Biblioteca do DF é referência internacional na inclusão de deficientes visuais
Quando perdeu a visão, o aposentado Francisco de Paula, 62 anos, passava a maior parte do tempo em casa, deprimido. Agora, faz aulas de informática, inglês, fotografia, dança e reciclagem de leitura em braille. As atividades que ele desenvolve agora, de segunda a sexta-feira, o fizeram “ressurgir e descobrir uma nova vida”. Elas ocorrem na Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga, no Distrito Federal.
“Isso preenche meus dias e me sinto feliz com a companhia das pessoas que têm a mesma deficiência que eu, dos professores e dos voluntários”, conta. Um de seus colegas é o aposentado Napoleão Queiroz, 51 anos, que participa da dançaterapia e das aulas de informática. “Estou aprendendo coisas que pensava que não seria capaz de fazer”, diz.
A Biblioteca Dorina Nowill atende todo mês, em média, 80 deficientes visuais como Francisco e Napoleão. Além dos adultos, que buscam o resgate da autoestima, há jovens que frequentam o ensino regular e fazem aulas de reforço. Os voluntários leem textos e exercícios das apostilas escolares, impressas em tinta, e tiram dúvidas do conteúdo. “É bom saber que posso ajudar e me sentir útil”, afirma a voluntária Valéria Freitas, 24 anos, estudante, que dá aulas de reforço de inglês e biologia.
A biblioteca também promove a ressocialização de seus frequentadores. “Idosos que ficaram cegos e deprimidos em casa se sentem inseridos novamente na sociedade. Juntos, eles se sentem iguais”, afirma a professora e funcionária da instituição Maria Ildérica. “Há uma preparação para o mundo lá fora. Muitos se sentem estimulados a voltar a estudar ou trabalhar. Ninguém segura o deficiente quando ele sente esse gostinho de voltar à vida”, completa a fundadora da biblioteca, Dinorá Couto Cançado.
Outra atividade é a alfabetização em braille. A biblioteca empresta aproximadamente 2 mil obras literárias e didáticas em braille. Há também livros impressos em tinta, que podem ser gravados em áudio por voluntários ou apresentados em rodas de leitura. Segundo Dinorá, a biblioteca tornou-se referência nacional e mundial pelo seu trabalho literário e social. Com frequência, ela é convidada para participar de congressos, seminário e cursos em vários países.
Amanhã (20), às 20h, ela estará no estande do Plano Nacional do Livro e Leitura, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, para debater o projeto Luz e Autor em Braille. Dinorá vai contar como foram os encontros de autores com deficientes visuais na biblioteca durante cinco anos, de 1995 a 2000. O projeto consistia em permitir uma conversa entre autores e leitores para, a partir daí, os deficientes visuais escreverem um texto inspirado no escritor. O texto podia ser uma crônica, poesia ou até música. As produções foram reunidas na coletânea Revelando Autores em Braille, publicada em 2001.
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