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Postado em: 02/10/2008 - 15h48 |

Nota da CUT/SP sobre a crise financeira recente

Nos últimos meses, e mais constantemente a partir da última semana, todos os brasileiros estão sendo informados por meio de jornais e noticiários de televisão sobre as conseqüências da chamada “Crise Hipotecária” americana, que teve na falência de alguns dos maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos e no aumento da instabilidade nos mercados financeiros do mundo seus principais desdobramentos. 

O Brasil, que tem seu sistema financeiro ligado ao mercado mundial, não deverá passar incólume a este cenário. Apesar de ter seu mercado de capitais considerado “atraente” aos investidores externos até então, mesmo com o país elevado ao chamado “Grau de Investimento” (ou Investment Grade) e da aclamada “confiança” nos fundamentos macroeconômicos do Brasil, tantas vezes citadas pelos investidores, tem ocorrido a saída desses mesmos investidores do país. 

Necessário salientar que esta crise é reflexo direto da completa falta de regulação do sistema financeiro mundial. E que somente o fato de o futuro da economia mundial estar nas mãos do governo americano e de seus congressistas, além da provável intervenção dos governos europeus em seu sistema financeiro, exemplifica bem o fato de que se o sistema for deixado “livre” e sem regulação (como defendem vários economistas alinhados ao consenso neoliberal), as crises serão cada vez mais constantes e de maior gravidade, restando a intervenção governamental para “salvar” o sistema do colapso e assim impedindo desdobramentos ainda mais graves na economia mundial. O dito atual dilema entre “liberalismo X intervencionismo” pode ser considerado falso, porque a intervenção governamental, nestes casos, é inclusive estimulada pelos “liberais”, para a sua própria sobrevivência e do sistema como um todo. 

Dito isso, até agora não se presume diretamente a significativa importância do assunto para o cidadão brasileiro comum, já que como a grande maioria não possui investimentos em ações e aplicações financeiras ditas “sofisticadas”, estes não estariam sujeitos a sofrer a conseqüência destas instabilidades. Mas isto não é verdade, infelizmente. 

Primeiramente, devido à saída dos aplicadores estrangeiros do país (devido ao grande temor de agravamento da crise mundial), o país tem sofrido desvalorização de sua taxa de câmbio (ou seja, com o dólar passando a custar mais em reais). Se por um lado este processo possibilita um aumento das exportações, por outro, e isto é o mais preocupante, como a economia mundial pode ingressar num período de recessão, este efeito aparentemente “benéfico” no comércio exterior devido à desvalorização da taxa de câmbio pode ser anulado pela diminuição de preços e quantidades de produtos exportadas pelo Brasil (em especial as chamadas commodities). Além disso, essa desvalorização do Real, processo que tem sido acentuado num curto espaço de tempo, pode gerar pressões inflacionárias; porém isto é uma possibilidade, que deve ser analisada com muita cautela, para evitar erros e decisões precipitadas de condução da política monetária. 

Em relação ao crédito, um dos pilares do crescimento econômico brasileiro recente, pode haver algum contratempo, já que vários bancos brasileiros emprestavam dinheiro fora do país. Numa perspectiva de diminuição desses recursos frente ao agravamento da crise, haverá redução do volume disponível para este tipo de operação, resultando em possível diminuição do volume de crédito interno e conseqüente aumento nas taxas de juros de empréstimos por parte de empresas e do cidadão comum. 

Porém, diferentemente de outras situações, desta vez o país (pelo menos em relação às reservas internacionais e devido ao seu volume de comércio), está muito mais preparado para enfrentar crises internacionais. A situação das reservas em dólares indica um grau de manobra do país nas contas externas, não havendo a urgência de um aumento de juros para atração “a qualquer preço” de recursos externos, como foi usual em outros períodos de crises recentes. Por outro lado, o governo deve estar atento também ao mercado de capitais do Brasil, em especial ao fluxo de recursos externos, extremamente volátil. 

A alta dos juros, com a suposta justificativa ajuste nas contas externas, de defesa da taxa de câmbio e/ou de impedir o crescimento da inflação, provavelmente teria como conseqüência prática diminuição do crescimento econômico, aumento do desemprego e diminuição de salários, além do aumento da inadimplência dos consumidores. 

Apesar de não serem os brasileiros a comprarem casas nos Estados Unidos, e muito menos investirem nos bancos falidos, por outro lado, se o Banco Central brasileiro adotar posições extremamente ortodoxas em termos de política monetária, os cidadãos podem sentir da forma mais dura possível os efeitos deste período de instabilidade mundial. Esta crise financeira não teve novidade em relação às suas características. O que mudou foi a situação das contas externas brasileiras. E portanto, se o país está diferente, sua atuação neste contexto também deve ser diferente. 

Edílson de Paula, presidente da CUT/SP