Ociosidade na indústria é a menor em 5 anos
Os indicadores divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) sinalizam que, apesar de uma esperada volatilidade mensal, a indústria segue em trajetória de recuperação, após dois anos bastante ruins. Os números indicam ainda uma recuperação moderada ao longo do ano tanto do volume de investimentos quanto do emprego na indústria de transformação.
Segundo dados da CNI, a redução da ociosidade da indústria entre dezembro e janeiro levou o setor a operar, em média, com 84% da capacidade instalada no primeiro mês do ano – a taxa mais alta desde fevereiro de 2008, quando o índice foi de 84,4%, na série com ajuste sazonal. Dos 21 setores pesquisados, 16 registraram aumento no uso da capacidade instalada (Nuci) em janeiro deste ano, ante igual mês do ano passado. Na análise por setor, o maior crescimento ocorreu no segmento de máquinas e materiais elétricos, com alta de 8,4% no período.
Para o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, os indicadores apontam para um primeiro trimestre de 2013 forte, mas marcado pela alta volatilidade mensal. Na leitura do economista, a produção cresceu bastante em janeiro e uma parte relevante deve ter sido devolvida em fevereiro. “Apesar dessa volatilidade dificultar a análise da velocidade real da economia, acreditamos que a indústria está se recuperando na velocidade do PIB, próxima de 3,5%”.
Aloisio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), também vê o desempenho da indústria com um início de ano bastante volátil, mas com sinalizações mais favoráveis nos próximos meses. “Há sobressalto, mas também sinais de recuperação gradual. O tamanho [da recuperação] vai depender muito do cenário externo e da sinalização de soluções a questões que emperram a competitividade da indústria em relação ao produto importado e também à exportação.”
Eventuais pressões do lado da oferta, que poderiam também vir do salto muito forte do indicador de uso da capacidade de um mês para o outro, não estão no horizonte, diz Barros, do Bradesco. Segundo ele, o ritmo de crescimento dos investimentos está voltando a se acelerar desde o quarto trimestre de 2012, e o consumo permanece num ritmo de crescimento compatível com o potencial da economia. “Olhando para frente, o hiato entre demanda e oferta está se fechando e isso deve ajudar a inflação”.
Julio Sergio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica, também espera uma melhora dos investimentos. Segundo ele, indicadores antecedentes, como os pedidos de desembolso feitos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2012, apontam para um volume maior de investimentos, especialmente no segundo semestre. “O setor vinha de um quadro de investimento muito parado, com a capacidade de produção estacionada. O aumento do uso da capacidade é bom para o investimento, pois significa um sinal amarelo para o empresário voltar a investir, ou investir mais.”
Segundo Almeida, o aumento da ocupação da indústria também deve ser lido em conjunto com o crescimento de horas trabalhadas – alta de 0,8% entre dezembro e janeiro, segundo dados dessazonalizados. “Subiu o índice de ocupação da capacidade e aumentou o número de horas trabalhadas, o que significa que, mantida a tendência, o aumento do emprego está a caminho.”
Almeida ressalta, no entanto, que as expectativas são positivas, mas moderadas. “Não estamos falando de nada explosivo.” Ele diz ainda que identificou o que chama de “um pouco de exagero nos dados de janeiro”, provavelmente em razão de o mês de dezembro ter sido muito ruim, ou por um efeito de recomposição de estoques. “Acho que houve produção para reconstituir estoques, por isso o faturamento não acompanhou”, diz.
A economista-chefe da BNY Mellon ARX Investimentos, Solange Srour, também se surpreendeu com o forte salto do indicador de capacidade instalada. “Janeiro foi um mês melhor para a indústria, mas me parece que todos os indicadores de fevereiro apontam para uma redução do ritmo da indústria”, diz. A economista também espera uma retomada da indústria ao longo do ano, em razão das várias medidas tomadas para reanimar o segmento, o que deve ajudar a elevar tanto a confiança da indústria quanto os investimentos.
Solange também fala em ponderação. “Não teremos nada brilhante. Essa melhora de competitividade que a indústria precisa vai levar um tempo, pois os projetos de infraestrutura precisam sair do papel. Precisamos também de um ganho de produtividade que acompanhe os salários reais em alta”, diz. “Essa perspectiva positiva vale para mesmo mais para frente. A não ser que fevereiro surpreenda a gente para cima”.