Ética pública e elogio da serenidade
O escândalo que a imprensa promove em torno de um funcionário do segundo escalão do governo federal é compreensível: era um funcionário com tarefas do governo no Poder Legislativo; era funcionário de um governo que tem, no seu centro hegemônico, um partido que busca se caracterizar como modelar do ponto de vista da ética pública; na oposição, esse partido sempre foi rigoroso com as condutas ilícitas.
O que aconteceu com o ministro José Dirceu pode acontecer a qualquer um de nós: ter alguém ao nosso lado, que comete violações éticas graves, traindo a nossa confiança. O ministro Dirceu sairá isentado desse processo porque pode ter cometido erros ao longo da sua vida, mas é um homem honesto, comprometido com a verdade e com a dignidade da função pública.
O acontecimento é desgastante para o nosso governo, mas isso é plenamente reversível, a partir de medidas concretas que estamos tomando – investigações e sindicâncias doa a quem doer, como disse o presidente Lula.
Professar alguma ideologia, defender os interesses concretos e históricos dos oprimidos por si só não dá superioridade ético-política a ninguém. O que dá superioridade ético-política a um partido no poder é ter mecanismos internos de repressão e punição a esse tipo de prática. É saber processar as experiências negativas visando a reformulação permanente da cultura partidária de governo, que o poder estimula a se tornar conservadora.
Não tem nenhuma sustentação a idéia de que esse acontecimento acaba com as ilusões a respeito do PT.
O PT sairá dessa crise forte, coeso, realista sobre si mesmo, mais comprometido com a ética na política do que antes. Vejamos se a arrogância de boa parte dos nossos acusadores, que até ontem governavam, cede lugar também à serenidade em defesa do Brasil.
Tarso Genro é ministro da Educação.
(o texto na íntegra está na página do PT – www.pt.org.br)
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da diretoria do Sindicato.