CUT vai a Brasília em protesto no dia 29

A CUT realizou ontem (18) a Reunião da Direção Nacional, que contou com a presença do ex-presidente Lula. No evento, o presidente da CUT, Vagner Freitas, confirmou que a central estará em Brasília no dia 29, em um grande ato. 

Lula fez uma crítica sobre a postura da mídia em relação à presidenta Dilma após a abertura do processo de impeachment. “É inadmissível que a Dilma, presidenta da República, faça agendas pelo País e a imprensa ignore completamente. Eles estão deixando a Dilma anônima. Esse bloqueio é imposto pelos donos desses meios de comunicação, que são responsáveis pelo golpe”, disse.

O ex-presidente também analisou o cenário atual, sob a gestão de Michel Temer. “Nós voltamos a ter reajuste salarial abaixo da inflação. Nós voltamos a ver sindicatos fazendo acordos para preservar empregos”, declarou.   

Alckmin pretende vender propriedades de pesquisa para pagar dívidas

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) enfrenta uma crise financeira em sua gestão. Além da falta de repasses para o metrô, o que tem comprometido os serviços do transporte, Alckmin apresentou o Projeto de Lei 328/2016, que concede a venda de 79 imóveis do estado, entre eles, quatro escolas técnicas rurais e duas faculdades de tecnologia.

Os terrenos que poderão ser vendidos correspondem a áreas de pesquisa agropecuária, voltada para os pequenos produtores rurais.  

A venda das propriedades foi justificada como uma necessidade para se criar um caixa do governo. Entretanto, em meio à crise financeira, o governador não deixou de perdoar uma dívida de R$ 116 milhões da Alstom, uma das empresas envolvidas no esquema de cartel do metrô.  

Previdência: mexer com ela trará danos sociais dramáticos

Laura Tavares Soares faz parte de um grupo de economistas que enviou, em abril, uma carta ao Supremo Tribunal Federal pedindo empenho contra a tentativa de golpe no Brasil. Além de condenar a ruptura com a democracia traduzida no afastamento da presidenta Dilma Rousseff, ela lamenta que o governo interino de Michel Temer, qualificado como “usurpador” e “ilegítimo”, esteja tentando impor “políticas regressivas” no que diz respeito às conquistas dos trabalhadores e da população de baixa renda.

Especialista em estudos sobre Previdência Social e desigualdade social, professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora investigadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Laura afirma que uma eventual desvinculação dos benefícios da Previdência, sobretudo as aposentadorias, do salário mínimo, é “criminosa”. E lembra que a aposentadoria inserida na política de valorização do mínimo sustenta a maioria das famílias em mais de 60% dos pequenos municípios.

Como pesquisadora e intelectual, Laura deu importante contribuição à elaboração da Constituição de 1988, quando atuou na equipe de formuladores dos artigos relativos à Seguridade Social. Ela condena a proposta de aumento da idade mínima de aposentadoria para 65 anos, ou mais, e diz que “muitos brasileiros e brasileiras morrerão antes”.

A economista ressalta que os trabalhadores de menor renda entram mais cedo no mercado e diz que ignorar a diferença de expectativa de vida entre as classes sociais significa agravar as desigualdades, inclusive no que diz respeito a condições de saúde e de educação. Nas ideias defendidas pelo governo interino, perdem, e muito, os mais pobres.

A economia voltou a rezar pela cartilha do neolibera­lismo como nos tempos de FHC?

Ah, com certeza. É assustador que, em tão pouco tempo, o governo provisório e usurpador de Temer esteja implementando e propondo políticas regressivas sob todos os pontos de ­vista. Sob o econômico, aprofundará mais ainda uma crise que assume contornos mundiais, uma crise à qual o Brasil não está imune. No entanto, a crise não vem sozinha. Ela é amplificada e agravada, em boa medida, por políticas que denominávamos de ajuste neoliberal. Sobretudo na adoção de medidas que paralisam os investimentos produtivos, deixam de criar empregos e, o que é pior, criam um desemprego que, no ritmo que vai, chegará aos patamares críticos que tivemos nos anos 90.

Se lembrarmos que chegamos a uma situação denominada de “pleno emprego” (em 2014), trata-se de um brutal retrocesso. Eu estudo a série histórica da Previdência desde os anos 70, e pela primeira vez a proporção de contribuintes, ou seja, de empregados formais, supera o patamar de 60%, quando historicamente chegava, no máximo, a 40%. Os dados mostram como o crescimento da ocupação em todos os períodos supera o aumento da população economicamente ativa. Essa diferença corresponde exatamente à diminuição do desemprego. Por sua vez, o número de pessoas filiadas e contribuindo para a Previdência superou em muito, em todos os períodos, o crescimento dos postos de trabalho. Essa maior proteção previdenciária representa um maior grau de formalização do emprego e, naturalmente, da cidadania.

O atual cenário representa ameaça a essas conquistas obtidas na última década?

O neoliberalismo é muito mais que um conjunto de medidas econômicas. É uma ideologia que continua forte e traz propostas que modificaram e estão modificando o modo como as políticas sociais são implementadas. Passa por uma visão de que o Estado deve apenas atender aos “mais pobres”. Na área social, é claro. Porque na área econômica, o Estado sempre atendeu aos interesses do capital hegemônico – hoje o capital financeiro – e das classes dominantes remanescentes que detêm ainda o poder sobre a propriedade da terra, os grandes latifundiários. As classes dominantes não têm nenhum pudor em disputar e desfrutar do Estado. Bem como a classe média brasileira, que possui uma renda e um estilo de vida superior às demais classes médias latino-americanas. Ela desfruta da isenção do Imposto de Renda nos gastos, não apenas com educação privada e com saúde privada, e promove uma enorme renúncia tributária ao descontar integralmente os planos de saúde e os fundos de previdência privados. Para estes, não há nenhum problema que o Estado dê uma mãozinha na chamada reserva de mercado para o setor privado em duas áreas sensíveis e historicamente subfinanciadas, como a saúde e a educação.

Eu fiz Economia no doutorado exatamente para me contrapor aos economistas. Outro dia, preparando aula, descobri que a economista inglesa Joan Robinson disse que estudou Economia para não ser enganada por nenhum economista. Estou em boa companhia! Sempre defendi a política social como indutora de um novo padrão de desenvolvimento, ainda que capitalista, menos excludente mas, sobretudo, mais igualitário e garantidor de direitos de cidadania, palavras que andam meio esquecidas desde a Constituição de 1988.

Que impacto haveria sobre os trabalhadores a reforma da Previdência pretendida pelo ­governo interino?

Vou me referir a duas medidas que considero as que causariam impactos sociais inimagináveis. A primeira é a criminosa desvinculação do salário mínimo dos benefícios da Previdência Social, especialmente as aposentadorias. Aliás, a Previdência Social hoje em dia deveria ser chamada de Previdência Fazendária. Nem nos piores casos de neoliberalismo que estudei na América Latina, nunca vi a Previdência ir para o Ministério da Fazenda tão explicitamente. Hoje, a aposentadoria no valor de um salário mínimo, acompanhada de uma valorização sem precedentes, acima da inflação, sustenta a maioria das famílias residentes em mais de 60% dos pequenos municípios, e alguns médios. Se não acreditarem nos dados oficiais dos governos eleitos Lula e Dilma, consultem os dados do Dieese ou da Anfip (associação de auditores da Previdência). Até na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE se pode verificar o aumento da importância da Previdência, em muitos casos logo abaixo da renda do trabalho, quando ele existe. Na área rural, então, considero uma verdadeira revolução social que um casal que se aposenta pelo trabalho, ou seja, que tem o direito de receber uma aposentadoria digna, receba hoje R$ 1.736. Isso, para a área rural, é uma renda considerável, muitas vezes maior que o próprio trabalho rural. Detalhe: as mulheres passaram a receber igual aos homens desde a redemocratização, conquista que foi fruto de uma longa luta. Para mim, é a mais redistributiva política social universal que temos, única na América Latina.

É uma questão antiga…

Aqui vale fazer uma pausa e afirmar, com veemência, que a Previdência rural não é assistencial e sim vinculada ao trabalho! Essa é uma briga antiga dos trabalhadores rurais e nossa, quando enfrentávamos os parlamentares em 1998 e em 2003 nos debates sobre a reforma da Previdência. Sem nenhum demérito à palavra assistencial, pelo contrário. O BPC (Benefício de Prestação Continuada), este sim um benefício assistencial destinado aos idosos urbanos e a pessoas com deficiência de baixa renda, já que a Previdência urbana ainda não é universal, possui uma enorme relevância social. Destaco isso porque a Previdência rural foi e continua sendo alvo dos defensores da reforma da Previdência neoliberal, que quer retirar a população rural do sistema da seguridade. Com isso se perde, no mínimo, a vinculação dos atuais benefícios rurais com o salário mínimo, por exemplo, caindo a patamares ínfimos, como era no período da ditadura. Em outubro de 2014, somente o INSS pagava por mês mais de 32 milhões de benefícios, transferindo renda e movimentando a economia nos municípios. A maior parte dos benefícios (71,2%) foi paga à clientela urbana. Portanto, 28,8% foi pago aos trabalhadores rurais. São milhões de rurais recebendo um salário mínimo na sua velhice ou invalidez.

É verdade que a Previdência Social gasta mais com os ricos do que com os pobres? Existe algum retorno social com o montante que se gasta hoje com Previdência?

Fiz em 2012 uma apresentação exatamente com o objetivo de demonstrar o retorno social da despesa da Previdência Social com benefícios. E aqui entra a ideia da Constituição de 1988 de que a Previdência, tal como a saúde e a assistência social, pertence à seguridade social. A maioria das pessoas não sabe nem o que é isso. Sempre recomendo para meus alunos, como tarefa de cidadania, a leitura, pelo menos, do capítulo da Seguridade Social na Constituição.

Por outro lado, a grande maioria dos benefícios pagos hoje é de um salário mínimo. Eu não sei ao certo o dado agora, mas é cerca de 80%. O último dado que calculei e que tenho disponível aqui é que as despesas com benefícios, desde 2006, ultrapassam a metade do valor arrecadado pelo governo em impostos e contribuições sociais e econômicas, quando deduzidas as transferências constitucionais a estados, Distrito Federal e municípios, restituições e incentivos fiscais. Em 2013 essa proporção chegou a 54,3%. Isso significa que pouco mais da metade da parcela dos impostos e contribuições que fica no orçamento federal retornou para os segmentos sociais mais necessitados. Além do grande significado social, essas transferências têm um papel econômico importante, pois atingem um quantitativo importante de famílias, distribuídas regionalmente e com uma grande capilaridade.

Da mesma forma, os Benefícios de Prestação Continuada, da Loas (Lei Orgânica da Assistência Social), custam o equivalente a 0,6% do PIB, e cada R$ 1 pago gera R$ 1,19 no PIB. Cada R$ 1 pago de seguro-desemprego, cujos gastos alcançam também 0,6% do PIB, rende R$ 1,09 no PIB. O conjunto dos benefícios da Seguridade Social tem a capacidade de diminuir a desigualdade e a pobreza, com grande poder multiplicador na economia. Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgado em 2013 reafirma que, além da Previdência, as despesas com o Bolsa Família representam apenas 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto), mas cada real gasto com o programa adiciona R$ 1,78 no PIB.

As despesas com políticas sociais então, retornam na forma de dinamização da economia…

Na economia, o impacto multiplicador tem outra vantagem. Ao elevar a produção e a circulação de bens e serviços, obviamente cresce a arrecadação. Portanto, parcela considerável dos recursos públicos aplicados retorna. Quem faz contas da Previdência de modo meramente atuarial olha apenas receitas e despesas, ignorando, além da cidadania e o direito à previdência, as demais contas de arrecadação envolvidas.

A diversificação de fontes de financiamento da seguridade social é um princípio pioneiro instituído na Constituição de 1988 que revolucionou o financiamento dessas três áreas: Previdência, Saúde e Assistência Social. Por esse princípio, todas essas áreas deveriam ser financiadas pelo orçamento da seguridade social. Infelizmente, a partir do desmonte dos anos 90, as fontes setoriais ficaram separadas, o que, a meu ver, repõe eternamente o debate do subfinanciamento da Saúde e da Assistência Social. A sacada genial introduzida na Constituição, e batalhada por muitos técnicos que já trabalhavam na Previdência na época do ministro Waldir Pires (1985-1986) e pelos movimentos sociais, é que as contribuições não deveriam apenas incidir sobre o trabalho. Com a crise do mundo do trabalho, nenhum país do mundo sustenta seu sistema de proteção social com folha de salários! Dessa forma, criamos duas­ contribuições, que incidissem sobre o capital, que são as atuais CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Essas contribuições sempre cresceram acima do PIB e da arrecadação federal. Como está na moda dizer hoje, são absolutamente sustentáveis. O resultado da seguridade social em 2013, ou seja, o seu superávit, foi de R$ 76,241 bilhões. Com todas as desvinculações e as isenções fiscais às empresas, que diminuíram a receita da Previdência, o superávit ainda foi de R$ 12,626 bilhões.

O aumento da idade mínima para a aposentadoria é um”mal necessário” para garantir a estabilidade do sistema de Previdência?

O problema é que as desigualdades no Brasil ainda são enormes, e elas têm influência direta sobre a expectativa de vida. Calcular uma média em um ­­país ­como o Brasil é uma medida de alto risco que, no caso da Previdência, trará consequências sociais dramáticas. Aprendi, desde o meu curso de sanitarista da Escola Nacional de Saúde Pública, que expectativa de vida depende das condições de vida e, junto com elas, das condições de saúde. Isso vai mais além da renda. Depende fundamentalmente do acesso aos serviços de saúde, à habitação digna, ao saneamento, às condições de trabalho, entre outras coisas. Se a idade mínima aumentar de forma linear, muitos brasileiros e brasileiras morrerão antes de receber sua aposentadoria.

Até as pedras sabem que os de mais baixa renda têm que entrar mais cedo no mercado de trabalho. E vão ter que esperar a idade mínima muito mais tempo do que aqueles que ingressam mais tarde, como os jovens que têm acesso ao estudo médio e universitário sem precisar trabalhar e que depois ainda podem fazer mestrado, doutorado, cursinho para concurso etc., custeado pelos pais ou pela família. Quase sempre o grupo de baixa renda que tem que trabalhar desde cedo ingressa em trabalhos de pior qualidade, mais precários, com evidentes prejuízos para a sua saúde. E aqui também reside uma diferença perversa: ainda hoje, as mulheres possuem piores condições de trabalho e remuneração. É uma diferença de gênero que persiste no nosso mercado de trabalho, especialmente no mercado privado.

Mas diferenças também existem no setor público. Quando o presidente interino e ilegítimo disse que todos os servidores públicos iriam se aposentar com 70 anos, eu, com apenas 62, quase tive um infarto. Trata-se de um total desconhecimento do que é o setor público neste país e sua também enorme heterogeneidade. Não é a mesma coisa trabalhar em estatais ou no Poder Judiciário, com salários muitíssimo acima da média dos servidores públicos, além de muitos privilégios, do que trabalhar no Executivo, onde, a princípio, somos meros assalariados nos três níveis de governo. Isso acontece especialmente nas áreas de saúde, onde pelo menos dois terços são mulheres que trabalham na enfermagem ou em áreas extremamente exaustivas, e educação, onde a maioria é de professoras primárias ou secundárias. E essas são as áreas majoritárias em mão de obra no setor público. Uma auxiliar de enfermagem que comece a trabalhar aos 20 anos aos 65 está um bagaço ou já não existe mais. Desculpem o realismo.

A mulher pobre é quem mais perde com essa proposta de aumento da idade mínima?

Essa mesma “isonomia” entre homens e mulheres proposta para a idade mínima na Previdência, como já disse, não existe no mercado de trabalho. De novo, a mulher vive mais tempo na média. Mas a mulher de baixa renda sofre, além da discriminação de gênero, a racial. A maioria dos postos precários de trabalho ainda é preenchida por mulheres. Por essas e outras é que afirmo que as mulheres trabalhadoras rurais conseguiram o que muitas que trabalham no meio urbano não conseguiram: uma Previdência universal pelo simples fato de ter trabalhado. Tampouco existe isonomia na vida cotidiana das mulheres, especialmente nas de baixa renda, que não podem pagar domésticas ou diaristas. Só conheço homem que participa do trabalho doméstico jovem, ilustrado, de classe média e progressista. E olhe lá! A inclusão do trabalho doméstico na ampliação da Previdência na chamada “inclusão previdenciária” nunca foi compreendida pelos homens tecnocratas e políticos com quem tínhamos que conversar no Ministério da Previdência e no Congresso.

E ainda falta um componente, que já se encontra muito mais avançado nos países que de fato dispõem de um Estado de bem-estar social, que é a questão do cuidado. E aí, o cuidado com os filhos e com os idosos sobra para as mulheres mesmo. Melhorou a política de creches? Sim. Mas falta muito. E com os idosos, quem não tem dinheiro para cuidadoras – também mulheres – e assim mesmo quem “cuida” das cuidadoras são as mulheres, mesmo de classe média.

E não me venham com o argumento demográfico, pelo menos não no Brasil, onde ainda temos um bônus de jovens que, se estivessem todos, ou a maioria, empregados, dariam perfeitamente conta de manter a solidariedade intergeracional, o regime de repartição, por um bom tempo. E, como já vimos, no caso brasileiro ainda temos muitos recursos que, se não fossem “desviados” para os superávits fiscais, daria conta de sustentar todos os idosos deste país, me arrisco a dizer, de modo universal. Onde todos, como no campo, tivessem pelo menos a garantia de um salário mínimo.

Centrais sindicais se unem contra retirada de direitos

Para lutar contra as reformas na previdência social e mudanças nos direitos dos trabalhadores, cerca de seis mil pessoas se concentraram ontem (16) em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em São Paulo. O ato reuniu as principais centrais sindicais do País em um único propósito.  

O Dia Nacional de Mobilização e Luta por Emprego e Garantia de Direitos também contou com atos em diversas cidades brasileiras. “Os trabalhadores querem seus empregos garantidos, não permitiremos que esse governo golpista avance nos nossos direitos”, disse Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT.  

Adilson Araújo, presidente nacional da CTB, alertou para o perigo das novas medidas. “Por trás desse discurso da modernidade do trabalho, há propostas como jornada de 80 horas semanais de trabalho”, lembrou.  

Lucros da Sabesp aumentam em meio à crise hídrica

Os lucros da Sabesp, empresa que gerencia a água no estado de São Paulo, aumentaram 136,4% no segundo trimestre de 2016, em comparação com o mesmo período do ano passado. O lucro líquido foi de R$ 797,5 milhões, contra R$ 337,3 milhões em 2015, em meio à crise hídrica.

Esse resultado foi influenciado pelo fim da concessão de bônus pela empresa para quem economizasse água, o que acaba contribuindo para um aumento do desperdício por vazamentos nas tubulações, devido ao aumento do consumo do recurso.

Os vazamentos registraram uma taxa de 30,7% no primeiro semestre desse ano, ante 28,5% no mesmo período em 2015. No segundo trimestre de 2015, a Sabesp concedeu R$ 231 milhões em descontos, e apenas R$ 33,6 milhões no mesmo período de 2016. 

‘Trabalhadores são negligenciados como vítimas da ditadura’, diz pesquisador da FGV

Quando o assunto é o golpe de Estado de 1964 e a instauração do regime ditatorial civil-militar que durou até 1985, fala-se muito sobre o movimento estudantil, censura, luta armada, mudanças econômicas e ataques aos direitos civis. Os trabalhadores e os impactos diretos à vida pessoal e ao mundo do trabalho, no entanto, não são estudados como deveriam. “Embora a maioria dos mortos e desaparecidos seja de trabalhadores ou pessoas com origem nas classes populares, eles sempre foram negligenciados entre as vítimas da ditadura. É preciso trazer à tona essa discussão sobre a relação entre sindicalistas e ativistas que são esquecidos na história”, afirmou o pesquisador Paulo Fontes a integrantes da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, na tarde de ontem (15), na Câmara Municipal de São Paulo.

Coordenador do Laboratório de Estudos do Mundo do Trabalho e dos Movimentos Sociais (LEMT) do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDoc/FGV-RJ), ele é autor de artigos e livros nas áreas de história social do trabalho, sindicalismo, migrações e cultura popular.

Em 2012, seu livro Um Nordeste em São Paulo. Trabalhadores Migrantes em São Miguel Paulista: 1945-66foi vencedor do Prêmio Thomas Skidmore, promovido pelo Arquivo Nacional e pela Brazilian Studies Association, como a melhor obra recente sobre a história brasileira no período 1945-1964. A obra aborda a saga dos trabalhadores que deixaram o Nordeste para serem operários da Companhia Nitro Química Brasileira, criada em 1935 pelo empresário José Ermírio de Moraes, pai de Antônio Ermírio, dono do Grupo Votorantim.

De acordo com o pesquisador, as relações entre o aparato repressivo e os empresários, que são bem anteriores a 1964, estão muito presentes no caso da Nitro Química. Criada com apoio de Getúlio Vargas, em sua política de incentivo às indústrias de base, a empresa nunca chegou a ser a “CSN do setor químico”, como sonhava Ermírio, mas foi muito lucrativa. Produzia desde o fio rayon – uma espécie de seda sintética, que antecedeu o nylon, e seria o carro-chefe da produção até os anos 1960 – até soda cáustica e ácidos, passando por insumos para explosivos.

Considerado por muitos um empreendimento social, que moldou grande parte da zona leste, com seu paternalismo empresarial que oferecia clubes e um ambiente de sociabilidade entre as famílias dos trabalhadores – que hoje em dia causam nostalgia entre as pessoas mais velhas –, nunca chegou a ser uma fábrica moderna.

“Provedora e sugadora, sempre foi perigosa, insalubre, sucateada, que consumia a saúde do bairro. O tempo dos moradores do bairro era marcado pelos apitos da fábrica, mas eles temiam ouvir o apito próprio de acidentes, como explosões, que chegaram a matar muitos operários. O trabalho intensivo, baixos salários, com muitas mulheres na produção, alta rotatividade e sem investimentos em capacitação visavam ao lucro”, relata Fontes.

A Nitro Química era famosa também pelo autoritarismo nas relações entre as chefias intermediárias e os operários, com forte presença de integralistas ligados ao Departamento de Ordem Política e Social (Deops), como estratégia de maior controle sobre os trabalhadores apoiada no aparato repressivo. Nas décadas de 1940 e 1950, a empresa fortaleceu aliança com o Estado para afastar qualquer ativismo do chão de fábrica, e agressões e torturas já eram comuns.

Liderado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), o operariado exercia militância que extrapolava os muros da fábrica. A maior célula do partido estava em São Miguel, que teve papel importante na eleição do escritor baiano Jorge Amado, por São Paulo, a uma cadeira na Assembleia Nacional Constituinte em 1945. Essa militância contribuiu para o movimento emancipacionista, que pretendia tornar São Miguel um município independente, assim como Osasco conseguiu. A fábrica, segundo o pesquisador, atuou contra o processo de emancipação.

“A partir dessa época surgiram as primeiras greves, que fizeram da Nitro Química a fábrica mais militante de São Paulo. Graças à liderança de Adelço de Almeida, que conquistou o Sindicato dos Químicos, que havia sofrido intervenção do Ministério do Trabalho, aumentou o número de sindicalizados e de ações trabalhistas na Justiça, aumentando a repressão”, conta o pesquisador.

Em 1957, Adelço liderou os trabalhadores químicos à frente da greve que reuniu milhares de trabalhadores, a partir da Nitro Química.

“Em 1963 houve greve pelo 13º salário e a Nitro Química foi a primeira a parar. Se a gente tem hoje 13º, é por causa de gente como Adelço, que nem dão nome a rua. Essas pessoas foram perseguidas e presas pelo regime”, disse Paulo Fontes.

Após o golpe, a diretoria do Sindicato dos Químicos foi cassada. Militantes do PCB, Floriano Dezem e Adelço de Almeida, além de outros colegas do sindicato, passaram a ser procurados pela polícia. Foi aberto inquérito policial para investigar os supostos “atos subversivos” dos sindicalistas, entre eles Fidelcino Queiróz dos Santos, Gabriel Alves Viana, José Ferreira da Silva, Manoel Mantonhani e Virgílio Gomes da Silva.

Muitos deles se mantiveram na clandestinidade. Adelço contou depois ter participado da dissidência do PCB liderada por Carlos Marighella.

Em 1966, a Nitro Química, que havia mergulhado em crise, passou por uma reestruturação e demitiu mais de 1.500 trabalhadores, sendo 400 com mais de dez anos de empresa e muitos deles militantes. “Aproveitaram para fazer a limpa no ativismo ao mesmo tempo em que chegava ao fim o paternalismo empresarial.”

Em 2011, a fábrica deixou de fazer parte do Grupo Votorantim por dar menos lucro que as demais, do ramo cimenteiro e de metais. Foi vendida para um fundo de investimentos.

Recomendações

Instalada em setembro de 2014, a Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo está finalizando relatório com recomendações. No entanto, até o final do ano, quando encerrará suas atividades, ainda serão feitas novas audiências. “Enquanto durar a comissão, vamos tentar fazer uma audiência por semana para contar a história da cidade, dos trabalhadores e da repressão no município, ou seja, sobre o que a prefeitura teve a ver com isso”, disse o ex-deputado Adriano Diogo, integrante da comissão. “Ainda não fizemos audiência sobre a greve da CMTC, a greve dos lixeiros, que são coisas da prefeitura. Tem muita coisa para se fazer. Enquanto tiver a luz acesa, nós estamos trabalhando”.  

Lei Maria da Penha completa dez anos em defesa das mulheres

A Lei Maria da Penha, sancionada pelo ex-presidente Lula, completou dez anos no dia 7 de agosto. Para comemorar a data, a CUT realizou um evento, no qual mulheres relataram experiências pessoais e conversaram a respeito da importância da lei que caracteriza a violência doméstica como crime.

No evento, o ex-presidente Lula disse que muitas mulheres ainda têm medo de denunciar seus companheiros, mas ressaltou que a decisão é um ato de coragem. Ele também falou sobre a presidenta Dilma Rousseff.

“ A mulher não quer ser objeto, quer ser protagonista da história dentro e fora de casa. E fico feliz por ter podido contribuir para que, na minha sucessão, assumisse pela primeira vez uma mulher que lutou contra o regime militar, que foi barbaramente torturada e que chegou à presidência sem ódio”, disse.

Para Ana Lúcia Firmino, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, a Lei Maria da Penha foi um grande avanço do País no combate à violência contra a mulher.  

Desemprego cresce no País e prejudica trabalhador

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) analisou por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) que o número de pessoas desempregadas aumentou em 2,5 milhões entre janeiro e junho de 2016.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgado pelo Ministério do Trabalho, referente ao mês de junho, estima que foram fechadas cerca de meio milhão de vagas de trabalho formal no primeiro semestre de 2016.  

A Pesquisa de Emprego e Desemprego, realizada pelo DIEESE com a Fundação Seade, mostra que Salvador apresentou a maior variação da taxa de desemprego em junho de 2016, chegando a 24,8%. O Distrito Federal apresenta a segunda maior taxa, de 19% e São Paulo a terceira, de 17,6%.   

Também houve uma redução nos salários de quem está empregado, em comparação com maio de 2016 e o mesmo período no ano passado e Salvador apresenta novamente a maior taxa, de -11,1%.   

Metrô deixa de investir em meio à crise

O metrô de São Paulo tem enfrentado uma crise sob a gestão do governador Geraldo Alckmin. Por falta de verbas para a manutenção dos trens e expansão das linhas, a empresa está cada dia mais com o serviço comprometido, afetando passageiros, que já começam a procurar por alternativas de transporte.

Segundo um levantamento do portal Fiquem Sabendo, o metrô deixou de investir R$ 511,90 milhões em um ano (comparando o primeiro semestre de 2016 com o mesmo período em 2015). O portal também apontou que em 2015 não houve a inauguração de nenhuma estação nova.

A lei que define a Política Nacional de Mobilidade Urbana, traz no art. 5º, inciso IV, “a eficiência, a eficácia e a efetividade” como princípios dos serviços de transporte público, mas o metrô não tem conseguido cumprir tais garantias.     

Audiência pública debate ameaça aos direitos dos trabalhadores

O Sindicato sediou na última quinta-feira(11) a audiência pública contra as ameaças aos direitos dos trabalhadores, uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.

Durante seu discurso, o senador Paulo  Paim (PT) criticou as pautas de reformas trabalhistas em tramitação no Congresso Nacional. Como por exemplo, a que prioriza as negociações entre patrões e empregados ao invés das leis; as mudanças no  auxílio-doença e na aposentadoria por invalidez e a liberação da terceirização para todas as atividades das empresas.

Hélio Rodrigues, coordenador da Frente Contra a Terceirização e diretor licenciado do Sindicato dos Químicos, abriu a audiência reforçando a importância da unidade das centrais sindicais na luta contra a retirada de direitos e em defesa do  governo Dilma Rousseff,  eleito democraticamente. “Nós temos críticas ao governo no âmbito econômico, mas não podemos negar o enfrentamento da presidenta Dilma com  Eduardo Cunha”, disse. 

Representantes do Tribunal, da Defensoria e juízes alertaram para a relação entre a precarização e o aumento do trabalho escravo no País, pois a flexibilização das leis de trabalho acarreta em menores salários, maior tempo de trabalho e maior rotatividade nas empresas.  Para o jornalista Leonardo Sakamoto, o crescimento econômico está sendo tratado com maior importância do que a dignidade dos trabalhadores.