Golpe não deu votos ao PMDB de Temer
O PT, como era previsível, perdeu nas urnas deste domingo mais da metade das prefeituras que tinha e só ganhou em uma capital, Rio Branco (AC). Mas foi o PSDB, e não o PMDB, que o removeu do Planalto com o golpe do impeachment para herdar o governo, o maior beneficiário da onda conservadora. Derrotado no chamado “triângulo eleitoral das Bermudas” (Rio, São Paulo e Belo Horizonte), o partido de Temer venceu apenas em Boa Vista (RR), com Teresa Jucá, no primeiro turno. Certamente um resultado frustrante para quem patrocinou o golpe apostando na viabilização de um projeto próprio de poder. “Derrotamos o PMDB em homenagem à democracia brasileira”, proclamou Marcelo Freixo, do PSOL, sob gritos de “Fora Temer. Ele passou ao segundo turno derrotando o peemedebista Pedro Paulo.
A rejeição ao governo Temer certamente contribuiu para o resultado frustrante do PMDB nas capitais, ainda que o partido venha a manter o maior número de prefeituras do pais, concentradas no interior. As maiores derrotas sofridas pelo partido de Temer foram impostas pelo aliado PSDB, como a de São Paulo, onde Marta Suplicy amargou um quarto lugar neste primeiro turno, em sinal de rejeição à sigla e também ao oportunismo dela, que deixou o PT quando o barco em que sempre viajou fez água, para garantir a candidatura. Em São Paulo, o governador tucano Geraldo Alckmin fez barba, cabelo e bigode, ganhando na capital e nas maiores cidades. Derrotou o PT em seus feudos mas esmagou também o PMDB de Temer.
As refregas entre os dois partidos no primeiro turno, e as disputas que terão no segundo, devem ter reflexos sobre uma aliança que vem claudicando a olhos vistos, com os tucanos cobrando resultados na agenda neoliberal prometida por Temer e até admitindo retirar o apoio ao governo. Ao mesmo tempo, a Lava Jato emite todos os sinais de que, depois dos danos impostos ao PT, agora pode voltar seu fogo contra os peemedebistas envolvidos no “petrolão”.
Afora São Paulo, o PSDB derrotou o PMDB na capital do estado do poderoso ministro Eliseu Padilha. Em Porto Alegre, o tucano Marchezan Júnior chegou na frente do peemedebista Sebastião Melo e eles vão se enfrentar no segundo turno. Em Minas, o tucano João Leite não ganhou no primeiro turno, enfraquecendo o senador Aécio Neves, mas o peemedebista Rodrigo Pacheco ficou em terceiro lugar. No Ceará do líder Eunício Oliveira o PMDB chegou ao quarto lugar. No Pará de Jáder Barbalho o mais votado em Belém foi o tucano Zenaldo Coutinho, que disputará o segundo turno com Edmilson, do PSOL. O PMDB ficou na turma da lanterna. No Maranhão de Sarney a disputa na capital, no segundo turno, será entre o pedetista Edvaldo Holanda e Eduardo Braide, do PMN. Nas Alagoas de Renan Calheiros, o tucano Rui Palmeira foi o mais votado e disputará o segundo turno com o peemedebista Cícero Almeida, que larga em desvantagem. Na Bahia de Geddel Vieira Lima a força avassaladora de ACM Neto deixou o PMDB comendo poeira. Em Goiás deu-se o contrário. O ex-governador Iris Resende, peemedebista histórico, é que chegou com larga vantagem ao segundo turno, podendo derrotar o candidato Vanderlan (PSB), apoiado pelo governador tucano Marconi Perillo. Em Porto Velho, base do senador Valdir Raupp, vice-presidente do PMDB, o mais votado foi o tucano Dr. Hildon, deixando o peemedebista Pimentel em quarto lugar. PMDB e PSDB vão se enfrentar também em Cuiabá. Mas, no frigir dos votos, afora Jucá, todos os líderes peemedebistas do golpe foram derrotados nas capitais.
A aliança entre o PMDB e PT nunca se reproduziu linearmente nos estados, tanto em eleições municipais como nas estaduais. Ela garantiu, entretanto, uma supremacia das forças de centro e de centro-esquerda que garantiu a estabilidade política ao longo dos governos petistas, ciclo interrompido a partir da eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, no início de 2015, quando começa a desestabilização do governo Dilma. O rompimento da aliança não favoreceu o PMDB nas primeiras eleições após o impeachment e resultou, pelo menos neste primeiro turno, no favorecimento da ala tucana mais conservadora e na emergência de candidatos de direita filiados a partidos pequenos e sem proeminência, num aumento também nefasto da dispersão político-partidária.
“Direita, volver”, disseram os eleitores na maioria das capitais e dos municípios. Passado o segundo turno, que deve confirmar esta inflexão, começará um novo jogo com vistas a 2018. Nas condições políticas e econômicas atuais – com a sustentabilidade do governo Temer sempre ameaçada e a economia fazendo água – é temerário afirmar que a supremacia conservadora prevalecerá também na eleição presidencial, embora seja o mais provável. Até lá, muitas águas vão rolar. Tudo dependerá muito do desempenho do governo e da economia, da Lava Jato, da relação do PSDB com o governo e da própria sobrevivência de Temer, que ainda tem sobre a cabeça a ação tucana no TSE que pede a cassação da chama Dilma-Temer.