Brasil perde 5,5 mil fábricas em 2020
Na última semana a Ford anunciou sua saída do país que deve gerar o fim de 5 mil empregos diretos. Mas a saída da montadora não é um caso isolado. Nos últimos cinco anos (2015 a 2020), quase 17 estabelecimentos industriais fecharam definitivamente suas portas por dia, segundo um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) feito com exclusividade para o Estadão/Broadcast.
O presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, explica que as empresas, ao planejar onde irão produzir e se instalar, levam em consideração o crescimento do setor e a política industrial adotada no país. “Além da crise econômica, que começou antes mesmo da pandemia, estamos no meio de uma revolução industrial com novos elementos da tecnologia. O mundo todo está discutindo estas mudanças e o Brasil nem começou. A pauta dos trabalhadores da indústria no Brasil é que o governo comece a discutir uma política industrial com tecnologia e emprego e que envolva os trabalhadores no debate, não só os empresários”, diz Aroaldo.
Para ele, o país precisa de uma política industrial que envolva crédito, pesquisa, desenvolvimento, inovação, tecnologia, reconversão industrial e a nacionalização de componentes (peças e máquinas), uma vez que atualmente o país importa muito.
Fim do incentivo
Desde 2012, o país contava com uma política industrial chamada “Inovar- Auto”, que incentivava as empresas a produzirem e gerarem empregos no Brasil. Criado por Dilma Roussef (PT), o Inovar-Auto, conseguiu fazer a frota brasileira aumentar sua eficiência em 15,4%, acima da meta de 12%, segundo dados Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).
Pelo Inovar Auto foi possível também impulsionar a nacionalização da produção. Ao todo foram oito fábricas inauguradas, ao custo de aproximadamente R$ 14 bilhões: Chery em Jacareí (SP); FCA em Goiana (PE); Nissan em Resende (RJ); BMW em Araquari (SC); Jaguar Land Rover em Itatiaia (RJ); Hyundai-Caoa em Anápolis (GO); Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) e Audi em São José dos Pinhais (PR)
A partir de 2016 começou o desmantelamento desta política e seu fim foi decretado em dezembro de 2017 pelo presidente Michel Temer. Desde 2018, o país está órfão de uma política industrial que dê conta das diversas frentes que necessita o setor automobilístico.
O fechamento da Ford no Brasil também aqueceu as discussões entre empresários e economistas neoliberais sobre uma reforma tributária. Mas o movimento sindical luta para que a discussão da reforma seja tripartite – envolvendo os representantes dos trabalhadores, do governo e dos empresários. “Se essa discussão ficar nas mãos dos empresários vai persistir a lógica de onerar a vida do trabalhador e desonerar os ricos, persistindo assim todos os problemas”, enfatiza Aroaldo.