São Paulo: sem investigação, Câmara cogita encerrar CPI sobre incêndios em favelas

“Como só nós três viemos, não podemos fazer a reunião.” Foi assim que o vereador Ricardo Teixeira (PV) anunciou o cancelamento de mais um encontro da CPI sobre incêndios em favelas da capital. “A gente quer investigar, mas não aparece ninguém”, lamenta, sinalizando que a comissão não sobreviverá se mais um encontro tiver que ser cancelado por falta de quórum. “Ou a próxima sessão ocorre ou vamos acabar com a CPI.”

Instaurada em 11 de abril pela Câmara Municipal de São Paulo para investigar as causas dos mais de 600 incêndios que atingiram favelas em diversas regiões da cidade desde 2008, a Comissão Parlamentar de Inquérito conseguiu reunir-se apenas quatro vezes até agora. Os encontros deveriam ocorrer quinzenalmente, às quartas-feiras, mas, como o de hoje (31), têm sido cancelados uma e outra vez por falta de quórum. Talvez por isso pouca gente tenha se dado ao trabalho de ir até o Palácio Anchieta, no centro da cidade: além de assessores da própria Casa, apareceram apenas um par de repórteres e uma militante da Pastoral de Moradia.

Quanto aos vereadores, assinaram a lista de presença Ricardo Teixeira, presidente da comissão, Edir Sales (PSD), vice-presidente, e Toninho Paiva (PR). O quarto e último membro nomeado da CPI, Ushitaro Kamia (PSD), não deu as caras – e sua ausência impediu o início dos trabalhos. Os convidados foram dispensados e quem se deslocou até a Câmara para assistir à discussão pôde aproveitar apenas a refrescância do ar condicionado num meio-dia de sol forte.

De acordo com a agenda da CPI, dois subprefeitos iriam prestar esclarecimentos à Câmara. E três apareceram: Manuel Antonio da Silva Araújo, da Vila Mariana; Nevoral Alves Bucheroni, da Sé; e Ailton Araújo Brandão, da Lapa. Todos são coronéis reformados da Polícia Militar e se apresentaram pontualmente para responder aos questionamentos da comissão. O vereador Ricardo Teixeira pediu desculpas pela “perda de tempo” e rogou aos subprefeitos que ao menos deixassem à secretaria da CPI os documentos, laudos e relatórios que trouxeram sobre os incêndios ocorridos nas favelas das regiões que administram.

Há vagas

“É uma situação constrangedora para nós que viemos”, conta a vereadora Edir Sales. Diante das “sérias dificuldades” para conseguir quórum e, assim, realizar as reuniões, a parlamentar sugere que as próximas CPIs instauradas pela Câmara sejam compostas por vereadores com conhecimento no tema. “Eu nunca fiz parte dos Bombeiros, não sou da Polícia Militar nem da Polícia Civil, não sou da Guarda Civil Metropolitana”, afirma. “Já era para eu ter passado minha vaga para outras pessoas, já deixamos nosso espaço à disposição, mas não conseguimos ninguém para ficar no lugar.”

O presidente da CPI informa que atualmente há três cadeiras vazias na CPI dos incêndios em favelas – e que vazias permanecem porque nem PSD nem PSDB nem PCdoB indicam vereadores para ocupá-las. “O PT tinha duas vagas, mas abriu mão para PSD e PCdoB. A vereadora Juliana Cardoso (PT) manifestou interesse em assumir a vaga do PCdoB, mas até agora não veio.”

Presente à que seria a quinta reunião da comissão, Toninho Paiva levantou a hipótese de que a CPI tenha sido utilizada com fins eleitoreiros por alguns movimentos sociais. “Várias reuniões tiveram a frequência de outras pessoas. Hoje, após o término das eleições municipais, as mesmas pessoas que reivindicavam, que vieram pra tumultuar muitas vezes, não estão presentes aqui”, observou. “Então, não sei qual é o interesse que os trouxeram pra cá nas outras oportunidades. Hoje não estão.” No encontro anterior, ele insinuou que os próprios moradores das favelas sejam os culpados pelas ocorrências.

Fim

Diante de mais um fiasco, foi o vereador do PR quem primeiro sugeriu a extinção da CPI – proposta que foi prontamente aceita pelos demais parlamentares. Agora, os membros da comissão farão um requerimento ao presidente da Câmara Municipal, José Police Neto (PSD), para convocar uma reunião de líderes e discutir a questão. Seria uma espécie de xeque-mate aos partidos, uma última chance de indicarem vereadores para assumir as vagas remanescentes na CPI. Caso contrário, os membros vão reunir o material que juntaram até agora e finalizar os trabalhos.

A próxima reunião está marcada para o dia 7 de novembro. Estão convidados dois comandantes do Corpo de Bombeiros e o secretário-adjunto da Habitação de São Paulo. “Está previsto na programação da CPI ouvir líderes comunitários e visitar as favelas, mas a gente não consegue nem oficializar um requerimento pra fazer isso”, lamenta Ricardo Teixeira. “Eu sou o vereador proponente da matéria e queria investigar, porque não acredito em acaso. Agora, por que não anda?” Até o momento, essa pergunta segue tão sem resposta como a causa dos incêndios.

Ministério do Trabalho adia a obrigatoriedade do novo Termo de Rescisão de Contrato

O ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, determinou na tarde desta quarta-feira (31) que o antigo formulário de rescisão de contrato de trabalho terá validade até 31 de janeiro de 2013.  “Muitas empresas ainda não adotaram os novos formulários e não podemos correr o risco de que o trabalhador seja prejudicado no momento em que for requer o Seguro-Desemprego e o FGTS, junto à Caixa Econômica Federal”, alertou o ministro.



De acordo com o último balanço divulgado pela Caixa, a adesão ao novo Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho (TRCT) chega a 41%, percentual considerado baixo pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A transição para o novo modelo de formulário foi iniciada em 2011 e era esperado um maior índice de uso do documento.



O novo termo permite que o trabalhador identifique, de forma muito clara,  todas as verbas a que tem direito por ocasião da rescisão do contrato de trabalho. Desde aquelas que compunham a remuneração mensal que constava no contra-cheque, até aquelas que são decorrentes da rescisão, como: aviso prévio, 13º e férias proporcionais. Permite que, sem muito esforço, o trabalhador confira se estão corretos todos os valores a que têm direito de receber”, explica o secretário de Relações do Trabalho, Messias Melo.  



Fazem parte do novo TRCT, o Termo de Homologação, a ser utilizado nos contratos rescindidos depois de um ano de duração, e o Termo de Quitação, para os contratos com menos de um ano de duração e que não exigem acompanhamento do sindicato ou do ministério. Os dois formulários vêm impressos em quatro vias; uma para o empregador e três para o empregado, duas delas para serem entregues na Caixa para sacar o FGTS e solicitar o recebimento do Seguro-Desemprego.