Exposição no trânsito

Você está parado em um congestionamento, algo comum para quem vive em qualquer grande cidade do país. Naquela lentidão dos carros, percebe algo curioso: adesivos de bonecos palito formam uma família feliz na traseira do

veículo à sua frente. Roda mais um pouco, e lá estão eles em outro carro, agora arranjados de maneira diferente e com desenhos de cachorros e passarinhos. Uma boneca aqui, um gato ali, um homem e uma mulher grávida acolá. E você descobre a febre que tomou o país: os “adesivos da família feliz”.
A professora aposentada Alfa Torchia, de São Paulo, conta que os colocou em seu carro porque viu na rua e se identificou com a cena. “Sou evangélica e muito a favor da família, a favor da união. Então quis mostrar para todo mundo que tinha uma família, porque me orgulho dela. E a moda pegou, viu? Na minha igreja todo mundo colocou!”
Alfa tem adesivos na traseira do carro representando ela, o marido, as duas filhas adultas e o cachorro Kim, “que é parte da família”. Nos últimos dias, depois de ouvir comentários de que os adesivos poderiam ser perigosos por expor demais os donos do veículo, ela incluiu um sexto elemento: mais um cachorro, “para despistar bandidos”. O novo “membro” autocolante também serve para provocar: “Eu digo que é meu genro, aquele cachorro”.
De riso e tensão
Quem está rindo à toa com essa moda é o paulista Germano Spadini, dono de uma empresa de adesivos, que afirma ter sido o criador da coisa. Ele conta que em 2008, com o nascimento do filho, fez um adesivo com ele, a mulher e o bebê, para pôr no próprio carro. “As pessoas começaram a pedir, encomendar desenhos personalizados, e não parei mais. Mas o negócio estourou mesmo de um ano para cá.” Spadini chega a vender 8.000 adesivos por mês, fora os kits-padrão para revendedores. Cada personagem custa de R$ 2 a R$ 5, dependendo da cor e do tema. “Tem gente que encomenda tantos adesivos que eu fico pensando como vão caber no carro!”
Histórias bizarras também não faltam: “Outro dia, um homem encomendou a família toda, mas pediu para deixar a sogra sem cabeça e ainda escrever ‘sogra’ embaixo. Teve uma mulher que pediu o gato com auréola, porque o bicho já havia morrido. Familiares falecidos com asas também são comuns”. A novidade, segundo o empresário, é o adesivo do “segurança” da família. “Como algumas pessoas estão falando que é perigoso, que dá informação para bandido, criei a linha de bonecos seguranças, para colar ao lado dos familiares.”
O que é motivo de piada para o inventor preocupa uma parte da população. Dar tanta informação sobre quantas e que tipo de pessoas formam aquele núcleo familiar poderia deixá-lo vulnerável a sequestros, assaltos e chantagens. Diversas reportagens, algumas sensacionalistas, outras coerentes, abordaram o assunto. Amigas da dona Alfa removeram os adesivos, com medo.
A Polícia Militar diz que é preciso cuidado, mas não os considera mais perigosos do que o modo como as pessoas se expõem em sites de relacionamento, na internet. De qualquer forma, eles já têm nome para a polícia. São os “adesivos currículo”, que contêm informações sobre a vida particular das pessoas. Além dos “adesivos da família feliz”, autocolantes de faculdades, academias e preferência religiosa, por exemplo, dão igualmente dicas importantes.
A tensão causada pelos adesivos envolve sobretudo sequestro. No falso sequestro, por exemplo, poderiam ajudar golpistas a convencer a vítima de que há um familiar refém, pois eles teriam a ideia de como é a constituição da família. O veículo estacionado em garagens que permitam o acesso visual também poderia facilitar a vida de bandidos. A corporação militar, no entanto, afirma que os “adesivos currículo” não têm influência significativa nesse caso: “Conhecer a estrutura familiar não vai aumentar ou diminuir o potencial de uma pessoa se tornar vítima. Os sequestros-relâmpago, por exemplo, são crimes planejados, e os adesivos pouco podem acrescentar. O objetivo é encontrar uma pessoa com dinheiro e cartões bancários”.
O marido da assistente social Neiva Imhoss, de São Miguel do Oeste, Santa Catarina, não gosta muito dos adesivos que ela colou no carro: pai, mãe, dois filhos pequenos, passarinhos, tartarugas e dois cachorros. “Ele acha que é muita exposição, porque a cidade é pequena e todo mundo sabe que o carro é meu” conta. “Mas, então, ele que não cole no dele! No meu, só não coloquei as ovelhas que temos porque não couberam.”
Neiva diz que aderiu ao modismo porque o filho de 3 anos via os desenhos nos outros carros e apontava. “Quando comprei, ele me ajudou a colar.” Segundo a assistente social, oito em dez carros em sua cidade têm os adesivos da família feliz, que são vendidos em todas as livrarias, bazares, bancas de jornal. “Também tem com as cores do Grêmio e do Inter, porque futebol é uma febre ainda mais antiga por aqui.”
A auxiliar de escritório Roberta Santos, de 28 anos, também colocou os adesivos da família a pedido da filha Laís, em outubro de 2010. Na traseira do carro estão devidamente representados ela, o marido, as duas filhas e a cachorra. Em Atibaia (SP), todos sabem que aquele carro é dela.
“Não dá para fazer nada de errado, todo mundo sabe que ele é meu por causa dos adesivos! Um dia desses, meu marido ficou com o carro e foi me buscar no trabalho. O vigia achou que era eu, mas quando viu que eu estava dentro da loja, ficou superconfuso e veio perguntar quem estava dentro do meu carro.” O marido, o gerente de produção Julio Cesar dos Santos, de 38 anos, não se importa com os adesivos, e ela diz que não acha a moda perigosa. “Se alguém for nos assaltar ou fazer mal, não será por causa dos adesivos. Acho isso uma besteira.”
“Família Doriana”
Mas por que essa onda em 2011? A psicanalista Dinah Stella Bertoni afirma que há algumas explicações. Segundo ela, a sociedade atual parece valorizar o ser humano mais pela imagem que ele transmite publicamente do que pela troca de experiências proporcionada pelas relações humanas. “Essa tendência tem sido cada vez mais intensa, e aquilo que deveria ser íntimo passa a ser exposto, como no caso das redes sociais, dos reality shows e dos tais adesivos, que promovem o conceito de ‘família Doriana’ ”, diz Dinah, numa alusão às famílias perfeitas dos comerciais de margarina.
Para o arquiteto e urbanista Giancarlo Morettoni Júnior , os veículos se tornaram membros da família e recebem muitas vezes mais cuidados do que os parentes de carne e osso. “Os carros na sociedade moderna ocidental são sagrados, quase como as vacas na Índia. Fazem parte da família.” Ele lembra que a garagem da casa geralmente é maior que os quartos, assim como as vagas dos escritórios são maiores que as baias. As cidades são projetadas para os carros. “Eles são protegidos até do frio e da chuva… O marido leva o carro para lavar, encerar, passar produtos especiais, e não deixa a mulher ir ao cabeleireiro porque é caro. Representar a família com os adesivos é parte dessa lógica, porque o carro está mais do que inserido na família e, para muitos, é mais importante que ela.”
No Rio Grande do Sul, os adesivos se tornaram tão presentes que um grupo de amigos resolveu brincar com o assunto. Eles inventaram a “guerrilha dos adesivos da família”, e saíram colando componentes a mais nos carros. Onde antes tinha apenas um casal, apareceu uma moça ao lado. Onde tinha pai, mãe e criança, de repente surgiu uma mulher grávida. Os “guerrilheiros” filmaram a ação e jogaram no YouTube. A brincadeira rendeu mais de 230 mil views e repercutiu em todo o país.
Marcos Piangers, um dos autores da façanha, diz que a ideia era provocar. “Achamos aquilo meio patético, essa mania moderna de tentar exibir para os outros como você é feliz, como sua família é perfeita. Toda família, vista de perto, tem defeitos”, diz Piangers. “E as pessoas fazem isso o tempo todo, no Facebook, no Orkut, nas frases do MSN, sempre tentando mostrar que a vida delas é ou está incrível.” Dessa constatação nasceram adesivos que aludem a um bebê indesejado, um amante, um casal gay, “esse tipo de coisa que acontece, mas ninguém anuncia”, pontua. 
Piangers conta que ele e os amigos não esperavam para ver a reação das pessoas porque acharam mais engraçado deixar o dono do carro imaginar o que teria acontecido. “Além do que esperar o dono do carro aparecer seria muito mais trabalhoso.” Apesar das críticas, ele afirma que não houve nenhuma preocupação social e política. “Apenas fazer rir e questionar essa mania besta.”
Para a psicóloga Dinah, a “mania besta” diz muito sobre nosso tempo. “A impressão que se tem é que cada vez mais precisamos da visão alheia para nos sentirmos aprovados, seguros de nossos papéis sociais e, por que não dizer, para que não nos sintamos sozinhos. A opinião que mantemos sobre nós não parece mais suficiente. Necessitamos de um olhar que aprove nosso corpo, ‘curta’ nossas opiniões e que nos ‘siga’, mesmo nos momentos de privacidade.”
Dinah aborda também a questão do modelo familiar, por que se busca tanto a imagem de família tradicional, a exibição do clichê “mãe-pai-filhos-animal de estimação”. Isso parece indicar, em sua opinião, um receio de que os novos arranjos familiares – o namorado da mãe ou o meio-irmão da nova família do pai – ameacem a função familiar, que é transmitir valores e construir nossa identidade. E conclui com uma proposta: “Devemos valorizar mais a convivência familiar real, em vez de mantê-la numa imagem paralisada, com expressão de felicidade. Precisamos procurar nossa família, discutir essas novas configurações e expressar o amor por todos os seus membros também do lado de dentro do carro, por meio do cuidado e da aceitação das diferenças.”

Humala vence e é eleito presidente do Peru

Pelos dados do Instituto Nacional de Processos Eleitorais (Onpe) do Peru, o presidente eleito do país é Ollanta Humala, que venceu a disputal eleitoral com Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori.

A vitória, pelos números preliminares, foi apertada. De acordo com os votos apurados, Humala obteve 50,9%, enquanto Keiko ficou com 49,9%. Porém, Humala foi domingo (5) à noite à Praça 2 de Maio, a principal de Lima, para discursar como chefe de Estado. As informações são do Onpe e da rede multiestatal de televisão, Telesur, com sede em Caracas, na Venezuela.
 
No discurso, Humala afirmou que vai concentrar suas atenções no estímulo ao crescimento econômico com inclusão social. “Hoje, quero renovar meu compromisso com o povo peruano para o crescimento econômico com inclusão social. Começarei a trabalhar em 28 de julho (data da posse do novo presidente)”, disse Humala.
 
Segundo o presidente eleito, o objetivo é consolidar um “governo de concertação”. Ele disse que, ao assumir o governo, vai promover a integração latino-americana.  “Vamos executar as políticas reais que resolverem os problemas do Peru nas áreas de saúde, educação, infraestrutura e segurança, sem dar espaço aos corruptos”, acrescentou.
 
Humala afirmou ainda que pretende formar uma equipe de governo integrada pelos melhores quadros técnicos e intelectuais. “Sem que ninguém se sinta excluído”, disse. De acordo com ele, sua gestão será baseada em uma economia aberta e de mercado visando ao fortalecimento interno.
 
“Vamos fazer uma transformação da agricultura e da indústria para gerar mais empregos, para que tenha mais dinheiro no país”, afirmou Humala. Keiko também fez discurso para os simpatizantes, reconhecendo a derrota. Ela acompanhou a contagem de votos em casa.
 
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, e o ex-presidente peruano Alejandro Toledo, além do escritor Mario Vargas Llosa, parabenizaram Humala pela vitória. As votações começaram às 8h e acabaram às 16h, no Peru.
 
Cerca de 20 milhões de eleitores foram às urnas. O sistema de votação no país não é eletrônico – a primeira experiencia foi testada no distrito de Pacarán.
 
As eleições no Peru foram acompanhadas por 235 observadores internacionais e jornalistas credenciados. O eleitorado do Peru tem uma pequena maioria de mulheres (50,19%). Há 3,8 % de eleitores vivendo no exterior, a maioria nos Estados Unidos.
 
Para mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/internacional/2011/06/humala-vence-e-e-eleito-presidente-do-peru

Marcha da Maconha é proibida no DF e vira ato por liberdade

Com a Marcha da Maconha proibida em Brasília, cerca de 150 manifestantes com gritos de “Pamonha!”, se depararam com 12 carros e quatro micro-ônibus da PM deslocados para garantir que a manifestação na aconteça.

 
“Estamos sendo reprimidos pela possibilidade de um crime que sequer foi cometido”, diz o advogado do movimento, Mauro Machado.
 
Em negociação, a polícia permitiu um ato pela liberdade de expressão. Por volta das 15h30, os manifestantes se concentravam frente à catedral de Brasília para refazer os cartazes que tinham menções à maconha.
 
A polícia deve depois fazer uma triagem, para verificar se há mensagens sobre a droga, e então o ato deve ser liberado. O protesto sairá da catedral e seguirá até o Congresso Nacional.
 
A Marcha da Maconha foi proibida pelo desembargador João Timóteo de Oliveira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, sob o argumento de que seria apologia às drogas.
 
São Paulo
Em São Paulo, um protesto contra a a proibição da Marcha da Maconha aconteceu no último dia 2, e teve confronto entre manifestantes e policiais. a Marcha da Maconha também foi transformada proibida e houve um ato contra a pro em Marcha pela Liberdade de Expressão, depois de proibida pela Justiça. Houve confronto com a polícia.
 
Na ocasião, cerca de cem policiais militares, a maioria da Tropa de Choque, estavam no local e houve confronto.
 
Com balas de borracha e bombas de efeito moral, a PM perseguiu por 3 km os manifestantes. O repórter da TV Folha Felix Lima foi agredido e teve seu equipamento danificado pela Guarda Civil Metropolitana. Seis pessoas foram detidas e ao menos duas se feriram. Os detidos foram liberados no início da noite.
 
No dia 28, uma Marcha pela Liberdade reuniu cerca de 4.000 pessoas.
 
 
 

Contra machismo, mulheres organizam versão nacional da ‘Marcha das Vagabundas’ em São Paulo

Depois da Marcha da Liberdade, a Avenida Paulista será palco de outra manifestação pela cidadania plena, neste sábado (4). A “Marcha das Vagabundas” quer chamar atenção contra o machismo da sociedade e defender, entre outros, o direito de as mulheres se vestirem como quiserem.

 
O nome é uma tradução da passeata Slut Walk, que foi realizada em abril no Canadá. Depois de um policial declarar, em uma universidade, que as mulheres não deveriam se vestir como vagabundas para não sofrerem nenhum tipo de abuso sexual, mais de 3 mil pessoas foram às ruas de Toronto para protestar.
 
Assim como o Churrascão da Gente Diferenciada e a Marcha da Liberdade, a “Marcha das Vagabundas” está ganhando adeptos pelo Facebook, e até as 18h desta quinta-feira (2) já tinha a presença confirmada de mais de 5.200 pessoas.
 
“Espero que a marcha ao menos sirva para a discussão (sobre o machismo) ser colocada em pauta entre os círculos sociais das pessoas. Espero que a ideia seja discutida e que talvez surja uma consciência crítica a respeito do assunto, ficaria muito feliz se soubesse que o evento, seguido da discussão, gerasse alguma mudança para melhor no comportamento das pessoas em geral”, defende uma das organizadoras do evento no Brasil, a publicitária e blogueira Madô Lopez.
 
Além da versão tupiniquim, a Slut Walk já foi realizada em outros países como Argentina, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda, Nova Zelândia. Neste sábado haverá novas edições norte-americanas, em Los Angeles e Chicago, além de outra canadense (Edmonton), e também em Estocolmo (Suécia), Amsterdã (Holanda) e Edimburgo (Escócia).
 
Solange De-Ré, outra organizadora da marcha, afirma que julgar uma pessoa pela roupa é retrógrado. “Não é a roupa que causa o estupro, por exemplo, é a mente doentia de um homem que sente prazer no medo e humilhação que uma mulher sente nessa hora”, diz.
 
O cinema já discutiu a temática em algumas obras. Em 1988, por exemplo, no filme Acusados, a atriz Jodie Foster faz o papel de uma mulher que foi estuprada em um bar por vários homens. Ao fazer a denúncia, ela enfrenta o preconceito e a suspeita de que ela “teria provocado” a agressão. Veja o trailler (sem legenda):
 
Para mais detalhes da Marcha das Vagabundas em São Paulo clique aqui. Para entender mais da Slut Walk pelo mundo acesse o site oficial.
 
Mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2011/06/marcha-das-vagabundas-acontece-neste-sabado-em-sao-paulo

Motoristas encerram greve no ABC, e ônibus circulam parcialmente

Os motoristas de ônibus do ABC paulista encerraram a greve iniciada na quarta-feira (2), depois da determinação da Justiça que obriga a circulação de pelo menos 80% da frota que atende a região sob risco de multa. Os trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) operam normalmente.

 
Os coletivos ainda operam parcialmente porque o sindicato não conseguiu informar todos os trabalhadores sobre o fim da greve. Segundo a Sindicato dos Rodoviários do Grande ABC, os grevistas serão informados oficialmente sobre o fim da paralisação por volta das 9h desta sexta-feira em uma assembleia, e a circulação dos ônibus voltará gradativamente.
 
Na reunião de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho, realizada ontem, o sindicato conseguiu garantir aumento de 7,8% –correspondente ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de 6,3% mais 1,5% de ganho real–, mais 7,8% de aumento no vale-alimentação. Os grevistas pedem 15% de aumento.
 
Trens
Todas as linhas de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) estão em funcionamento desde o início das operações do sistema nesta sexta, às 4h.
 
O fim da greve foi acordado pelos três sindicatos da categoria durante assembleia realizada na noite de ontem.
Os trabalhadores retornarão para o estado de greve, durante as negociações com a CPTM. Caso nenhum avanço seja feito, a Justiça do Trabalho determinará uma solução para o impasse no dia 15 de junho. Antes disso, no dia 10, haverá uma nova reunião no TRT para avaliar o andamento das negociações salariais.
 
Os funcionários entraram em greve por não terem chegado a um acordo de reajuste salarial com a companhia –os sindicatos pedem aumento de mais de 8%, mas a proposta da CPTM está em 3,27%. Os funcionários também reivindicam aumento no tempo de licença-maternidade, no vale-refeição e mudanças no plano de careira.
 

Após audiência, permanece greve de funcionários da CPTM

Terminou sem decisão a audiência entre a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e os sindicatos de ferroviários na manhã desta quinta-feira no Tribunal Regional do Trabalho. Mais cedo, sindicalistas se reuniram com o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, mas também não decidiram encerrar a greve nas seis linhas da companhia. Os trens transportam 2,4 milhões de pessoas todos os dias.

Ficou combinado na audiência, intermediada pelo desembargador Davi Furtado, que os três sindicatos de ferroviários vão antecipar suas assembleias para as 17h, quando vão definir os rumos do movimento grevista. Em seguida, uma nova reunião entre as partes deve ocorrer no TRT.
 
Segundo o desembargador, caso as partes não cheguem a um acordo sobre a greve, sua continuação ou interrupção será decidida pela Justiça.
 
A proposta do desembargador Furtado é de que a greve seja suspensa hoje, mas os funcionários continuem em estado de greve durante as negociações com a CPTM. Caso nenhum avanço seja feito, nos dias 10 e 15 de junho novas audiências seriam feitas, com a possibilidade da Justiça do Trabalho determinar uma solução para o impasse.
 
Paralelamente à proposta, o desembargador decidiu dobrar o valor da multa a ser aplicada pelo descumprimento da decisão de terça-feira (31), quando o TRT determinou que 90% dos trens circulassem nos horários de pico e 70% nos demais horários.
 
O valor subiu de R$ 100 mil para R$ 200 mil, mas uma eventual aplicação da multa –e quem seria responsável pelo pagamento– será decidida em outra oportunidade.
 
Os funcionários estão em greve por não terem chegado a um acordo de reajuste salarial com a companhia –os sindicatos pedem aumento de mais de 8%, mas a proposta da CPTM está em 3,27%. Os funcionários também reivindicam aumento no tempo de licença-maternidade, no vale-refeição e mudanças no plano de careira.
 
Segundo os sindicalistas, o secretário Fernandes se comprometeu, na reunião da manhã, a conversar com o governo e apresentar uma nova proposta aos trabalhadores.
 
LOTAÇÃO
Com a greve nos trens, muitas pessoas estão recorrendo ao metrô, provocando lotação nas estações.
Ontem, a categoria já tinha paralisado as atividades parcialmente, afetado as linhas 12-Safira e 11-Coral. Hoje, a greve se estendeu às demais linhas, atingindo as 89 estações da CPTM, que atendem 22 cidades da região metropolitana.
 
Para minimizar os problemas com a greve, a SPTrans (empresa que gerencia o transporte em SP) prolongou até o metrô Itaquera o itinerário de 21 linhas que levam regularmente passageiros à estação Guainazes e três que atendem a estação José Bonifácio.
 
ÔNIBUS
Motoristas dos ônibus que ligam São Paulo a sete cidades do ABC Paulista também estão em greve. A EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) informou que oficiais de Justiça estão vistoriando terminais de ônibus para verificar o cumprimento da decisão judicial que determinou a circulação de 80% da frota.
 
Segundo a EMTU, a greve atinge 14 das 19 empresas de transporte metropolitano e prejudicou 200 mil passageiros ontem. As cidades atingidas pela paralisação são: Mauá, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Ribeirão Pires, Diadema, Santo André e Rio Grande da Serra.
 
Para mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/trabalho/2011/06/para-ministerio-publico-contrato-com-empresa-de-tabaco-mascara-relacao-de-trabalho

Relação de trabalho precária reforça ganhos bilionários de empresa de tabaco

Palmeira e São João do Triunfo (PR) – Liberdade é direito sagrado para quem nasceu e cresceu na zona rural. Programar o próprio horário, acelerar em um dia para descansar no outro, conversar com os vizinhos e ir à cidade vez ou outra são aspectos importantes da vida no campo. Quem assina um contrato de compra e venda com uma empresa de tabaco não tarda a perceber que perdeu parte dessa independência.

Mesmo sendo dono da terra, o agricultor só pode sementes fornecidas pela fumageira, que estabelece também qual agrotóxico deve ser aplicado e em que quantidade. A corporação se sente à vontade para sugerir melhorias na propriedade, em geral com a compra de equipamentos, que resultam em novas dívidas. Recusar a sugestão, dizem os agricultores, pode significar represálias.
 
Quando assina um contrato, o fumicultor autoriza a empresa a captar financiamento em nome dele. Algumas das linhas tradicionais de fomento não estão disponíveis à cadeia do fumo, que não é considerado produto agrícola. O agricultor paga, então, os juros do crédito e os cobrados pela fumageira.
 
Ao fim de um ano inteiro de trabalho, pode vender o produto exclusivamente para a empresa com a qual firmou vínculo. A terra dele, entende o Ministério Público do Trabalho, não é mais dele. “As empresas fumageiras, na condição de reais empregadoras que são, além do dever de observar todos os direitos consectários decorrentes da relação empregatícia, deverão fornecer aos fumicultores todos os serviços, utilidades, equipamentos previstos”, assinala uma ação de 2007.
 
Em suma, o contrato de compra e venda não estabelece uma relação entre comprador e vendedor, mas entre patrão e funcionário. Uma situação que se vê agravada pela enorme diferença de escala econômica entre as partes – o MPT acredita que os agricultores são usados para aumentar a margem de lucro de um setor bilionário.
 
Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que a exportação de fumo rendeu US$ 2,9 bilhões ao Brasil, ou US$ 4.500 por quilo enviado majoritariamente à Europa e aos Estados Unidos. O fumicultor recebeu em média R$ 7,50 por quilo em 2009, ano considerado acima da curva. O Anuário Brasileiro do Fumo indica que a União tem margem de lucro de 75,95% graças à cobrança de impostos, que é baixa na comparação com alguns países europeus. Na sequência vêm a indústria, com 9,5%, ou R$ 1 bilhão, e o comércio varejista, com 8,41%.
 
Por último ficam os produtores, com margem de 6,14% e tendo de dividir entre si R$ 680 milhões. Um quilo de fumo rende 62 maços, que são vendidos a preços variados.
 
No papel, ainda sobraria alguma renda para as 220 mil famílias envolvidas na fumicultura. Na ponta do lápis, a realidade é outra. O Sindicato dos Produtores Rurais de Palmeiras, uma das cidades produtoras de tabaco no Paraná, colocou no papel ônus e bônus, e constatou que a renda, uma das principais armas das empresas para angariar a força de trabalho de novos agricultores, não é tão boa quanto parece.
 
O fumicultor é remunerado apenas uma vez ao ano, na ocasião da venda da produção. O montante é definido caso a caso e ano a ano pelas próprias empresas. “Você tem que colocar dinheiro numa coisa que não sabe se vai dar retorno. Não é que nem soja, feijão, que você sabe qual vai ser o preço”, resume o produtor Evaldo Gross, de Palmeira, sobre um problema que será abordado na próxima reportagem da série.
 
Nem em condições ideais
Levando em conta condições ideais, de 40 mil pés por hectares, com produtividade média de 180 gramas por pé, chega-se a um total de 4.200 quilos. Mesmo nesse cenário – perfeito – a conta é difícil de fechar. O sindicato levou em conta os investimentos realizados e a durabilidade dos equipamentos. Insumos, instalações como estufa e paiol, lenha, energia elétrica, combustível, animais de tração e o custo do tempo de produtor levam a um preço de R$ 4,95 por quilo.
 
A remuneração média paga pelas empresas este ano está em R$ 4,96, segundo dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), que é vista como uma entidade amiga das empresas. A Afubra pondera que se trata de uma variação conjuntural provocada pelo aumento do plantio na África, pelo dólar desvalorizado e pelo excesso de produção no Brasil. “Somos obrigados na próxima safra a reduzir a área em 20%. Este ano está realmente complicado”, admite Benício Albano Werner, presidente da associação.
 
Segundo os cálculos do sindicato, não há ano fácil. O lucro máximo a que um produtor poderia chegar fica em R$ 1.080 ao ano. Dividido ao longo de doze meses e por três ou quatro pessoas que integram cada família, sobra pouca coisa. Descontado o custo do trabalho, resta menos ainda: R$ 1,77 ao dia.
 
“Plantar e produzir a gente é acostumado, sabe fazer, mas o que não deixa sossegado é a parte da comercialização. Não bastasse o risco da produção, de chuva de menos, chuva demais. Depois de todo o processo, você ainda é desvalorizado. Vive com uma incerteza”, queixa-se Anderson Sviech, um jovem produtor de fumo orgânico e o responsável pelos cálculos feitos pelo sindicato.
 
Quando não consegue quitar os débitos ao fim de uma safra, pelo contrato assumido com a empresa, o produtor terá de dar parte de sua próxima colheita para cobrir essa pendência – ou correr o risco de ver sua terra hipotecada.
 
Isso após um árduo ano de trabalho. Nos meses de junho e julho começa-se a semeadura em bandejas, fase em que já há aplicação de agrotóxico. Em setembro e outubro é feito o transplante para o campo. A colheita se dá 90 dias depois, em pleno verão, uma etapa que pode se estender até março. É o momento mais exaustivo: durante o dia, o fumicultor fica no campo colhendo as folhas. Durante a noite, precisa levantar de hora em hora para controlar a temperatura da estufa. Cada secagem do fumo Virgínia, o mais comum no Brasil, leva de oito a dez dias, e um vacilo pode colocar a perder parte da produção.
 
A renda muito baixa inviabiliza a contratação de mão de obra. O resultado é que filhas e filhos acabam ajudando na lavoura. Em estudo conduzido em 2008 pelo Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais (Deser), 10,5% dos produtores confessaram que meninas e meninos com menos de 12 anos trabalhavam no campo.
 
“Não é que o fumicultor queira empregar seu filho nessa atividade, é que as exigências da empresa e a baixa rentabilidade levam a fazer isso porque não tem possibilidade de contratar um trabalhador. E se descumprirem têm de pagar uma multa altíssima”, assinala Margaret Ramos de Carvalho, procuradora do Trabalho no Paraná.
 
Evaldo, de Palmeira, já tomou a decisão de parar dentro de cinco anos. E não quer quer o filho o suceda na fumicultura. “Se for se lascar, a gente prefere a gente se lascar, mas não quer que o filho sofra”, resume o produtor, que tem começado a diversificar sua produção para se ver livre de um outro problema.
 
Com tempo escasso, agricultor se vê forçado a deixar de lado o plantio de alimentos, o que apaga um traço cultural da vida no campo e submete essas famílias aos mesmos efeitos a que estão expostos todos os que consumem produtos industrializados. “A qualidade de vida piorou, o custo de vida ficou altíssimo. As fumageiras fizeram de tudo para ter um monopólio”, constata Vilmar Sergiki, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmeiras. Uma famíla de fumicultores gasta muito mais no supermercado que um vizinho que produza alimentos, que depende apenas de sal e açúcar.
 
Mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/trabalho/2011/06/para-ministerio-publico-contrato-com-empresa-de-tabaco-mascara-relacao-de-trabalho