SINDICATO NO WHATSAPP

Notícias

Voltar
Postado em: 02/10/2008 - 15h46 |

A morte da OEA

A histórica reunião da recém-criada Unasul (União das Nações Sul-Americanas) em Santiago do Chile para se solidarizar com o governo legítimo de Evo Morales, na Bolívia e condenar qualquer movimento de secessão no país andino, decretou o fim simbólico da OEA (Organização dos Estados Americanos) e sua permanente manipulação pelos Estados Unidos.

Os nove presidentes sul-americanos reunidos no Palácio de La Moneda, onde o ex-presidente Salvador Allende deu a vida para defender o país contra um golpe financiado pelos EUA, tomaram para si a responsabilidade sobre o destino de um país da região sem se subordinar aos interesses norte-americanos.

Independentemente de matiz ideológica, todos os presidentes sul-americanos foram unânimes em defender a legalidade na Bolívia e dar um chega pra lá nas intenções golpistas da radical classe dominante boliviana, inconformada com a ascensão de um índio ao poder e com as mudanças que vem implementando.

Os Estados Unidos ficaram isolados nesse processo, com um pensamento diametralmente oposto e com suas velhas e conhecidas práticas intervencionistas. O golpe civil que se armava na Bolívia assemelhava-se muito ao que ocorreu no Chile, em 1973, o que tornou o encontro no La Moneda ainda mais apropriado. A mensagem da Unasul foi de que o continente não toleraria mais novos Chiles, com golpes de Estado fomentados artificialmente a partir de interesses externos.

A mão do império foi vislumbrada imediatamente pelo presidente Evo Morales, que expulsou do país o embaixador norte-americano Philip Goldberg, enviado a La Paz em 2006 aparentemente com a missão de desestabilizar o governo boliviano.

Goldberg, com livre trânsito entre os governadores da meia lua, tinha experiência no assunto. Estivera na Bósnia e no Kosovo participando ativamente dos processos separatistas nessas regiões.

A solidariedade da Unasul representou uma guinada em relação à trajetória lamentável da OEA, marcada para sempre por decisões orientadas pelos EUA, como a aprovação do bloqueio a Cuba, em 1962, e a intervenção na República Dominicana, em 1965.

A pronta reação dos países sul-americanos em torno de sua nova entidade foi um atestado de soberania e uma virada de página na relação entre vizinhos sempre afastados por interesses alheios.

Texto publicado dia 17/09/2008, na página: www.diretodaredacao.com
Mair Pena Neto é jornalista, trabalhou na Globo, no Jornal do Brasil, na Agência Estado, foi editor de política do Jornal do Brasil e repórter especial de economia, atualmente trabalha na agência Reuters.