Sisutec divulga aprovados

Foi divulgada a lista de aprovados para o Sisutec (Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnologia), que pode ser consultada no site http://sisutec.mec.gov.br/. Os selecionados têm até o dia 28(sexta-feira) para se matricular.

O sistema ofereceu 293.738 vagas para ensino técnico. Os cursos são gratuitos e acontecerão de 14 de abril a 12 de maio.

São Paulo terá conselhos municipais para as mulheres em 2015

São Paulo – Apesar de não haver um monitoramento preciso sobre os casos de violência doméstica na capital paulista, existem pelo menos 54 mil processos tramitando com base na Lei Maria da Penha, que pune violência doméstica e sexual contra mulheres, como informou a secretária municipal de Políticas para as Mulheres, Denise Motta Dau, à RBA, em entrevista.

Segundo Motta Dau, os distritos da cidade de maior incidência de atos violentos contra as  mulheres são Sapopemba, na zona leste, Cidade Ademar e Campo Limpo, na zona sul e Brasilândia, na zona norte. “Pretendemos refinar o monitoramento em parceria com a Secretaria Estadual de Segurança Pública”, informou a secretária, que há um ano assumiu uma pasta inédita no município. “A gente se ressente de não ter mais apoio do estado.”

Uma das ações para o prioritário combater à violência doméstica será o lançamento, nesta segunda-feira (24), da campanha “Quem Ama Abraça”, que repassará kits aos professores das escolas municipais para orientar debates sobre combate à violência contra a mulher. Além disso, ocorrerá a entrega da primeira unidade móvel para atender as mulheres vítimas de violência, que circulará por distritos da zona sul e leste.

Na entrevista, a secretária afirmou que a Casa da Mulher Brasileira, um centro de atendimento e acolhimento de vítimas de violência doméstica, será entregue ainda este ano, no Cambuci, região central da capital. Na área da Saúde, o município vai capacitar mil profissionais para atender mulheres, de forma que cada região conte com pelo menos 200 deles. A partir de 2015 será instaurado na cidade o Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres.

Confira a entrevista.

Essa secretaria foi criada no ano passado, no começo da gestão de Fernando Haddad. Como foi esse primeiro ano de atuação?

O principal desafio foi estruturar a secretaria, do ponto de vista de recursos humanos e orçamento, e ao mesmo tempo construir as diretrizes políticas e os projetos. Tínhamos de trabalhar para colocar a equipe em boas condições e para estruturar um plano de metas para a secretaria e para o governo. A organização foi pensada sobre quatro diretrizes: enfrentamento à violência contra a mulher; geração de trabalho e renda; participação social; e transversalidade, para que o tema das mulheres passe a ser incorporado nas outras secretarias.

O que tem sido feito para alcançar a diretriz de combater a violência contra a mulher?

Estamos tendo uma ação forte junto com a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. São Paulo, e mais 26 capitais, terão uma Casa da Mulher Brasileira, que faz parte do programa federal Mulher Viver Sem Violência. Aqui ela vai ficar no bairro do Cambuci e será inédita, porque reunirá em um só lugar delegacia da mulher, serviços de atendimento psicológico e social, cursos de capacitação e encaminhamento para emprego.

Isso porque a lei Maria da Penha é muito boa, mas se não houver uma política de estado que garanta o acesso da mulher a esses serviços ela não tem eficácia. Anexa à Casa da Mulher Brasileira haverá uma casa de passagem, que vai hospedar mulheres e filhos, de 0 a 15 anos, por até 20 dias, renováveis por mais 15 dias. Será uma gestão bipartite, do município e do estado.

A prefeitura tinha a perspectiva que ela fosse inaugurada em março, certo?

Tínhamos o desejo, mas o edital para contratar a construtora está saindo este mês pela Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Como são módulos pré-moldados, a construção é rápida, leva de dois a três meses. A ideia é inaugurar ainda em 2014.

Já existe uma estrutura no município para atender as mulheres vítimas de violência. Inclusive há uma casa de atendimento, a Casa Eliane de Grammont. Qual a diferença para a Casa da Mulher Brasileira?

Ao todo temos dez equipamentos: cinco Centros de Cidadania da Mulher, três Centros de Referência da Mulher, uma Casa Abrigo e uma casa de apoio aos direitos sexuais e reprodutivos, a Casa SER, na zona leste. Eles não são exatamente especializados no enfrentamento a violência.

A Casa Eliane de Grammont é um centro de referência que tem atendimento psicológico, social e assessoria jurídica. A Casa da Mulher Brasileira vai ter delegacia, Tribunal de Justiça, cursos de capacitação, encaminhamento para emprego, atendimento em saúde e cadastramento das mulheres no Cadastro Único do governo federal. Ela coloca no mesmo local vários serviços.

Além disso, a Casa da Mulher Brasileira vai hospedar as vítimas de violência. E aí temos uma novidade: em anexo ao terreno da casa Eliane de Grammont iremos construir uma casa de passagem para hospedar mulheres e termos um serviço um pouco mais completo.

Outra novidade é que o estado de São Paulo vai receber três unidades móveis para atender as mulheres vítimas de violência em regiões mais distantes. A primeira entrega será na segunda-feira (24). São ônibus com duas salas de atendimento individualizadas, acesso à internet, impressora, notebooks, banheiro e cadeiras que podem ser colocadas embaixo de um toldo para fazer grupos de trabalho e conversa. Os ônibus transportarão dois motoristas, uma psicóloga, uma assistente social, uma delegada, e um profissional da saúde. Na capital vamos usar na região de Parelheiros e Marsilac, na zona sul, e no extremo leste.

É preciso ter essa rede muito estruturada. Embora seja óbvio que não é natural um homem agredir uma mulher, a cultura na qual elas foram criada as induz a tolerar. É só ligar a TV que vemos que a mulher é estimulada a aceitar. Porque você acha que tantas mulheres retiram a queixa? Não é porque ela acha que é natural apanhar, é porque dentro do contexto de opções que ela tem ela acaba ficando ali.

Muita gente pensa que se a mulher tem um serviço de qualidade ela rompe com a violência, mas não é bem assim: ela precisa ter acompanhamento para se manter estruturada e forte até o final do processo.

Nesse sentido, de uma abordagem mais ampla, estão previstas campanhas de conscientização nas escolas?

Segunda-feira (21), junto com o recebimento do ônibus, vamos lançar uma campanha chamada “Quem Ama Abraça”, em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, com o Instituto Avon e com o Instituto Rede. A destinação são as escolas, em parceria com a Secretaria Municipal da Educação. Todos os educadores terão um kit com material orientador para fomentar diálogos sobre o combate à violência conta a mulher.

A secretaria fará pesquisas para monitorar os casos de violência contra a mulher?

É difícil ter um monitoramento mais detalhado e aperfeiçoado. Tem muita subnotificação, muitas mulheres que não registram queixa e que retiram queixa. Na capital existem cerca de 54 mil processos tramitando com base na Lei Maria da Penha de denúncia de violência doméstica e sexual.

Mas pretendemos refinar o monitoramento em parceria com a Secretaria de Segurança. A gente já sabe quais são as regiões mais violentas: na zona leste é na região de Sapopemba, na zona sul em Cidade Ademar e Campo Limpo e na zona norte em Brasilândia.

Fizemos uma parceria com a Secretaria de Serviços para pensar a iluminação da cidade baseada nos pontos onde ocorre mais violência contra a mulher. Mas para você saber a rua onde essa violência aconteceu você precisa olhar o Boletim de Ocorrência e a Secretaria Estadual de Segurança pública só passa uma estatística geral.

A Secretaria Municipal tem bastante relação com a Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo federal. Como é a relação com o governo do estado?

Com o governo do estado o principal ponto de articulação é a Casa da Mulher Brasileira e uma campanha, que também veio do governo federal, chamada Compromisso e Atitude, de implementação da Lei Maria da Penha no estado. A gente se ressente de não ter uma política maior de apoio do estado aos municípios. Não há estímulo à criação de secretarias municipais de políticas para as mulheres nem à criação de fóruns regionais das gestoras de políticas para as mulheres, nem espaços para discutir sobre as delegacias da mulher.

Nesta semana foi anunciada a criação de seis centros de parto. Qual a diferença destes centros para as casas de parto e por que optaram por esse modelo?

Há um diagnóstico dos profissionais de saúde da importância de ter acesso rápido a uma tecnologia maior caso um parto normal se complique. Por isso se optou por instalar centros de parto natural dentro dos hospitais. Serão construídos seis em hospitais municipais e dois em estaduais, que juntos terão capacidade de realizar 80 partos por mês. O objetivo é reduzir o número de cesarianas desnecessárias. Denominar um espaço como um centro de parto normal já ajuda a desconstruir a cultura da cesariana, que é imposta para as mulheres.

Qual a estrutura atual do município para o Aborto Legal? Há alguma iniciativa para desburocratizar o acesso?

Quando a gestão assumiu, o serviço de aborto legal no Hospital Municipal do Jabaquara estava desativado porque não tinha médico. A Secretaria Municipal de Saúde conseguiu uma médica que vai começar a atender a partir de abril. Além disso, será implementado um serviço novo no Tide Setúbal (hospital municipal em São Miguel Paulista, zona leste).

Foi aprovado no ano passado um decreto da presidenta Dilma Rousseff que orienta os procedimentos dos profissionais de saúde, segurança ou justiça para agilizar os registros de ocorrências. Esperamos que ajude a mulher a acessar esse serviço com mais rapidez, tanto no caso de estupro, que é a maioria, quanto de risco de vida da mãe.

Houve uma prioridade da Secretaria Municipal de Saúde em zerar a fila de espera para exames ginecológicos. O que mais está previsto para a saúde da mulher?

Foram realizados 120 mil exames. Foi bem satisfatório e mostrou que a demanda estava mesmo reprimida. O desafio agora é o acompanhamento, do momento que você consegue detectar o problema até começar o tratamento.

Fizemos uma parceria com Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres para capacitar profissionais de saúde na área de direitos sexuais e reprodutivos. Muitas vezes o profissional da saúde não está preparado para lidar com uma mulher que tem autonomia e toma suas decisões sobre seu corpo, seja dialogando sobre qual o método contraceptivo que ela quer, seja uma mulher jovem que quer fazer vasectomia ou uma mulher mais velha que quer ter um filho.

Vamos capacitar 1.000 profissionais de saúde, sendo 200 de cada região. Além disso, vamos deixar uma unidade básica de saúde de referência para a mulher em cada região.

Há alguma articulação com a secretaria de Educação para ampliar o atendimento em creches, uma demanda histórica dos movimentos feministas?

Participamos do grupo de trabalho que fez o levantamento de terrenos para as novas creches. Ao todo, 62 terrenos já estão em licitação e sabemos que alguns terão que passar por desapropriação. As tarefas domésticas ainda não são compartilhadas paritariamente e muitas mulheres não contam com um parceiro para dividir essas atividades. Então as creches são cruciais para que elas tenham acesso ao mercado de trabalho.

As mulheres têm muitas especificidades dentro das políticas públicas. Na habitação conseguimos retomar o aluguel social para as mulheres vítimas de violência doméstica, com prioridade; com o setor de trabalho temos uma parceria para implantar postos de atendimento especializado para as empregadoras e trabalhadoras domésticas, sobre os novos direitos; na cultura estamos fazendo um trabalho de lançar editais específicos para mulheres artistas e implantar uma biblioteca com temática feminista, na zona leste.

Além disso, montamos o comitê intersetorial de políticas para as mulheres, do qual participam 19 secretarias, para motivá-las a incorporar políticas para as mulheres em seus programas.

Está prevista a implantação de espaços específicos de participação política para a mulher?

Vamos implantar, em 2015, um Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres. Estamos começando pela construção de fóruns regionais, por meio de um edital da Secretaria Nacional de Politicas paras as Mulheres, do governo federal. A ideia é acumular mais experiência para criar o Conselho Municipal de Políticas paras as Mulheres.

Achamos que depois de oito anos em que a cidade foi submetida a uma baixíssima participação social, era precoce partir direto para o conselho, então buscamos a estratégia dos fóruns regionais.

Serão quantos fóruns?

Pretendemos fazer 16 plenárias regionais e eleger delegadas para termos cinco fóruns, um em cada região da cidade.

Qual vai ser a responsabilidade do Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres?

Além de debater e avaliar as políticas públicas para as mulheres, estamos trabalhando na regulamentação de um decreto aprovado na Câmara Municipal que prevê participação paritária entre homens e mulheres em todos os conselhos. A ideia é ter um grupo de trabalho com cinco pessoas, que monitore essa situação.

Negociações começam esta semana

Os trabalhadores do setor farmacêutico se reúnem esta semana com os patrões para duas rodadas de negociações. A primeira reunião está marcada para quarta-feira, dia 26 e a segunda, para sexta-feira, dia 28. No sábado, dia 29, às 9 horas, os trabalhadores fazem uma assembleia na subsede de Santo Amaro ( Rua Ada Negri, 127) para avaliar a proposta e decidir se votam pela assinatura do acordo ou pela continuidade das mobilizações. Participe!   

Mais de 260 mil empregos criados em fevereiro

Segundo dados fornecidos pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, em fevereiro foram criadas 260 mil vagas. Um destaque foi a indústria de transformação, que gerou 51.951 empregos no período.

No período de um ano, completado em fevereiro de 2014, o Caged contabilizou a criação de 1.157.709 empregos. Atualmente, 41 milhões de brasileiros têm a carteira assinada.

21 de março: Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial

No dia 21 de março, é celebrado o Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. A data, instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em memória às vítimas de um massacre na África do Sul em 1960, quando 20 mil pessoas faziam um protesto contra a Lei do Passe, que obrigava a população negra a portar um cartão com os locais onde a circulação era permitida. A polícia do regime de apartheid abriu fogo contra a manifestação pacífica e matou 69 pessoas e feriu 186.

“O Brasil não está vulnerável”

O Brasil de hoje não é um caso típico de país vulnerável a ataques especulativos.” Quem afirma é Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, colunista de CartaCapital e um dos mais brilhantes economistas em atividade. Na terça-feira 18, Krugman fará a abertura, em São Paulo, do Fórum Brasil, evento organizado por esta revista com o objetivo de discutir temas cruciais sobre o futuro do País, da Justiça à infraestrutura. Da capital paulista, o professor de Princeton segue por um tour pela América do Sul. Além de refutar o relatório do Fed, o banco central norte-americano, que incluiu o Brasil entre as economias mais frágeis entre os emergentes, Krugman elogia a reforma do sistema de saúde promovido pelo governo Barack Obama e enxerga um cenário “menos catastrófico” na Europa, à exceção de Portugal. “Quando olho para Lisboa, vejo as marcas de um longo processo de ruína fisscal”.

 

CartaCapital: O anunciado estouro da bolha dos países emergentes, Brasil incluído, faz sentido?

Paul Krugman: O caso do Brasil é particularíssimo. O país da era Lula emergiu muito mais forte do que se poderia imaginar. Mas o fluxo de dinheiro desde então foi intenso demais, o real passou por um processo de supervalorização e agora temos uma onda, não exatamente de fuga de capitais, mas de diminuição significativa da entrada de recursos. Mas esta é, em geral, a natureza do investimento maciço em mercados emergentes: busca-se um retorno rápido do investimento, até ocorrer uma queda de confiança, pelas mais variadas e subjetivas razões. Mas esta não é uma crise como aquelas que assolaram os mercados emergentes nas últimas décadas.

CC: Não se corre o risco de uma repetição de 1998 ou mesmo 2002 no Brasil?

PK: Não, de forma alguma. Não vejo o Brasil de 2014 em meio a um cenário desastroso. No fim dos anos 1990, vivemos o que acreditávamos ser uma crise financeira global. O que, convenhamos, depois de atravessarmos 2008, parece café-pequeno. Mas é importante lembrar que, mesmo quando o Brasil se tornou o próximo alvo da crise e viveu a inevitável desvalorização do real, muitos colegas meus tinham certeza absoluta de que estavam diante de mais uma catástrofe econômica, que não aconteceu. O Brasil passou por um momento difícil, mas provou não ser vulnerável como se imaginava. E, uma década e meia depois, o País é ainda menos vulnerável. Não há um déficit gigantesco em moeda estrangeira, a situação fiscal é aceitável e a inflação não é significativamente alta. O Brasil de hoje não é, definitivamente, um caso típico de país vulnerável a ataques especulativos.

CC: Turquia, Indonésia, Índia, África do Sul e Brasil seriam, segundo o Fed, os países emergentes mais vulneráveis à retirada dos estímulos à economia americana. É um equívoco?

PK: Insisto que não há, neste momento, assim como nos anos 1990, altos níveis de endividamento do Brasil em moeda estrangeira. Também não há endividamento significativo do setor privado. O Brasil, que mostrou solidez mesmo durante a fuga de capitais de 1999, não deveria ser, neste momento, de forma alguma, classificado como uma economia vulnerável. É preciso levar em conta, obviamente, o fato de o País ter tido a maior valorização de moeda durante o período da crise financeira global. Mas isso é apenas uma prova de que a economia brasileira tem capacidade de navegar nos altos e baixos das flutuações monetárias, com eventuais solavancos. Simplesmente, não consigo concordar com a análise do Fed. Talvez a Turquia seja, dessa lista, a mais próxima do cenário daquela época, mas não há grau de comparação com o Brasil.

CC: O senhor já afirmou que considera uma bobagem o termo BRIC, sigla que denomina o bloco composto por Brasil, China, Russia e Índia.

PK: BRIC é, para mim, a pior sigla de todo o alfabeto financeiro. O que há em comum entre uma democracia estável como o Brasil, exportadora de matéria-prima, e, de forma menos global, de produtos manufaturados, um estado corrupto como a Rússia, baseado na exportação de energia, e dois universos singulares, únicos, China e Índia? Apenas o fato de serem países continentais. É absolutamente insano do ponto de vista intelectual acreditar que eles podem ser incluídos em um mesmo escaninho. O Brasil sofre duplamente por conta deste tipo de pensamento reducionista. Há uma ideia, errônea, de que o Brasil é apenas mais uma economia latino-americana.

CC: Seus colegas Dani Rodrick e Arvind Subramanian escreveram artigo sobre a “narrativa de vitimização” de governos de mercados emergentes, incluído o Brasil, apressados em culpar a política monetária dos Estados Unidos como principal responsável pelas dificuldades enfrentadas. O senhor concorda?

PK: Foram os senhores mesmos, brasileiros, que criaram este termo “guerra cambial”. E, francamente, isso é uma bobagem. Não foi a injeção de estímulo na economia que originou o fluxo de capitais para o Brasil, e sim a depressão econômica nas grandes economias do Norte. Mesmo se o Fed acreditasse que a estabilização de economias emergentes era uma de suas tarefas, a mera sugestão de que ele fosse apertar os cintos, naquele momento, vá lá, para prevenir uma exuberância momentânea no Brasil, é, no mínimo, algo muito distante do razoável. Com o aumento progressivo de postos de trabalho e uma diminuição do índice de desemprego, o sentido das injeções do Fed se desfaz no ar.  Há um consenso quanto a isso. É algo absolutamente previsível, não há qualquer surpresa. O que acontece é que os juros estupidamente baixos nos EUA só fazem sentido se você acreditar na necessidade de uma estagnação perpétua, ou em uma depressão longuíssima.

CC: Como o senhor avalia a condução da economia brasileira durante o governo Dilma?

PK: Eu me preocupo mais com o que Brasília não deveria fazer neste momento. Por exemplo, não deveria reagir com mão muito pesada à desvalorização do real. Quando se pensa em termos monetários, há dois tipos de países. Um deles é a Grã-Bretanha de 1992. Se a moeda se desvaloriza, há aumento imediato de competição e expansão econômica. Outro é a Argentina de 2001, que, muito por conta do tamanho da dívida em moeda estrangeira, vê a desvalorização afetar de forma intensa o setor privado e a economia se contrai. O Brasil de hoje é mais próximo da Grã-Bretanha de 1992. Brasília deve se preocupar um pouco com a possibilidade de crescimento da inflação, mas o maior perigo é o Banco Central apertar demais os cintos em um esforço para proteger o real. No mais, a verdade é que os investidores não têm mais o mesmo entusiasmo de antes em relação ao Brasil. Assim são as marés do mercado.

CC: A diminuição do ritmo de crescimento chinês acende o sinal amarelo para a economia brasileira?

PK: Sim. Neste ano o Brasil sofreu com uma safra de café muito aquém do esperado, apenas parcialmente compensada pelo aumento do preço do produto. Haverá um inevitável choque de comércio com a desaceleração da China e a diminuição do valor das matérias-primas. Até pouco tempo atrás a onda de comércio era favorável ao Brasil, e nos próximos anos muito provavelmente não o será.

CC: Qual a sua opinião sobre a ênfase dada por Brasília ao comércio Sul-Sul e no Mercosul e à decisão de não seguir adiante com a Área de Livre Comércio das Américas?

PK: As duas maiores economias da América Latina partiram para caminhos bem diversos, com o México no Nafta e o Brasil no comando do Mercosul. Há uma questão geográfica, tão óbvia quanto determinante, que diminui o real poder de decisão política. O México transformou-se intensamente, não é mais um mero exportador de petróleo, integrou-se de forma decisiva ao sistema de produção americano. Mas o Nafta é apenas uma peça de um quebra-cabeça que inclui uma fronteira extensa e milhares de trabalhadores mexicanos nos Estados Unidos. O Brasil jamais será mais integrado ao sistema americano do que ao da comunidade europeia, por exemplo. Não havia uma oportunidade real para o Brasil neste caso. E a utopia da Alca, se alcançada, jamais se traduziria em um Nafta expandido. O Nafta é mais do que uma iniciativa de comércio sem taxações específicas, é um investimento geopolítico de interdependência entre países fronteiriços.

CC: O senhor afirmou que os dois primeiros anos da administração Obama fizeram dele o mais importante presidente dos Estados Unidos desde Ronald Reagan.

PK: Reagan foi um presidente importantíssimo, e não sou um fã do que resultou, política e economicamente, de seus oito anos de mandato, mas a dimensão do que foi feito naquele período é inegável. Obama realizou algo extremamente grandioso, a reforma da saúde pública, e um bocado de outras mudanças importantes. Não havia, até o Obamacare, a garantia de atendimento médico à população. O mecanismo criado por Washington é inábil e confuso, mas, politicamente, a opção de um sistema amplo de saúde inexistia. Conseguimos uma reforma que cobrirá, eventualmente, até 95% da população. Foi finalmente estabelecido o princípio de que a saúde dos cidadãos é um direito garantido pelo governo, ideal pelo qual a esquerda lutou nos últimos 70 anos. Quando Obama deixar o governo, essa conquista será politicamente irreversível.

CC: O senhor tem criticado a tentativa da direita de apresentar o Obamacare como um assalto ao bolso dos cidadãos comuns. O programa é um novo imposto e um mecanismo de transferência de renda?

PK: Sim, o Obamacare é tudo isso. Mas a oposição ao programa vai além de qualquer lógica relacionada às suas consequências econômicas. Quase todos os estados comandados por republicanos recusaram, durante o processo de implementação do novo plano, o auxílio federal na expansão do Medicaid, o programa de saúde pública voltado para os mais pobres, que nada mais seria do que dinheiro limpo vindo de Washington. São governadores prejudicando sua economia, seu orçamento, apenas com o objetivo de negar o acesso à saúde aos cidadãos menos ricos, uma questão puramente ideológica.

CC: O senhor acredita que Obama será um ator político importante em sua sucessão?

PK: Não. Hoje o campo de candidatos viáveis no Partido Democrata tem um único nome: Hillary Clinton. Se ela quiser se candidatar, não há disputa. Obama não é um presidente popular, não é amado por seus correligionários. Eles idolatram Bill Clinton, curiosamente, muito mais hoje do que quando ele era presidente.

CC: A estratégia democrata para novembro passa pela defesa do aumento do salário mínimo, uma bandeira da esquerda desde 2008. A elevação conduzirá à redução de postos de trabalho, como argumenta a oposição?

PK: Ainda que se acredite nos números oferecidos pelo Congressional Budget Office, agência federal do poder legislativo americano, e há enorme margem para interpretação, não é plausível o cenário de desastre econômico pintado pelos republicanos. Enquanto os democratas queriam explicar macroeconomia para o povo, os republicanos ofereceram lógica muito mais simplória, de compreensão imediata: se aperto os cintos, o governo deveria fazer o mesmo. E não é bem assim. A única exceção é justamente no caso do salário mínimo. Todas as pesquisas mostram que o raciocínio da maioria, aqui, é o de que quem trabalha duro deve receber um pouco mais. Não acho que a pregação republicana de que o aumento significará corte de postos de trabalho, uma premissa falsa, será comprada pelos eleitores. Aqui, pela primeira vez em muitos anos, os democratas encontraram uma narrativa apoiada pela maioria absoluta dos americanos.

CC: Como o senhor avalia a maneira do governo Obama de lidar com a crise financeira global?

PK: A economia seguiu em depressão, o índice de desemprego seguiu alto, a recuperação econômica foi menos forte. Quem sabe em uma década a percepção pública mude, mas o índice de desemprego hoje segue muito maior do que o prometido pela Casa Branca, o que, para muita gente séria, significa, simplesmente, que o estímulo fracassou.

CC: Algo muda no Fed com a saída de Ben Bernanke e a entrada de Janet Yellen?

PK: Não creio. É mais do mesmo. Talvez Yellen seja menos agressiva. Bernanke, no trato pessoal, é muito mais moderado do que permite supor a sua faceta pública. Ele precisou se mostrar mais duro no comando do Fed para conquistar certo consenso no mercado. E a verdade é que uma mudança significativa na direção do Fed só se justificaria se o cenário fosse muito mais negativo, mas não é o caso. Não vejo espaço para uma mudança no ideal inflacionário ou para uma meta de crescimento maior do PIB. O que veremos é continuidade.

CC: O senhor tem sido um crítico constante das políticas de austeridade fiscal. Como vê a situação da Comunidade Europeia neste momento?

 

PK: As políticas de austeridade fiscal alimentaram a depressão econômica. Mas, apesar delas, tivemos duas surpresas favoráveis: a coesão política dos países da Comunidade Europeia e a ação decisiva do Banco Central Europeu. O comprometimento dos países de permanecer na Zona do Euro foi muito mais forte do que eu previ, com manutenção das regras do jogo mesmo com índices de desemprego devastadores de dois dígitos, como os da Espanha. E boa parte dos problemas de liquidez foi reduzida nos últimos dois anos. Portugal ainda vive o pior dos mundos, mas Espanha e Itália já respiram. Os paí-
ses mediterrâneos, lentamente, voltam a se tornar mais competitivos. Até mesmo a Grécia começa a se recuperar, a se reinventar como um polo econômico turístico a preços promocionais. É um tanto quanto deprimente, mas o recomeço se dará com pacotes turísticos às Ilhas Gregas a preços módicos para estrangeiros.

 

CC: O senhor está, então, otimista?

PK: Bem, no sentido, novamente, de que o quadro poderia ser muito pior. Hoje, comemora-se a possibilidade de um crescimento de 1,2% do PIB na Zona do Euro, o que é ridículo. Se considerarmos março de 2014, desde 2007 o crescimento econômico da Europa é menor do que o de 1929 a 1936, no auge da Grande Depressão. E o custo humano da atual crise europeia foi imenso. Mas poderia ter sido muito, muito pior. Quem ainda me assusta é Portugal. A partida de jovens trabalhadores para fora do país, para o Brasil inclusive, é ainda mais significativa do que a de décadas atrás. Hoje, quando olho para Lisboa, vejo as marcas de um longo processo de ruína fiscal, me lembra muito a região montanhosa dos Apalaches aqui nos Estados Unidos. Portugal é atualmente a tradução mais exata da armadilha do euro e, no entanto, não vejo um grande movimento de abandono luso da federação europeia. Não vejo no futuro uma sequência de secessões na Comunidade Europeia. Mas não é improvável um cenário de uma Europa Ocidental com baixo crescimento econômico por décadas a fio.

 

Reflexões sobre um golpe em nossa história

A arquitetura das pirâmides e os guerreiros de terracota do primeiro imperador da China são evidências de que, desde a antiguidade, a ideia de vencer a morte – e se deslocar no tempo – sempre fascinou o espírito humano. Seria ótimo se pudéssemos – como descrito no livro The Time Machine, de H.G. Wells (de 1895) – também voltar ao passado e corrigir nossos erros, para garantir uma vida melhor no presente ou no mais remoto futuro. A ciência moderna tem desmentido essa possibilidade. Há, no entanto, outras maneiras de estabelecer pontes entre antes e agora, sem o recurso a outras dimensões, como hipotéticos “buracos de minhoca” ou “dobras” no espaço-tempo einsteiniano.

A História, por exemplo, mescla, com naturalidade e ironia, o passado e o presente, e, bruxa ou fada, surpreende e enfeitiça, burlando-se dos sonhos, esperanças, desventuras, dos indivíduos, povos e nações, que participam da caminhada desta nossa pobre espécie em sua ingente jornada para o futuro.

Completam-se, neste mês, os primeiros 50 anos do golpe militar de 1964. Pela forma como foi engendrado e deflagrado, com a participação de uma potência estrangeira – a cada dia crescem as provas e evidências do envolvimento norte-americano –, o golpe já deveria, há muito, ter sido condenado. Pelos abusos cometidos desde o primeiro momento, e que se multiplicaram depois com o fortalecimento do radicalismo antidemocrático e da repressão mais sanguinária, era para se tratar de um episódio já execrado pela sociedade brasileira.

A geração que levou o povo às ruas nas memoráveis campanhas das Diretas Já e na eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República não soube, no entanto, se dedicar como deveria a manter viva, no coração do povo, a chama da liberdade e da democracia. A aliança que possibilitou a redemocratização se esfacelou com o tempo. Muitos movimentos, sindicatos e partidos se enfraqueceram, ou foram cooptados ou absorvidos pelo sistema.

As sucessivas crises econômicas e o abandono da população à própria sorte do ponto de vista da cultura e da cidadania – inclusive por parte da mídia que havia participado da luta pela redemocratização – aprofundaram o processo de “breguização” do país e abriram as portas para o ressurgimento de um conservadorismo visceral, subjacente, que sempre viveu da ignorância e despolitização do povo brasileiro.

O voto, no Congresso e fora dele, tornou-se majoritariamente fisiológico. Passou a ganhar a eleição quem oferecesse mais à população, isolando-se, ou deixando-se para segundo plano, nas campanhas políticas, questões como o fortalecimento do país ou a defesa e a preservação do Estado de Direito.

O Brasil mudou sua política externa, houve avanços econômicos e sociais, ­como o combate à fome e à exclusão, e a incorporação de milhões de pessoas ao consumo. Mas com relação a questões como a forma de se enxergar o combate à violência, a criminalização da política e a descaracterização dos partidos – com a sua transformação em meras frentes de defesa de interesses – a sociedade brasileira, depois do retorno da democracia, evoluiu muito pouco.

Voltamos a 1964, com o aparecimento de dezenas de “institutos” de diferentes tipos – financiados com dinheiro estrangeiro – dedicados a defender o neoliberalismo e a colonização do país. E a combater o nacionalismo como algo anacrônico e estéril, em uma época que todas as evidências demonstram que os países mais bem-sucedidos são justamente os que não têm vergonha de defender claramente sua posição e interesses em um mundo cada vez mais competitivo.

Como há 50 anos, “forças ocultas”, que já não se importam em não parecer ocultas, querem pintar o Brasil como se estivéssemos à beira do abismo, para defender velhos e perigosos caminhos de salvamento da Pátria. “Analistas”, locais e estrangeiros, movem permanente campanha de desestabilização da economia, por meio da distorção dos fatos e da manipulação de dados, voltada para o enfraquecimento da imagem do país no exterior.

Pela internet desferem-se ataques à democracia e crescem as pregações golpistas, com a defesa do recurso à violência e à tortura, crescem no mesmo meio em que vicejava nos anos 1960. Como ocorria às vésperas de março de 1964, multiplicam-se publicações, “filósofos” e “comentaristas” que professam um anticomunismo esquizofrênico e patológico – já que claramente psicótico e desprovido de qualquer contato com a realidade –, como se estivéssemos em plena Guerra Fria, e se sustentam pela distorção da história e da verdade, como se vivêssemos em outro planeta, situado em hipotético universo paralelo.

Mistura-se o comunismo com o fascismo, quando foram as tropas soviéticas que destroçaram os nazistas na batalha de ­Berlim em 1945. Atribui-se qualquer suposto ataque ao conservadorismo ocidental a uma fantasia denominada “marxismo cultural”. Atacam-se as bases filosóficas da modernidade, para propor a volta a um obscurantismo tosco e medieval. Dessa fantástica doutrina, faz parte a defesa, na internet – como cláusula pétrea de uma Igreja agora governada por um papa que prega a conciliação – a excomunhão de pessoas por suas convicções políticas.

Grupelhos voltam a desfilar, na frente dos quartéis – como aconteceu em junho –, com as mesmas faixas e bandeiras usadas daqueles anos sombrios.

Esse meio século de triste história deveria representar um marco e uma oportunidade de reflexão sobre o Brasil que queremos e para onde estamos indo como sociedade. É preciso voltar a colocar a defesa do regime democrático em primeiro lugar na lista das prioridades nacionais.

Chegamos a um ponto em que até mesmo pessoas que lutaram pela volta do Estado de Direito, pressionadas pela maré conservadora, estão defendendo a adoção de leis “antiterroristas” no Brasil. “Terrorista” era o termo usado contra os que foram perseguidos pela ditadura. Seus rostos, que podiam ser vistos em cartazes infames que se espalhavam pelos bares e colunas das estações rodoviárias nos anos mais duros da repressão, eram encimados por esse termo, seguido do apelo à delação.

As mesmas fotos que ilustravam os cartazes de procurados são, às vezes, a única forma de lembrar os que foram torturados, assassinados ou desapareceram naquela época.

Hitlernautas e apresentadores de programas sensacionalistas propagam a aceitação normal do retorno desse conceito – “Guerra Contra o Terror” é a base da doutrina de segurança norte-americana e de seus sabujos pelo mundo.

Deixar de raciocinar com base em princípios e convicções políticas, para se deixar pautar pelo clamor fascista que estiver em voga, é o caminho mais curto para vir a justificar – dependendo do governo de turno – a impressão de novos cartazes como aqueles. Ou de acabar, eventualmente, aparecendo com o próprio rosto em um deles.