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Postado em: 29/10/2008 - 10h58 |

Eleição aponta reaglutinação do conservadorismo sob Serra

O processo eleitoral de 2008 terminou com uma clara reaglutinação do conservadorismo sob as asas do tucano José Serra.

Redação – Agência Carta Maior

1. O processo eleitoral de 2008 terminou com uma clara reaglutinação do conservadorismo brasileiro sob as asas do tucano José Serra.

2. A disputa presidencial de 2010, que estava latente, agora invade o tabuleiro da política brasileira com uma clivagem de forças cada vez mais definida e agressiva. A velocidade dessa reaglutinação que antecipa a luta pelo poder será vitaminada pelo desenrolar da crise mundial nos próximos meses.

3. O agravamento do quadro internacional, seus desdobramento inevitáveis no país, apressará a identificação, no plano econômico, da clivagem de projetos que assume visibilidade incontestável no plano político. Estreitou, portanto, a arena dentro da qual o governo Lula conduzia sua liderança (e seu projeto econômico) de maneira quase incontestável, tanto no âmbito da sociedade quanto no manejo do leque parlamentar.

4. O conservadorismo nativo, que sempre bajulou José Serra, mas tinha dúvidas sobre sua liderança no tucanato – contigenciada desde sempre por Fernando Henrique Cardoso, que se torna figura crepuscular no partido com a derrota de Alckmin e a vitória de Kassab em SP – tentará agora fazer da crise seu cabo eleitoral para extrair daí um projeto “mudancista” para 2010.

5. Empalmar o cetro da “mudança” não será tarefa fácil. A frente PSDB-DEM (PFL) desde sempre se posicionou como o patrono nativo e o ventríloco ideológico mais aguerrido da ressurreição do laissez-faire com o correspondente rebaixamento da dimensão pública em todas as esferas da vida econômica e social. Foi esse binômio que implodiu agora levando o sistema capitalista mundial a uma crise só equiparável a de 29 – ou pior, como diz o economista François Chesnais em palestra recente transcrita por Carta Maior.

6. O governo Lula que tem procurado conduzir o enfrentamento da crise sem evidenciar a disputa política que ela encerra, dificilmente manterá sua hegemonia no processo se não incorporar ao seu arsenal a derrota – e as conseqüências incontornáveis – do colapso da plataforma que até aqui selou o matrimônio tucano/demos.

7. A omissão do governo apenas facilitará a reanimação conservadora, que enfrentará por seu lado o mais duro teste de qualquer força política: realizar uma baldeação ideológica para se livrar, ao menos epidermicamente, da ruína que o seu ideário político e econômico está produzindo e continuará a produzir no planeta nos próximos anos. Igual adversidade enfrentará a nova liderança da coalizão, o governador José Serra. Supostamente uma dissidência desenvolvimentista dentro do PSDB, Serra terá que exercitar inimagináveis malabarismos para encontrar o ponto de amálgama entre a sua propalada visão econômica e os interesses da base financistas, ruralista e de endinheirados da classe média vocalizados pelo bunker de direita que agora perfila ao seu lado.

8. O cenário da semana que se inicia será desde já marcado pela movimentação submersa dessas variáveis. Com base nelas o governo terá que desenvolver uma estratégia para:

a) destravar o crédito que continua paralisado;

b) forçar um acordo entre bancos e empresas que permita repartir prejuízos de até US$ 40 bi em operações especulativas com o dólar futuro;

c) estabilizar a taxa de câmbio, fator crucial para o cálculo econômico;

d) evitar nova alta dos juros no COPOM;

e) criar um consenso de forças políticas amplas (partidos, movimentos sociais e sindicatos) sobre a expansão do investimento público para evitar a recessão. Se fracassar nesses desafios uma safra de ações jurídicas, – com insolvências de bancos e empresas – afetará a vida econômica e antecipará o debate presidencial de 2010.