Política de seleção de professores em SP é uma “aberração”, diz pesquisadora
A médica pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, critica a prática do governo de São Paulo por impedir a posse de professores aprovados em concurso público para a rede estadual de ensino por tirarem licença por motivo de depressão, em algum momento da carreiras. Para ela, as exigências para contratação de professores são “absurdas” e “discriminatórias”.
No início de fevereiro, o governo estadual decidiu impedir professores de assumir aulas na rede pública por classificá-los como obesos. Professores míopes também estariam vetados na seleção.
Segundo Maria Maeno, buscar excelência em produtos e serviços é desejável, mas esse conceito não se aplica às pessoas. “Como é que todos nós vamos ser sempre excelentes, sempre bem humorados, sempre saudáveis, sempre felizes?”, questiona. “Isso não existe, isso não é humano”, determina a médica.
A especialista também vê uma inversão do papel da Medicina e do próprio Estado na política de seleção de professores em São Paulo. “A medicina não pode ser usada nesse sentido, deveria ser utilizada com o objetivo de incluir as pessoas”, dispara.
“Mesmo pessoas com depressão, dependendo das condições, podem continuar trabalhando. Não tem importância que tomem medicação, mas se encontrarem no trabalho um ambiente acolhedor isso poderá ser muito benéfico para o trabalhador e seu tratamento”, defende Maria Maeno. “Infelizmente não é o que acontece”, constata. A depressão em muitos casos é decorrente de episódios que ocorrem na vida de qualquer um e após um tempo pode ser perfeitamente superada, caso seja tratada adequadamente, o que inclui o acolhimento nos diversos setores da sociedade, entre os quais, o local de trabalho, o sistema de saúde e a Previdência Social, ensina a pesquisadora.
Por trás desse tipo de avaliação estaria a concepção de homem perfeito, já observada em outros momentos da história. “Já tivemos experiências no passado recente em que isso aconteceu, como na Alemanha, por exemplo”, lembra.
Maria Maeno teme que a propagação desse tipo de mentalidade, tanto no serviço público como em empresas, torne uma “aberração” em algo natural. “É preciso cortar o mal pela raiz”, indica.
Responsabilidade
Órgãos públicos e empresas têm o dever de garantir um ambiente de trabalho sadio, pleitea a médica. Ela acredita que o governo de São Paulo deveria analisar a precariedade a que seus trabalhadores estão submetidos e dar condições dignas ,em vez de impor um perfil irreal. “Esquece-se da promoção da saúde e parte-se para a discriminação, para a seleção de alguns que eles consideram mais resistentes, mais capazes de enfrentar esses problemas”, sugere.
Órgãos públicos e empresas têm o dever de garantir um ambiente de trabalho sadio, pleitea a médica. Ela acredita que o governo de São Paulo deveria analisar a precariedade a que seus trabalhadores estão submetidos e dar condições dignas ,em vez de impor um perfil irreal. “Esquece-se da promoção da saúde e parte-se para a discriminação, para a seleção de alguns que eles consideram mais resistentes, mais capazes de enfrentar esses problemas”, sugere.
“Primeiro as empresas deveriam debruçar-se sobre si mesmas e sobre a organização de trabalho que impõem aos trabalhadores e reconhecer que essa organização faz as pessoas sofrerem desgaste precoce e grave”, avalia.
Em nota à imprensa, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) também classificou de “absurda” a ação do governo estadual ao impedir que professores obesos, com miopia e que tenham passado por depressão tomem posse, mesmo depois de passarem em concurso público.
“Trata-se de mais uma decisão absurda do governo estadual, que submete esses profissionais a uma situação de discriminação, injustiça e preconceito, num contexto onde o Brasil vem avançando na garantia dos direitos humanos a parcelas cada vez maiores da população”, expressa o sindicato.
A exemplo dos profissionais vetados por serem considerados obesos, os professores envolvidos no novo episódio de discriminação ministram aulas na rede estadual de ensino como temporários, esclarece a Apeoesp.
“Perguntamos: por que esses professores podem ser ocupantes de função atividade, mas não podem ser efetivos?”, discute. “Estão sendo vetados professores que, em determinados momentos, necessitaram tirar curtos períodos de licença, mas já se encontram em perfeitas condições de saúde”, critica a entidade sindical.