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Postado em: 07/03/2016 - 14h18 | CUT

Para me derrotar vão ter de me enfrentar nas ruas, diz Lula

O encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com as mais de 3 mil pessoas que lotaram a quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, nesta sexta-feira (4), na região central da capital, foi uma espécie de redenção num dia, como citou o ex-presidente, de desrespeito a um legado.

Visivelmente emocionado e com a voz embargada, Lula fez um discurso de menção a avanços de seu governo, mostrou que as conquistas só foram possíveis porque funcionaram em um processo de aliança com o povo e ressaltou que é justamente a defesa dessa herança, dos direitos e conquistas, que deve mover a militância.

O ex-presidente, que foi levado de maneira coercitiva – situação em que é obrigado a depor – para a Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, lembrou-se da política de valorização do salário mínimo implementada em seu governo e que garante aumento real do valor há 11 anos, falou sobre as mudanças de hábito a partir do aumento do poder de compra, como o acesso a viagens de avião e apontou que a política é que deve estar a serviço da economia. E não o inverso.

“Provamos aos economistas da USP que o que falaram a vida inteira não era verdade. Pobre não era problema”, disse Lula, aclamado a cada menção a uma possível candidatura às eleições de 2018.

E essa foi apenas uma das lembranças dos contatos com a população que se tornaram mais frequentes do que nos governos anteriores. Citou o caso de um catador de papel de uma cooperativa de reciclagem que, ao ser recebido por ele, agradecia o fato de ter entrado ao menos uma vez no Palácio do Planalto e emendou com a referência à forma como enfrentou a crise econômica de 2009.“Os recursos que emprestamos aos pobres começou a gerar produção, arrecadação investimento”, afirmou. 

Ao falar das críticas conservadoras a programas sociais como o Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família e o Luz para Todos, Lula definiu o segredo para o sucesso dessas ações. “A única coisa que eles (críticos) não sabiam é que eu não era eu. Eu era vocês”, disse. 

Lula também fez referência às mulheres, ao povo negro e às políticas públicas implementadas em seu governo. “Eu não conseguia me conformar de saber que neste país um negro não podia ser gerente de um banco. Um negro não poderia ser um dentista. Não podia ser engenheiro. Não podia ocupar um cargo de médico porque negro nasceu, na lógica deles, para ser pedreiro”, exemplificou, ao se referir à visão da supremacia de uma elite branca constituída no Brasil. 

Ele comentou ainda da coragem do país em eleger a primeira mulher presidenta e falou sobre como foi difícil ver de perto o machismo que ainda toma conta do país.“Descobri que muito mais grave do que o preconceito contra a mim era o preconceito contra a mulher. Nunca vi uma pessoa ser tão agredida quanto a Dilma.”

Provocações

Mais uma vez mostrando indignação pela condução coercitiva diante de sua disponibilidade em contribuir para a justiça, Lula usou o bom humor para negar as acusações de favorecimento na aquisição de um apartamento no Guarujá e da reforma de uma chácara.

“Só tem um jeito do apartamento ser meu: é alguém comprar e me dar. Eles dizem que é minha uma chácara que não é minha”, disse, antes de defender sua conduta na vida pública. “Podem pegar o Procurador Geral da República (Rodrigo Janot), o Moro (juiz Sérgio Moro), um delegado da Polícia Federal. Se houver alguém mais honesto que eu, desisto da vida pública. Eu faço política de cabeça erguida neste país.”

Entre críticas à condução do caso, Lula aproveitou a ocasião para fazer agradecimentos. “Se há uma pessoa neste país que aprendeu a palavra gratidão ao povo brasileiro sou eu. Ninguém pode ser mais grato. Porque não é normal um cara como eu, que vim da onde eu vim, que estudou como eu estudei, com só o quarto ano primário, ter a primazia de ter sido escolhido para ser o presidente da República.”

Para Lula, a maneira como a investigação e o depoimento foram conduzidos desrespeitaram a sua história.