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Postado em: 07/07/2020 - 16h19 | Redação

Fala de Bia Dória mostra total desconhecimento da realidade do morador de rua

Segundo a primeira-dama do estado de São Paulo, Bia Dória, é um equívoco doar comida e roupas para moradores de rua. Em entrevista a amiga e socialite, Val Marchior, Bia afirmou que a rua é atraente.

O vídeo da primeira-dama viralizou na internet e sua fala foi considerada criminosa.  David Oscar, orientador Sócio Educativo do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), ficou indignando e postou nas redes sociais um texto em que aponta em cinco tópicos os equívocos da primeira-dama.

De acordo com o assistente social, que está no segundo mandato no Conselho Municipal de Assistência Social de São Paulo (COMAS/SP), já existe um trabalho para tirar as pessoas da rua, mas não é assim de uma hora para outra que se consegue fazer isso. Não é uma questão de escolha, diz o profissional, que ressalta: as pessoas têm diversas demandas, estão na rua por diversos motivos e é preciso todo um processo de acolhimento, com serviços de saúde, assistência social e núcleos de convivência.

David diz ainda que na temporada de inverno o governo tem um protocolo de cuidado, especial.  “O Samu e um consultório de rua fazem a abordagem e encaminham as pessoas em situação de rua para os serviços que cada um precisa. E isso acontece só no inverno porque o governo não quer se responsabilizar por nenhuma morte”, critica.

“Ele só faz isso porque a mídia cobra e as pessoas se sensibilizam com o frio, porque todo mundo sente. Mas é bom frisar que as pessoas em situação de rua morrem o ano todo e a gente não pode somente se comover com as mortes, temos que ter medidas de proteção à vida e a população pode ajudar a cobrar”, diz David.

Por que a fala de dona Bia Doria foi criminosa

David explicou em 5 pontos porque a fala da primeira-dama foi criminosa, genocida e mostra uma total falta de solidariedade e humanidade.

Ele assina a mensagem dizendo: ” A temperatura é suportável, o que mata é a frieza de vocês”.

 Confira os cinco pontos

  1. Não existe um perfil padrão de pessoa em situação de rua, isso é uma visão carregada de preconceitos que alimentam a desinformação para toda a sociedade. Diferente do estereótipo criado, cada pessoa em situação de rua tem uma vivência e os seus diversos motivos para chegarem na atual situação. E eles são de diversas faixas etárias, etnias e até nacionalidades.
  2. Estamos enfrentando uma das piores pandemias da história, e com a chegada do inverno tudo fica mais complicado e perigoso. Sabemos que uma pessoa resfriada ou gripada tem uma queda na imunidade, o que a torna mais suscetível a contrair a Covid-19, fora os mais diversos problemas de saúde agravados pelas baixas temperaturas. Só faltou ela pedir para que a população não oferecesse também a máscara para quem está em situação de rua
  3. Nesse ponto vou focar nos números do município de São Paulo. No ano passado foi realizado o Censo Pop Rua que trouxe números muito questionáveis, mas que não vamos entrar nesse mérito agora. Usando os apontamentos subdimensionados, hoje na capital existem quase 25 mil pessoas em situação de rua, e a rede de acolhimento da cidade oferece uma média de 14 à 15 mil vagas. Qual é a mágica Bia Dória? Se amanhã todas as pessoas aceitarem acolhimento para onde irão? Talvez em suas diversas viagens internacionais você tenha adquirido um conhecimento avançado de matemática que feche essa conta.
  4. Que o governador João Doria apresente um estudo que sustente as afirmações higienistas da representante do Fundo Social, ou que a retire do cargo. Não que eu espere muito de alguém que planejou dar ração humana para as pessoas em situação de rua, que em sua gestão na prefeitura às pessoas eram acordadas com jato d’água ou que carimbou as mãos das crianças para não repetirem merenda nas escolas. Mas enquanto estiver a frente do Estado, Dória tem responsabilidades com a constituição vigente.
  5. Ao contrário do que a senhora Bia Dória tenta passar, uma boa economia não tem impacto direto no número de pessoas em situação de rua ou em uma sociedade menos desigual, muito pelo contrário. Os Estados Unidos hoje lideram a economia mundial, e mesmo assim, têm em torno de 500 mil pessoas que vivem nas ruas norte americanas. A nível de comparação, a estimativa é que no Brasil atualmente o número de pessoas em situação de rua seja de 80 à 100 mil.

Nota do movimento social

O Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) soltou uma nota sobre o caso e afirmou que o Brasil tem 221,869 pessoas em situação de rua, das quais 124.698 estão na região Sudeste. Segundo a entidade, estes números não representam todo o universo de pessoas nestas condições, mas mensura apenas a parcela que os governos conseguem enxergar.

“Sugerimos que procure se informar sobre a realidade, antes de sair dando testemunhos desumanos como o que foi postado e que não condiz com a realidade e que podem ter como consequência a ampliação do preconceito e de ações discriminatórias”, conclui o MNPR.

Nota de esclarecimento de Bia Dória e a desinformação continuada

Pelo Instagram no dia seguinte, Bia Doria publicou uma nota de esclarecimento dizendo que frase dita no vídeo foi tirada do contexto e tentou se explicar.

” O que quis dizer é que, se conseguirmos convencer as pessoas que vivem nas ruas a irem para os abrigos públicos, onde terão alimentação de qualidade dentro das normas de higiene da vigilância sanitária, traremos mais qualidade de vida para elas”, afirmou a primeira dama.

“O que ela ainda precisa explicar é como mais de 25 mil pessoas vão conseguir ficar em abrigos públicos que só cabem 15 mil?”, questiona David.