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Postado em: 06/03/2009 - 14h43 |

Mesmo em tempos de crise, a luta pela igualdade entre homens e mulheres continua atual

Os eventos que envolvem o 8 de março deste ano têm como eixo principal à questão da igualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho.

Neste sentido, preparamos alguns dados juntamente com algumas reflexões sobre o nosso ramo e esperamos que este material,  para além do 8 de março, possa servir de estimulo para luta de todo o dia.

Uma das mais importantes transformações sociais ocorridas no Brasil, desde os anos de 1970, foi o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho. Contudo, esta inserção tem-se caracterizado por clara desvantagem em relação aos homens em termos de rendimentos.

Uma das questões que tem chamado a atenção refere-se à situação em que pessoas igualmente produtivas são diferentemente avaliadas com base em atributos não produtivos, neste caso, diz-se que existe discriminação no mercado de trabalho. A discriminação por gênero encontra-se presente em praticamente todas as sociedades, independentemente dos traços culturais e religiosos, e dos sistemas políticos e  econômicos.

As mulheres são discriminadas no mercado de trabalho, apesar de igualmente qualificadas, recebem pagamento inferior no desempenho da mesma função e/ou  recebem salários  menores porque têm acesso apenas às ocupações pior remuneradas.

Apesar da igualdade formal, presente na lei, é no cotidiano que se explicitam práticas discriminatórias que atentam contra o direito a igualdade estabelecido na Constituição Federal.

Portanto, o grande desafio dos movimentos sociais e dos poderes públicos, comprometidos com a igualdade e a justiça social,  é contribuir para que se eliminem as desigualdades entre homens e mulheres e se fortaleça a autonomia feminina nos diferentes espaços da vida cotidiana.

Embora as manifestações discriminatórias e sexistas possam ser identificadas em diferentes espaços da sociedade, mas é no mundo do trabalho que adquirem maior visibilidade.

As oportunidades de acesso ao mercado de trabalho se encontram bastante restringidas a determinados setores e ocupações. De acordo com os últimos dados disponíveis para o Brasil (2007), temos para o total do emprego formal 59% de homens e 41% de mulheres. Do total das mulheres 66,2% estão concentradas na área de serviços e apenas 14% na indústria, enquanto que a participação dos homens é de 25% para indústria.

A indústria brasileira (dados de 2007) é responsável por aproximadamente 20% dos empregos formais existentes, sendo que deste total 72% é composto por homens e 28% por mulheres. Se considerarmos o total dos setores (comércio, serviços, agricultura e indústria) as mulheres respondem por 5,7% do total dos empregos na indústria e 27% na área de serviços.

Portanto, existe um acentuado predomínio feminino em um conjunto de ocupações consistentes com os papéis de gênero tradicionais, especialmente nas áreas de saúde e educação.

Além disso, as possibilidades de inserção das mulheres no trabalho também estão limitadas pela desigualdade de gênero na capacitação técnica, derivada de estereótipos sexistas, resultando com isso em uma grande concentração nas atividades de apoio (serviços).

As mulheres do Ramo Químico

A participação das mulheres no ramo químico corresponde a 25%, percentual bastante próximo da participação das mulheres na indústria (27%).  Esta participação não é linear para todos os segmentos, em alguns como a indústria de produtos cosméticos e farmacêuticos o percentual supera os 40%, em outros segmentos com o setor de celulose e papel cai para menos de 20%. Há nestes dados uma nítida concentração de mulheres em segmentos mais associados ao trabalho feminino.

As mulheres químicas apresentam um perfil bastante jovem, em torno de 45%  estão concentradas nas faixas entre 18 a 29 anos. Acima de 50 anos temos pouco mais de 5% e entre 30 a 50 anos são 50%.

No que diz respeito ao grau de escolaridade, o fato do mercado de trabalho demandar uma escolaridade mais elevada das mulheres não significa uma inserção mais igualitária ou qualitativamente melhor comparativamente aos homens.  Em torno de 15% das mulheres químicas possuem superior completo, enquanto que entre os homens este percentual não chega a 9%. 

Embora os diferenciais de remuneração venham caindo ao longo dos anos, no entanto, a sua permanência segue sendo o destaque. Aproximadamente 71% das mulheres recebem até três salários mínimos, enquanto entre os homens o percentual é de 57%. Para as faixas acima de três salários mínimos temos 42% dos homens e apenas 27% das mulheres. Além disso, os rendimentos médios das trabalhadoras químicas representam 75% dos rendimentos masculinos, este percentual está abaixo da média nacional que é de 82%.

Uma das faces da desigualdade se manifesta quando se analisa o perfil das ocupações. Este universo é muito extenso, por isso foram selecionadas  algumas ocupações próprias de nosso ramo para demonstrar que ainda persistem as diferenciações por sexo, a despeito de um forte discurso não discriminatório.

Ocupando cargos de direção de empresa temos 85% de homens e 15% de mulheres; na condição de gerentes são 77% de homens e 23% de mulheres; entre os profissionais da área de física, química e engenharia, temos 79% de homens e 21% de mulheres; técnicos polivalentes são 70% de homens e 30% de mulheres; técnicos de nível médio nas áreas de física, química e engenharia, 83% de homens e 17% de mulheres; atendimento ao público 24% de homens e 76% de mulheres; trabalhadores em processo contínuo, 82% são homens e 18% mulheres; escriturários, 59% homens e 41% mulheres e trabalhadores dos serviços, 61% de homens e 39% de mulheres.

Esta segmentação explica, em parte, os rendimentos médios  inferiores das mulheres, uma vez que estão nas ocupações menos valorizadas.

Finalmente, uma importante dimensão para a análise das diferenças entre homens e mulheres no cotidiano é questão de como ambos distribuem suas atividades ao longo dos dias, ou  seja, como usam o seu tempo e quanto dedicam ao trabalho doméstico.

Neste sentido, cabe destacar a desproporção entre os sexos na distribuição dos afazeres domésticos. Conforme dados do IBGE, as mulheres gastam em média 27 horas por semana com os afazeres domésticos, enquanto que entre os homens o número de horas gasta não excede 10 horas.

A segregação ou discriminação tem importantes implicações para o descompasso salarial entre homens e mulheres, assim como no acesso a oportunidades de promoção. Dessa forma, compreender as causas e conseqüências da segregação profissional é decisivo para a formulação de políticas voltadas ao mercado de trabalho. As políticas de ação afirmativa, por exemplo, podem ser interpretadas como uma tentativa de reduzir a segregação profissional; e as políticas para igualar os salários podem ser vistas, em parte, como um esforço para reduzir as diferenças de renda que a segregação pode causar.

No entanto, apenas o compartilhamento do trabalho doméstico contribuirá decisivamente para que se construa relações de maior equidade no mundo do trabalho.