseguirá alcançar.

Caso cansem de esperar, já que a tábua de expectativa de vida não para de subir, o trabalhador ou a trabalhadora se aposentam com o desconto criado pelo fator previdenciário.

Como surgiu a 85/95

A Fórmula 85/95 acaba com essa distorção. A 85/95 foi elaborada e negociada em conjunto, em 2009, pela CUT e as outras cinco maiores centrais, a Secretaria Geral da Presidência, o Ministério da Previdência e o então deputado federal Pepe Vargas (PT-RS), no segundo mandato do governo Lula. O projeto seguiu então para o Congresso.

No ano seguinte, com nova composição, o Congresso deixou o projeto na gaveta, até que, na última quarta-feira, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) sacou a proposta, logo depois aprovada em plenário.

“O governo Fernando Henrique, com o fator previdenciário, retirou direitos dos trabalhadores. Já a proposta aprovada pela Câmara é resultado de um amplo debate. Sua adoção será um antídoto para a distorção existente hoje. Como regra de transição, vai respeitar o tempo de trabalho e de contribuição das pessoas”, avalia Vagner, presidente da CUT.

Mais vantagens

Outra mudança vai beneficiar aqueles que já tiverem tempo de contribuição, mas que ainda não atingem a soma 85 ou 95, por causa da idade.

A partir do momento em que atingirem o tempo de contribuição, além de a tábua de expectativa de vida ficar congelada, cada ano seguinte de trabalho vai valer por dois.

Dois exemplos:

  1. Um homem com 50 anos + 35 anos de contribuição = 85

Matematicamente, ele deveria trabalhar mais dez anos. Porém, como cada próximo ano de trabalho passará a valer dois, pois serão somados o ano de vida e o ano de contribuição, ele terá de trabalhar só a metade, ou seja, cinco anos, para se aposentar sem descontos.

  1. Uma mulher com 45 anos +30 de contribuição = 75

Da mesma forma que o exemplo anterior, essa trabalhadora deveria puxar mais 10 anos de trabalho. Com as novas regras do 85/95, esse tempo cai para cinco anos.

Comprovar tempo de contribuição ficará mais fácil

Para ter uma ideia de como atualmente o tempo de contribuição – o precioso tempo em que o trabalhador e a trabalhadora pagam a Previdência – é pouco valorizado pelo sistema, basta citar que apenas 26% das aposentadorias no Brasil são concedidas por esse critério. A grande maioria, 56%, são por idade, o que significa que as pessoas não conseguem comprovar a contribuição.

A Fórmula 85/95 cria novos mecanismos para mudar isso e dar mais oportunidades para as pessoas terem e comprovarem o tempo de contribuição. Confira as propostas neste sentido:

– a tábua de expectativa de vida não vai mais ser considerada para fins previdenciários para quem já tiver atingido 30 ou 35 anos de contribuição. A tábua será congelada, ou seja, a idade mínima de contribuição não vai aumentar todo o ano;

– o trabalhador que estiver desempregado e recebendo o seguro- desemprego vai poder contar esse período como tempo de contribuição para a Previdência. Dessa forma, vai diminuir lacunas ao longo da sua vida laboral;

– o aviso prévio também será considerado como tempo de contribuição;

– garantia de que todos os trabalhadores que estiverem a 12 meses de se aposentar tenham estabilidade no emprego, da mesma forma como já acontece em vários acordos e convenções coletivas de categorias como metalúrgicos, bancários, químicos, eletricitários, etc.

Como ficam as contas da Previdência

Os meios de comunicação tradicionais já estão alardeando que essa mudança, embora boa para os trabalhadores, vai piorar as contas do governo e prejudicar o Brasil.

“Não se pode esquecer, no entanto, que a valorização das aposentadorias vai injetar mais dinheiro na economia, o que faz girar o comércio e os serviços e gera mais empregos e salários. É isso que faz a arrecadação subir e manter o País forte. E que deixa o povo mais feliz”, diz Vagner.

Voltaremos a esse assunto na próxima semana. Mostraremos que essa mudança não provocará “rombo” na Previdência, como estão dizendo os analistas e jornalistas conservadores.

CUT chama paralisação para dia 29 de Maio

Para pressionar o Senado a votar contra a aprovação do PL 4.330 a CUT e demais centrais sindicais estão chamando um Dia Nacional de Paralisação em 29 de Maio.  De acordo com Vagner Freitas, presidente da CUT, os patrões só entendem “quando os trabalhadores param e afeta o dinheiro do bolso”. “Não vamos trabalhar para que o Senado ratifique as atrocidades que a Câmara cometeu”, concluiu. 

CUT participa de audiência pública no Senado sobre PL 4330

Lideranças da CUT e de outras centrais sindicais participaram ontem (14) da audiência pública “Terceirização: revogação da Lei Áurea e fortalecimento do trabalho escravo”, no Senado.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, alertou para os prejuízos que a terceirização sem limites trará ao país e aos direitos dos trabalhadores, com demissões, reduções de salários e precarização do trabalho.

Segundo Freitas, o antídoto ao projeto 4330 é a mobilização, e lembrou que dia 29 de maio a CUT e outras centrais sindicais estão convocando todos para participar de atos no Dia de Paralisação Nacional. “Como não acho que exista vitória sem luta, convoco todos à greve, porque o empregador só entende uma linguagem: quando tira dinheiro do bolso. Não vamos trabalhar para que o Senado retifique a atrocidade que a Câmara cometeu”, afirmou.

 

Proposta das centrais, emenda enterra Fator Previdenciário

Em meio à pauta negativa de ataques aos direitos trabalhistas na Câmara dos Deputados, ao menos um ponto pode ser comemorado pelos trabalhadores. Uma emenda apresentada pelo deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e aprovada nessa quarta (13) por um placar acirrado (232 votos a favor e 210 contra) resgata a fórmula 85/95 para as aposentadorias.

O deputado apresentou uma proposta de mudança de cálculo nas aposentadorias elaborada pelas CUT e as outras cinco maiores centrais sindicais, em 2009, em conjunto com o Ministério da Previdência, a Secretaria Geral da Presidência da República e o então deputado federal Pepe Vargas (PT-RS), durante o governo Lula.

A fórmula, na prática, permite ao trabalho ‘fugir’ do fator previdenciário, que não deixará de existir. A 85/95 garante aposentadoria igual à média dos 70% maiores salários para quem atingir a seguinte equação: tempo de contribuição + idade = 85 (para mulheres) ou 95 (para os homens). Exemplo: um trabalhador que tiver 60 anos de idade e 35 de contribuição e, portanto, atingiu a soma 95, já pode se aposentar sem desconto. Para as mulheres, a mesma lógica, mas com uma carga menor: com 55 anos de idade e 30 de contribuição, aposentadoria cheia. O teto do INSS, atualmente, é de R$ 4.662.

“Essa proposta da CUT e das demais centrais é fundamental para o momento de crise que vivemos, numa cenário em que a economia precisa ser revigorada, e atende a uma reivindicação histórica de acabar com o famigerado fator previdenciário criado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) para diminuir os vencimentos dos trabalhadores aposentados”, avaliou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.

A proposta da 85/95, como tantos outros projetos importantes, havia sido deixada na gaveta pelos deputados e senadores que se elegeram no ano seguinte, até ter sido resgatada ontem.

Entenda o fator previdenciário

Em 1999, FHC sancionou a lei 9.876 que instituiu o fator previdenciário sob a alegação de que era preciso inibir as aposentadorias tidas pelo antigo governo como “precoces” e adiar o ingresso dos trabalhadores na Previdência Social. A fórmula considera idade, tempo de contribuição e expectativa de vida no momento da aposentadoria. Como a expectativa de vida dos brasileiros aumentou a cada ano, em função das melhorias das condições sociais, na prática, o fator previdenciário serviu para reduzir, em média, 40% do valor dos benefícios. 

A partir da mudança aprovada ontem, só sofrerá os efeitos do fator previdenciário os trabalhadores e trabalhadoras que não quiserem esperar o tempo para completar as somas 85 e 95.

A emenda de Arnaldo Faria de Sá tem conteúdo idêntico ao texto encaminhado à época por Pepe Vargas, que também reduz o tempo para obtenção de aposentadoria integral caso o trabalhador não tenha atingido a Fórmula 85/95.

Como exemplo, o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) aponta que um trabalhador com 53 anos, que ganhe R$1 mil mensais, tenha começado a trabalhar aos 18 anos e quiser se aposentar já, terá a redução de 33,5% nos vencimentos pelo fator previdenciário e receberá R$ 665. Para ter direito ao valor integral, precisará de mais sete anos de contribuição. Já com a fórmula 85/95, precisará trabalhar metade disso, 3 anos e meio, para receber o valor integral.

Câmara aprova emenda à MP 664 que derruba fator previdenciário

Em uma mudança radical da votação da Medida Provisória 664, os deputados votaram, na noite de ontem (13), três emendas que alteram o teor da matéria e já são consideradas a primeira derrota real do governo em relação ao ajuste fiscal. A principal muda as regras do polêmico fator previdenciário (cálculo feito atualmente para concessão de aposentadorias) e dá alternativa ao trabalhador para aplicar a chamada regra 85/95 – que permite aposentadoria integral em vez do fator. A aprovação desta emenda teve 232 votos favoráveis e 210 contrários.

A segunda emenda aprovada, por sua vez, retira do texto o item que repassa para as empresas a responsabilidade de bancar o valor integral do auxílio-doença dos seus trabalhadores. A terceira regulamenta a pensão por morte para pessoas com deficiência.

Com a aprovação das emendas, o prosseguimento da apreciação da MP 664, a partir de hoje, passa a ter um tom diferente em relação ao observado durante a apreciação da MP 665, na última semana, quando os deputados mantiveram o texto original e não aprovaram emendas propostas à matéria. No caso da MP 664, a medida corre o risco de ter o texto bastante fatiado até sua tramitação final no Congresso.

A 664, que integra as matérias legislativas referentes ao pacote de ajuste fiscal do governo, altera as regras de pensão por morte e auxílio doença, impondo carências e tempo de recebimento conforme a faixa de idade do beneficiário (enquanto a 665, atualmente no Senado, altera regras referentes a seguro-desemprego e abono salarial).

Larga margem

Pouco tempo antes da votação da emenda sobre o fator previdenciário, o governo tinha comemorado a aprovação do texto base da MP 664 com uma larga margem de votos.  A regra 85/95, que com a emenda poderá ser usada em substituição ao fator previdenciário, prevê que a mulher poderá se aposentar quando a soma de sua idade aos 30 anos de contribuição for de 85 e, no caso do homem, a soma da idade a 35 anos de contribuição somar 95.

Por essa regra, a aposentadoria passa a ser integral em relação ao salário de contribuição, sendo que, para os professores, haverá diminuição de 10 anos nesses totais.

O fator previdenciário, criado no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reduz o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição antes de atingir 65 anos, nos casos de homens, ou 60, para as mulheres (o tempo mínimo de contribuição para aposentadoria é de 35 anos para homens e de 30 para mulheres).

A medida foi considerada, na época, uma alternativa para ajudar a conter o déficit da Previdência Social e equilibrar as contas públicas, mas ao longo dos anos tem sido criticada por centrais sindicais.

A votação de ontem, no entanto, contou com uma situação inusitada, por ter tido, como os maiores defensores do fim do fator os deputados do PSDB – partido que criou esse instrumento – e mesmo em meio a declarações feitas por FHC de defesa do ajuste fiscal e do fator previdenciário.

“Eles estão mostrando o quanto são oportunistas e não ligam para os trabalhadores nem para as contas da previdência. O que está valendo para esse pessoal que está aqui é apenas derrotar o governo e fazer um discurso demagógico”, reclamou do plenário o líder do PSC, deputado Sílvio Costa (PE), em relação aos oposicionistas. Mas a aprovação da emenda contou, também, com votos da base aliada.

Antes da votação, o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), pediu aos partidos da base para seguir o compromisso assumido pelo governo, por meio de negociações com o vice-presidente Michel Temer, de deixar o assunto para ser tratado em 180 dias por meio do fórum multissetorial criado no início de maio – e que reúne representantes das centrais sindicais, Executivo e Legislativo.

Horas antes, Guimarães também tinha ponderado aos colegas que votar medidas semelhantes seria o mesmo que “ajudar a Previdência a quebrar em poucos anos”.

Já o autor da emenda, deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) defendeu seu teor por significar um avanço para o fim do fator 0. “O fator previdenciário reduz em 40% a aposentadoria dos trabalhadores e tem de acabar porque é uma grande injustiça”, afirmou. A aprovação da emenda teve 232 votos favoráveis e 210 contrários, com duas abstenções.

Auxílio-doença

A segunda emenda, retirou do texto da MP o item que determina que o pagamento do auxílio-doença deverá ser bancado pelas empresas durante 30 dias. Pelas regras de hoje, este pagamento é dividido com o governo que paga os primeiros 15 dias, deixando os demais 15 dias para as empresas. Muitos deputados enfatizaram que, mudar a regra, significaria “colocar os trabalhadores totalmente nas mãos dos empresários nos casos de doença”. Como resultado, a emenda foi aprovada por 229 votos favoráveis contra 220 contrários.

“Algumas microempresas não suportariam essa mudança e entrariam em processo falimentar”, disse o deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA). “É uma falácia o governo dizer que quem quer diminuir o tempo de auxílio-doença pela empresa defende a empresa contra o trabalhador”, acrescentou Edmar Arruda (PSC-PR).

O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que a Medida Provisória do Imposto de Renda (670/15) trará uma mudança para o pagamento do auxílio-doença para a pequena e média empresa. Essas empresas terão de arcar com 20 dias do auxílio-doença em relação aos 30 dias que estavam previstos na MP 664/14. “Nenhum pequeno e médio empresário do Brasil, por essa medida, será prejudicado”, explicou.

Com o resultado, o plenário da Câmara prossegue nesta quinta-feira (14) a votação das demais emendas em clima de expectativa e o governo, de alerta. Porque já se sabe que, desta vez, a votação das emendas está sendo um páreo duro entre os que apoiam e os que criticam o ajuste fiscal e porque muitos deputados que se posicionaram favoráveis ao teor da medida, já mostraram que a apoiam, mas não integralmente.

Os deputados aprovaram, às 19h40, o texto-base da MP, que teve como relator o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), e as três emendas (a de alternativa ao fator previdenciário; de regulamentação da pensão por morte para pessoas com deficiência; e exclusão do prazo sobre o auxílio-doença). Outras 12 emendas estão programadas para serem apreciadas hoje.

Haddad assinará até o fim do ano lei que pune trabalho escravo

O prefeito de São Paulo Fernando Haddad anunciou ontem (13) que pretende sancionar até o fim deste ano uma lei municipal para punir com rigor empresários que utilizem mão de obra escrava em sua cadeia produtiva.

O anúncio aconteceu durante o lançamento do Plano Municipal de Erradicação do Trabalho Escravo (Comtrae), que reúne 58 medidas para punir e prevenir o trabalho escravo e também medidas de acolhimento das vítimas resgatadas.

O Plano prevê, entre as punições, a proibição de empresas condenadas por trabalho escravo de participar de licitações e concessões do poder público. Outra medida é a criação de um banco de dados unificado para fiscalização dos casos e que cadastre as vítimas para programas sociais federais .

O documento elaborado pela Comtrae tem vigência de três anos, período em que passará por constantes avaliações, e contará com o trabalho de pelos menos cinco secretarias municipais e de organizações da sociedade civil, como a CUT , a Conectas Direitos Humanos e o Repórter Brasil.

Em 20 anos, fiscalização se consolida e resgata 49 mil de trabalho escravo

A primeira operação do grupo móvel de fiscalização, referente a trabalho escravo, completará 20 anos nesta sexta-feira (15). Era uma equipe com dez pessoas, incluindo o atual procurador-geral do Trabalho, Luís Camargo. Durou quatro dias e percorreu carvoarias em três municípios em Mato Grosso do Sul. Duas décadas depois, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que as operações de fiscalização no país resgataram, até agora, 49.353 trabalhadores de condições análogas às de escravidão. Foram inspecionados 4.100 estabelecimentos, em 1.785 operações, que resultaram em 48.720 autos de infração lavrados e R$ 92,6 milhões em indenizações. O grupo móvel atravessou três governos (FHC, Lula e Dilma) e tornou-se política de Estado.

A prática adquiriu outras características nesse tempo. Segundo o chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo do MTE, Alexandre Lyra, as ações – que incluem o Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Procuradoria-Geral da República, entre outros órgãos públicos – começaram a ser feitas, basicamente, na área rural. Chegaram ao meio urbano e agora também já ocorreram até em navios e transatlânticos que fazem cruzeiros, que estariam submetendo tripulantes a jornadas consideradas exaustivas.

“As nossas demandas vinham do meio rural. Houve uma mudança nos últimos cinco anos”, diz Lyra. Agora, aumentou o campo de atuação, o que exige mais estrutura e conhecimento. E não permite descuidar do meio rural, onde permanece o “estado de alerta”, segundo o chefe da fiscalização.

Apenas em 2014, foram 170 operações em 284 estabelecimentos, com 1.674 resgatados. Confirmando a maior ocorrência da prática em áreas urbanas, o setor de construção civil lidera, com 452 trabalhadores resgatados no ano passado. Em seguida, vêm a agricultura, com 358, e a pecuária, com 238. De acordo com Lyra, a maior ação individual ocorreu em uma obra de construção em Macaé (RJ),  envolvendo 118 trabalhadores.

Neste ano, até o último dia 6, foram realizada 30 operações em 55 estabelecimentos. O total de resgatados chega a 419.

Em alguns setores, como o de açúcar e álcool, a situação melhorou bastante, avalia Lyra. Independentemente do setor, ainda existem tentativas de burlar a legislação, “mas a gente consegue identificar a fraude rapidamente”.

O número de resgatados caiu significativamente de 2013 (2.808) para 2014 (1.674). Em parte, ele avalia essa queda a denúncias não confirmadas, que equivale a praticamente metade do total. Mas ressalta que o número de operações no ano passado foi um dos maiores desde o início das atividades dos grupos móveis, em 1995. Foram 170, só perdendo para 2013 (185) e igualando o total de 2011.

Desde o final do ano passado, a chamada “lista suja” do trabalho escravo, divulgada periodicamente pelo MTE, foi suspensa por decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse hoje (13) que a Advocacia-Geral da União foi acionada e que espera uma solução para breve. “Aguardamos para os próximos dias a revogação da medida para que se estabeleça a publicação da lista.”

 

Fórum articula forças progressistas para enfrentar tucanos nas eleições em SP

“São Paulo é o quartel-general da direita no Brasil.” Com essa frase, o  coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, resumiu o espírito de movimentos, centrais e lideranças presentes no lançamento do Fórum dos Movimentos Sociais do Estado de São Paulo, na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, na noite de ontem (13).

CUT, Central de Movimentos Populares (CMP), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Levante Popular da Juventude, MST, Coletivo Luta pela Água, entre dezenas de entidades, e lideranças como Alexandre Padilha (secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo) e Artur Henrique (secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo), além de vários deputados, estiveram presentes.

A ideia do fórum é promover a unificação da esquerda e movimentos progressistas em São Paulo e, com debates e mobilização, inclusive nas ruas, construir estratégias para mudar a realidade política de um estado governado pelo PSDB há duas décadas. A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão (PCdoB), deu o tom: “O desafio é: como vamos mostrar ao povo a tibieza do governo de São Paulo, há 20 anos com o PSDB?”, disse, em seu discurso. O prefeito Fernando Haddad não compareceu.

Segundo Nádia, os governos tucanos têm “características inexplicáveis e esquizofrênicas”. Ela chamou a atenção para as obras que, como as do metrô, estouram prazos indefinidamente sem que haja cobrança da imprensa e da sociedade como um todo. “Em termos de obras, inexiste cronograma. Quem sabe quando começa e quando terminam as obras do metrô? Cronograma de grandes obras em São Paulo é uma ficção”, declarou, citando o monotrilho. “Como se explica que um governo com esse perfil governa há tanto tempo?”

Os governos tucanos mantêm a hegemonia no estado desde 1995, quando teve início o governo de Mário Covas, que sucedeu Luiz Antônio Fleury Filho, do PMDB.

Para a vice-prefeita paulistana, a mídia oculta as crises, que, segundo ela, estão presentes em todos os setores da gestão: “O que é responsabilidade do governo, em educação, saúde, segurança pública, saneamento, água, tudo vive crises aprofundadas e crescentes”. Em sua opinião, “a principal arma é o conluio que eles (governos tucanos) têm com a mídia.”

Antes do início do ato, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, disse à RBA que a ideia do fórum é articular as forças progressistas de São Paulo. “Era preciso um fórum que pensasse os problemas do estado, com ações, defesa de projetos. A intenção do fórum é que ele seja permanente. Ele surge como projeto para pensar São Paulo a longo prazo.”

Segundo o analista político Paulo Vannuchi, o próximo “passo articulado” do fórum será o dia 29, quando ocorre o Dia Nacional de Mobilização de Paralisação das centrais sindicais. Vannuchi disse que as próximas manifestações dos movimentos progressistas devem focar a agenda do estado de São Paulo: segurança pública, “o extermínio da juventude negra na periferia de São Paulo”, o não à redução da maioridade penal, saúde, educação e “o tema do ataque paranaense, paulista e tucano, pela educação”.

A presidente da Apeoesp (sindicato dos professores da rede pública estadual), Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, disse que o fórum “vai se constituir numa trincheira de resistência no estado de São Paulo para enfrentar o governador Geraldo Alckmin e o seu partido”. Os professores deflagraram a greve no dia 13 de março. Bebel lembrou que o Tribunal de Justiça decidiu que o governador tucano não pode descontar os dias parados durante a greve da rede estadual.

“O governador tem usado todas as formas de dizer que a greve não é legítima, mas quem legitima a greve não é o patrão, são os trabalhadores”, declarou. Ela lembrou que Alckmin justificou a tentativa de cobrar os dias parados dos professores por não poder prevaricar, como governador. “Só que ele prevaricou quando, no dia 15 de março, abriu as catracas para a turma dele se mobilizar.”

Naquela data, a administração do Metrô, do governo de São Paulo, liberou as catracas da estação Trianon-Masp, da linha 2 – Verde, durante protesto contra o governo Dilma Rousseff na Avenida Paulista.

Trabalhadores do Butantan em estado de greve

Os trabalhadores da Fundação Butantan decidiram em Assembleia hoje (13) que retornarão ao trabalho, mas que permanecem em estado de greve até o julgamento no Tribunal Regional do Trabalho, que deve acontecer nos próximos dias.

Os trabalhadores preferiram não formalizar o fim da greve antes do julgamento sobre as demissões imotivadas e o enquadramento sindical. Em estado de greve, os trabalhadores podem retornar à greve a qualquer momento,  sem ser necessário o comunicado 48 horas antes. “A qualquer ameaça ou abuso, os trabalhadores podem parar novamente”, afirma Osvaldo Bezerra, o Pipoka, coordenador geral do Sindicato.

Segundo Bezerra, os trabalhadores estão mobilizados e conscientes dos abusos dos patrões. “Os trabalhadores estão identificados com a luta do Sindicato e esta greve consolida a entidade por sua atuação.”

Entenda o caso

Os trabalhadores entraram em greve no dia 8 de maio (sexta-feira). A diretoria da Fundação está impondo o Senalba (Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional no Estado de São Paulo) de forma  autoritária aos trabalhadores. “O objetivo é retaliar direitos dos trabalhadores. O Sindicato dos Químicos tem uma das melhores convenções coletivas do País e, filiando  os  trabalhadores a um outro sindicato, a Fundação tenta cortar direitos adquiridos”, salienta a diretora do Sindicato dos Químicos, Elaine Blefari.

O Senalba não representa a atividade-fim da Fundação, que é a produção de imunobiológicos e essa medida vai contra a Convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que trata da liberdade e autonomia sindical.

Os problemas na Fundação são recorrentes e a falta de diálogo e desrespeito à Convenção Coletiva é regra para os patrões. O enquadramento da Fundação junto ao Sindicato dos Químicos só ocorreu em 2010 após muita luta. Os trabalhadores estavam há anos sem receber dissídio coletivo e PLR e, em 2012, o Sindicato intermediou a negociação do pagamento retroativo dos últimos cinco anos, mas a Fundação novamente tentou burlar o acordo e os pagamentos. No ano passado o Sindicato fez novas denúncias, inclusive no Senado, com o apoio do Senador Eduardo Suplicy, sobre o desmonte da Fundação e a paralisação de produção de vacinas.

Problemas no Butantan comprometem metas de plano plurianual paulista

São Paulo – Com obras inacabadas em seus laboratórios, sem condições de atender às exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde, o Instituto Butantan compromete grande parte das metas do Plano Plurianual 2012-2015. O órgão é vinculado à Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e administrado pela Fundação Butantan. 

Instituído pela Lei estadual 14.676, de dezembro de 2011, o plano contém programas e ações que constituem uma das principais ferramentas de planejamento para guiar as políticas a serem executadas pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Informações sobre os resultados da execução dos programas aprovados no Plano até 2014, publicadas no Diário Oficial no último dia 29, mostram que uma das ações, a produção de soros, não tinha sido executada. 

A justificativa da paralisação era a área fabril, com obras ainda em andamento para atender às exigências da Anvisa. Outra ação, de produção de vacinas, foi cumprida parcialmente (82%) até 2014. O motivo é que o Ministério da Saúde não assinou convênio com o Butantan para produzir vacinas contra a raiva e hepatite B.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os dados do próprio governo estadual mostram em parte a situação denunciada pelos trabalhadores, mas que a direção da instituição não admite publicamente.

Informações do Butantan em seu próprio site – a direção da instituição não atende aos repetidos pedidos de entrevista da reportagem da RBA – indicam que ali são produzidos 13 tipos de soros em um sistema produtivo que se tornou referência nacional e internacional. Para um produto de qualidade, todo o processo é realizado em um sistema fechado, semiautomatizado e com capacidade de produção de até um milhão de ampolas de soro por ano.

Também são produzidas vacinas contra difteria, tétano e pertussis (DTP), contra difteria e tétano adulto (dT), difteria e tétano infantil (DT), influenza sazonal trivalente (fragmentada e inativada), hepatite B (recombinante) e raiva inativada (VR/Vero) – as duas últimas recusadas pelo Ministério da Saúde, conforme aponta o documento publicado no Diário Oficial.

Dengue

O site informa também que estão em desenvolvimento vacinas contra rotavírus, pneumococo, DTP, uma vacina heptavalente, a BCG recombinante-Pertussis, aplicada no recém-nascido ainda na maternidade, contra coqueluche, a Onco-BCG Recombinante, para o tratamento do câncer de bexiga, e contra a dengue.

Esta vacina, ainda conforme a página oficial na internet, seria uma vacina brasileira contra a dengue, estudada no centro de pesquisas clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e de Ribeirão Preto. Mas na quarta-feira (4), em entrevista à Folha de S. Paulo, o médico e bioquímico Isaias Raw, ex-diretor do Instituto e da Fundação Butantan, voltou a dizer que a vacina, em fase de testes com humanos, é uma parceria com o NIH, os Institutos Nacionais de Saúde. E que na instituição há capacidade para produção de 50 mil doses de vacinas contra a dengue, mas que para a demanda nacional, seria necessário construir um novo prédio. A título de comparação, o Butantan seria hoje capaz de produzir vacina para imunizar pouco menos de um Morumbi lotado em dia de jogo (aproximadamente 70 mil pessoas). 

Em meio à epidemia de dengue no estado, o secretário estadual de Saúde, David Uip, afirmou que somente uma vacina será capaz de controlar a doença. E o governador Geraldo Alckmin chegou a dizer que o Butantan tem a vacina e que quer que a Anvisa libere sua aprovação – uma autorização especial, mesmo antes da finalização dos testes. Especialistas, porém, entendem que a medida seria irresponsável.