Marina tem obrigação moral de apoiar Dilma, diz cientista política
Para a cientista política Maria Victoria Benevides, a maior surpresa desta eleição, pelo menos com base nos números apurados até as 20h deste domingo (3), é a votação da candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva. Caso se confirme o segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) na disputa presidencial, a cientista política afirma que a candidata do PV teria “politicamente e moralmente” obrigação de se manifestar a favor da petista.
“Claro que havia uma tendência (de crescimento de Marina), mas não com proporções tão elevadas até agora”, afirmou a professora da Universidade de São Paulo (USP). Para ela, Marina foi a principal beneficiada pelo escândalo envolvendo Erenice Silva, ex-chefe da Casa Civil, “que deve estar debaixo das cobertas jogando cinza na cabeça”.
“Ela (Marina) não pode dar as costas para esquerda da qual sempre fez parte”, sustenta Maria Victoria. Ela observa que as duas candidatas tiveram “um passado conflituoso no governo”, por divergências relacionadas a questões ambientais, mas Marina teria uma proximidade muito maior com uma coligação de esquerda do que com uma que abranja o DEM”.
Já o eleitorado de Marina, até agora com aproximadamente 20% dos votos, deverá se dividir entre os candidatos do PT e do PSDB. O principal receio da professora é com a tão falada “bala de prata” para atingir Dilma. “A tal bala de prata de que se estava falando pode ser acionada agora”, diz Maria Victoria. Mesmo o comportamento nos debates será bem diferente do que se viu até agora. “Nesse último debate, era melhor entrarem mudos e saírem caladas. Se fosse jogo, era zero a zero. Agora, será um mata-mata.”
Senado em SP
Já o resultado das eleições para o Senado em São Paulo não surpreenderam a cientista política. Segundo ela, muita gente que votaria em Dilma mas não em Serra via com simpatia o candidato do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, por causa de seu perfil biográfico. Ele tem raízes na chamada esquerda revolucionária – durante a ditadura, Aloysio foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) de Carlos Marighella.
Além disso, Nunes não tinha rejeição forte, diferentemente de Netinho (PCdoB) e da própria Marta Suplicy (PT). “Acho que ele (Netinho) teve rejeição inclusive na coligação governista. No meio universitário, a rejeição é avassaladora, principalmente entre as mulheres”, resume.
Assim, segundo Maria Victoria, Aloysio reuniria o voto pragmático do PSDB e o voto ideológico de parte “de uma certa esquerda”. E também foi beneficiado pela saída da disputa, por motivos de saúde, de Orestes Quércia (PMDB).