Novo indicador social da ONU mostra percepção pessoal sobre serviços básicos
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), lançou na tarde da terça-feira (10) o Índice de Valores Humanos (IVH), que mede a percepção das pessoas sobre saúde, educação e trabalho e tenta dar uma dimensão mais ‘subjetiva’ às avaliações que o Pnud já faz com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
Entre os dois estudos a diferença fundamental é que o IDH é calculado com base em dados objetivos como a mortalidade infantil, alfabetização e renda, conforme explicou o economista Flávio Comim, coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud.
O novo indicador social confirmou características já constatadas da sociedade brasileira em outras avaliações: as pessoas mais pobres e menos escolarizadas são menos bem atendidas nos hospitais e postos de saúde, têm as expectativas mais baixas quanto à educação e experimentam as piores vivências no trabalho.
Segundo o programa da ONU, o IVH do Brasil é de 0,59. A escala varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1 melhor a avaliação. O índice foi calculado a partir de uma pesquisa de opinião feita pelo Instituto Paulo Montenegro (ligado ao Ibope) com 2 mil pessoas, em 148 cidades de 23 estados e no Distrito Federal. Na Região Norte, o IVH é de 0,5; no Nordeste, 0,56; no Centro-Oeste, 0,58; no Sudeste e no Sul, 0,62.
O IVH também varia segundo a faixa de rendimentos individuais: é de 0,55 para quem recebe até um salário mínimo (R$ 510) e 0,71 para quem recebe de R$ 5.100 e R$ 10.200 (10 a 20 salários mínimos).
O índice também foi calculado, separadamente, em cada dimensão analisada. No IVH Saúde – feito com base nas opiniões sobre tempo de espera para o atendimento médico-hospitalar, linguagem utilizada e interesse da equipe médica – o índice nacional cai para 0,45.
Na Região Norte, o IVH Saúde chega a 0,31. Quanto à faixa de renda, quem recebe até um salário mínimo tem as piores vivências em serviços de saúde: o índice é de 0,39. Quem recebe entre dez e 20 salários mínimos tem experiências melhores e o índice chega a 0,68.
Para 51% das pessoas entrevistadas, o atendimento é demorado; 37% avaliam que a linguagem médica é complicada e 33% opinam que há pouco interesse no atendimento. “O médico não precisa falar difícil”, observou Comim. O coordenador esclareceu que a pesquisa não analisa especificamente o atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Com relação ao trabalho, o IVH contabiliza 17 vivências positivas no ambiente de trabalho (como realização profissional) e 15 vivências negativas (como esgotamento emocional). O resultado nacional foi de 0,79; atingindo 0,84 no Sul; e caindo a 0,68 no Centro-Oeste. Entre as faixas de rendimento, o índice é de 0,72 para quem recebe até um salário mínimo e de 0,95 entre os que percebem mais de 20 salários mínimos.
Já a dimensão de educação teve menor variação: 0,54 no Brasil; 0,55 no Sudeste e Sul; caindo a 0,47 no Norte. Comim assinala que “a educação tem objetivos diferentes conforme o estrato social”. Segundo ele, para as famílias mais pobres, ao contrário das mais ricas e mais escolarizadas, conseguir um emprego após o ensino é mais importante que tornar-se um bom cidadão
Para o coordenador, o IVH, ao se basear em opiniões e experiências de entrevistados, serve para analisar processos e não apenas resultados das políticas públicas. Ele enfatiza que, além do governo, o índice mostra que famílias, professores e médicos, por exemplo, podem influenciar no desenvolvimento humano.
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