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Postado em: 30/08/2010 - 16h10 | Rede Brasil Atual

Analfabetismo funcional chega aos bancos universitários, afirmam professores

Deficiências na educação básica levam estudantes com problemas de alfabetização ao ensino superior. Professores ouvidos pela Rede Brasil Atual sustentam que alguns alunos da rede pública estadual paulista ingressam em universidades podendo ser classificados como analfabetos funcionais.

O professor universitário Anselmo Büttner, à beira de completar 40 anos de docência e autor de livros na área de administração e marketing, traça um cenário preocupante. “Eles (estudantes) não sabem escrever mesmo”, responde com ar grave. “É simples ver isto, eu peço sempre: ‘façam uma dissertação’. E se você ler o que vem escrito é… lamentável”, detalha.
 
Outro professor universitário, há nove anos nas salas de aula de ensino superior e executivo de uma empresa de gestão de recursos humanos, vai mais longe. O docente, que pediu para não ser identificado, calcula que 30% dos alunos de suas turmas na universidade podem ser classificados como analfabetos funcionais. “Para eles (alunos) não existe mais acentuação, nem pontuação. Cerca de 30% dos alunos até lê mas não compreende. Eles não sabem estruturar ideias, nem se expressar”, afirma.
 
Para ele, com esse quadro há poucas possibilidades de formar profissionais qualificados. “Sem a capacidade de compreender e se expressar, o profissional vira só um ‘papagaio'”, avalia. “Com o sistema de progressão continuada e a vontade do governo (do estado de São Paulo) de ter estatísticas positivas sobre alunos formados, os jovens chegam à universidade com enorme deficiência (de alfabetização)”, delata.
 
Como ex-professor da rede pública estadual, Eduardo (nome completo em sigilo, a pedido do entrevistado) considera contraditória a orientação educacional do estado de São Paulo, que encampou a metodologia da progressão automática, sem a contrapartida em capacitação de professores e infraestrutura. “O mercado exige cada vez mais e as escolas oferecem cada vez menos”, detecta.
 
Dribles
 
No caso do professor Büttner, a saída foi criar metodologias específicas. “Eu levo figuras e desenho no quadro o que é almoxarifado, por exemplo, para eles compreenderem”, relata. “Eles não conseguem juntar as informações, não conseguem montar uma sequência, não têm base de gramática e ortografia, mas não é só. Há limitações também na capacidade de raciocínio lógico e matemático”, alerta.
 
Rosana Almeida, professora de sociologia do ensino médio da rede pública estadual paulista, pondera que o jovem com deficiências na leitura e escrita vai enfrentar sérios problemas no mercado de trabalho, não importa a área em que decida atuar.
 
“O aluno de direito, para fazer uma peça, tem de escrever”, cita. “Por isso, em algumas faculdades é obrigatório o ensino de Língua Portuguesa em todos os cursos. Já sabem que os jovens chegam sem saber escrever”, informa.
 
Büttner também é crítico em relação aos colegas professores. Apesar da gravidade da questão, ele insiste que os educadores devem se adequar às necessidades educacionais dos alunos, com estratégias que os auxiliem a compreender o conteúdo. “O problema existe e é grave com alunos da escola pública, mas eu tento levar o conhecimento ao patamar dos alunos”.