No 1º semestre, 97% dos acordos salariais ficaram acima ou iguais à inflação
Beneficiadas pelo crescimento econômico e por uma inflação sob controle, as campanhas salariais no primeiro trimestre conseguiram, em sua quase totalidade, fechar acordos com reajustes iguais ou acima da inflação.
Segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (26) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de 290 campanhas pesquisadas, 255 (87,9%) tiveram reajustes salariais acima da variação do INPC-IBGE, enquanto 26 (9%) tiveram reajustes equivalentes à inflação. Assim, 97% das convenções ou acordos coletivos foram fechados com no mínimo a inflação, superando os resultados de 2008 (87%) e 2009 (93%). Assim, apenas nove acordos (3,1%) ficaram abaixo da inflação.
A pesquisa mostrou alguma melhoria em relação ao reajuste total, embora grande parte dos acordos ainda seja fechada em níveis muito próximos ao da inflação. No primeiro semestre deste ano, dos 255 acordos com reajuste acima do INPC, 117 tiveram reajuste de 0,01 a 1 ponto percentual acima. Isso representa 40,3% de todos os 290 acordos, ante 47,2% em 2009. Já os acordos com reajuste mais de 5 pontos acima do INPC passaram de 1,7% do total para 5,5%.
Entre os três setores pesquisados, a indústria teve 97,6% dos acordos (124) fechados acima (109, ou 87,9%) ou equivalentes ao INPC (12,ou 9,7%) Só três (2,4%) perderam da inflação. Tanto em 2008 como em 2009, o percentual de acordos abaixo da inflação na indústrial foi de 8,9%. Segundo o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, responsável pelo estudo, o resultado mostra recuperação do setor após a crise mundial. Mas ele observa que ainda há fatores a serem considerados, como a rotatividade – é comum que os trabalhadores que entram no mercado recebam menos daqueles que saem. “O salário médio no Brasil não cresce fundamentalmente por causa da rotatividade.”
No setor de serviços, que teve 129 acordos pesquisados, 110 (85,3%) ficaram acima da inflação, ante 73,6% em 2009 e 65,1% em 2008. Outros 14 (10,9%) foram fechados com reajustes equivalentes ao INPC, enquanto cinco (3,9%) ficaram abaixo. No comércio, 36 de 37 acordos (97,3%) superaram o INPC e apenas um (2,7%) ficou abaixo da variaçã da inflação do período.
O técnico do Dieese lembrou que os acordos pesquisados só consideram reajustes que incidem sobre o salário, excluindo, portanto, itens como participação nos lucros ou resultados (PLR). A inflação média considerada foi de 5,7% em 2008, 6,1% em 2009 e 5% em 2010.
Para Silvestre, o resultado positivo é reflexo do crescimento econômico, da redução da inflação e da ação sindical. Mas é necessário melhorar a distribuição da renda, observou. “Os ganhos reais estão abaixo da produtividade. A incorporação da produtividade apenas mantém a distribuição de renda. É preciso que se aumente a participação dos salários na renda nacional”, observou.
Diversas categorias de grande parte estão em campanha salarial neste segundo semestre, casos de bancários, metalúrgicos, petroleiros e químicos. A secretária de Formação da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), Michele Ida Ciciliato, observou que um dos desafios é unificar as datas-base, como aconteceu em São Paulo, e negociar um contrato coletivo nacional.