São Paulo pede água!
Desde 2004, o governo estadual sabia da urgência em ampliar a disponibilidade hídrica da Sabesp, para além dos atuais reservatórios do Sistema. Nos últimos dez anos, os velhos problemas só se agravaram
O Sistema Cantareira da Sabesp, que abastece 47% da Região Metropolitana de São Paulo, dá provas de um colapso há pelo menos dez anos. Desde 2004, o governo estadual sabia da urgência em ampliar a disponibilidade hídrica da Sabesp, para além dos atuais reservatórios do Sistema. Nos últimos dez anos, os velhos problemas só se agravaram, e ameaçam agora levar à exaustão o fornecimento de um dos bens mais essenciais à vida humana: a água.
Em 2004, como vereador de São Paulo, tive a oportunidade de presidir a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar “serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário” prestados pela Sabesp, empresa já então controlada pelo governo do PSDB. As preocupações se voltavam, desde aquela época, à péssima qualidade dos serviços oferecidos e à ameaça de corte de fornecimento que pairava sobre as cidades abastecidas pelo Sistema.
Diante da inércia da Sabesp em atender as recomendações para ampliar sua capacidade de distribuição e reduzir desperdícios, como os frequentes vazamentos nas tubulações, a questão do abastecimento de água e do esgotamento sanitário continuou encabeçando a lista de preocupações da população de muitas cidades do estado. Por isso, em 2010, promovi na Câmara Municipal de São Paulo o seminário “Universalização do Saneamento no Brasil”, que reuniu gestores e entidades especializadas em torno da proposta de mobilizar a opinião pública e buscar soluções para a manutenção e garantia, para todos, do acesso à água e ao esgotamento sanitário.
Mas estamos a léguas de distância, em São Paulo, da universalização que queremos. Uma pesquisa do Instituto Data Popular, divulgada na quarta-feira (7), na Folha de S. Paulo, associa os maiores índices de falta de água à população mais pobre do estado. De acordo com o estudo, 25% das pessoas que ganham até um salário mínimo por mês sofreram interrupção no abastecimento, em casa ou no trabalho, nos últimos três meses. Já entre a população que recebe dez salários ou mais, esse número cai para 12%.
A pesquisa revela, ainda, que 41% dos entrevistados credita à gestão Geraldo Alckmin (PSDB) a responsabilidade pela falta de água, enquanto outros 29% mencionam a Sabesp como responsável. O Governo Federal (9%) e a falta de chuvas (7%) foram os menos citados.
No momento em que concluo este artigo, o nível do reservatório do Sistema Cantareira registra, segundo relatório da própria Sabesp, 9,6% de sua capacidade total.
Francisco Chagas, é diretor licenciado do Sindicato dos Químicos e Deputado Federal (PT)