Uma semana após repressão policial, movimento contra alta do ônibus promete nova manifestação em SP
Ativistas contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo prometem uma grande manifestação nesta quinta-feira (24). Há seis semanas, militantes do Movimento do Passe Livre (MPL), estudantes, trabalhadores e pessoas insatisfeitas com o reajuste do ônibus organizam protestos públicos às quintas-feiras.
O último ato, diante da prefeitura, no dia 17, teve intervenção violenta da Polícia Militar (PM) e da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e gás de pimenta chegaram a ser empregados para dispersar manifestantes. Vereadores e jornalistas também foram agredidos.
Para o vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic, o uso de armas não letais pela PM e CGM tem de ser discutida pela sociedade para não se repetirem cenas como as da semana passada. O grupo pretende entrar com ofício na ouvidoria das corporações para solicitar o conteúdo das orientações que os policiais recebem sobre o uso dessas armas nos protestos. “Consideramos essa manifestação de amanhã (quinta, 24) um ato de desagravo as ações repressivas da polícia no último ato”, pontua Zelic.
Mobilizados
Em 13 de janeiro, data do primeiro protesto de 2011 contra a alta das tarifas – que elevou a passagem de R$ 2,70 para R$ 3 –, a PM reprimiu os manifestantes de forma violenta no momento em que eles se dirigiam à Câmara dos Vereadores. Houve a prisão de 31 pessoas, e as cenas da ação policial se espalharam pela internet.
Nas semanas seguintes, o diálogo entre o comando da PM e os organizadores dos atos ampliou-se e mantido constantemente durante os atos. Com isso, nenhum incidente mais grave foi registrado. A política de bom relacionamento era inédita em anos anteriores em manifestações contra a tarifa.
Há duas semanas, em 10 de fevereiro, cerca de 3 mil manifestantes passaram por dentro do terminal Dom Pedro II, o maior da América Latina. O movimento considerou a ação uma vitória. Em 2010, uma passeata contra o reajuste daquele ano foi reprimida pela Polícia Militar quando os manifestantes aproximaram-se do local. “Depois de alguns anos em que o terminal havia virado ‘tabu’, mostramos que vamos entrar quando quisermos. Quem pega ônibus tá lá. Então é pra lá que vamos!”, declarou o Movimento do Passe Livre (MPL), em nota, após o episódio.
Essa ocupação ocorreu de modo pacífico, mas parece ter alterado o direcionamento das orientações à PM. Na visão de alguns ativistas do MPL, após a ação não houve mais diálogo com o comando das forças policiais nem antes, nem durante os protestos. Apesar de manifestações seguintes terem ganhado apoio de vereadores, a tensão cresceu.
Com apoio de membros da Câmara municipal, uma audiência pública para discutir o transporte e a tarifa foi realizada. O presidente da Casa, José Police Neto (PSDB), comprometeu-se a intermediar uma reunião entre os manifestantes e o executivo para se discutir a revogação do reajuste do ônibus.
Essa reunião de negociação deveria ser realizada no dia 17, mas nenhum representante da Secretaria de Transportes compareceu. Integrantes do MPL e três vereadores da capital se encaminharam para a Secretaria de Transportes e se reuniram com o secretário-adjunto de Transportes, Pedro Luiz de Brito Machado, que afirmou que o reajuste de tarifas de ônibus na cidade foi uma decisão política e não técnica.
Sem disposição da prefeitura por negociação, seis manifestantes decidiram acorrentar-se em catracas na entrada da prefeitura. O prédio da sede da administração municipal foi cercado. Durante a tarde, as grades de isolamento caíram, segundo a PM, por ação dos manifestantes – que alegam que o fato foi acidental – e a repressão policial começou.