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Postado em: 24/06/2009 - 14h47 | Redação

AkzoNobel paga indenização por assédio moral

A empresa AkzoNobel pagou indenização por assédio moral para um trabalhador demitido em 2008. O caso mobilizou nosso Departamento Jurídico e de Saúde quando o funcionário de 27 anos de idade apresentou sérios problemas de saúde causados pela perseguição e assédio. Depois de muitas tentativas de humilhação, a empresa demitiu o funcionário, mesmo sabendo que esse tinha estabilidade. Em junho de 2009, a empresa concordou em pagar indenização por assédio moral, além das verbas rescisórias.
 

O diretor do Sindicato, Ronaldo Rodrigues, acompanhou o trabalhador e destaca: “A atuação do Departamento Jurídico possibilitou o acordo no processo e o Departamento de Saúde consolidou os diagnósticos de assédio moral contra o trabalhador. Esse é um caso que fica como referência para nós. Tanto a AkzoNobel, quanto qualquer outra empresa vai pensar muitas vezes antes de assediar o trabalhador. Mexemos onde o empresário mais se preocupa: no cofre da empresa”, comemora o resultado do trabalho Ronaldo.

 

Entenda melhor o caso com a entrevista concedida pelo trabalhador que recebeu a indenização, por motivo de preservação de imagem chamaremos de trabalhador.

 EntrevistaTRABALHADOR, 27 anos, filho de migrantes cearenses, nasceu em Carapicuíba, município dormitório da Grande São Paulo. Em 2004 foi chamado a fazer os testes e foi aprovado para trabalhar na empresa AkzoNobel, unidade Raposo Tavares.  Como foi a sua entrada na AkzoNobel?

TRABALHADOR: Um amigo deixou meu currículo no Departamento Pessoal da empresa em 2004, fui chamado para fazer os testes e passei. Comecei a trabalhar em 21 de outubro do mesmo ano. No começo achei que ia ser uma maravilha, por conta dos benefícios que a empresa oferece aos funcionários, plano de carreira, o código de conduta. Mas com o passar do tempo fui percebendo que não seria essa maravilha toda.

 Como era o seu relacionamento em outros trabalhos e na AkzoNobel?

TRABALHADOR: Sempre fui bem tratado pelos chefes e encarregados, o relacionamento com os meus colegas de trabalho foi sempre excelente. Mas na AkzoNobel o relacionamento com a chefia foi complicado. Os chefes na AkzoNobel não têm nenhuma preocupação com a saúde dos trabalhadores, tratam mal os funcionários, não se preocupam nem com as condições de trabalho. Sem contar a discriminação sexual, com insinuações injustas, além dos fumantes.

 Como você se comportava no trabalho?

TRABALHADOR: Sou extrovertido e brincalhão, logo fiz amizade com todos os colegas. Isso causou ciúmes da chefia, que nem sempre gosta que os funcionários sejam amigos, pois elimina o clima de competição e rivalidade entre os trabalhadores. Quanto mais os subordinados são desunidos, mais fácil fica a dominação dos chefes.

 Como você atuou profissionalmente?

TRABALHADOR: Aprendi logo o serviço! Domino bem as técnicas tanto para fazer tintas látex, quanto tinta a óleo e removedores. Isso também foi mais um item na lista do chefe: não gostar que o funcionário saiba mais do que ele.

 Você reagiu a esses abusos da chefia?

TRABALHADOR: Sim. Com um ano e meio de trabalho fui eleito pelos colegas para compor a equipe da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Confiaram em mim porque nas conversas com os amigos eu dizia que queria ser eleito para mudar a forma de atuar do cipeiro. Não concordava com a atuação da CIPA, que não contribuía na fiscalização das condições de trabalho e na prevenção de acidentes.

 Qual foi a reação da empresa quando você intensificou a fiscalização?

TRABALHADOR: No início, os chefes tentaram me coagir para não fiscalizar as condições de trabalho. A partir daí intensificaram as perseguições, me colocaram em locais de trabalho isolado dos demais colegas. Chegaram até a aconselhar funcionários novos para não conversarem comigo.

 Você era perigoso assim?

TRABALHADOR: Quando entrava funcionário novo eu gostava de ensinar o trabalho. Certa vez, o chefe disse a um funcionário novo que não ficasse perto de mim, porque eu não era boa companhia. O colega me contou, aí fui tirar satisfação e perguntei, se por acaso eu tinha alguma doença contagiosa ou era bicho para que ele pedisse ao colega para não conversar comigo. 

 O que mais faziam para te assediar moralmente?

TRABALHADOR: Uma vez me mandaram lavar sozinho os tanques onde se faziam as tintas, eram mais de 50 tanques, normalmente quando eram muitos tanques se fazia em duas pessoas. Uma lavava em cima e a outra, embaixo. Quando desci e fui tirar o tambor de solvente embaixo, machuquei o braço. Fui ao ambulatório onde me medicaram. Quando voltei, parei de lavar os tanques e o chefe me chamou atenção. Eu disse que estava machucado e, por isso, não tinha condição de continuar o trabalho. Iniciamos uma discussão que terminou na gerência, o resultado foi a minha primeira advertência. Ninguém quis saber que eu estava machucado.

 Como você se sentia com essa perseguição?

TRABALHADOR: Comecei a ficar estressado. Estava isolado e, por isso, acabei afastado do trabalho, posteriormente fui internado numa clínica psiquiátrica. Fiquei afastado pouco mais de 18 meses e recebi alta no final de outubro de 2008. No dia 27, do mesmo mês, fui demitido. Embora eu tenha estabilidade por ser cipeiro e por estar em tratamento psicológico.

 Como foi a espera?

TRABALHADOR: O Sindicato me ajudou, inclusive com remédios. Ainda estou em tratamento psiquiátrico e consegui justiça com o reconhecimento do assédio. No julgamento, houve a extensão do convênio médico por mais 6 meses, importante para mim que estou em recuperação, além da indenização. O Ronaldo Rodrigues (diretor do Sindicato) tem me acompanhado e o Departamento Jurídico foi importante para que se fizesse justiça.