Cuba antes da era fidel e agora
Em 1989, a imprensa internacional – inclusive a TV Globo – foi a Havana, se instalaram no Habana Libre, para esperar que caísse o regime socialista. Quando a então URSS e a economia internacional planejada de que fazia parte Cuba, desapareciam do dia para a noite, o socialismo tropical daria lugar ao retorno dos exilados de Miami e tudo voltaria a ser como nos tempos de Batista.
Naqueles tempos, Cuba era o pátio traseiro dos EUA, o itinerário preferido das férias dos estadunidenses, de locação dos filmes melosos de Holywood, dos cassinos. Os marinheiros dos EUA se comportavam como se o país inteiro fosse um prostíbulo.
Y en eso llegó Fidel/Se acabó la diverson/Llegó el comandante y mandó a parar, passaram a cantar os cubanos. A partir dali, a vítima preferida do ódio dos yankees. Pensaram que poderiam derrubar o novo regime, com a invasão de Baia dos Porcos. A aventura durou 72 horas, o povo se levantou, sob a direção de Fidel contra os invasores, Cuba se declarou socialista, os presos foram trocados por remédios e compotas para crianças.
Centenas de atentados foram realizados, mas aí também fracassou o império. Os recentes acordos com a Venezuela e a Bolívia, no marco da Alba, os acordos com a China, a descoberta do petróleo em Cuba, fazem com que o regime se consolide ainda mais, supere as dificuldades.
Assim era Cuba antes de Fidel. E assim ficou com Fidel: não há ninguém abandonado, sem proteção social. O primeiro país do mundo a terminar com o analfabetismo. Nove anos de escolaridade para toda sua população. Sistema de saúde universal, que atende toda sua população, com a melhor saúde pública do mundo. O país que desafiou o império a pouco mais de 100 quilômetros da maior potencia bélica do mundo, afirmou sua soberania e sua vontade de construir uma sociedade justa e solidária – socialista anti-capitalista.
Emir Sader é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor de diversos livros