Assembleia do setor farmacêutico para definir pauta dia 4 de março

Os trabalhadores do setor farmacêutico se reúnem em assembleia no próximo dia 4 de março, sábado, às 10h, na subsede da Lapa (Rua John Harrison, 175), para definir a pauta de reivindicações da Campanha Salarial 2017.

Durante o encontro a categoria deve fazer uma avaliação da atual conjuntura econômica e do desempenho do setor.

Ao contrário de outros setores que sofrem os reflexos do desemprego, o setor farmacêutico continua crescendo, e os números positivos serão levados em conta no momento de construir a pauta.

O faturamento do setor farmacêutico chegou a R$ 85,4 bilhões em 2016, um crescimento de 13,1% em relação a 2015, quando o faturamento foi de R$ 75,5 bilhões. O resultado das vendas a preço de fábrica, descontados os impostos, também foi positivo: saltou de R$ 44,7 bilhões para R$ 50,3 bilhões no período, um crescimento de 12,6%.

Os dados de emprego também são positivos. O ano terminou com 178 novas vagas na base do nosso Sindicato, de acordo com os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.

A inflação acumulada nos 12 meses referentes à data-base dos farmacêuticos (de abril a abril) está estimada em 4,98%, segundo o INPC/IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). “Nossa luta será pela reposição da inflação com ganho real. Não podemos admitir que os patrões se escondam atrás de um discurso de crise, que não afeta o setor farmacêutico, para dificultar as negociações”, explica Adir Teixeira, secretário de Organização do Sindicato.

A Campanha Salarial do setor farmacêutico é coordenada pela Fetquim (Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico) e abrange seis sindicatos – São Paulo, ABC, Campinas, Osasco, Jundiaí e região e São José dos Campos e região –, que representam 180 mil trabalhadores.

Senado abrirá CPI para investigar contas do INSS

O senador Paulo Paim (PT – RS), junto a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos) conseguiu o número mínimo de assinaturas necessárias para a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigas a real situação econômica da Previdência Social.

A investigação vai contra os argumentos do governo de que há um rombo na previdência, o que justifica a sua reforma.

Para a instauração da CPI eram necessários 27 assinaturas de senadores, 29 assinaram e há expectativa que outros ainda assinem. Com a abertura do inquérito, o Senado tem 120 dias para concluir a investigação e contabilidade do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Dia 21 de julho é oficializado como

Foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo a lei 16.364/2017 que institui o “Dia Estadual do Trabalhador da Indústria Química” que será comemorado em 21 de julho. O projeto é de autoria do deputado Luiz Fernando Teixeira (PT) e a data foi escolhida em memória à greve geral 1983, em que três milhões de trabalhadores se mobilizaram.  O Sindicato dos Químicos de São Paulo, já livre da diretoria nomeada pelos militares, teve papel estratégico neste movimento, e era ponto de referência dos trabalhadores e movimentos sociais que apoiavam a greve.

Para Teixeira, a homenagem é à uma categoria que contribuiu muito para a economia e o progresso do país. Ele também destaca “a coragem, idealismo e ativismo político desses trabalhadores, que inspiram a população de uma forma geral”.

Fetquim elege nova diretoria

O 4º Congresso Estadual da Fetquim, que aconteceu nos dias 16 e 17 de fevereiro em Cabreúva, elegeu a nova diretoria da entidade para a gestão 2017-2021. Dirigentes do Sindicato dos Químicos de São Paulo fazem parte da nova diretoria.

Confira a composição da nova diretoria:

Coordenação Política: Airton Cano

Coordenação da Secretaria Geral: Arlei Medeiros da Mata

Coordenação de Administração e Finanças: Deusdete José das Virgens

Secretaria de Assuntos Jurídicos: Walmir de Moraes

Secretaria de Comunicação: Nilza Pereira de Almeida

Secretaria de Formação Sindical: Sidney Araújo

Secretaria de Saúde e Condições de Trabalho: André Henrique Alves

Secretaria de Políticas Sociais: Danielle de Cássia Franco

Secretaria de Política Sindical: Nilson Mendes

Secretaria da Mulher Trabalhadora: Rosangela Paranhos

Secretaria de Meio Ambiente: Wellington Luiz Cabral

Secretaria de Cultura: Paulo Sergio da Silva

Suplentes de Direção: Erasmo Carlos Isabel, José Roberto Trindade e Raimundo Souza Suzart Lima

Conselho Fiscal: Edilene Nascimento de Morais, Claudia Bueno de Meira e Leonidas Sampaio Ribeiro

Suplentes Conselho Fiscal: Jansen Nunes, Sueli de Souza Santos e Valdir Lourenço de Souza

Mulheres protestam contra a Reforma da Previdência

No próximo dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – as mulheres trabalhadoras vão protestar em todo o País contra a Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer .

Em São Paulo, a CUT realizará uma assembleia em frente à sede no INSS, no viaduto Santa Ifigênia, das 14 às 15h30 horas, com concentração a partir das 13h30. Depois as mulheres se reúnem num grande ato na Praça da Sé e devem seguir em caminhada pelo centro de São Paulo.

A reforma proposta pelo atual governo iguala as condições de aposentadoria entre homens e mulheres e amplia o tempo de contribuição sem levar em consideração as diferenças sociais entre os gêneros. No caso das mulheres, a idade mínima para se aposentar passaria dos atuais 60 para 65 anos, somada ao tempo mínimo de contribuição, que sobe de 15 para 25 anos.

Temer e seus aliados argumentam que as mulheres vivem, em média, mais tempo que os homens e que elas já ocupam igualmente os postos de trabalho. Por isso, afirmam que as mulheres devem se aposentar mais tarde e com regras iguais aos dos homens. Mas essa não é a realidade do mercado de trabalho. As mulheres são as primeiras a perderem seus empregos em momentos de crise e ainda ganham 25% menos que os homens.

Para economista, governo quer convencer população de que “é bom perder direitos”

A fala do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na terça-feira (21), segundo a qual a recessão brasileira acabou, “é o tipo de declaração para vender otimismo e um resultado que ainda não veio”. Mais do que isso, para o economista Guilherme Mello, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a declaração de Meirelles faz parte de uma estratégia midiática que envolve milhões de pessoas, muitas das quais acabam sendo convencidas de que o país e a economia vão bem e que reformas contra seus próprios direitos são positivas para elas e para a nação.

“Você consegue, com a propaganda certa, o argumento calculado e a repetição, convencer pessoas que tomar veneno é bom. Por mais que a realidade diga que a coisa vai muito mal, exatamente por isso as pessoas querem e precisam acreditar que vai melhorar. Então, se usa esse momento de fragilidade das pessoas para bombardear uma mensagem de otimismo através da imprensa, repetidamente, para ver se a coisa cola”, diz Guilherme.

Com base nessa estratégia, o economista prevê que, para emplacar a reforma da Previdência, os atuais governantes vão tentar convencer as pessoas de que elas ganharão com as mudanças, que, na verdade, significarão a retirada de grande parte da chamada rede de proteção social que o povo brasileiro ainda tem. “Explora-se o medo, as necessidades e os desejos das pessoas para convencê-las de que coisas que as prejudicam, na verdade, são para o bem delas, que é muito bom para elas perderem o direito de se aposentar, e parte das pessoas vai acreditar. Isso é grave.” 

“O Brasil hoje já está crescendo e essa recessão já terminou. É uma recuperação sólida, impulsionada por medidas fundamentais. A PEC do Teto foi impulsionadora desse crescimento, e a (reforma) da Previdência, além de ser fundamental, está no centro desse processo”, disse Meirelles, na companhia do presidente Michel Temer, em reunião da comissão especial da reforma da Previdência, no Palácio do Planalto. “A mensagem é de que é mais importante ter a segurança de que vão receber a aposentadoria do que a expectativa de que vão se aposentar um pouquinho mais cedo ou tarde, gerando insegurança no futuro”, acrescentou.

Sinais

Segundo Meirelles, “sinais sólidos de recuperação” da economia são a valorização da Bolsa de Valores, ganhos de valores relacionados ao Banco do Brasil, à Petrobras e à Vale, além da queda do risco Brasil e do dólar.

Porém, para “decretar” o fim da recessão, seria preciso de pelo menos um trimestre de crescimento positivo. Segundo Mello, os dados em que alguns analistas se baseiam para dizer que a economia está se recuperando “são muito questionáveis quanto à amplitude”. Por exemplo, a informação de que a indústria paulista voltou a contratar. Segundo o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp/Ciesp, a indústria paulista teve saldo positivo de 6,5 mil vagas em janeiro. Mas, na comparação com janeiro de 2016, o saldo é negativo em 5,73%.

O número de desempregados é de cerca de 12 milhões de pessoas. Segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, a taxa média de desemprego em 2016 chegou a 11,5%. As projeções do mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2017 são de 0,5%.

“Se o país crescer 0,5% este ano, o desemprego aumenta. Precisa crescer 2%, 3% para ter uma queda de desemprego razoável”, disse a economista Esther Dweck à RBA na semana passada.

Divulgados na semana passada, dados relativos ao comércio varejista indicam que, em 2016, foram fechadas 108 mil lojas em todo o país, pior resultado da série histórica desde 2005.

Todos esses dados, em conjunto, mostram uma situação que não se supera por decreto ou pela vontade de um ministro. “Quando Meirelles fala que a recessão acabou, está olhando para onde sempre olhou, para os que ele sempre representou, os investidores financeiros. Mas existe um descompasso entre o Brasil dos rentistas, que teve ganhos patrimoniais, porque a Bolsa subiu, e o Brasil verdadeiro, dos 99% dos brasileiros, que continua em uma situação de crise profunda”, diz Guilherme Mello. 

Calculadora do Dieese simula condições de aposentadoria se reforma passar

A CUT lançou em seu portal um simulador que permite ao usuário descobrir com qual idade se aposentará, caso seja aprovada a reforma da Previdência. O recurso, batizado de “Aposentômetro” e idealizado pelo Dieese, pode ser acessado aqui. O presidente da central, Vagner Freitas, tem reiterado que o objetivo do governo não é “reformar” a Previdência: “Temer quer acabar com a aposentadoria”.

As centrais preparam um calendário de atividades com objetivo de pressionar o Congresso contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287. Entre essas ações, incluir o tema num dia internacional de manifestações programado por movimentos de mulheres no 8 de março e uma jornada nacional de paralisações no dia 15.

Nesta quinta-feira (23), nove centrais sindicais e o Dieese – que realizaram seminário sobre consequências da PEC 287 na primeira semana do mês – , lançam a 13ª Jornada Nacional de Debates, que terá como tema será a reforma da Previdência. O evento será no Sindicato dos Químicos de São Paulo, e deve aprofundar o debate de análises incluídas no estudo Previdência: Reformar para Excluir?, lançado pelo Dieese, o coletivo Plataforma Política e Social e a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip). A síntese do estudo pode ser vista abaixo.

O trabalho fornece subsídios ao movimentos sindical e aos parlamentares para dialogar com a sociedade sobre a necessidade de pressionar o Congresso Nacional – uma comissão especial formada na Câmara já começou a funcionar, tendo o deputado Arthur Maia (PPS-BA) como relator. Uma agenda de atividades, no Congresso e nas ruas, também será tema da reunião das centrais nesta quinta.

Para trabalhadores, não é “reforma” da Previdência. É fim

Conhecido por apresentar em 2013 um relatório francamente favorável à ampliação da terceirização, o deputado Arthur Maia – na época no SD, hoje no PPS baiano – espera divulgar em meados de março seu parecer sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma da Previdência Social. O plano de trabalho na comissão especial foi apresentado em 14 de fevereiro, e prevê oito audiências públicas e seminário internacional.

A guerra começou, como diz o economista Eduardo Fagnani, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O que está em jogo no Brasil não é um ajuste fiscal, é uma mudança no modelo de sociedade”, afirmou, durante evento organizado pelo Dieese e por nove centrais sindicais, que tentam unir forças para derrubar (como defendem alguns) ou modificar (como tentam outros) a PEC 287. Em comum, todos refutam o argumento central do governo Temer, que fala em necessidade de “reforma” para manter o sistema viável.

Argumentos sempre usados de “déficit” ou “rombo” da Previdência são falsos, diz Fagnani. “O déficit é a parte do governo que, embora prevista na Constituição, não é contabilizada”, afirma. “Não há argumento para dizer que o problema fiscal brasileiro é a Previdência. A estratégica do ajuste fiscal é comprimir o gasto primário.” Já o gasto financeiro, acrescenta, “deixa explodir”.

Para a oposição no Congresso, a PEC tem o sistema financeiro como interessado direto. Assim que Maia foi escolhido como relator, emergiu a informação de que o deputado recebeu contribuições, em sua campanha eleitoral, de bancos e seguradoras – apenas da Bradesco Vida e Previdência, foram quase R$ 300 mil, em 2014. Para o parlamentar, isso nada mais é que uma “ilação maldosa”.

O presidente da comissão especial, Carlos Marun (PMDB-MS), deve conduzir a tramitação da PEC 287 conforme deseja o Planalto sem temer pressões contrárias. Marun já mostrou resistência ao defender, quase solitariamente, o agora ex-deputado Eduardo Cunha antes de sua cassação. “Quem defende Cunha, defende qualquer coisa”, diz um observador.

Ou seja: para combater a PEC, será preciso muita unidade e capacidade de articulação e pressão, diante de um Congresso francamente alinhado ao governo e às reformas, incluindo a trabalhista. Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, trata-se de desafio semelhante ao do período pré-Constituinte, em meados dos anos 1980. Ele avalia que o movimento sindical precisa se organizar para evitar “um dos maiores desmontes institucionais e sociais da história”. E as centrais não são contra mudanças, acrescenta, tanto que apresentaram várias propostas em negociações com a equipe de Michel Temer. “O projeto que está aí não nos representa. Queremos uma reforma que dê proteção universal aos trabalhadores, eficaz na cobrança, com sonegação zero, universal e sustentável.”

Protestos

As centrais mandarão representantes a Brasília no dia 21, para conversar com os presidentes da Câmara e do Senado, líderes partidários e com o comando da comissão especial da reforma da Previdência (e também da trabalhista). Em 15 de março, acompanhando uma data já aprovada pelos trabalhadores em educação, haverá um dia nacional de protestos e paralisações contra a 287.

Em meados de janeiro, o Dieese divulgou nota técnica com restrições severas ao projeto do governo, cuja premissa básica é dificultar ou impedir o acesso a benefícios – e reduzir o valor para quem conseguir recebê-los. Tornaria a aposentadoria integral uma “utopia” e, em uma análise mais geral, “favorece o aumento da vulnerabilidade social, da pobreza e das desigualdades no país”. O instituto também identifica favorecimento: “Transparece ainda na proposta um objetivo implícito de fragilizar a Previdência Social e estimular a difusão de sistemas privados de previdência”.

Para obter a aposentadoria integral, pelas regras propostas na PEC, um trabalhador precisaria contribuir durante 49 anos, uma façanha se considerados fatores como rotatividade e informalidade no mercado de trabalho brasileiro. Com base em dados de 2014 da própria Previdência, segundo os quais cada trabalhador pagou em média 9,1 contribuições naquele ano, o tempo aumenta consideravelmente: “Seria necessário esperar 64,6 anos, depois de iniciar a vida laboral, para completar o correspondente a 49 anos de contribuições”.

Suposição irrealista

O instituto destaca que a exposição de motivos da PEC não traz explicação sobre a proposta de mudança do cálculo do benefício. “Tudo indica que o raciocínio utilizado foi: subtrair a idade legal de início de trabalho no Brasil (16 anos) da idade mínima de aposentadoria proposta (65 anos) e fazer com que ao resultado dessa diferença (49 anos) corresponda à aposentadoria integral”, analisa. “A suposição, totalmente irrealista para a realidade brasileira, é que a pessoa trabalhadora contribuiu todos os meses, ininterruptamente, no período entre os 16 e os 65 anos, sem nunca ter ficado desempregada, inativa do ponto de vista econômico, na informalidade (isto é, como autônoma sem contribuição previdenciária) ou na ilegalidade (contratada sem carteira). A suposição do início do período contributivo aos 16 anos também desconsidera o princípio de que, nessa idade, a pessoa ainda deveria estar em processo de escolarização e de formação para o trabalho.”

Mais informações da própria Previdência mostram potencial excludente da proposta governista. Segundo divulgou o jornal Folha de S.Paulo na edição de 12 de fevereiro, 79% das aposentadorias por idade concedidas em 2015 foram para trabalhadores com menos de 25 anos de contribuição, que pela PEC passa a ser o tempo mínimo exigido – o atual é de 15 anos.

Recortes por grupos sociais também atestam que alguns setores sofrerão ainda mais caso as mudanças sejam implementadas. Estudo elaborado por um grupo de trabalho no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta consequências negativas para as mulheres. “Estimamos que cerca de 47% das atuais contribuintes não conseguirão se aposentar, em geral as mais precarizadas, aumentando fortemente a demanda por BPC (benefício de prestação continuada)”, diz o estudo. “Eles sabem disso. Por isso mesmo, estão desvinculando o BPC do salário mínimo”, diz a pesquisadora Joana Mostafa, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea. Para ela, a PEC 287 representa “redução do Estado na proteção social”.

Estabelecer a mesma idade para homens e mulheres na concessão da aposentadoria, como quer o governo, significa uma “mudança radical”, dizem os pesquisadores. “A diferença de idades para homens e mulheres reconhece um maior risco da mulher de se ausentar ou participar menos do mercado de trabalho por força da divisão sexual do trabalho ainda desigual.”

Segundo Joana, que participou do seminário do Dieese, apesar de alguma melhoria nos últimos anos, a desigualdade persiste: com salário equivalente a 70% do recebido pelos homens, as mulheres ainda têm jornada semanal, em média, de oito horas a mais. Em um período de 25 anos de contribuição, isso corresponderia a um acréscimo de 4,5 anos. Ou mais, considerando a informação de que o trabalhador, em média, contribui nove a cada 12 meses – o período aumentaria para 5,4 anos.

Exclusão

No caso dos trabalhadores rurais, a exclusão pode ser ainda maior, segundo Evandro Morello, assessor da Secretaria de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Ele estima que a PEC tira a expectativa de mais de 70% dos camponeses de alcançar a aposentadoria. “Isso afeta a economia dos municípios, a produção de alimentos.”

Evandro acredita que a reforma representará um desestímulo à permanência no campo, principalmente para os trabalhadores mais jovens: “O jovem tem de ser muito herói para permanecer no campo e manter-se no processo produtivo da agricultura. Quem vai ficar no campo produzindo alimentos para o Brasil?”, questiona.

Pela proposta do governo, o trabalhador rural passaria a ter uma contribuição individual, em vez da contribuição sobre a venda, como ocorre hoje (artigo 195 da Constituição), algo inviável pela realidade do agricultor, avalia o assessor da Contag.

A PEC também aumenta para 65 anos a idade mínima para aposentadoria – hoje é de 60 anos para os homens e de 55 para as mulheres. Evandro afirma que quase 80% dos homens e 70% das mulheres começam a trabalhar no campo com menos de 14 anos. “Quem vai conseguir alcançar essa idade (65), considerando que é um trabalho penoso?”, questiona.

A rigidez das novas regras poderá fazer com que também os jovens urbanos se sintam pouco atraídos a contribuir para a Previdência, acredita o economista Eduardo Fagnani. “Está se disseminando a ideia de ‘se não vou usar, por que pagar?’”, comenta. Fatores como uma saída do público jovem da base de contribuintes e mudanças nas relações de trabalho que levam à menor formalidade, como a terceirização, podem causar “queda brutal” da receita. Ele lembra que a Previdência é sustentada pelo trabalhador ativo, pela sociedade e “sobretudo pelo governo”, aproveitando para contestar afirmação corrente de que o sistema se torna inviável porque há, progressivamente, menos pessoas na ativa e mais inativos.

Falta diálogo

Quem também contesta os dados do governo é o presidente da Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip), Vilson Antonio Romero. “O governo dá uma pedalada na Constituição e faz uma contabilidade criativa”, afirma sobre o falado “rombo” da Previdência.

Segundo ele, com todas as fontes de financiamento previstas para manutenção da seguridade social, o sistema não tem déficit. Mas desde 1994, com a criação do Fundo Social de Emergência, a atual Desvinculação de Receitas da União (DRU), o governo passou a contar com um “instrumento de tunga”, como ele define, citando o uso para outros fins da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), além de renúncias previdenciárias, incluindo desonerações da folha de pagamento e entidades filantrópicas.

Romero concorda que o setor rural é fator de preocupação, mas discorda do ônus para o trabalhador. “Temos de chamar o agronegócio a contribuir.” Outra fonte de recursos estaria na venda de imóveis, que representam anualmente bilhões em manutenção e outras despesas. “A Previdência Social é a maior imobiliária do Brasil. E não aliena isso”, afirma o presidente da Anfip, defendendo ainda aperfeiçoamento do combate à sonegação.

Está faltando diálogo, diagnosticou o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Peter Poschen. Para ele, o debate sobre a Previdência precisa ser aprofundado para que resulte em uma reforma “justa e equilibrada”, já que se trata de um tema complexo e que afetará a atual geração e as próximas. Essa discussão precisa ser feita com todos os agentes sociais e com o maior número de informações. “Nossa percepção é que, nesse sentido, ainda falta muito.”

Sobre a PEC 287, ele vê uma “lógica fiscal, no sentido de conter gastos”, mas afirma que é preciso considerar outros aspectos, inclusive em termos de manutenção da formalidade, para que isso não represente perdas – inclusive fiscais – no futuro. “Isso requer uma decisão da sociedade”, observa o diretor da OIT. Ele considera a Convenção 102 da OIT, ratificada pelo Brasil, “uma boa âncora para o debate” – essa norma trata de critérios básicos para regimes de seguridade social, em relação a contribuições, pagamentos e governança.

Entre os princípios básicos da OIT, está a cobertura universal do sistema, com base na solidariedade social. Um levantamento da organização mostra tendência mundial de expansão da cobertura previdenciária, embora metade dos idosos ainda não receba benefícios. A maioria dos países têm sistemas públicos. Alguns desistiram da privatização. Um dos modelos mais conhecidos, o do Chile, é hoje objeto de questionamento. “Há uma grande discussão sobre o que fazer com o sistema privado, que se tornou impopular”, diz o especialista da OIT Fabio Durán.


Está na PEC 287

• Para a concessão da aposentadoria, será preciso ter pelo menos 65 anos de idade e no mínimo 25 anos de contribuição. A aposentadoria por contribuição será extinta. Atualmente, no regime geral, é necessário ter 65 anos (homens) ou 60 anos (mulheres) e 15 anos de contribuição.

• Está prevista uma regra de transição, para homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 45 anos. Eles teriam de pagar um “pedágio” equivalente à metade do tempo de contribuição que resta para a aposentadoria. Se faltam cinco anos, por exemplo, teriam de trabalhar mais dois anos e meio

• Além do “pedágio”, eles teriam as regras de cálculo para a aposentadoria já alteradas. Assim, em vez da média de 80% dos maiores valores de contribuição, esse trabalhador receberia o equivalente a 51% da média (desde julho de 1994) mais 1% por ano de contribuição. Em um exemplo mais repetido, teria de trabalhar durante 49 anos seguidos para conseguir a aposentadoria integral. Em qualquer caso, perde receita

• Também cairiam os valores dos benefícios, tanto para servidor vinculado ao RPPS (regime próprio) como para o segurado do RGPS (regime geral). A PEC desvincula benefícios do salário mínimo. Segundo o Dieese, as pensões concedidas com valor de um mínimo correspondiam, em 2015, a 55% do total e por 36% do montante pago

• O Dieese dá exemplos de uma professora da educação básica e de uma trabalhadora rural com 44 anos de idade na data de promulgação da emenda constitucional (caso a PEC seja aprovada). Nesse caso, elas não serão contempladas pela regra de transição e terão de trabalhar 10 anos a mais: em vez de 11, 21 anos. A proposta suprime diferenças entre homens e mulheres nos critérios de idade e tempo de contribuição