No final da manhã desta quarta-feira (31), o Senado Federal confirmou o golpe político contra a democracia brasileira. Ao confirmar a deposição da presidenta Dilma Rousseff (PT), eleita democraticamente por 54 milhões de brasileiros, os parlamentares atiraram o País em um abismo de incertezas e pessimismo.
Michel Temer, presidente ilegítimo do Brasil, já sinalizou às elites que deve promover uma guinada na condução do País, reforçando privilégios e recuando nas políticas afirmativas que promoveram, nos últimos 13 anos, a inclusão de parcelas da sociedade que historicamente são alijadas dos espaços de poder.
O portal da CUT escutou as secretárias e secretários da Central para compreender como cada setor da sociedade pode ser impactado pelo golpe político. Confira:
Carmen Foro (Vice-Presidenta)
“O impeachment significa retrocesso para a democracia e para os direitos do povo brasileiro. Mulheres, jovens e negros devem se preparar para lutar por seus direitos, que serão alvos dos golpistas”
Sérgio Nobre (Secretaria-Geral)
Uma grande tragédia para a democracia, para o direito dos trabalhadores e vamos viver uma fase terrível de retirada de direitos e sofrimento para os mais pobres no país. A sociedade pode esperar muito democracia e muita luta para recuperar a democracia.
Antônio de Lisboa (Relações Internacionais)
“O Brasil irá abrir mão de ser um protagonista global, para voltar a se subordinar a agenda americana e aos interesses das grandes potências. Como bem disse Chico Buarque, o Brasil passará a falar grosso com a Bolívia – e os demais países do sul, e fino com os EUA”
Rosane Bertotti (Secretária de Formação)
“Daqui em diante, com a consolidação desse duro golpe contra a democracia brasileira, a Formação Sindical da CUT reforçará em sua estratégia dois papeis centrais. O primeiro deles, é o de fazer o debate e despertar a consciência da classe trabalhadora, do campo e da cidade, do setor público e privado, cooperando na conscientização sobre o processo que culminou no golpe. O outro, é fomentar um amplo debate da retomada da esperança, para fortalecer a organização sindical, identificando e formando novos quadros para as entidades sindicais”
Valeir Ertle (Secretaria de Assuntos Jurídicos)
“O golpe influencia os direitos trabalhistas. Teremos possíveis alterações na Legislação, e , se não conseguirem, o negociado pode vir a prevalecer sobre o legislado. Além disso, é possível imaginar que em um período de crise, como estamos, com demissões em massa, a Justiça do Trabalho será inviabilizada por esse governo golpista, que criará obstáculos para que os trabalhadores acessem seus direitos”
José Celestino Lourenço (Cultura)
“O impacto que já está sendo causado na Cultura e na Educação. O governo golpista está impossibilitando que o povo tenha acesso a políticas essenciais, que viabilizam ações de resistência ao golpe. Nesse sentido, já há retirada de recursos e fechamento de aparelhos em todo o Brasil. O filme “Aquarius” é um exemplo de como os artistas serão perseguidos nesse País.”
Quintino Severo (Administração e Finanças)
“O golpe foi arquitetado para atacar os direitos e as conquistas dos trabalhadores. Haverá um ataque mais forte contra seguro-desemprego e fundo de garantia. Eu tenho uma expectativa que esses fundos não serão mais usados para a área social, mas sim destinado para outros setores da economia”
Roni Barbosa (Comunicação)
“No próximo período, vamos ver os golpistas avançando contra as mídias que divergem da narrativa hegemônica, imposta pela grande mídia. Os blogues e os portais de esquerda sofrerão ataques sistemáticos. A intenção é acabar com as vozes discordantes. Outra preocupação é com o destino da EBC, que pode abolir seus espaços de participação popular e ser usada como porta-voz dos golpistas. Por tudo isso será fundamental fazer a rede CUT de comunicação funcionar. Será preciso ir além e articular a comunicação nas esquerdas para enfrentar o próximo período.”
Maria Júlia (Combate ao Racismo)
“O golpe, ele significa a derrota dos setores excluídos no Brasil. De modo particular, temos que destacar os retrocessos para a população negra, que tem a marginalidade como herança da escravidão. Marginalidade que persiste até hoje. Nossos avanços começam em 2003, quando políticas reparatórias diminuem o poço de desigualdade que nos separa das elites do País. Agora, com esse golpe, que será bárbaro para as negras e negros, haverá uma pressão para que voltemos para onde as elites acham que é nosso lugar, a senzala.”
Edjane Rodrigues (Secretária de Juventude)
“O governo golpista virá para cima daquela que foi a mais importante conquista que obtivemos, fazer com que o governo federal reconhecesse o papel da juventude como protagonista no desenvolvimento do país. Uma luta histórica que proporcionou diversas conquistas como a lei de cotas nas universidade, o ProUni e que agora será afetada por ações como a omissão diante do genocídio da juventude negra e que prejudicam quem entra agora no mercado como a terceirização sem limites.”
Daneil Gaio (Secretário de Meio Ambiente)
“O golpe foi patrocinado pelo agronegócio, mineradoras e grupos econômicos nacionais e internacionais que têm claros interesses sobre os recursos naturais do nosso país. A fragilização da legislação ambiental, a maior liberação de agrotóxicos e transgênicos, uma menor proteção por parte do Estado de comunidades atingidas são só alguns dos ataques que serão realizados. Quem paga a conta é o meio ambiente e todos nós que seremos impactados.
Janeslei Albuquerque (Secretária de Mobilização e Relação com Movimentos Sociais)
“Com o impeachment, vamos reorganizar e intensificar a unidade dos movimentos como resposta a um ataque sem precedente a nosso direito de lutar. Na interinidade, esse governo já começou prendendo arbitrariamente pessoas inocentes e tudo indica que o método será criminalizar e judicializar a relação com os movimentos sociais para desmoralizar nosso direito de combater a série de retrocessos que corre no Congresso Nacional.”
Junéia Batista (Secretária da Mulher Trabalhadora)
“O impeachment significa perda de direitos para as mulheres e para a classe trabalhadora. Reforma previdência, alterações da CLT tudo isso prejudica principalmente as trabalhadoras mulheres. A única coisa positiva foi o discurso dela, uma aula de coragem, que nos motiva a seguir na luta pela democracia e o estado democrático de direito.”
Ari Aloraldo do Nascimento (Secretário de Organização e Política Sindical)
“A democracia está de luto, mas a luta apenas recomeça. A unidade dos movimentos sociais será fundamental para enfrentarmos a tentativa do desmonte de tudo aquilo que construímos a partir da Constituição de 1988 e aprofundamos nos últimos 13 anos, o conceito de cidadania e acesso a direitos básicos.”
Jandyra Uehara (Secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos)
“Já estamos assistindo ataque a políticas sociais e direitos humanos, que deve se aprofundar. Está em curso hoje no Congresso um corte brutal para todas as políticas sociais, de saúde, educação, esporte, combate à miséria. E esse estrangulamento é para jogar dinheiro para capital privado, um processo que precisa da repressão e da violência para se consolidar e destruir os movimentos de direitos individuais e coletivos. A resposta a luta começa agora para derrubar o golpe e reestabelecer a democracia.”
Madalena Margarida da Silva (Secretária de Saúde do Trabalhador)
“Quem depende do SUS e de qualquer serviço público tem razões de sobra para ficar com medo diante desse governo, que já acenou, ainda interino, com a priorização do serviço privado, a quem pode pagar. A ideia de saúde, transporte, educação e segurança púbicas para todos os brasileiros e brasileiras é enterrada junto com a democracia e cabe a nós lutar contra o roubo de nossas conquistas. Até mesmo para quem depende do SUS e apoiou esse golpe que significa rasgar cada voto nas últimas eleições.”