Desde 2020, o serviço de transporte público no Brasil enfrenta uma crise sem precedentes. Essa crise é causada pela queda do número de passageiros ligada principalmente à pandemia e também pelo aumento do óleo diesel, cujo preço dobrou desde o início do governo Bolsonaro, em 2019.
Por conta dessa crise, 49 empresas de ônibus país afora interromperam seus serviços, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Já segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), houve 484 greves ou paralisações de trabalhadores do transporte público, motivadas por direitos trabalhistas.
Só neste ano, 17 das 27 capitais do país enfrentaram greves no transporte. São elas: Aracaju (SE), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Fortaleza (CE), Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), Maceió (AL), Manaus (AM), Macapá (AP), Natal (RN), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Teresina (PI).
“Essas mobilizações em época de negociações salariais ocorrem naturalmente, mas elas vêm persistindo todo ano”, afirmou Paulo João Estausia, o Paulinho, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) e do Sindicato dos Rodoviários de Sorocaba. “Por alto, posso te dizer que elas aumentaram uns 40%.”
Paulinho diz que as greves e paralisações são necessárias para que trabalhadores reconquistem direitos perdidos durante a pandemia. Segundo ele, como o período de isolamento social reduziu a demanda por transporte público, muitas companhias acabaram reduzindo a carga horário de funcionários e, com isso, os salários também. O isolamento acabou, os ônibus voltaram a circular, mas os direitos e os salários não voltaram ao patamar anterior.
“Infelizmente muitas empresas aproveitaram a pandemia para demitir e cortar direitos, alegando falta de verbas e recuo da demanda. Porém, com o retorno das atividades não rediscutiram salários e direitos Essa realidade podemos observar em vários setores”, analisa Hélio Rodrigues, presidente do Sindicato dos Químicos de São Paulo.
De acordo com o dirigente, este é o momento de todas as categorias se organizarem e pleitearem direitos e salários. “As atividades de praticamente todos os setores voltaram ao normal, algumas categorias, como químicos e farmacêuticos aumentaram lucros e produtividades e, portanto, não há justificativa para manter trabalhadores ganhando menos e com menos direitos”, enfatiza Rodrigues.