10º Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical

Nos últimos 40 anos, o Brasil passou por um período de quase 20 anos de Ditadura Militar e 20 anos de crise econômica, que alternou pequenos sopros de crescimento com prolongados períodos de recessão. Nesse longo interregno, a discussão sobre desenvolvimento econômico foi acalorada entre os diversos atores da sociedade brasileira. Porém tanto a repressão política como a crise econômica inibiram a disseminação desse debate para setores mais amplos da sociedade congelando sua abordagem estratégica.

A partir de um crescimento econômico mais robusto da economia brasileira em 2005 (com exceção do período da crise), combinada com um cenário de democracia e movimentos sociais organizados em nível nacional ocorreu um recrudescimento do debate sobre qual modelo de desenvolvimento econômico queremos para o nosso país. Nos últimos anos também arrefeceu a discussão sobre o aquecimento global e os seus impactos para o meio ambiente, com o conseqüente engajamento de setores importantes da sociedade civil na defesa de um modelo de desenvolvimento que contemple além dos aspectos econômicos e sociais também os aspectos ambientais.

A Central Única dos Trabalhadores – CUT tem promovido uma série de iniciativas com seminários, cursos e oficinas estimulando um amplo debate entre dirigentes de todo o país com objetivo de construir um documento sobre desenvolvimento sustentável na perspectiva dos trabalhadores com vistas a influenciar e buscar o comprometimento dos candidatos à presidência da República nas próximas eleições e, também, desencadear um processo permanente de discussão sobre essa importante questão.

O Instituto Observatório Social – IOS, também abordará na sua 10º Conferência Internacional Pesquisa e Ação Sindical o debate sobre Desenvolvimento Sustentável promovendo mais um espaço de acúmulo e debate como forma de contribuir para disseminação de propostas vitais para o futuro do nosso país.

Objetivos


•Fomentar o debate acerca das propostas de desenvolvimento para o movimento sindical a partir da visão dos trabalhadores e trabalhadoras;
•Divulgar a Plataforma da CUT para as Eleições 2010 com propostas para a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável dentro do processo de disputa de hegemonia na sociedade brasileira no cenário político atual.
•Debater as perspectivas de construção de um modelo alternativo de desenvolvimento que seja capaz de romper com os desequilíbrios sociais estruturais e históricos da sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, seja uma referência de sustentabilidade para o nosso tempo.


10ª Conferência Pesquisa e Ação Sindical

Data: 09 e 10 de junho de 2010.
Local: Hotel Comfort Downtown, Rua Araujo, 141 – Centro – São Paulo (SP)

PROGRAMA PRELIMINAR


Dia 9 de junho (quarta-feira)

8h30 – Café de boas-vindas

9h30 – Abertura Institucional

Artur Henrique dos Santos – presidente da CUT
Aparecido Donizeti da Silva – presidente do Instituto Observatório Social
Yesko Quiroga – representante da FES no Brasil

10h00 – 12h30 -Painel 1 – Desafios para a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável

Objetivo: Debater os novos paradigmas de desenvolvimento que sejam capazes de romper com o padrão social estruturante da sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, apontem para um modelo de desenvolvimento sustentável em sentido amplo (social, ambiental, econômico, cultural).

Expositores:
Paulo Itacarambi – Diretor Executivo, Instituto Ethos
Emir Sader – Secretário Geral, FLACSO

12h30 – 14h00 – Almoço

14h00 – 16h00 – Painel 2 – Qual o papel do Estado na promoção do desenvolvimento no cenário atual?

Objetivo: Refletir sobre qual seria o papel do estado na promoção do desenvolvimento no contexto atual(mundo globalizado; pós neoliberalismo; pós crise). Qual seriam os paradigmas de um estado indutor de desenvolvimento no mundo atual, quais seriam as principais diferenças com o modelo desenvolvimentista latino americano de meados do século XX? Qual seriam as referências para se pensar um modelo de regulação voltado para o desenvolvimento sustentável?

Expositores:
a confirmar

16h00 – 16h30 – Pausa para Café

16h30 – 18h00 – Painel 3 – Democracia, participação e controle social


Objetivo:debater qual os desafios para o avanço da democracia no Brasil que permita uma participação e controle maior da sociedade civil sobre as questões fundamentais que afetam os interesses da população em geral. Apesar da importância do voto direto e universal em nosso país ainda falta capilaridade na democracia brasileira que permita as rupturas necessárias com os gargalos do atual do modelo político brasileiro.

Expositores:
Selma Rocha – Diretora, Fundação Perseu Abramo
Outro(s) nome(s) a confirmar

Dia 10 de junho (quinta-feira)

9h00 – 12h30 – Painel 4 – Desenvolvimento, Trabalho e Meio Ambiente

Objetivo: debater as possiblidades de convergência entre o mundo do trabalho e a preservação do meio ambiente. Muitos empresários tendem a considerar a sutentabilidade apenas pelo viés ambiental, esquecendo os apectos trabalhistas e sociais. Por outro lado, no mundo do trabalho muitas vezes se dá pouca importãncia aos aspectos ambientais. Como pensar um modelo de desenvolvimento que valorize o trabalho e o meio ambiente? Qual o papel do trabalho num sociedade sustentável? Como construir uma sinergia entre trabalho e meio ambiente na sociedade do futuro?


Expositores:
João Paulo Cândia Veiga – Universidade de São Paulo (USP)
Carmen Helena Foro – Secretária de Meio Ambiente, CUT
Paulo Sérgio Muçouçah – Coord. Prog. de Trabalho Decente e Empregos Verdes, OIT Brasil
Ricardo Abramovay – Universidade de São Paulo (USP)

12h30 – 14h00 – Almoço

14h00 – 17h00 – Painel 5 – Que modelo de desenvolvimento queremos?

Objetivo: Apontar visões /perspectivas dos diferentes atores políticos da sociedade brasielira sobre qual modelo de desenvolvimento de vislumbra para o futuro a partir dos desafios do presente.

Expositores
Artur Henrique dos Santos – presidente, CUT
Silvio Caccia Bava – Coordenador Executivo, Instituto Pólis
José Dari Krein – Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp)
Outro(s) nome(s) a confirmar

17h00 – 17h30 – Encerramento


Artur Henrique dos Santos – presidente, CUT
Aparecido Donizeti da Silva – Presidente do IOS
Yesko Quiroga – representante da FES no Brasil

Realização: Instituto Observatório Social, Central Única dos Trabalhadores e Fundação Friedrich Ebert
Patrocínio: DGB Bildungswerk, FNV Mondiaal

 Inscrições a partir de sexta-feira (28/05) no hot site da Conferência Pesquisa & Ação Sindical – em breve!
 

Mais informações acesse: http://www.observatoriosocial.org.br/portal/index.php?option=content&task=view&id=4275&Itemid=89

Ocupação de terrenos por desabrigados mostra ausência da prefeitura de SP, diz defensor

As famílias do Jardim Pantanal, despejadas na sexta-feira (21) de terreno ocupado na Vila Curuça, zona leste da capital, agora vivem “de favor” na casa de parentes ou amigos. Segundo coordenadores do movimento por moradia e assistência aos moradores do bairro, uma casa chega a abrigar 15 famílias de vítimas das sucessivas enchentes que atingiram a região do fim de 2009 ao começo de 2010.

Para o defensor público do estado de São Paulo Leonardo Scofano, a ação de reintegração de posse foi uma demonstração de “insensibilidade social”. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu manter a liminar de desocupação do terreno onde estavam as famílias do Jardim Pantanal.

“Se a população procurou o terreno, é porque a prefeitura não ofereceu condições. Esta é mais uma prova da ausência da prefeitura”, afirma. “Retirar as famílias daquele local, é uma medida momentânea, porque sem resolução do problema delas, haverá outros terrenos”, alerta.

“Estamos mantendo a solidariedade”, relata Zélia Andrade, uma das coordenadoras do movimento. “Quem tinha parente buscou ajuda”, aponta. Segundo Zélia, um grupo de 15 famílias voltou ao Jardim Pantanal e se alojou em uma das casas em que os habitantes não chegaram a ser desalojados.

Logo após a reintegração de posse do terreno ocupado por 80 famílias desde abril, na Vila Curuçá, também na zona leste, Zélia conta que “muitos chegaram a pensar em fazer barracos nas ruas mesmo”.

Moradores do bairro também mobilizaram-se para ajudar, dando abrigo a famílias. “Você vê uma bebezinha de três meses sem ter onde morar e procura fazer alguma coisa”, esclarece.

Ação da defensoria

Scofano explica que entrou com agravo de instrumento na 37ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP, em regime de urgência, na quarta-feira (19), na tentativa de suspender a liminar para retirada das famílias.

Entretanto, o relator desembargador Luís Fernando Lodi manteve a liminar, que culminou com a remoção dos moradores e a derrubada dos barracos. “Esperava sensibilidade social do desembargador, que ele não ficasse atrelado à questão jurídica”, explica.

Scofano também apresentou defesa à 3ª Vara Civel, de onde partiu a liminar, alegando que ocorreu “desapropriação indireta”, porque a população fez a ocupação do terreno vazio depois de tomar ciência de um processo de desapropriação realizado pelo município. Ele reconhece, porém, que a tese de que ocupação coletiva significa “desapropriação indireta” pode ser considerado “vanguarda” no Judiciário brasileiro e teria dificuldades de ser aceita.

Mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidades/ausencia-da-prefeitura-de-sp-favorece-ocupacoes-diz-defensor-publico

Para analistas, arrecadação e alianças explicam 'tensão' envolvendo pesquisas

O crescimento da pré-candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), é uma tendência que deve se manter pelo menos até o início do período de campanha eleitoral, segundo cientistas políticos ouvidos pela Rede Brasil Atual.

O que pode explicar a apreensão na expectativa das pesquisas está relacionado a questões como arrecadação de doações e formação de alianças – o que proporciona mais tempo de horário eleitoral gratuito.

Segundo Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), a tensão é tanta que, pela primeira vez na história brasileria, um partido político processou um instituto de pesquisa.

No primeiro aspecto, Dilma tem vantagem, já que a composição atual lhe daria mais de nove minutos contra cinco do pré-candidato José Serra (PSDB). Em termos de arrecadação, a inquietação diz respeito ao fato de o tucano não ganhar votos desde setembro de 2009, além de ter saído de um viés de estagnação para um de baixa.

“As pesquisas são tão importantes nessa situação e geram tanta tensão porque tanto partidos, quanto financiadores, usam os dados para fazer suas apostas”, explica.

“Os últimos levantamentos têm desmotivado bastante o PSDB, o que pode atingir a política de captação de recursos do partido”, pondera. Mais adiante, em uma eventual segunda colocação, o cenário ficaria difícil caso a legenda fique sem saúde financeira para ‘correr atrás’ no período propriamente da campanha.

Segundo Antônio Augusto Queiroz, assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), chegar na frente das pesquisas no dia 6 de julho, quando começa o calendário de campanha oficial, tem efeitos antes de tudo psicológicos.

“Em todas as eleições presidenciais (desde a redemocratização), quem estava na frente no momento em que começa o horário eleitoral ganhou”, alerta. Há exceções nas disputas estaduais e municipais, mas tanto Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso – em 1994 e 1998 – quanto Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 e 2006, tinham essa condição. Apesar de ser um bem precioso para a disputa, o pesquisador considera que, neste ano, o horário eleitoral “dificilmente altera a correlação de forças”, porque ambos os pré-candidatos devem ter recursos, um currículo serviços prestados para se apresentar bem e palanque nos estados.

Riscos do ataque

O conhecimento de que Dilma é a indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o que explica avanço da pré-candidata petista. Os dois analistas consultados corroboram a hipótese de uma disputa polarizada entre duas forças, por considerar que a senadora Marina Silva (PV) dificilmente conseguiria garantir recursos, palanques regionais e exposição suficiente.

Se permanecerem as tendências de crescimento da pré-candidata petista e a de queda do tucano, Serra seria obrigado a deixar a postura amistosa para buscar uma posição mais crítica. “Ambos vão começar a campanha fazendo pose de bonzinho: Serra e Dilma paz e amor”, brinca Barreto. “Mas se os índices dela continuarem altos, ele vai precisar partir para uma estratégia mais agressiva”, pondera.

A “campanha negativa”, mais carregada nas críticas é complicada para reverter um cenário. Um único exemplo bem sucedido dessa estratégia, segundo Barreto, ocorreu em 2002, justamente de Serra contra Ciro Gomes (então no PPS, atualmente no PSB). “Uma campanha ‘batendo’ na ex-ministra seria complicado”, avalia.

Queiroz, do Diap, vai além. Ele alerta para a semelhança entre as plataformas, o que reduz a margem da candidatura atrás nas pesquisas. “Em qualquer lugar do mundo, quando a oposição estabelece como principal arma de campanha a denúncia política é porque há muita coincidência de agenda”, explica. “Como não pode ‘bater programa’ porque são muito parecidos, invocam a condição de honestos e de mais bem preparado para implantar aquele programa que não podem confrontar sem diferenças significativas”, comenta.

O problema é que esse tipo de argumento pode ter baixa adesão junto ao eleitorado. “É muito difícil de convencer o eleitorado de que nas circunstâncias do governo Lula, o PSDB faria melhor”, exemplifica.

Pesquisas
Nos últimos dez dias, três dos quatro principais insitutos de pesquisa divulgaram levantamentos sobre a corrida presidencial. Pela primeira vez em quase dois meses, a tendência indicada foi coincidente, com a pré-candidata Dilma Rousseff apresentando crescimento ante retração das intenções de voto do pré-candidato José Serra.


Em todos a petista aparece na frente na espontânea, quando nenhum nome é apresentado ao entrevistado. Na estimulada, o Datafolha, divulgado no sábado (22), aponta empate com 37% dos entrevistados declarando apoio a cada um deles. Vox Populi e Sensus indicam vantagem, inferior à margem de erro, para Dilma.

O Ibope não registrou pesquisas eleitorais nacionais nas últimas semanas. Há apenas levantamentos regionais cadastrados no sistema de acompanhamento de pesquisas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mais informações acesse: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/para-analistas-arrecadacao-e-aliancas-explicam-tensao-envolvendo-pesquisas

Serra e a morte de Deus

A afirmação sobre empregos não é piada, mas sim desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. Os números mostram que, quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

Gilson Caroni Filho

José Serra precisa de ajuda. Não basta aquela que lhe é oferecida por uma mídia favorável. É necessário que alguém reavive seu senso de oportunidade. Um dos males que costumava atacar com muita frequência o brasileiro, principalmente aquele que vivia de salário (a maioria, portanto) consistia na tendência de ser enganado com facilidade. Faz cerca de oito anos que o PSDB deixou o governo e ainda não se deu conta de que a percepção da realidade mudou. Jogar palavras ao vento, como fez o pré-candidato tucano para uma platéia de militantes (?) do PPS, é um exercício arriscado, uma manifestação que mescla soberba e desespero em dosagem tão hilariante quanto assustadora. Mas nada disso nos permite duvidar de sua capacidade e argúcia analítica. Afinal, como diz o slogan de campanha dos tucanos: “o Brasil pode mais”. Resta saber o quê. E para quem.

Ao afirmar, em uma tentativa de crítica à política econômica do governo Lula que “nós estamos voltando rapidamente a um modelo que não atende à demanda de emprego que o país possui”, o ex-governador paulista aposta no total alheamento do eleitor brasileiro. Tamanha credulidade espanta, tendo em vista que o mundo do trabalho – a principal vítima do modelo neoliberal orquestrado pelo tucanato – aprendeu direitinho, na própria pele, o que significou o mercado desregulado como chave para o crescimento econômico e as virtudes do “Estado musculoso”, elementos centrais no discurso serrista.

A afirmação sobre empregos não é piada, nem brincadeira de um notívago diletante, mas desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. E de Serra, pode-se afirmar várias coisas, menos a de não ser um ator político que sabe o que faz. Sua eventual perdição, entretanto, antes de ser festejada pelas forças progressistas, deve causar desconfiança e vigilância redobrada. Pois é inevitável que os ânimos se acirrem em seus dois principais pólos de apoio: a mídia corporativa e o Poder Judiciário.

Mas a comparação suscitada por suas declarações é inevitável. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número de vagas criadas no mercado de trabalho bateu recorde no primeiro trimestre de 2010, com um saldo acumulado até março somando 657.259 empregos. Convém retornar no tempo e observar como se comportava a economia brasileira quando o pré-candidato tucano era ministro do Planejamento e Orçamento do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

O desemprego na indústria atingia 5,7% em 1997 em relação a 1996, resultado fortemente influenciado pela taxa de dezembro, quando a queda foi de 2,6% em relação a novembro, a pior desde dezembro de 1990, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter uma idéia do tamanho da retração nos empregos, os dados do instituto mostravam uma queda anualizada de 7,3%. Quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

Até então, o governo FHC registrava um desemprego industrial de 19,77%. Mas o “Brasil que não podia mais”, aquele que os colunistas econômicos tanto enaltecem, vivia um amargo processo de ajuste, acentuado em 1996, com a atividade econômica represada e a queda no emprego apresentando taxas expressivas. Ao contrário do que afirma Serra foi sob a batuta tucana que “o Brasil adotou uma política econômica desastrosa.”

Mas o discurso do tucano foi além, mirando também o campo da ética, com críticas a supostas práticas de corrupção no governo petista. Como fazem as vestais tucanas, destampou um poço de demônios para sentenciar: “se aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu”. Que metafísica, o ex-governador paulista quer superar com essa alusão a Nietzsche?

Decerto não deve ser a do governo ao qual serviu em dois ministérios. Fernando Henrique não teve escrúpulos de usar métodos condenáveis para evitar investigação da banda podre da administração federal. A retirada de assinaturas para esvaziar a criação da CPI da Corrupção, em 2001, é um belo exemplo. O arrastão de favores para livrar o governo de qualquer constrangimento ficou como um dos mais baixos momentos de um presidente eleito e reeleito pela ansiedade ética na vida brasileira.

Fernando Henrique liberou por bravata os parlamentares de sua base política para subscrever a CPI e, na hora H, liberou verbas estocadas e fez nomeações para cargos públicos. Junto com ACM e José Roberto Arruda, FHC afrontou o sentimento ético da cidadania falando em “linchamento precipitado” quando sua posição anterior incentivava a punição exemplar e imediata. E onde estava José Serra em meio a tudo isso? No Ministério da Saúde, definindo a criação da CPI como uma “brincadeira”,” pretexto eleitoral”, ” instrumento para prejudicar a governabilidade.”

Em sua campanha, o tucano terá que se confrontar com questões sobre ética e economia. Mas com muita cautela, evitando o reaparecimento de fantasmas incômodos. Eles podem dizer que foi naquela época, e não hoje, que “para muita gente Deus morreu”. Um deus imanente, amoral e, tal como os dirigentes aboletados no Estado, servil ao mercado que o pagou.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Mais informações acesse: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4643

Elogio da militância política

Lula comparou Dilma a Mandela e isso causou imenso desconforto na direita brasileira, expressa nos militantes dos partidos midiáticos da direita, exercendo como cronistas atualmente. Como autoritários que são, fazem parte do coro que pretende reduzir os militantes da luta contra a ditadura a “terroristas” ou a “agentes de regimes totalitários, que queriam impor aqui”.

Pobres diabos! Revejam a entrevista da Dilma no Senado. Deveria ser passada todos os dias na televisão, para que vejam de que matéria é feita uma militante. Interpelada por um senador que esteve com a ditadura, sobre o fato de que ela confessou que mentiu durante a ditadura e de que garantia haveria de que ela diria a verdade na democracia, ela respondeu que tinha mentido na tortura, para não entregar companheiros da luta contra a ditadura, que ele não sabe como é difícil mentir na tortura, que ela se orgulhava do seu comportamento como jovenzinha submetida durante muito tempo a brutais torturas.

Dilma acrescentou que na ditadura não há verdade, há apenas mentiras, que a verdade só existe na democracia. E que os dois, ela e o senador do DEM estavam em lados opostos na luta entre a ditadura e a democracia. Essa é a atitude de uma militante política da esquerda.A mesma que tiveram tantos centenas de milhares, aqui e em outros países, na luta contra ditaduras, contra regimes de apartheid – como foi o caso de Mandela.

Nas redações da imprensa-partido da direita, é impossível entender isso. Seria insuportável para jornalistas-militantes, que só fazem o que fazem por dinheiro, a quem não passa pela cabeça que um militante da luta contra a ditadura havia optado por aquela atividade por convicção, que colocava em risco sua vida e sua integridade física, por acreditar que o que havia que fazer era lutar por todos os meios contra a ditadura.

O combustível dos valores foi substituído pelo combustível do dinheiro. Essa é a direita. Essa é a imprensa mercantil, aquela que pregou o golpe militar, que saudou o golpe militar, que reproduziu servilmente todos os comunicados falsos da ditadura para tentar esconder seqüestros e execuções como se fossem “enfrentamentos”, que emprestou os carros da empresa (o que pensam disso os funcionários-militantes da empresa da família Frias,tão incomodados com a atitude dos militantes da luta contra a ditadura, que eles apoiaram e da qual se beneficiaram para se enriquecerem?), que esteve do lado do regime de terror e não do lado dos que lutamos contra a ditadura.

A força deles é a força do dinheiro, a nossa é a força moral, dos que lutamos por causas que escolhemos livremente e às quais entregamos o melhor de nós mesmos.

Mais informações acesse: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=473