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Postado em: 18/06/2013 - 10h30 | Rede Brasil Atual

Sem PM, multidões protestam pacificamente e ganham ruas de São Paulo

São Paulo – Com reduzidíssima presença de apenas seis policiais militares, segundo os coordenadores do Movimento Passe Livre (MPL), mais de 100 mil pessoas fizeram ontem (17) em São Paulo uma das maiores manifestações populares das últimas décadas. E tudo pacificamente. A quinta marcha consecutiva contra o reajuste da tarifa do transporte público na capital começou no Largo da Batata, na zona oeste, e tomou várias avenidas da cidade, incluindo a Marginal do Rio Pinheiros e a Ponte Estaiada.

Os protestos inicialmente cobravam apenas que o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) recuassem na decisão de reajustar os preços da passagem de ônibus, trem e metrô, que no último 2 de junho passaram de R$ 3 para R$ 3,20. Hoje, porém, o ato ganhou um caráter maior: sem abdicar do motivo que lhe deu origem, a mobilização multiplicou suas pautas conforme recebeu a adesão de paulistanos de diferentes classes sociais e posições políticas.
“Nos preocupa difundir a nossa pauta com qualidade. E nossa pauta é o transporte público, é a tarifa. Mas, com tantas pessoas, às vezes isso fica difícil”, afirma o estudante Matheus Preis, 19 anos, um dos porta-vozes do Movimento Passe Livre (MPL), que convocou o protesto. “Mas esse também é um jeito de passar a pauta para mais gente.” Preis esteve lado a lado com o major Wilhelm, negociador da PM, para informar a autoridade sobre os trajetos. “Nunca a relação com a polícia esteve tão boa”, avaliou.
Sem PM, sem violência

“Que coincidência. Não tem polícia, não teve violência”, celebraram os manifestantes com um grito que conseguiu resumir o espírito da jornada. A ação policial da última quinta-feira (13) deixou centenas de feridos e 232 presos, e suscitou críticas grupos de defesa dos direitos humanos. Hoje, o governo estadual decidiu deixar os policiais longe dos manifestantes, que puderam se deslocar livremente pela capital.

Os pouquíssimos PMs que puderam ser vistos durante a passeata não estavam armados com equipamento antidistúrbio, e se limitaram a impedir o trânsito para que a coluna de manifestantes pudesse avançar sem maiores problemas. O resultado foi uma manifestação multitudinária na qual o grande destaque foi o pacifismo: ao contrário do que sugeriam as autoridades estadual e municipal desde o início da mobilização, dia 6, os manifestantes avançaram por dezenas de quilômetros sem violência.
A marcha saiu do Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste da cidade, ai cair da noite. Por volta das 18h, os manifestantes chegaram ao cruzamento das avenidas Faria Lima e Rebouças, onde então se dividiram em duas: uma parte seguiu pela Faria Lima, rumo à Avenida Berrini, e a outra, tomou a direção da Rebouças, com destino à Marginal do Rio Pinheiros. Algumas horas mais tarde, ambas voltariam a se encontrar na Ponte Estaiada – megaobra sobre o Rio Pinheiros inaugurada pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) em 2008. Normalmente, a circulação sobre a ponte é vetada a pedestres e ônibus. Um terceiro grupo ainda partiu para a Avenida Paulista, tradicional ponto de concentração de protestos, e de lá chegou à Avenida 23 de maio, importante via de ligação do centro com outras regiões da cidade.
Hesitação
Uma vez na Ponte Estaiada, houve indecisão: os manifestantes permaneceram longos minutos sem saber para onde ir. Então os organizadores do protesto, encabeçados pelo Movimento Passe Livre (MPL), decidiram marchar para o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado. Outra coluna, puxada por partidos políticos de esquerda e organizações estudantis, preferiram rumar para a Avenida Paulista, vencendo a pé um trajeto de aproximadamente 20 km, que passou pelas avenidas Jornalista Roberto Marinho, Santo Amaro e Brigadeiro Luis Antônio até terminar, por volta das 23h50, no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp). A esta altura, a Avenida Paulista estava completamente tomada por manifestantes, que circulavam sem ser incomodados pela PM.
A primeira leva de manifestantes que foi à sede do governo paulista chegou ao Portão 2 do palácio, na Avenida Morumbi, por volta das 21h30. Quarenta minutos depois, outro grande grupo chegou por lá. Apesar do desgaste depois da longa caminhada, e sem orientação dos coordenadores do ato, alguns manifestantes começaram a chutar um dos portões de entrada. Alguns minutos depois, a grade de aço veio abaixo. Em seguida, as primeiras bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas de dentro dos muros do Palácio em direção à massa que se aglomerava do lado de fora. Os manifestantes não chegaram a entrar. Assim que as bombas caíram houve dispersão. Toda a ação foi filmada por policiais.
Segundo Matheus Preis, do MPL, a marcha até o Palácio não havia sido planejada. Depois da ação, muitos manifestantes criticavam a escolha do local. Além de ser distante e não ter oferta de transporte público, não havia um plano concreto de ocupação. “A gente ia entrar e fazer o quê só com a roupa do corpo?”, questionava, em meio a uma avaliação informal, um estudante do curso de Ciências Sociais da USP que não quis se identificar.
“Foi muito simbólico. Além da quantidade de gente em todos os atos, foi muito importante ter vindo em direção ao Palácio, uma ação em relação ao governador Geraldo Alckmin”, avaliou Arthur Sales, estudante de 20 anos.