Estudantes enfrentam violência da polícia em protesto

Alunos da rede pública passaram a madrugada de hoje (11) acampados na Escola Estadual Fernão Dias Paes, na zona oeste de São Paulo. A ocupação é um ato contra a reforma escolar anunciada em setembro e contra o fechamento de escolas. Pela manhã a policia militar reprimiu os estudantes e usou spray de pimenta.

 
Ontem à noite, o Movimento Passe Livre (MPL) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) aderiram à ocupação. Na mesma ocasião o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, visitou a escola e distribuiu garrafas de água mineral aos manifestantes; isso porque o fornecimento de água foi interrompido por algumas horas na terça-feira. 
 
Movimentos sociais e sindicais como CUT, Apeoesp e Periferia Ativa estão acampados em frente à escola Fernão Dias. O local está cercado e policiais militares ameaçam invadir o prédio.  

Fechar escolas e superlotar salas de aulas é um crime!

Temos dito, e reafirmamos, que esta verdadeira bagunça que o Governo Alckmin está fazendo, com o fechamento de 94 escolas e mudanças em outras 752 unidades visa tão somente o corte de gastos, a “racionalização” administrativa e financeira, o “enxugamento” da máquina do Estado, enfim, a aplicação do receituário neoliberal do Estado mínimo, concepção sempre implementada pelo PSDB aos serviços públicos.

A tese de que é preciso separar crianças menores de crianças maiores e separar crianças e adolescentes não tem nenhuma sustentação pedagógica e não tem nada a ver com ciclos de aprendizagem. Em sua correta acepção, os ciclos reúnem estudantes de acordo com seus estágios de aprendizagem, pouco importando suas idades. O que o Governo Estadual está fazendo é um retrocesso, um rompimento com os avanços que experimentamos nos últimos anos e a quebra do ensino fundamental de nove anos. É um retorno à seriação, aos tempos em que, em plena ditadura, tínhamos separados o primário, o ginásio e o segundo grau.

O Governo tenta justificar as barbaridades que está fazendo, por exemplo, dizendo que quer implantar escolas de “ciclo único” (termo incorreto, como já vimos), mas entre as 94 escolas que quer fechar, 40% já são de “ciclo único”. Diz que vai investir no ensino médio, mas 10% das escolas a serem fechadas são de ensino médio. Diz que quer melhorar a qualidade do ensino, mas muitas escolas que serão fechadas tem médias mais altas no IDEB e no IDESP, que são indicadores de avaliação nacionais e estaduais.

Afinal, como acreditar em um Governo que tergiversa tanto? Primeiro, fecharia ou alteraria a situação de 30% das escolas; depois, não fecharia escolas, agora anuncia o fechamento de 94 unidades sendo que muitas delas sequer são as mesmas cogitadas inicialmente.

Esta bagunça vai alterar muita coisa na vida de estudantes, suas famílias e professores. Fechar escolas é enviar estudantes para outras unidades, superlotando salas de aula. Da mesma forma, fechar o noturno ou uma etapa de ensino em uma unidade é sobrecarregar as demais da região ou a rede municipal. Não apenas serão afetadas escolas com as quais o Governo mexe diretamente, mas toda a rede, pelo “efeito cascata”.

No caso dos professores, será mais difícil compor jornada em apenas uma unidade escolar, se ministrarem aulas para o segundo ciclo do ensino fundamental e no ensino médio. Professores das escolas que serão fechadas irão disputar aulas com os colegas das demais unidades, assim como os das escolas “reorganizadas”. Se não conseguirem aulas, poderão ficar “adidos”, ou seja, “encostados”, recebendo salários menores.

Por exemplo, um professor PEB II, com jornada de 40 horas semanais, hoje recebe R$ 2.415,89 em início de carreira. Na disputa por aulas, poderá ter sua jornada reduzida para 30 horas semanais ou 24 horas semanais de trabalho, com redução salarial. No limite, poderá ficar adido, recebendo  salário equivalente à jornada inicial (12 horas semanais de trabalho). No caso do PEB II, significa míseros R$ 724, 77. No caso de PEB I, poderá passar de R$ 2.086,93 (40 horas semanais) para irrisórios R$ 626,07. O que está em jogo é a sobrevivência desses professores. O Governo do PSDB quer mesmo transformar o magistério em um “bico”.

Veja a tabela salarial completa:

Salários na rede estadual de ensino de São Paulo

Professor de Educação Básica II

  Jornada de trabalho

  Salário inicial

  40 horas semanais 

  R$ 2.415,89

  30 horas semanais  

  R$ 1.811,91

  24 horas semanais 

  R$ 1.449,52

  12 horas semanais 

  R$    724,77


Professor de Educação Básica I

  Jornada de trabalho

  Salário inicial

  40 horas semanais 

  R$ 2.086,93

  30 horas semanais  

  R$ 1.565,20

  24 horas semanais 

  R$ 1.252,17

  12 horas semanais 

  R$    626,07

Por essas e tantas outras razões não aceitaremos essa bagunça! Juntamente com estudantes, pais, funcionários de escolas, movimentos sociais, sindicatos, centrais sindicais, estamos e vamos continuar nas ruas, levando bem alto nosso Grito pela Educação Pública de Qualidade no Estado de São Paulo. No dia 10 de novembro, a partir das 12 horas, em estado de greve, realizaremos nova assembleia estadual e,  mais um vez, vamos realizar um grande ato público com toda a comunidade no Palácio dos Bandeirantes.


Fechar escolas públicas e superlotar salas de aula é um crime e o Governo Estadual não ficará impune!

 

*Maria Izabel Azevedo Noronha é presidenta da Apeoesp

Frente Brasil Popular vai às ruas contra Cunha

Na próxima sexta (13) em vários estados brasileiros, a Frente Brasil Popular sairá às ruas em defesa da democracia, da Petrobrás e contra a postura conservadora do presidente da Câmara Eduardo Cunha implementada no País. 

Os atos acontecerão em mais de 20 cidades brasileiras simultaneamente, em Brasília, a Frente se somará à grande Marcha convocada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), que também compõe a Frente.

Segundo o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, Cunha não tem condição nenhuma de permanecer como principal mandatário de um dos poderes mais importantes do Brasil, que é o poder legislativo. Para Vagner, Cunha tem que ser afastado ou pedir o afastamento já que foi comprovado pelo Ministério Público da Suíça contas ilegais em seu nome. 

“Estamos manifestando também nossa insatisfação com essa política econômica. Para o país sair da crise é necessário mudar os rumos da economia com investimentos, geração de crédito, com baixa taxa de juros e fomentar o mercado interno”, complementou o presidente da CUT.

Químicos promovem encontro nordestino em São Mateus

O Sindicato dos Químicos promoveu o primeiro Encontro Nordestino de São Mateus no último domingo, dia 8 de novembro, com a presença de grupos de música regional e a participação especial do grupo Falamansa.

Durante todo o dia houve prestação de serviços à comunidade  e atividades de lazer para as crianças.

O momento também foi oportuno para os dirigentes do Sindicato conversarem com a comunidade e alertarem sobre as investidas do Congresso Nacional contra diversos direitos dos trabalhadores. “O projeto que libera a terceirização para todas as atividades das empresas está para ser aprovado no Senado e, se for aprovado, será o fim do trabalho formal com carteira assinada e com direitos garantidos”, reforçou Helio Rodrigues, diretor do Sindicato e coordenador da campanha Frente Contra a Precarização. 

Mulheres realizam encontro em Atibaia

No último fim de semana, dias 7 e 8 de novembro, o Sindicato dos Químicos de São Paulo realizou o encontro anual de mulheres, em Atibaia, com a participação de cerca de duzentas mulheres da categoria.

Antes desse encontro, foram realizados três encontros regionais: em agosto, em São Miguel Paulista; em setembro, na Lapa; e em outubro, em Santo Amaro.

Os encontros abordaram a violência doméstica, a discriminação no trabalho, as diferenças salariais entre homens e mulheres e a falta de compreensão dos maridos no compartilhamento de tarefas. “Todas nós sofremos isso na pele. Trabalhamos fora de casa como os homens, mas temos que dar conta de tudo em casa sozinhas. São poucos os companheiros que se dispõem a ajudar”, denuncia Célia.

De acordo com a dirigente, essa luta ainda deve ser longa. “São anos de machismo e isso não se muda da noite para o dia”, avalia. Por outro lado, esse foi o primeiro encontro da categoria em que a diretoria feminina comemorou ocupar um número maior de cadeiras na direção da entidade. “Aqui no Sindicato já somos 40% de mulheres e na direção da CUT já somos 50%. O caminho é esse: ocupar os espaços nas empresas, na política, em todos os lugares”, conclui Célia. 

Circular: Campanha Salarial Químicos 2015

Vimos através da presente, informar que a Convenção Coletiva de Trabalho da nossa categoria profissional, para o período de 2015/2017, foi firmada com os Sindicatos Patronais no dia 10 de novembro de 2015. Abaixo segue resumo das principais cláusulas modificadas, sendo que as econômicas terão vigência até 31 de outubro de 2016 e as cláusulas sociais até 31 de outubro de 2017.

AUMENTO Salarial (Cláusula 04): Sobre os salários de 01/11/14, será aplicado, em 01/11/2015, o aumento salarial da seguinte forma: a) Para os salários nominais até R$ 7.929,13 (sete mil, novecentos e vinte e nove reais e treze centavos), o percentual único e negociado de 10,33% (dez vírgula trinta e três por cento), correspondente ao período de 01/11/14, inclusive, a 31/10/15, inclusive; b) Para os salários nominais superiores a R$ 7.929,13 (sete mil, novecentos e vinte e nove reais e treze centavos), o valor fixo de R$ 819,08 (oitocentos e dezenove reais e oito centavos).

Salário Normativo – piso (Cláusula 03): O salário normativo será de R$ 1.354,41 (um mil, trezentos e cincoenta e quatro reais e quarenta e um centavos), por mês, para empresas com até 49 empregados e de R$ 1.388,39 (um mil, trezentos e oitenta e oito reais e trinta e nove  centavos), para empresas com 50 empregados ou mais, sendo,  neste último caso, considerado o número de empregados existentes nas empresas a partir de 01/10/2015.

Participação nos Lucros e Resultados – PLR (Cláusula 15): o valor para 2015/2016 corresponderá a R$ 930,00 (novecentos e trinta reais) para empresas com até 49 empregados e R$ 1.030,00 (um mil e trinta reais) para empresas com 50 empregados ou mais, considerando-se neste último caso o número de empregados existentes nas empresas a partir de 01/10/2015, a ser pago em 02 parcelas iguais à metade deste valor cada uma, sendo a primeira até 31/04/2016 e a segunda até 31/10/2016, ou, alternativamente, a critério das empresas, numa única parcela, até 30/06/2016.

 

Atenciosamente,

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Osvaldo da Silva Bezerra – Coordenador Geral

 

Desempregados terão auxílio transporte em São Paulo

O prefeito Fernando Haddad aprovou nesta terça-feira (10) a concessão de um Bilhete Único especial para desempregados em São Paulo. A ajuda será válida por três meses após o fim do seguro-desemprego para aqueles que não conseguirem nova posição no mercado.

 
O Bilhete Único Especial do Trabalhador Desempregado é pessoal e intransferível e será cancelado quando o beneficiário for admitido em novo emprego. A São Paulo Transporte S.A. (SP Trans) normatizará a operação do bilhete. 

Falta de água é resultado de má gestão do governo

No último fim de semana aconteceu em São Bernardo do Campo um seminário sobre a crise hídrica na região, organizado pelo Coletivo de Luta pela Água. Segundo Hamilton Rocha, integrante do coletivo, a crise não é pela falta do recurso hídrico, mas reflexo de uma má gestão do mesmo.

Hamilton ainda aponta que 30% da água colocada na rede é perdida por falta de investimentos e correções nas tubulações da Sabesp. “Devemos criar mecanismos de poder popular para enfrentar essa questão, porque o problema não é só a chuva, é também a qualidade de água, da canalização, do tratamento, na qual precisa de uma vigilância popular para controlar isso, já que é o nosso futuro que está ameaçado”, declarou.

Na página online do Coletivo é possível ter acesso a um mapa da falta de água, além de notícias sobre as últimas mobilizações.

Acesse: http://coletivolutapelaagua.com.br

Receita libera consulta ao sexto lote do imposto de renda

A Receita Federal liberou hoje (10) a consulta ao sexto e penúltimo lote de restituição do imposto de renda. Para ter acesso ao lote basta entrar no site da Receita, ou ainda ligar no ReceitaFone 146.

O sexto lote abrange um ressarcimento de R$ 2.399 bilhões. A Receita também pagará R$ 101,07 milhões a 46.279 contribuintes que estavam na malha fina mas fizeram declaração entre 2008 e 2014.

O depósito do crédito bancário será feito na próxima segunda-feira (16) e ficará disponível por um ano. O sétimo e último lote será liberado em dezembro.  

Ajuste tucano em SP afeta em cheio a vida de milhares de pessoas

A pretexto de pre­parar es­co­las para atender a “demandas específicas” conforme as faixas etárias, e em tese melhorar o ensino na rede pública, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), resolveu fechar 94 escolas em 36 municípios distribuídos pela Região Metropolitana, litoral e interior, e extinguir o ensino noturno, inclusive dedicado à suplência, no conjunto da rede. Isso sem consultar quaisquer setores da sociedade, apenas algumas diretorias de ensino. A salvação dessas unidades está agora nas mãos de prefeitos. A decisão de Alckmin prevê que parte da lista já está liberada para ser assumida por prefeituras – se isso não acontecer, a escola será fechada.

Para justificar o desmonte, a Secretaria da Educação pretende fazer funcionar, já no começo do próximo ano, 2.197 escolas em ciclo único. Dessas, 799 receberão apenas o ensino médio, 832, os anos iniciais do ensino fundamental e 566, os anos finais. Há 315 que continuarão oferecendo ensino fundamental e médio. Nessa primeira etapa, não serão “reorganizadas” 2.635 unidades. Deverão ficar para as próximas fases do processo de “reorganização”, a partir de 2017, colocando em risco grande parte delas.

Alckmin alega que as escolas serão “cedidas” aos municípios porque “sobram vagas no ensino fundamental e médio e faltam em creches e Emeis (escolas municipais de educação infantil)”. Mas ensino infantil não é responsabilidade dos estados, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e sim dos municípios. O governo que se omite em repassar recursos aos municípios para complementar o financiamento do setor, conforme determina a Constituição, ainda não procurou os prefeitos para discutir o destino das escolas, que teriam de ser adaptadas às necessidades de crianças de até 5 anos.

“Acompanhamos tudo pelos jornais, pelo Diário Oficial. Não fomos procurados. Temos grande demanda por creches e pré-escolas, mas as escolas que deverão ser transferidas, segundo noticiado, não atendem à nossa necessidade. São grandes, para atender a alunos do ensino médio. E as condições desses prédios são as piores no município, que teria de investir pesado para atender de forma digna a população”, diz o secretário da Educação de Santo André, Gilmar Silvério.

Desmentidos

Era de se supor um momento de desmobilização dos professores, voltados à reposição de aulas após uma greve de três meses, e dos alunos, preocupados com o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Pode ter sido esse o raciocínio do secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, quando anunciou, em 23 de setembro, o projeto autoritário. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) começou a divulgar informações recebidas das escolas que estariam na lista de Herman. Assim como escondeu a crise no abastecimento de água e a violência de sua polícia durante a campanha eleitoral, Alckmin negou o fechamento. Não colou.

O estado foi tomado por manifestações estudantis e de professores apoiadas pela comunidade. O movimento começou com debates internos e protestos no entorno de escolas da capital, da Região Metropolitana e do interior, e ganhou grandes centros. A mais recente, em 29 de outubro, o Grito pela Educação, levou milhares de pessoas à Avenida Paulista. Duas semanas antes, o Ministério Público abriu inquérito. Iniciativas começaram a ser tomadas também nas Câmaras Municipais e na Assembleia Legislativa.

Santo André, no ABC paulista, tinha seis escolas na lista de Herman. A grande pressão estudantil não comoveu o governo, que vai fechar a Professor José Augusto de Azevedo Antunes, na região central, e a Valdomiro Silveira, no Jardim Silvana, próximo ao município vizinho de Mauá. Mas foi vitoriosa ao impedir que o Américo Brasiliense fosse transformado em posto do Poupatempo. Os colegas Fernanda Donegá, Alice Rodrigues, Érica de Oliveira e Paulo Roberto dos Santos, todos do 3° ano do ensino médio, estiveram nos atos, inclusive no “abraço” ao edifício tradicional. “Estamos de saída, indo para a faculdade, mas nos preocupamos com aqueles que precisam trabalhar e ter uma escola como esta, no centro”, resume Paulo Roberto.

Quando o projeto se tornou público, era cogitado o fechamento de mais de mil escolas em todo o estado. Com a pressão nas ruas e o debate acirrado nas redes sociais, em que estudantes e professores estampavam cartazes com as frases “Alckmin inimigo da educação” e “Alckmin exterminador do futuro”, circulou entre as diretorias de ensino a suspeita de que o governo retiraria o pacote impopular para reverter essa imagem. Acabou oficializando 94.

Com apoio crescente, os manifestantes temem o agravamento da superlotação de salas, a piora do ensino e a evasão. De acordo com a Apeoesp, a situação foi agravada a partir do início deste ano, quando foram fechadas cerca de 3 mil turmas – que o governo chama de “ociosas” e que estaria reativando com seu pacote. Não é difícil entender o que significam classes com mais de 50 alunos espremidos.

Os professores têm perda média de 15 minutos por aula, no esforço de atrair a atenção da turma e fazer chamada. Os conteúdos são comprometidos pela falta de tempo e espaço para a atenção individual, reflexões e debates. Em uma suposição mais otimista, com turmas de 40 alunos, um professor que dá aula para 16 turmas – o que não é raro – tem 640 alunos. Como a correção e comentários de uma prova toma cerca de dez minutos, ele necessitaria de mais de 100 horas somente para essa atividade.

“Mesmo trabalhando em finais de semana, feriados, e sem receber, não temos como avaliar o aluno adequadamente”, diz o professor de Geografia Maurício Costa, da Escola Estadual Calhim Manoel Abud, na Vila Califórnia, zona sul da capital.

Em vez de justificar a desativação de prédios, a propalada “queda na demanda por questões demográficas” poderia ser convertida em melhora da qualidade do ensino. “Se é verdade o que diz o secretário, que o governo pretende melhorar a qualidade da educação, devia aproveitar para diminuir a superlotação”, diz o deputado Carlos Giannazi (Psol), da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia paulista. “Pelos critérios atuais, classes com 35 alunos são consideradas superlotadas. Imagine com mais de 50.”

Localizada no valorizado bairro da Chácara Santo Antônio, zona sul da capital, a Escola Estadual Padre Saboia de Medeiros esteve na lista. Com aproveitamento de mais de 100% no Idesp – indicador de qualidade do ensino do governo estadual – e histórico de sucesso de seus alunos em vestibulares disputados, a comunidade escolar resistiu.

Não aceitou a desativação de um colégio público prestigiado, com sala de recursos para alunos surdos e projetos de sustentabilidade em parceria com empresas, como reservatórios de água de chuva, coleta seletiva e horta comunitária, curso de fotografia, sala de leitura que tem como voluntária Sônia Mindlin, filha do bibliófilo e empresário José Mindlin (1914-2010), treinamento de rúgbi com atleta de seleção.

Os 800 alunos do Saboia, a maioria trabalhadores, moradores da favela Real Parque, Capão Redondo e Guarapiranga, foram às ruas com apoio da direção. “Devemos continuar mobilizados, alertas a quaisquer manobras do governo para tentar fechar o Saboia nas próximas etapas de seu projeto”, diz a diretora Denise Elisei.

Luta de classes

Para Denise, o temor se justifica pelo fato de não poder abrir novas matriculas para 2016 e o Saboia estar no centro de uma luta de classes. Os moradores antigos ou que herdaram suas casas naquele que foi um bairro operário defendem a escola e matriculam ali os seus filhos. “Para os que se mudaram depois da valorização da região, com prédios de alto padrão, melhor fechar e fazer aqui um shopping”, diz.

A parceria com a especulação imobiliária é outra aposta dos críticos do governo. De acordo com o professor da Universidade Federal de São Carlos Gilberto Cunha Franca, autor da tese Urbanização e Educação: Da escola de bairro à escola de passagem, defendida em 2010 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o governo de Mário Covas – Alckmin era o vice – extinguiu as escolas José Alves de Camargo Vila Mafra, na Vila Formosa, e a Martim Francisco, na Vila Nova Conceição. Os terrenos foram vendidos para a construção de prédios de alto padrão.

Franca pesquisou as escolas desativadas a partir de 1995, quando foi baixado o chamado Programa de Reorganização das Escolas da Rede Pública Estadual, imposto pela então secretária da Educação de Covas, Rose Neubauer. Ainda não se sabe ao certo quantas escolas foram fechadas. Fala-se em 148 entre 1995 e 1996. Se forem consideradas as que o estado deixou de manter, transferindo para municípios, o número é de 864 apenas entre 1995 e 1999. No período, o número de professores caiu de 237 mil para 209 mil.

Entre 1995 e 2007, os governos tucanos de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra desativaram 34 escolas na capital paulista. Algumas foram transformadas em unidades administrativas da Secretaria da Educação ou em unidades da Polícia Militar.

Agora, Alckmin vai transferir para a gestão municipal 25 prédios, a maioria em regiões periféricas ou de grande vulnerabilidade social. Apenas na favela de Paraisópolis serão três, mais duas em conjuntos habitacionais populares, e outras distribuídas por Itaquera, Parada de Taipas, Pirituba, Jardim São Luís e Piqueri, entre outros bairros. Muitas dessas unidades ofereciam classes de suplência.

Risco de evasão

O presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, entende que o desmonte na periferia expõe o lado nefasto do atual projeto quando comparado ao de 1995, quando foram desativadas escolas em regiões mais centrais. “A medida de Alckmin vai aumentar em médio prazo a evasão escolar. Ao ter de se deslocar para estudar em outros bairros ou mesmo municípios, como deverá acontecer principalmente nas cidades pequenas do interior, muitos estudantes vão acabar deixando a escola.”

O abandono escolar, segundo ele, é outra face do cerceamento ao direito à educação. O aluno expulso do sistema educacional terá dificuldade para reingressar. “A educação de jovens e adultos tem sido desmontada com o fechamento de salas, sobretudo no período noturno. Com o fechamento de escolas que ofereciam EJA (Educação de Jovens e Adultos), os alunos vão sendo jogados de um polo para outro, mais longe, até que desistem novamente de estudar”, afirma.

Professor de Geografia e de Sociologia na rede estadual, Douglas lembra que a primeira “reorganização”, há 20 anos, deixou marcas profundas. Na época o discurso era o mesmo: adequar os espaços para melhorar a educação.

“Junto com a reorganização vieram o fechamento dos centros de formação de professores, a aprovação automática, que nada mais é que a política do desocupar banco para economizar, e a superlotação. Não houve nenhum avanço. E agora querem piorar o que já estava ruim”, diz o dirigente. Para ele, as manifestações, crescentes, refletem a crise de credibilidade do governo que esconde informações da população e não assume os graves problemas na educação, transportes, segurança e gestão da água.

Na Vila Sabrina, zona norte da capital, a aposentada Maria de Lourdes Ramos, 80 anos, viu a Escola Estadual Professor ­Victor dos Santos Cunha ser construída, há cerca de 40 anos, e ser sucateada nos últimos 20. Ali estudaram suas filhas, que depois fizeram faculdade e passaram em concursos públicos. “Não faltavam professores e o prédio não tinha a aparência degradada, de presídio, que tem hoje, cheia de grades. Nestes 20 anos, o governo abandonou a escola, que foi ficando feia e violenta, que nem os professores querem vir. Os pais foram tirando os filhos. Ficaram só os mais pobres”, desabafa.

O Victor Cunha foi poupado, mas não a escola Professora Laís Amaral Vicente, nas imediações.“É muito triste ouvir que vão fechar, deixar as crianças soltas na rua sem ter escola para estudar. Se com a escola já está difícil, imagina sem”, diz a dona de casa Maria José Siqueira, 65 anos. “Deviam procurar outra alternativa que não o fechamento.”

Moradora do Jardim Peri Alto, também na zona norte, a aluna Lesleiany Mithelle de Sousa critica o projeto que quase fechou sua escola, o Francisco Vocio. Para ela, é um retrocesso incompatível com o estado mais rico da federação. “O projeto é a volta ao passado, ao tempo de nossos pais e avós, que tinham de andar muito para poder estudar.”

A presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, acredita que o governo anunciou uma lista reduzida de escolas a serem fechadas para desmobilizar estudantes e professores. “Ele recuou momentaneamente. Mas vai querer levar o fechamento adiante. E a reação popular vai prosseguir.”

Sem projeto econômico

O projeto tucano de “reorganização”não consta do Plano Estadual de Educação de São Paulo, em tramitação na Assembleia Legislativa. Foi tirado da cartola menos de dois meses depois de o Tribunal de Contas do Estado apontar ressalvas às contas do governador. Pelo quarto ano seguido, os conselheiros apontaram déficit orçamentário. Só no ano passado, os gastos superaram as receitas em R$ 355 milhões. Em 2013, R$ 994 milhões; em 2012, R$ 982 milhões; em 2011, R$ 1 bilhão. O tesouro estadual viu seu cofre minguar de R$ 7,9 bilhões, em 2012, para R$ 1,8 bilhão no ano passado. Caiu também a arrecadação estadual, de R$ 136,2 bilhões para R$ 131,5 bilhões.

Nos seis primeiros meses deste ano, a arrecadação foi menor do que em igual período de 2014. O PIB paulista recuou 1,8% no ano passado, quando o PIB nacional ficou estável, com variação de 0,1%. A falta de investimentos em infraestrutura abala a economia do estado. Dados da Fundação Seade mostram que, em 1995, a riqueza produzida no estado correspondia a 37,8% do PIB nacional. No ano passado, caiu para 28,7%. Mesmo assim, ainda é a maior entre as unidades da federação, e contribui para puxar para baixo o PIB nacional.