“Honduras conta com a nossa solidariedade para derrotar os golpistas e seus crimes”
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT), Siderlei de Oliveira, coordenador do Instituto Nacional de Saúde do Trabalhador (INST) e membro da direção da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA), retornou nesta quarta-feira da missão de solidariedade em apoio à luta do povo hondurenho contra a ditadura de Porfírio Lobo. A delegação, composta por 24 dirigentes sindicais de 12 países, esteve em Tegucigalpa de 17 a 24 de agosto, e, conforme Siderlei, “viu de perto o regime de terror, execrado pela grande maioria da população, mas sustentado pelo governo estadunidense e pela brutalidade e covardia das forças militares”.
Que novas convicções trouxeste na bagagem?
A convicção de que o povo hondurenho precisa muito da nossa solidariedade para manter isolada a ditadura de Porfírio Lobo, que será derrubada mais cedo ou mais tarde pela força das mobilizações populares. Nossa delegação, composta por 24 dirigentes de 12 países viu de perto o regime de terror ali instalado, execrado pela grande maioria da população, mas sustentado pelo governo estadunidense e pela brutalidade e covardia das forças militares.
Pudeste presenciar alguma manifestação de rua?
Claro. Desde a chegada em Honduras percebemos a violência indiscriminada das forças militares contra a população. No mesmo dia que desembarcamos estava acontecendo uma manifestação dos professores em defesa do ensino público, que está sob ameaça de privatização. No caminho do aeroporto até o centro da capital passamos pelo protesto do magistério, e pudemos presenciar a truculência, os espancamentos, as prisões. Houve gente muito ferida, vários ficaram em situação delicada e à beira da morte. Isso para ninguém lá é surpresa, pois no outro dia tomamos conhecimento do massacre e assassinato de seis trabalhadores rurais, ao que se somam muitos mais, do campo e da cidade, como jornalistas, abatidos com tiros na cabeça.
E a resistência?
Pudemos perceber que há uma resistência muito grande, forte e organizada, envolvendo os mais variados segmentos, que estão mobilizados. Agora mesmo preparam uma paralisação nacional para barrar o avanço de uma lei que pretende flexibilizar as leis trabalhistas e inclusive, pasmem, permitir o pagamento de somente meio salário para os trabalhadores em turnos de seis horas, o que mostra a aberração. Querem fazer uma jornada de trabalho elástica, de doze horas, e permitir que as empresas tenham turno de seis horas remunerando somente quatro horas. Para coroar o absurdo, argumentam que este arrocho é para que o trabalhador dê a sua contribuição para o país sair da crise. Uma insensatez que vai na contramão de tudo o que estamos presenciando no Brasil durante o governo Lula, onde com mais salário, mais emprego, mais direitos, a roda da economia gira pra frente, impulsionada pelo fortalecimento do Estado e do nosso mercado interno.
Qual o clima nas ruas?
O mesmo da época da ditadura. Nos trouxe muito más recordações e lembranças. Há um regime de terror estabelecido onde todo aquele que ouse questionar é um inimigo a ser aniquilado.
O Brasil teve um papel chave ao dar guarida na sua Embaixada ao ex-presidente Manuel Zelaya e ao defender a democracia e a soberania hondurenha contra os golpistas. Para o candidato tucano José Serra, o governo brasileiro avançou o sinal e fez uma “trapalhada”. Qual é a tua opinião?
O Brasil está sendo visto pelo povo hondurenho como exemplo de defensor da democracia e dos direitos humanos, ainda mais quando se mantém firme no não reconhecimento do governo golpista. Da mesma forma, há muita simpatia pela posição adotada pelos governos da Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Venezuela e Uruguai, que acompanharam a posição do presidente Lula e do Itamaraty. A declaração de Serra é ao mesmo tempo covarde e oportunista.
Qual o balanço que fazes da viagem?
Muito positiva. A delegação latino-americana de sindicalistas expressou o sentimento dos nossos povos e foi considerada um marco na solidariedade internacional.
E o papel da mídia?
Não dá para saber o que é pior, se quando os órgãos de imprensa silenciam ou quando publicam algo. A maioria da mídia hondurenha acaba mostrando os fatos inteiramente distorcidos, grotescamente manipulados. Isso também pudemos comprovar pessoalmente no caso dos professores, transformada pelos meios de desinformação em “agressão à polícia”. O fato é que enquanto os professores empunhavam faixas e cartazes em defesa do ensino os policiais estavam armados até os dentes, com metralhadores, armas de grosso calibre, bombas e cachorros. O enfoque da mídia era totalmente favorável ao governo e sua guarda, o que só faz aumentar a revolta da população contra esses absurdos. Os poucos órgãos que desafiam a ditadura estão ameaçados de fechamento, outros têm seus jornalistas seqüestrados e mortos de forma bárbara.
Quais os próximos passos na solidariedade?
Todos os países presentes criarão ou fortalecerão os comitês de solidariedade ao povo hondurenho, que têm cumprido um papel importante para o isolamento daquele governo espúrio. Da nossa parte, vamos convocar uma reunião já na próxima semana para ampliar as ações de solidariedade com a participação da CUT e das demais centrais sindicais, da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), com as organizações de mulheres, estudantes, intelectuais. O importante é elevar a voz contra a injustiça e o povo brasileiro tem um importante papel a cumprir.