CPI da Covid já mostra que governo e família Bolsonaro têm muito a temer
A CPI da Covid chega ao fim de seu segundo dia com a conclusão das oitivas de dois ex-ministros da Saúde do governo Jair Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Foram expostas irresponsabilidades do Planalto na condução da crise. Entre os pontos de destaque, o descaso com o vírus e o desrespeito à ciência. A postura de desdém com a saúde pública documentada na CPI coloca o presidente contra a parede. Enquanto isso, nas redes sociais, é ampla a repercussão dos depoimentos.
O escritor Marcelo Rubens Paiva resumiu as estratégias dos parlamentares durante esses dois dias. “Governistas defendem o uso da cloroquina, citam muitos especialistas, como grupo do zap (WhatsApp) do prédio. Oposição fixa o alvo na tese de imunidade de rebanho.” De fato, os senadores de base bolsonarista apelaram para uma defesa política de um medicamento comprovadamente ineficaz. Mesmo contrariados pela ciência, conforme apontaram os depoentes, eles prosseguem no mesmo ponto.
Negacionismo
A postura negacionista do governo Bolsonaro diante da covid-19 também ficou expressa por quem dá as ordens sobre políticas de saúde em seu governo. Mandetta e Teich apontaram que eram ignorados ao apontar dados científicos, como estudos que provam ineficácia e perigos de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Mandetta chegou a expor que o presidente mantinha uma espécie de conselho paralelo sobre assuntos da pandemia. Ao invés de ouvir cientistas e o próprio ministério, ouvia seus filhos, que chegaram a participar de reuniões deliberativas.
“Não eram Darwin, Pasteur, Sabin, Oswaldo Cruz por trás das reuniões do governo durante a pandemia, mas Carlos, Eduardo Bolsonaro e o Gabinete do Ódio. Deu no que deu”, resume, novamente, Rubens Paiva.
Palavra dos cientistas
A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel também expôs indignação sobre os fatos levados à luz pela CPI. Ela traça um histórico dos quatro ministros que já ocuparam a pasta durante a maior crise sanitária da história do Brasil, durante o governo Bolsonaro. “Mandetta: saiu porque não tinha autonomia e por causa de tratamento sem eficácia. Teich: saiu porque não tinha autonomia e por causa de tratamento sem eficácia. (Eduardo) Pazuello: aceitou a condição de não ter autonomia e instituiu o tratamento sem eficácia e saiu por causa da CPI. (Marcelo) Queiroga: entrou por causa da CPI e está conseguindo um pouco de autonomia, mas defende o presidente como se ele sempre tivesse sido a favor das vacinas – apesar das provas”, disse.
Ainda sobre medicamentos ineficazes do “kit covid” bolsonarista, foi exposto que Bolsonaro chegou a pressionar para mudar a bula da hidroxicloroquina. A ideia do político era forçar que brasileiros tomassem o remédio contra a covid-19. Ele chegou a utilizar o Itamaraty para fazer lobby favorável a uma empresa produtora da substância. Além disso, Bolsonaro mobilizou a estrutura de farmácia do Exército para produzir estoques de cloroquina, sem conhecimento dos titulares da pasta.