Dieese avalia impacto da reforma trabalhista

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) divulgou nesta semana a nota técnica “A reforma trabalhista e os impactos para as relações de trabalho no Brasil”, na qual faz uma análise das principais alterações propostas pelo PLC 38/2017 (Projeto de Lei da Câmara 38/2017), referente à reforma trabalhista. A nota aborda três grandes temas: condições de trabalho, organização sindical e negociações coletivas e justiça do trabalho.

O primeiro tema, condições de trabalho, trata dos principais pontos que dizem respeito às alterações no contrato de trabalho por meio da regulamentação de contratos precários que se somam ao contrato temporário, recentemente aprovada pela Lei 13.429/2017, garantindo ao empregador variedade de formas de contratação com menores custos. Entre esses pontos, destacam-se: a instituição do teletrabalho; o contrato de trabalho intermitente; mecanismos para a rescisão do contrato que fragilizam o trabalhador; facilidade para a dispensa imotivada; quitação total de débitos trabalhistas em PCV ou PDI (Planos de Demissão Voluntária ou Incentivada); alteração dos mecanismos de hora extra; compensação de jornada por acordo individual (banco de horas).

No segundo tema, são analisadas as principais alterações estruturais na organização sindical proposta pelo PLC 38/2017, por exemplo, a criação de comissão de representantes sem vínculo sindical para promover entendimento entre trabalhadores e empregados; o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, sem substituição por outra fonte de financiamento dos sindicatos; limitação da atuação sindical pela instituição da “Reparação de Dano Extrapatrimonial” pelos trabalhadores para as empresas e/ou demais empregados, decorrente da relação de trabalho; e revogação da obrigatoriedade da presença do sindicato na rescisão do contrato de trabalho.

No terceiro tema a análise trata das propostas do PLC para a negociação coletiva, que, ao invés de ser valorizada, será restringida. Entre os pontos destacados está a prevalência do negociado sobre o legislado, mesmo em condições inferiores; prevalência dos acordos sobre as convenções coletivas; fim da ultratividade das normas coletivas; e negociação individual para trabalhadores com ensino superior ou com maiores salários.

Departamento de Jornalismo da PUC-SP solta nota em repúdio à capa da revista Veja

O Departamento de Jornalismo da PUC-SP divulgou um manifesto repudiando “nos termos mais veementes e inequívocos” a capa da ultima edição da revista Veja (2530), que traz a reprodução de uma foto em preto e branco de Dona Marisa Letícia, ex-primeira-dama, morta no último dia 3 de fevereiro, com a manchete “A morte dupla” e uma legenda explicativa: “Em seu depoimento ao juiz Moro, Lula atribui as decisões sobre o tríplex no Guarujá à ex-primeira-dama, falecida há 3 meses”. 

A nota ressalta que a revista já fez seu próprio julgamento e lavrou a sentença condenatória do ex-presidente quando diz que  “Lula adquiriu o tríplex como propina, e para se livrar da cadeia manchou a reputação de dona Marisa. Não contente com se antecipar à Justiça, assumindo o lugar do júri e do carrasco, a revista ainda se arroga o direito de interpretar as motivações mais íntimas de Lula, e expor a sua figura à execração pública da forma mais vil, covarde, inaceitável e desumana”.

Ainda segundo o comunicado, “a exposição de sua foto, na capa, cumpre a função de punir exemplarmente, a exemplo dos rituais da Sagrada Inquisição, uma mulher simples, do povo, que cometeu a ousadia de ocupar o Palácio do Planalto. A Casa Grande não perdoa”.

O Departamento de Jornalismo da universidade lembrou da capa da revista Veja de 26 de abril de 1989, dedicada ao cantor Cazuza – Uma vítima da Aids agoniza em praça pública  – e ressaltou que a “revista prova, mais uma vez, que não há limites para a patifaria, para a infâmia e a ignomínia”.

Leia nota na íntegra 

“O Departamento de Jornalismo da PUC-SP repudia, nos termos mais veementes e inequívocos, a capa da edição 2.530 (17.mai.2017) da revista semanal Veja.

A capa traz a reprodução de uma foto em preto e branco de dona Marisa Letícia, ex-primeira-dama e esposa do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, morta em 3 de fevereiro de 2017, com a manchete “A morte dupla” e uma legenda “explicativa”: “Em seu depoimento ao juiz Moro, Lula atribui as decisões sobre o tríplex no Guarujá à ex-primeira-dama, falecida há três meses”.

O que há de errado em atribuir à própria esposa e companheira uma decisão qualquer que afete a vida da família? Nada, absolutamente nada – a menos, é claro, que a revista parta da premissa de que as supostas “decisões” atribuídas a dona Marisa tenham envolvido ações ilegais, e que Lula tenha se aproveitado do fato de que sua mulher está morta para jogar-lhe o peso da responsabilidade por tais supostas ações.

A revista, portanto, já fez o seu julgamento. Já lavrou a sentença condenatória: Lula adquiriu o tríplex como propina, e para se livrar da cadeia manchou a reputação de dona Marisa. Não contente com se antecipar à Justiça, assumindo o lugar do júri e do carrasco, a revista ainda se arroga o direito de interpretar as motivações mais íntimas de Lula, e expor a sua figura à execração pública da forma mais vil, covarde, inaceitável e desumana.

É a revista Veja, não Lula, que pisoteia sobre o cadáver daquela que, durante oito anos, foi a primeira-dama de nosso país. Ao atacar a memória de dona Marisa, a revista fere o sentimento de dignidade do povo brasileiro. A exposição de sua foto, na capa, cumpre a função de punir exemplarmente, a exemplo dos rituais da Sagrada Inquisição, uma mulher simples, do povo, que cometeu a ousadia de ocupar o Palácio do Planalto. A Casa Grande não perdoa.

Quando todos achavam que nenhuma vileza superaria a capa da própria revista Veja de 26 de abril de 1989, dedicada ao cantor Cazuza – “uma vítima da Aids agoniza em praça pública” -, a revista prova, mais uma vez, que não há limites para a patifaria, para a infâmia e a ignomínia.”

São Paulo, 12 de maio de 2017

 

CUT intensifica pressão no Congresso contra reformas

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) organiza uma série de mobilizações em Brasília  contra as reformas trabalhista e da Previdência.

No dia 17 de maio (quarta-feira), membros da central farão um mutirão de visitas aos gabinetes dos senadores que votarão a Reforma da Previdência nos próximos dias. O objetivo é pressionar os parlamentares a votarem a favor dos trabalhadores.

As pressões têm surtido resultados: deputados e senadores já demonstram preocupação com as mobilizações dos trabalhadores junto à base eleitoral dos parlamentares.

Dia 24 de maio (quarta-feira) está prevista a Marcha e Ocupação de Brasília, com atos contra as reformas.

Categoria debate conjuntura em assembleia

O Sindicato realiza uma assembleia na próxima sexta-feira, dia 26 de maio, às 19h, em sua sede (Rua Tamandaré, 348). O objetivo é debater a atual conjuntura política e os ataques do governo aos direitos dos trabalhadores. Também serão definidos os delegados sindicais que participarão de dois importantes congressos, que já têm data marcada, o Congresso da CNQ  (Confederação Nacional dos Químicos) e o Congresso da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

O VIII Congresso Nacional da CNQ será realizado nos dias 12, 13 e 14 de julho, em local ainda a ser definido; e o Congresso Nacional Extraordinário da CUT – 15ª plenária estatutária – acontece entre 28 e 31 de julho e foi definido em caráter emergencial pela direção da CUT  para discutir o atual cenário político e econômico e traçar estratégias de luta e resistência em defesa dos direitos dos trabalhadores.

Participe da assembleia e ajude a definir os representantes dos trabalhadores nesses congressos! 

Temer quer o fim do trabalho decente

A reforma trabalhista que o governo Michel Temer (PMDB) quer aprovar visa ao fim dos direitos dos trabalhadores. Como todos sabem, o atual presidente não foi eleito pelo povo e conseguiu subir ao poder graças ao apoio da bancada patronal, que agora cobra dele as tais “reformas” na legislação trabalhista.

A reforma proposta por seu governo altera mais de 100 itens da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), deixa os trabalhadores muito vulneráveis e desprotegidos, tira completamente o poder de negociação das mãos dos sindicatos e dificulta muito as futuras ações trabalhistas.

Muitas das conquistas que os trabalhadores têm hoje são fruto da CLT, e outras tantas existem graças aos acordos coletivos de cada categoria. Nas negociações anuais, realizadas pelos sindicatos, discutem-se as especificidades de cada categoria, e muitos avanços no mundo do trabalho surgem a partir dessas negociações mediadas pelos respectivos sindicatos.

Uma das propostas do governo é a livre negociação entre patrões e empregados, em detrimento da lei e sem a participação do sindicato. Isso significa dizer que, para o governo, os trabalhadores de uma determinada fábrica têm condições de sentar com os patrões para discutir o reajuste salarial, a jornada de trabalho e os problemas de segurança e saúde.

Confira algumas das propostas que atacam os direitos dos trabalhadores:

Alerta Social: o que você perdeu nos últimos 365 dias

Há um ano, a presidenta eleita Dilma Rousseff foi afastada do governo. Foi o dia em que o Senado admitiu a abertura do processo de impeachment aprovada semanas antes na Câmara, em 17 de abril. Imediatamente, o vice Michel Temer tomou posse para não mais deixar a cadeira. E com ele um dos ministérios mais ficha-suja da história recente do país. O ministério que Dilma classificou de CCC (canalhas, calhordas e corruptos), com revelará em breve em livro ainda a ser lançada, com a ajuda do jornalista Olímpio Cruz, secretário de comunicação da ex-presidenta até então.

O documento Alerta Social. Qual direito você perdeu hoje?, iniciativa de ativistas, pesquisadores, especialistas, gestores, cidadãos e cidadãs, traz um balanço minucioso das consequências para o Brasil e os brasileiros, da ruptura no ciclo democrático e do retrocesso nas políticas sociais desencadeados desde então.

“O desmonte do Estado e o descaso com as políticas sociais resultam na retirada de conquistas reconhecidas no mundo todo”, diz o site do Alerta Social. “Não é possível assistir à perda de direitos e ao golpe à democracia e ao povo brasileiro sem reação. A sociedade precisa estar alerta e denunciar cada ato desse desgoverno ilegítimo. Este canal foi criado para contribuir nesse processo.”

Logo em seguida das paralisações de março e da greve geral de 28 de abril, com paralisações e greve geral, a manifestação popular em Curitiba, neste 10 de maio, durante o depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, são sinais de que a reação popular se amplia. “Independentemente de quantas pessoas foram, é uma mobilização inédita no Brasil, não tem precedente”, diz o jornalista Ricardo Amaral à RBA.  

O Alerta Social reúne neste documento de 80 páginas, em 365 itens, ou seja, um por dia de governo Temer, tudo o que aconteceu com a democracia, a agricultura familiar, a cultura, a educação, as empresas públicas, a saúde e assistência social, habitação, os direitos dos índios, das mulheres, dos negros, os trabalhistas e a Previdência. 

Leia abaixo o estudo do Alerta Social, ou acesse aqui a página.

 

Um Golpe Por Dia 365 Direitos Perdidos by redebrasilatual on Scribd

Reforma trabalhista: Dieese aponta precarização e senador sugere ‘exorcismo’

Em mais uma rodada de debates no Senado sobre o projeto de reforma da legislação trabalhista, realizada nesta quinta-feira (11), o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, afirmou que o sistema de relações do trabalho precisa ser modernizado, mas a proposta do governo aponta para a precarização. Segundo ele, “40% da força de trabalho não tem proteção sindical, vive na informalidade e provavelmente não terá proteção previdenciária, mas se queremos favorecer negociação, fortalecer o entendimento, nós precisamos ter um sistema coerente com essa nossa intenção”. E “o projeto não faz isso”, acrescenta.

Ele vê o PLC 38, aprovado na Câmara como PL 6.787, uma tentativa de redução de custos estruturais do trabalho para superar a crise econômica – que pode ter efeito contrário. “Se queremos um sistema de mediação que permita que as relações de trabalho sustentem um sistema de crescimento econômico, assentado na agregação de valor, assentado no incremento da produtividade, assentado no fortalecimento do mercado interno com geração de emprego e de salário, o sistema tem que ser coerente com esses princípios. Esse projeto não está preocupado com nada disso.”

Para o diretor técnico, a proposta do governo pode não retirar direitos imediatamente, mas criar uma situação que levará a isso. “O projeto não pode ser um atalho para permitir que as empresas tenham legalizadas as inúmeras formas de trabalho precário. O custo social para consertar essa reforma trabalhista, no futuro, pode ser muito alto”, disse Clemente.

Já o senador Roberto Requião (PMDB-PR) pediu não apenas a rejeição do projeto. Para ele, a proposta deve ser “exorcizada”. Ele chegou a questionar se os participantes da sessão entendiam de fato do tema ou se eram assessores da Fiesp, a federação das indústrias paulistas. 

“Já falei sobre essa barbaridade e eu recomendo ao plenário o exorcismo, não apenas a rejeição. Foi urdida por Satanás essa proposta”, disse Requião, que também se permitiu uma digressão histórica. Segundo o senador, o projeto foi imaginado por “senhores da Idade Média que tentam impor uma legislação da Idade Média aos trabalhadores”.

O senador Jorge Viana (PT-AC) disse que a atualização das regras é necessária, mas isso precisa ser feito com um prazo mínimo de debate, sem “rolo compressor”. Ele sugeriu pelo menos três meses. “O Brasil precisa trazer suas leis, os regramentos da relação de quem emprega e do empregador, para o século 21. Mas lamento afirmar que, com essa proposta do governo, apoiada pela Câmara, estamos levando para o começo do século 20, e não andando para a frente, mas andando para trás”, afirmou.

Dieese abre inscrições para curso em Economia e Trabalho

 

Estão abertas as inscrições para o processo seletivo da pós-graduação lato sensu em Economia e Trabalho do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos). O curso é presencial, na sede da Escola Dieese em São Paulo, e tem a duração de 18 meses.

Há duas opções de curso, com turmas aos sábados, das 8h30 às 17h30, ou às segundas e quartas-feiras, das 19h às 22h30.

As inscrições podem ser feitas pela internet, no site da Escola,  de 4 de abril a 10 de junho de 2017; ou pessoalmente, na sede da instituição: rua Aurora, 957 (Santa Ifigênia, São Paulo, SP, próximo ao Metrô República). Existe a possibilidade de desconto de 25% a 50%.

Para saber mais a respeito do curso e da matriz curricular, poderá acessar a página da Escola Dieese.

Organizações pedem que condenação de Menicucci seja levada à ONU e OEA

A defesa da ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci, já protocolou embargos de declaração (pedido de esclarecimentos com caráter recursal) à decisão da juíza Juliana Nobre Correia. A titular da 2ª Vara do Juizado Especial Cível proferiu no último dia 19 sentença condenando Eleonora ao pagamento do valor correspondente a R$ 10 mil corrigidos monetariamente e com acréscimo dos juros desde a arbitragem da decisão até a efetiva quitação, a título de danos morais em favor do ex-ator pornô Alexandre Frota.

Frota processou Eleonora após ela ter criticado o fato de o ministro da Educação, Mendonça Filho, ter recebido o ator em maio do ano passado para discutir o projeto “Escola Sem Partido”. Na época, Alexandre Frota respondia a procedimento investigativo no âmbito da Promotoria Criminal por ter tripudiado de uma ialorixá em um programa de TV e afirmado que “botei a mãe de santo de quatro, levantei a saia dela, agarrei ela pela nuca, botei o boneco para fora e comecei a sapecar” e que “fiz tanta pressão na nuca da mulher que ela dormiu”. Posteriormente o processo foi arquivado por um promotor depois de Frota ter dito que tudo se tratava de “uma brincadeira”.

No entanto, o arquivamento do procedimento só atesta que, na opinião do promotor responsável, não estavam presentes os requisitos mínimos para o ajuizamento da ação penal. Não significa que Frota foi absolvido porque sequer houve uma ação penal e julgamento de seus atos. O portal Consultor Jurídico destacou à época do arquivamento que o promotor do caso ressaltou a necessidade de preservar a liberdade de expressão do investigado. E que o despacho de arquivamento atesta que “no caso dos autos, Alexandre não teve o ânimo de exaltar a sua conduta (reprovável), mas apenas narrar um episódio de sua vida”.

No entanto, a sentença condenatória a Eleonora Menicucci pelo fato de a ex-ministra ter afirmado que Frota “não só assumiu ter estuprado, mas também faz apologia ao estupro” ressalta “que o direito de crítica somente é válido quando alicerçado em alguma idéia [sic] construtiva para o leitor ou para quem presencia a crítica.” A juíza afirma ainda que “no momento em que se constata que houve ataque à pessoa do requerente, com referência a situação de estupro envolvendo o autor em contexto que envolvia simples audiência aceita pelo Ministro da Educação para tratar de projeto relacionado à educação apresentado pelo autor, verifica-se a viabilidade do pleito a título de danos morais, como forma de restaurar a ordem jurídica, pois restou caracterizada situação de efetiva desvinculação da narrativa da autora em relação ao tema da visita do autor ao Ministro da Educação, de modo que nasce a possibilidade de reparação a título de danos morais”.

Em sua página em uma rede social, Eleonora publicou que “tal sentença assinada por uma mulher, me condenando a pagar 10 mil reais com correção, revolta a todas as mulheres, pois o estupro é crime hediondo e inafiançável. Lamentavelmente a condenação não atinge só a mim, mas as mulheres que lutam há séculos contra o estupro, contra as violências de gênero e hoje em nosso país contra as perdas de direitos que o governo golpista tem imposto, sobretudo a nós mulheres. Não será esta sentença, proferida por esta juíza que me calará, nem tampouco as mulheres brasileiras. Tolerância zero com a violência contra as mulheres!!! Tolerância zero com o estupro!!!!”.

Em entrevista à Rede TVT, Eleonora se disse “revoltada” e afirmou que a decisão é um ataque às mulheres e à liberdade de expressão”.

Feministas criticam decisão

A sentença vem sendo criticada também por feministas e parlamentares. As deputadas Maria do Rosário (PT/RS), Benedita da Silva (PT/RJ) e Jô Moraes (PCdoB/MG), a também ex-ministra Emília Fernandes e a ex-presidenta Dilma Rousseff se manifestaram publicamente, entre outras personalidades políticas.

“Minha solidariedade à ex-ministra Eleonora Menicucci, condenada judicialmente por denunciar a cultura do estupro. Num País onde uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, é fundamental que tenhamos coragem e não nos calemos. Não podemos compactuar com o machismo, nem tampouco com qualquer tipo de violência. Tolerância zero à violência contra a mulher”, publicou a ex-presidenta.

Para Jô Moraes, que se manifestou no plenário da Câmara dos Deputados, “a ministra Eleonora estava cumprindo o papel de todas as mulheres deste país, que não podem ter qualquer  anuência à expansão da cultura do estupro”.

Em workshop realizado por organizações de mulheres nesta semana em Brasília, foi aprovado um manifesto em solidariedade à ex-ministra. O texto afirma que a decisão é “discriminatória” e que o caso “deve ser levado ao conhecimento em esferas internacionais do sistema das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos, expondo as decisões judiciais brasileiras que não se comprometem com a defesa dos direitos humanos das mulheres”.

Confira abaixo a íntegra do texto:

DIREITO FORA DE CONTEXTO

Condenação de Eleonora Menicucci não pode e não vai calar a sociedade civil

Eleonora Menicucci, ativista e acadêmica feminista, ministra da Secretaria de Políticas para Mulher do governo federal até 2016, foi condenada, em um ato de direito fora de contexto, em ação de danos morais movida pelo ator Alexandre Frota.

Alexandre Frota declarou, em programa de televisão, que havia estuprado uma mulher, e o fez como se esse fosse ato corriqueiro e aceitável. A Ministra Eleonora Menicucci  expressou sua indignação compartilhada por milhares de mulheres brasileiras, afirmando que contar ato de violência sexual, que permanece impune, em programa de televisão aberto, representava uma “apologia ao estupro”.

Reagindo a essa manifestação de Eleonora Menicucci, Alexandre Frota entrou com ação de indenização por danos morais contra ela, alegando que o havia difamado, mesmo que, em tal programa de televisão, ele tenha declarado explicitamente ter cometido estupro, crime sexual previsto no Código Penal, como pode ser verificado neste link.

Surpreendentemente, em 19 de abril de 2017 (fato que só veio a público no último dia 3/5), a juíza de direito Juliana Nobre Correia do Tribunal de Justiça de São Paulo deu ganho de causa a Alexandre Frota, condenando Eleonora ao pagamento de R$10.000,00 como dano à imagem de um homem que foi – publicamente – se gabar de ter estuprado uma mulher. Entendemos que esta decisão fere todos os princípios de direito da igualdade e não discriminação, ao não considerar que a violência sexual, como instrumento de dominação contra mulheres, não pode ser divulgada e valorizada, como o foi neste episódio.

Também consideramos que fere o Direito Internacional dos Direitos Humanos, ao não reconhecer os direitos humanos das mulheres, vítimas de violência sexual no país, que sofrem dano irreparável à sua integridade física, moral e psíquica por atos como o relatado por Alexandre Frota.

Principalmente, afirmamos que essa decisão fere o bom senso e a justiça, ao não reconhecer a responsabilidade de Eleonora Menicucci, como ex Secretária Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres, de expressar uma opinião pública contrária ao elogio do machismo violento, que não se constrange em violar o corpo alheio. Além disso, fere qualquer sentido de generosidade humana, pois operadores de justiça devem ser capazes de pensar naquela mulher violada por um homem que hoje recebe um prêmio judicial com a condenação a Eleonora Menicucci.

Além de manifestar nossa indignação com a decisão judicial de primeira instância, temos a dizer que: 

1. há graus de recursos judiciais nacionais que Eleonora Menicucci deve buscar como porta-voz de todas as mulheres brasileiras que já foram, ou podem ser, agredidas sexualmente.

2. como decisão discriminatória emblemática, este caso deve ser levado ao conhecimento em esferas internacionais dos sistema das Nações Unidas e da OEA, expondo as decisões judiciais brasileiras que não se comprometem com a defesa dos direitos humanos das mulheres.

3. o direito, como lugar da manutenção de privilégios, pode produzir decisões judiciais desta natureza, mas isto não pode e não vai calar a sociedade civil.

Ádila Fabiana de Moura e Silva Leite – Fórum de Mulheres do DF
Alberto Carvalho Amaral – mestre em Direito e defensor público do DF
Alessandra Ramos de Oliveira Harden – professora da Universidade de Brasilia
Amanda de Sales – advogada
Ana Liesi Thurler – socióloga e PartidA/Brasília
Ana Teresa Iamarino – advogada e mestranda em Direitos Humanos/UnB
Ana Paula Gonçalves – advogada
Branca Moreira Alves – advogada e escritora
Carmen Hein Campos – professora de Direito da UNIRITTER/RS
Cleide de Oliveira Lemos – consultora legislativa aposentada, integrante da partidA
Coletivo Mulheres Defensoras Públicas do Brasil
Debora Duprat – procuradora de Direitos Humanos/MPFU
Denise Dourado Dora – advogada, ex-ouvidora da Defensoria Pública do RS, e coordenadora da ONG THEMIS
Denise da Veiga Alves – advogada na RENAP/Marietta Baderna
Erika Lula de Medeiros – advogada na RENAP/ Marietta Baderna
Erina Gomes – advogada popular, mestranda em Direitos Humanos/UnB
Elisangela Karlinski – socióloga
Fabiana Severi – professora na FDRP/USP
Fabiane Simioni – professora na FURG/RS e integrante da ONG THEMIS
Fátima Pacheco Jordão – socióloga e conselheira do Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos
Fernanda Pereira Nunes – estudante de Direito na UnB
Giselle Mathias Flügel Barreto – advogada
Jacqueline Pitanguy – socióloga e diretora da CEPIA – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação
Jacira Melo – comunicóloga e diretora do Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos
Laina Crisostomo – advogada e integrante da Tamo Junta
Leila Linhares Barsted – advogada e diretora executiva da CEPIA – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação
Lourdes Bandeira – docente da UnB e do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher – NEPEM/UnB
Luana Basilio e Silva – advogada e integrante da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras –AMNB
Lucia Xavier – assistente social e coordenadora da ONG Criola/RJ
Iáris Cortês – advogada e integrante do CFEMEA/Brasília
Isadora Dourado Rocha – estudante de Direito na UnB
Jacira Vieira de Melo – comunicóloga e diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão/SP
Maiara Auck Peres de Lima – advogada e mestranda em Direito pela UnB
Marcela Dias Barbosa- advogada e mestranda em Direito pela Unesp/Franca
Maria Amélia de Almeida Teles – advogada e coordenadora da União de Mulheres de São Paulo
Maria Betânia Ávila – socióloga e coordenadora do SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia
Schuma Schumaher – pedagoga e coordenadora da Rede de Desenvolvimento Humano/Redeh – RJ
Mariana Barros R. da Cruz – assistente social e advogada, servidora no Centro Judiciário da Mulher do TJDFT
Maria Terezinha Nunes – advogada e integrante da Associação das Advogadas pela Igualdade de Gênero e Raça- AAIGRE
Myllena Calazans – advogada, colaboradora do CLADEM-Brasil
Nathalia Ferreira Monteiro – advogada e membro do IBDFAM
Nilza Iraci – comunicóloga e coordenadora do Geledés-Instituto da Mulher Negra
Olga Maria Parente Macedo de Andrade – assistente social na Casa da Mulher Brasileira/DF
Rachel Moreno – psicóloga e integrante da Rede Mulher e Mídia
Rafaela de Miranda Ochoa Peña – advogada
Regina Soares Jurkewicz – doutora em Ciências da Religião e integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir
Renata Jardim – advogada e integrante do Coletivo Feminino Plural
Rita de Castro Hermes Meira Lima – defensora pública no DF e integrante do Coletivo de Mulheres Defensores Públicas do Brasil
Rosane Reis Lavigne – defensora pública na DPE/RJ
Rubia Abs da Cruz – advogada e integrante do CLADEM
Silvia Pimentel – advogada, professora PUC/SP e integrante do CEDAW-ONU
Sonia Maria Alves da Costa – advogada, doutoranda em Direito na UnB
Wania Pasinatto – consultora da ONU Mulheres
Yaris Cortês – advogada e integrante do CFEMEA

Feira do MST atrai 170 mil pessoas em São Paulo

Nos últimos quatro dias, 170 mil pessoas passaram pela 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo (SP), que se encerrou neste domingo (7). De acordo com a estimativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizador do evento, a feira este ano superou o sucesso de 2015, quando 150 mil visitantes passaram pela primeira edição da atividade. 

Antonia Ivoneide Melo Silva, dirigente nacional e integrante do setor de produção do MST, considera que o movimento conseguiu visibilidade mesmo com a pouca divulgação em grandes veículos de imprensa. “Na feira passada teve muita gente e teve informação da imprensa. Este ano, houve mais gente do que o outro e a grande imprensa não falou da gente — quando falou, foi para criticar. E o povo mesmo assim está aqui”, comentou.

Segundo ela, além de desconstruir a imagem que a imprensa faz do movimento, a Feira conseguiu comunicar para sociedade que a luta pela reforma agrária está intrinsecamente ligada à produção da alimentação saudável. “O movimento que está aqui é o mesmo que luta pela terra porque as coisas não se separam, sem a posse da terra, nós não teremos produção saudável. A luta pela terra tem que casar com a luta pela produção e mudança do modelo agrícola”, afirmou a dirigente. Segundo Ivoneide, o evento é a materialização da ideia da reforma agrária popular e do diálogo que as pautas do movimento fazem com a população.

Apoio do público

A artista plástica Caroline Harari, 58 anos, teve o primeiro contato direto com o MST neste domingo (7). Para ela, a feira desmistificou a ideia de que os militantes do movimento são “arruaceiros que entra nas propriedades quebrando tudo”.

“Muitas vezes eu via, através da imprensa, o MST como uma entidade muito distante. Mas hoje, quando cheguei aqui, eu vi que são pessoas normais, gente simples que está lutando por um pedaço de terra e pelo direito de viver”, disse Caroline.

Caroline contou que, na feira, encontrou “tudo o que o ser humano pode produzir”, desde os produtos in natura aos mais elaborados, como geleias e artesanatos. Entre o público, produtos inusitados, como a cerveja artesanal “Fora, Temer” chamaram a atenção. Ainda segundo o MST, foram comercializadas 280 toneladas de alimentos.

Mesmo trabalhando há 30 anos com tratamentos de saúde por meio da aplicação de produtos e técnicas naturais, Suzane Barreto não conhecia o trabalho exercido pelo o MST na área. “Os sem-terra eu até gostaria de conhecer mais, se você quiser enviar algo para mim por e-mail, eu tenho interesse porque eu vejo falarem duas coisas, bem e mal… Mas não tenho nenhuma opinião formada”, disse Suzane. Só de castanha ela levou dois quilos. Além disso, a naturopata comprou baru, sucupira e jenipapo.

Satisfação

Após três dias de viagem para chegar até São Paulo (SP), a feirante Josefa Cristina da Silva, do município de Mirante da Serra (RO), localizado a 2,7 mil quilômetros da capital paulista, mostrou satisfação com o último dia de vendas.

Na barraca de Rondônia os nove tipos diferentes de produtos feitos de cacau, principal produtos das lavouras do Assentamento Padre Ezequiel, fizeram  sucesso com o público da feira. Além deles, pimenta e banana também tiveram uma boa saída, garante a sem-terra. “Entre os produtos todos, o chocolate foi o que mais bombou aqui na feira”, disse a agricultora que pretende voltar nas próximas edições da feira.

O coletivo de produção do assentamento Roseli Nunes, no município de Piraí, região sul do estado do Rio de Janeiro, comercializou banana, inhame, broa de milho, pimenta em conversa, pokã e doces.

O feirante Mário Bestetti pontuou a boa integração com os visitantes do evento. “Não tem explicação. Para você ver como é que estou aqui, sem voz. Você já pode ver que foi bom demais”, disse ele com a voz rouca e falhada. Ele afirmou que, mesmo com a chuva em um dos dias do evento, o grande número de visitantes no final de semana superou a expectativa. “É muito importante por nós trazemos produtos de qualidade para a mesa das famílias brasileiras”.

Diversidade

O químico Jorge Dreyer já havia participado da 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária em 2015. Neste ano, ele e sua esposa voltaram duas vezes: no primeiro dia, para comprar os produtos, como queijo e salame, e neste domingo, para almoçar nas tendas da Culinária da Terra — o prato escolhido foi o carreteiro, na barraca do Rio Grande do Sul. Para ele, a representação das diversidades regionais de todo o país foi o que mais chamou a atenção. “Eu acho que é importante para divulgar a cultura dos outros estados do Brasil, trazer os produtos que eles cultivam e produzem nos outros estados para o conhecimento das outras regiões”, disse ele.

Já Caroline destacou, além da diversidade, os preços dos alimentos. “Infelizmente, aqui em São Paulo, a alimentação saudável, com produtos orgânicos, é muito caro. Já está muito caro comer com veneno. E aqui não. Temos acesso a produtos de primeira qualidade, acessíveis ao bolso de qualquer um. Poderia ter uma feira semanal que eu iria”, finalizou a artista plástica.

O MST se prepara para uma nova Feira Nacional em 2018, também na capital paulista. O movimento mostrou o desejo de utilizar novamente o espaço do Parque da Água Branca para a terceira edição do evento, no próximo ano.

 

Link para matéria na Rede Brasil Atual.