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Postado em: 10/09/2014 - 11h32 | Redação

Para pesquisadores, crise da água é gerida de maneira política

Para o estudioso da USP, professor Julio Cerqueira Cesar, a crise da água em São Paulo está sendo tratada de forma eleitoreira pelo governo Alckmin. A declaração foi dada durante o evento “Crise da água: de quem é a culpa?” promovido pela revista CartaCapital nesta terça-feira (9). 

“O racionamento foi colocado pela Sabesp como uma solução técnica, e o governador adotou uma solução política”, afirma. Segundo o professor, a Sabesp, ainda em janeiro deste ano, apresentou ao governo um plano que previa o racionamento, diante do baixo índice dos reservatórios desde então, mas o governador impediu a ação, sob a justificativa de que seria uma medida irresponsável.

O racionamento tem sido evitado pelo governo desde maio com o uso do volume morto. Na primeira etapa, foram 185 bilhões de litros bombeados desta reserva para o consumo de parte da população paulista. Em agosto, no entanto, mesmo com o implemento inicial, a Sabesp precisou captar uma segunda cota deste volume, de mais 100 bilhões.

Para o professor, a ingerência adotada nos últimos anos pela Companhia podem trazer outras respostas. Não é apenas a seca que atinge o estado, mas a crise do abastecimento em São Paulo tem relação direta com a falta de investimentos no setor, como a construção de novos reservatórios. “A Sabesp é a 4ª companhia de saneamento básico do mundo, e se considerarmos que opera em apenas um país, ela é a maior do mundo. Até os anos 90, a Sabesp chegou a uma situação invejável. De 1990 pra cá, os governos se preocuparam apenas com os processos eleitorais. A Sabesp aposentou seus engenheiros sanitaristas e passou a ser comandada por economistas e advogados. Parou de se preocupar com seus usuários e passou a se preocupar com seus dividendos”, declarou.

O evento contou ainda com a participação de Antonio Zuffo, pesquisador e professor da Unicamp. Para Zuffo, um grave problema que a  Sabesp não enfrenta de maneira adequada é a perda de água, que chega a escandalosos 40%. “As perdas acontecem porque as adutoras não são fixas e, com a variação de pressão, acabam se deslocando e desgastando nas juntas, o que causa os vazamentos, difíceis de detectar” explicou Zuffo. 

Para César, o prejuízo é inadmissível. “A Sabesp é uma indústria de água potável. A matéria-prima é a água. Se uma empresa particular tivesse um sistema como esse, que perde 40% do seu produto, ela estaria falida”, disse o professor da USP.