Opinião: a construção continuada da paz
Inauguramos o novo ano com esperança de um recomeço do Governo Lula, mais experimentado e com sentido de responsabilidade sócio-ambiental no projeto macroeconômico. Mas também sob um cenário mundial sombrio de guerra e de ameaças ao ambiente. Como construir a paz num contexto tão adverso? Precisamos superar o velho paradigma cujas raízes se encontram na cultura patriarcal. Seu eixo estruturador é a vontade de poder-dominação. Esse projeto não reconhece limites: penetrou no coração da matéria e invadiu o espaço sagrado da vida.
Ele é radicalmente antropocêntrico. Só conta o ser humano em guerra contra a natureza.
Não é de se admirar que, na sua volúpia conquistadora, tenha construído o princípio da auto-destruição: montou uma máquina de morte, capaz de destruir a si mesmo e danificar grande parte da biosfera.
Foi a vontade de poder-dominação que criou o exército, a guerra, a atual forma de Estado, a modernidade técnico-científica e a glo-balização. Que paz podemos esperar?
A paz só é possível como obra da justiça. O básico da idéia da justiça é: para cada um segundo suas necessidades (físicas, psicológicas, culturais e espirituais) e de cada um segundo suas capacidades (físicas, intelectuais e morais).
Esta paz exige reparações históricas e políticas compensatórias. Esta paz tem seu fundamento na própria natureza do ser humano. Se por um lado existe nele a vontade de poder, existe também a vontade de conviver.
O ser humano pode ser cooperativo com seus semelhantes fazendo-os aliados, amigos e irmãos e irmãs. Há culturas ainda hoje existentes para as quais é possível um trato humano e fraterno entre as pessoas e os cidadãos. As tensões e os conflitos naturais são resolvidos pelo diálogo, pela negociação e pela capacidade de cada um de assumir compromissos com todos os demais.
Dar primazia ao paradigma do cuidado e manter o da conquista, sob severa vigilância, torna possível a paz e a concórdia entre as pessoas e na sociedade mundial.