Por mudanças estruturais e avanços em direitos, juventude vai às ruas
Um encontro inédito de dimensões históricas para a sociedade brasileira. Assim, mais de vinte movimentos que organizam a juventude no Brasil reunidos no Sindicato dos Químicos de São Paulo aprovaram e lançaram o Manifesto que balizará as ações da Jornada Nacional de Lutas da Juventude Brasileira.
A Jornada, tradicionalmente realizada no mês de março, traz como diferencial neste ano o fato de estar sendo construída coletivamente por diversos movimentos juvenis.
“A pluralidade e a unidade na luta é o diferencial desta Jornada, reunindo em um só espaço a juventude trabalhadora do campo e da cidade, as juventudes do movimento social, as entidades estudantis, juventudes políticas, feministas, religiosas, da cultura e comunicação, combate ao racismo, das diversas ruas. Todos esses movimentos mobilizados por um só ideal: mudar o Brasil e conquistar mais direitos para a juventude brasileira”, exaltou Alfredo Santos, secretário de Juventude da CUT, que esteve presente na mesa que abordou a conjuntura nacional e os impactos sobre a juventude durante a Plenária realizada neste sábado (23).
A Jornada Nacional de Lutas da Juventude Brasileira está marcada para ocorrer entre os dias 25 de março e 1º de abril. Serão diversas ações descentralizadas, espalhadas por todo o Brasil, em torno de uma pauta comum visando a construção de mudanças estruturais que garantam um projeto de desenvolvimento social e solidário.
Entre os grandes consensos, destaque para os que impactam diretamente na vida da juventude trabalhadora, como a luta pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salários; garantia de condições dignas e trabalho decente para os jovens; mas principalmente a luta por políticas públicas que visem a conciliação entre trabalho e estudos. Problema este evidenciado pelos números. Praticamente 55% dos jovens começam a trabalhar antes dos 14 anos, sendo que destes 60% não conseguem terminar os estudos. Normalmente, ocupam os postos de trabalho mais precarizados, sem garantia de direitos e benefícios, sofrendo assédio moral.
Alfredo destacou em sua fala a importância da Jornada como uma mobilização de massa, levando milhares às ruas de todo o Brasil. Para o dirigente CUTista, os movimentos social e sindical não conseguiram na correlação de forças da sociedade se apropriar dos avanços consolidados pelo governo, lembrando também o fato de que a luta de classe não acabou com a eleição de um governo democrático-popular.
“Existem diversas pautas que nos unem como o risco da judicialização da política e a politização do judiciário, ambos setores que não se submetem a opinião pública. Temos consciência da ditadura da mídia que existe hoje, a discriminação contra negros e mulheres. Mas com a amplitude e unidade das representações que estão à frente desta Jornada conseguiremos avançar”, pontuou Alfredo.
Uma das bandeiras desta Jornada é a luta pela democratização dos meios de comunicação, com a juventude brasileira participando ativamente do processo de construção de um novo marco regulatório para o setor, tão fundamental para combater o monopólio midiático. Somente assim, haverá uma ampliação do acesso de diferentes vozes aos meios de comunicação de massa, garantindo a pluralidade e a diversidade de ideias.
Reforma agrária já – citando a alta concentração fundiária e a desigualdade na distribuição de terras no Brasil que reflete diretamente no alto índice de violência no campo, o coordenador do Coletivo de Juventude do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), Raul Amorim, exaltou a importância de uma reforma agrária popular que garanta ademocratização da terra e a permanência dos jovens no campo.
“A compra de terra por estrangeiros e a desnacionalização das empresas brasileiras vêm batendo sucessivos recordes. Vemos também um avanço do agronegócio no campo. Se queremos mudar este cenário precisamos fazer grandes mobilizações e esta Jornada vem para responder a estes desafios. Estamos construindo as bases para uma nova sociedade, aproveitando esta Jornada como o pontapé inicial, buscando ampliar este movimento para todos os estados e municípios”, afirmou.
Fortalecimento da educação pública – no cerne das mudanças estruturais está o fortalecimento e a valorização da educação pública no Brasil. Somente com a destinação de 100% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do pré-sal para o setor educacional que o Brasil alcançará a meta prevista no Plano Nacional de Educação de investimento de 10% do PIB na educação.
“Toda essa amplitude preciosa de movimentos representando 67 milhões jovens, protagonizando as principais lutas, é a solução e esperança de mudanças para o nosso país. Os avanços conquistados nos últimos anos são frutos do protagonismo do movimento social, pressionando e enfrentando a ofensiva dos setores mais reacionários, independente de governos e partidos. Essas mudanças só foram possíveis porque tivemos consciência de que não basta ganhar o governo. E é com este sentimento que vamos às ruas nesta Jornada de Lutas para avançar em direitos para os jovens deste País”, declarou Daniel Iliescu, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Luta contra a discriminação – o combate ao preconceito de raça, cor, etnia, gênero, de identidade ou opção sexual, que está diretamente ligado à violência e ao extermínio da população jovem, em sua maioria negros que estão principalmente nas periferias das grandes cidades, é também uma das principais bandeiras de luta desta Jornada.
Maria Julia, representante da Marcha Mundial de Mulheres, citou como exemplo a possibilidade de reforma no artigo 129 do Código Penal como uma das formas de ataque patrocinadas por aqueles setores mais retrógrados da sociedade brasileira. “Dentro das mudanças que estão em discussão, não está mencionada a proibição da substituição de pena em casos de violência doméstica, ou seja, em casos de prisão relacionadas a este crime a condenação poderá ser substituída por penas mais leves como a prestação de serviços à comunidade ou distribuição de cestas de alimentos, o que acabará sendo um significativo retrocesso em relação à Lei Maria da Penha”, alertou.
O Manifesto inclui também outras reivindicações da juventude brasileira, como a aprovação do Estatuto da Juventude; memória verdade e justiça; superação das intolerâncias; desmilitarização da polícia; entre outros. “Há uma clara disputa pelo controle dos meios políticos, econômicos e educacionais, mas vejo na comunicação a maior possibilidade de mudanças estruturais, principalmente pela força que as redes sociais alcançaram hoje, o que possibilita a formação de uma rede de comunicadores que fazem um contraponto à mídia convencional através da elaboração de uma narrativa comunitária”, explicou Felipe Altenfelder, representante da Casa Fora do Eixo, entidade que sediou uma atividade culturalapós a Plenária.
Coordenaram a mesa da manhã a presidenta da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Manuela Braga e a representante do Levante Popular da Juventude, Carla Bueno.