Sem-teto acampados na prefeitura de SP negociam com Ministério das Cidades
Uma esperança de negociação para as famílias acampadas em frente à prefeitura de São Paulo surgiu na terça-feira (27), durante reunião entre movimentos de moradia e a Secretária Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães. A representante do ministério comprometeu-se a dialogar com os órgãos habitacionais do município e do estado para encontrar uma solução para as 840 famílias desalojadas do terreno Alto Alegre.
De acordo com Maria do Planalto, da coordenação do Movimento Terra da Nossa Gente, o encontro também serviu para denunciar “o descaso com os direitos humanos em São Paulo”. “Falta boa vontade do prefeito”, cita a ativista.
Durante a única reunião entre representantes dos sem-teto e a Secretaria Municipal de Habitação, na segunda (26), a prefeitura teria proposto, informa Maria, a concessão de auxílio emergencial por três meses para 30 famílias que passarão por triagem no início de maio. “Só vão fazer parte da triagem idosos, deficientes e mães solteiras com mais de cinco filhos”, anuncia.
Para a representante dos sem-teto, é inviável aceitar auxílio por três meses e “voltar a conversar depois”, porque em julho cessa a bolsa-aluguel de R$ 300 e tem início o recesso eleitoral. “Sabemos como funciona com a prefeitura. Depois a gente volta a conversar significa que vão nos esquecer”, condena.
“Estamos dispostos a passar mês ou ano aqui”, dispara. “Ou atende todo mundo ou ficamos aqui”, afirma a militante.
Novo lugar
Apesar de reivindicarem a desapropriação do terreno Alto Alegre, a possibilidade de aceitar outro local para moradia também é bem vista pelas pessoas acampadas. “Desde que a prefeitura coloque tudo no papel”, avisa Maria do Planalto.
Sobre a proposta da prefeitura de marcar reunião com outros órgãos se os sem-teto encerrarem o acampamento, a ativista assinala: “O que não aceitamos são propostas de sair daqui para conseguir reuniões”.
Proibição
Desde a tarde de terça os manifestantes dizem que estão proibidos pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo de transitar em frente à prefeitura. Uma fita amarela separa os sem-teto da calçada que dá acesso à entrada da prefeitura. “Estamos no filme da ‘bolha’, todo mundo olha como se fôssemos uma coisa”, ressente-se.
Para outro acampado, é uma questão de “ditadura em tempos de democracia”. Vez por outra, crianças do acampamento correm para fora da fita, mas são chamadas de volta para manter a ordem. “Estamos aqui em paz, apenas defendendo nossos direitos”, garante a coordenadora do acampamento.
Na noite de terça para quarta-feira, Maria cita que 700 pessoas dormiram no viaduto do Chá, apesar do frio que chegou no final da tarde. Doações de alimentos mantêm as pessoas com refeições diárias. “Recebemos bastante frutas, então as crianças estão bem cuidadas”, comenta.
O garçom Reginaldo é um dos militantes do movimento por moradia que sai cedo para trabalhar e retorna à noite para apoiar os sem-teto. “Saio 4h30 da madrugada e volto às 4 da tarde ‘pra’ lutar pela nossa moradia”, diz. Ele fazia parte da ocupação Alto Alegre, quando os moradores foram desalojados e conseguiu alugar uma casa para a família. Mas para manter o aluguel de R$ 350, ele calcula que utiliza 50% da renda da família “Temos de lutar mesmo. Vai muito dinheiro para o aluguel, como fica o resto?”, alerta.
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