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Postado em: 23/09/2010 - 11h56 | Rede Brasil Atual

Vandré, 75 anos, ganha homenagem na Paraíba

Ausente há anos de sua terra natal, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, mais conhecido como Geraldo Vandré, será homenageado nesta semana em João Pessoa (PB), com três dias de atividades, a começar desta quinta (23). O evento, batizado “Caminhando com Vandré”, inclui exibição de filmes, exposição iconográfica e um show com músicos locais, “fazendo uma releitura de sua obra”, como diz a programação. No último dia 12, o cantor e compositor, que desde 1968 não se apresenta no Brasil, completou 75 anos. No mesmo sábado em que músicos pessoenses estarão cantando algumas de suas canções, Vandré dará entrevista ao canal pago Globo News, em uma rara aparição. A entrevista foi gravada no dia de seu aniversário,  no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. Nada a estranhar: Vandré tem fascinação por aviação, e nos anos 1980 escreveu o poema “Fabiana”, em homenagem à Força Aérea Brasileira (FAB).

Entre os filmes que serão exibidos, estão o original de “Cinco vezes Favela” (1962). Em um dos episódios, “Couro de Gato”, a música que serve de trilha é “Quem Quiser Encontrar Amor”, de Vandré e Carlos Lyra. Além disso, os organizadores vão passar “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (1965), inspirado no conto de Guimarães Rosa. A trilha do longa foi composta por Vandré.
 
De carreira curta, porém marcante, Vandré lançou cinco LPs, o último em 1973, quando voltou ao Brasil, após quatro anos no exílio. Ele se tornou conhecido principalmente na época dos festivais promovidos por emissoras de televisão. Em 1966, ganhou o da Excelsior, com “Porta-Estandarte” (dele e de Fernando Lona) e o da Record, com “Disparada” (parceria com Theo de Barros), interpretada por Jair Rodrigues. O primeiro lugar do festival da Record, excepcionalmente, foi dividido entre duas músicas: “Disparada” e “A Banda”, de Chico Buarque. A torcida pelas duas músicas também dividiu a cidade e causou um clima de agitação poucas vezes visto.
 
Vandré começou a se tornar conhecido em 1963 após a gravação, com Ana Lúcia, do “Samba em Prelúdio”, composição de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Do mesmo ano é “Canção Nordestina”, com a qual Vandré agitou o universo predominante da Bossa Nova. Um de seus primeiros parceiros foi Carlos Lyra, que ajudou a criar o Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE).
 
Mas ele tornou-se definitivamente conhecido com “Pra não Dizer que não Falei das Flores” ou “Caminhando”, música que causou comoção no Festival Internacional da Canção (FIC) promovido pela Rede Globo em 1968. Na fase nacional do FIC, a canção ficou em segundo lugar, perdendo para “Sabiá” (Tom Jobim e Chico Buarque), provocando a maior vaia da história do ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Além disso, causou irritação de setores do governo, no período de maior radicalização política, que culminaria com o AI-5, em 13 de dezembro.
 
Nesse mesmo dia, Vandré e o Quarteto Novo (Franklin da Flauta, Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos e Nelson Ângelo) estavam se apresentando em Anápolis (GO), naquele que seria o último show de Vandré como artista profissional no Brasil. Ele passou dois meses escondido até deixar o país de forma clandestina, em fevereiro de 1969. Morou em vários países, passando mais tempo no Chile e na França.
 
Desde seu retorno, a vida de Vandré cercou-se de mistérios, ampliados com a decisão de se afastar do meio artístico. Não foi torturado, como muitos acreditam. Mas foi detido na volta ao Brasil e submetido a uma falsa entrevista, exibida em agosto de 1973 pelo “Jornal Nacional”, na qual dizia ter sido usado e preocupado em fazer dali em diante apenas canções de amor e paz.
 
No final de 2007, a Câmara Municipal de João Pessoa aprovou projeto que o homenageava, determinando a instalação de uma escultura e de uma placa no parque Sólon de Lucena, um dos cartões-postais da capital paraibana, perto de onde ele nasceu, numa casa que não existe mais. No entanto, a escultura não foi feita até hoje. Muito tempo antes, em 1980, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias tornou-se cidadão paulistano.
 
Uma de suas últimas aparições públicas foi registrada em vídeo: em setembro de 2008, ele esteve em um bar na Bela Vista, bairro paulistano conhecido como Bexiga, durante um show de seu amigo Sargento Lago, policial e cantor, que interpretou justamente “Caminhando”. Vandré ouviu, cumprimentou Lago e foi embora.
 
Ele mora em São Paulo desde que retornou ao Brasil, mas tem passado grande parte do tempo em Teresópolis (RJ), onde mora a sua mãe. Servidor público demitido com base no AI-5, foi reintegrado com base na Lei da Anistia (1979). Até hoje, questiona a decisão, argumentando que não cometeu crime algum para ser anistiado. Tornou-se uma espécie de clandestino em sua própria terra. “Aceitar a anistia é aceitar-se criminoso”, afirmou, na entrevista que irá ao ar no próximo sábado (25).
 
À pergunta sobre o que aconteceu com Geraldo Vandré, ele respondeu: “Ele ficou fora dos acontecimentos, foi melhor assim”.