Lucro alto e salário baixo
Salários e direitos trabalhistas continuam sendo chamados de Custo Brasil pelo empresariado brasileiro, equivocadamente. Quando, na verdade, salários e direitos são fundamentais para o desenvolvimento do país, pois melhoram a qualidade de vida do trabalhador, aumentam o poder de compra e fazem girar a economia.
As margens de lucro das empresas no Brasil são as mais elevadas do mundo. Na indústria farmacêutica, por exemplo, as margens líquidas ficam acima de um dígito, entre 18% e 28%. Para estimular a produção nacional, o governo passou a priorizar, no ano passado, a aquisição de medicamentos com margem de preferência de até 25% sobre os produtos importados – compras que representam R$ 3,5 bilhões anuais.
Além disso, a indústria de fármacos e medicamentos foi beneficiada com a desoneração de 20% da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento e, a partir deste ano, as empresas poderão optar pela alíquota fixa de 1% sobre a receita.
Exemplos desse tipo não faltam em nenhum setor. O setor automobilístico, inclusive, já foi alvo de um estudo que revelou que a margem de lucro das montadoras instaladas no Brasil é três vezes maior que nos EUA.
Em contrapartida, os salários no Brasil estão entre os menores do mundo. Ainda assim, a indústria continua a usar o velho discurso de que a mão de obra encarece o custo dos produtos, mesmo após o governo Dilma Rousseff ter atendido várias reivindicações históricas do empresariado.
Recentemente, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma lista com 101 sugestões que visam elevar a competitividade e a produtividade, diminuindo custos, burocracia e sugerindo mudanças nas leis trabalhistas que obviamente diminuem e flexibilizam direitos. É a mesma fórmula apresentada nos anos de 1990, com a justificativa de que essas medidas estimulariam a geração de postos de trabalho, mas hoje, com mais de 15 milhões de empregos gerados entre 2003 e 2011, a desculpa é que as medidas favorecem a competitividade, ou seja, produção a custos menores.
Só para refrescar um pouco a memória dos patrões, é importante relembrar que o atual governo promoveu a desoneração da folha de pagamento para 42 setores (inclusive químicos, plásticos e farmacêuticos). Elevou a alíquota de importação de inúmeros produtos para favorecer o produto nacional, reduziu o custo da energia elétrica, reduziu as taxas de juros e aumentou o crédito, além de inúmeras outras iniciativas.
Mas e do lado dos trabalhadores? O que foi feito? Sem salários, não há consumo e, sem consumo, as indústrias não conseguem produzir. Será que é tão difícil entender essa lógica?