Luiz Bassegio e Luciane Udovic
Surgido em 1994, no final da Segunda Semana Social Brasileira, cujo tema era – Brasil, Alternativas e Protagonista – processo que buscava articular as forças sociais em vista da construção do Brasil que Queremos, o Grito dos/as Excluídos/as se realizou pela primeira vez, no dia 07 de setembro de 1995.
De um ano para o outro foi sempre crescendo. De cento e setenta localidades que realizaram manifestações em 95, hoje, o grito acontece em mais de 1000 lugares espalhados por todo o Brasil.
E, a partir de 1999 extrapolou fronteiras e está presente atualmente em mais de vinte e três países das Américas, Latina, Central e Caribe.
Refletindo sobre este processo, talvez pudéssemos atribuir este avanço à diferença de metodologia empregada pelo Grito. Uma metodologia inclusiva, aberta à participação de todos e todas, em igualdade de condições, como protagonistas, em todo o processo.
As pessoas estavam cansadas dos métodos tradicionais de movimentos, associações, sindicatos ou partidos, baseados em muito discurso e palavra de ordem. O grito aposta também na dimensão mística. Muito mais do que a força da palavra, vale a força do exemplo, da simbologia da generosidade, da gratuidade. Vale a criatividade, a ousadia, a força e o protagonismo dos excluídos e excluídas. A partir das especificidades culturais próprias de cada região, o grito acontece sempre de forma inovadora, com gestos, e ações que possibilitam aos excluídos/as serem os “donos do microfone”, ou melhor, os donos da ação.
A cada ano, esta ousadia foi ganhando espaço. Em muitos locais até mesmo nos desfiles oficiais organizados no sete de setembro. As ações conspirativas, inesperadas, que causam impacto, garantem visibilidade. Tanto assim que a mídia já não consegue mais ignorar as manifestações do Grito. Nossas ações dividem com os desfiles militares, o horário nobre dos meios de comunicação social.
Uma das características do Grito é apostar na força dos processos de construção coletiva, das manifestações populares, da força dos movimentos sociais. Por ocasião do grito, já realizamos dois plebiscitos populares: um sobre a dívida em 2000, que levou mais de 6 milhões às urnas e outro, sobre a Alca. Neste último, foram mais10 milhões se manifestando contra este Acordo de Livre Comércio. O Grito e os Plebiscitos acontecem na semana da pátria, porque nestes processos pedagógicos discutimos a questão da Independência e Soberania em vista da construção de um projeto popular para o Brasil.
Por isso, neste 13º Grito dos/as Excluídos/as, estaremos juntos com outros movimentos e organizações populares, realizando mais um Plebiscito Popular. Neste ano, com o lema: “Queremos participação no destino da nação”, o grito entra com força total no plebiscito pedindo a nulidade do leilão de privatização da Cia Vale do Rio Doce porque entende que este processo foi fraudulento e feriu os interesses da população e a soberania nacional.
Não valeu o governo de Fernando Henrique Cardoso, vender a preço de banana (3,3 bilhões de reais), uma Companhia altamente lucrativa para o país, maior exportadora de ferro do mundo e com jazidas suficientes para 400 anos. Vale lembrar que na época a Vale estava avaliada em 96 bilhões de reais. Não valeu ser transferido para mãos privadas, um bem que era patrimônio de todo povo brasileiro.
Mas tem ainda muita coisa que não vale em nosso país. Por isso, o Plebiscito deverá tratar também de outros temas que nos remetem a pensar que Brasil que queremos construir.
Não vale, por exemplo, o governo Lula querer fazer uma reforma da previdência que retira direitos já conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras deste a Constituição de 88. Mas é isso que tramita nas altas esferas. Querem tirar nossos direitos ao invés de ampliá-los. E vale lembrar que a previdência não é deficitária. Ao contrário, sobram recursos, sugados pela DRU para o “superávit primário”, que irão pagar juros da Dívida Interna (entre 15 e 30 bilhões por ano, nos últimos 5 anos!).
Bem, não vamos listar aqui tudo o que não vale.
O povo, no seu dia a dia, sabe muito bem das suas dificuldades , seja para ter acesso à saúde, à educação, à moradia e emprego digno etc. Então, o importante mesmo neste 13º Grito dos/as Excluídos/as é fazer ecoar por todo este Brasil o nosso Grito para o que Vale.
Vale a nossa formação, mobilização e organização para dar um basta a este modelo econômico atrasado que provoca cada vez mais o aprofundamento da separação entre ricos e pobres. Vale dizer ao presidente Lula que o povo quer a Companhia Vale do Rio Doce de volta.
Vale lutar pela ampliação dos nossos direitos fundamentais, vale lutar para que a energia elétrica, tão cara para o bolso dos brasileiros, deixe de ser explorada pelo capital privado e tenha um preço justo para o povo.
Vale cada cidadão e cidadã brasileiro/a sair às ruas e expressar sua opinião acerca das decisões que afetam sua vida e lutar por uma democracia efetivamente participativa.
Então, na semana da pátria e no dia do grito, vamos das um cartão vermelho para tudo aquilo que não vale, e um cartão verde para aquilo que vale, na construção de um projeto popular para o Brasil.
Por isso, na Semana da Pátria, procure uma urna de votação em seu bairro, sua igreja, sindicato, escola etc. Diga não a tanta desgovernança e corrupção. Diga sim ao seu direito de decidir por uma vida com dignidade e segurança.
Luiz Bassegio e Luciane Udovic, são da Secretaria do Grito dos Excluídos/as Continental e da coordenção nacional do Plebiscito da vale.