Os golpistas de volta
A direita pode valer-se de todos os argumentos, dos filosóficos aos policiais, para explicar a sua histérica articulação contra o governo Lula, mas os seus motivos são os mesmos de sempre. São os mesmos motivos que, em 1954, armaram a mais sórdida das campanhas contra um homem honrado, patriota e nacionalista, o Presidente Vargas, e o levaram ao suicídio. São os mesmos motivos que procuraram impedir a aliança de centro-esquerda, constituída pelo PSD de Minas e o PTB, criado pelo próprio Getúlio, para eleger Juscelino e Jango no pleito de 1955, e que depois tentou impedir a sua posse.
A direita brasileira, ainda que haja os que se intitulam como seus teóricos, não passa de uma farofada de vaidade, ódio, hedonismo oligárquico, racismo, franco ou dissimulado, e profundo desprezo pelo povo. É no desprezo pelo povo que está o caldo das articulações de áreas do PSDB com os ultramontanos do PFL, os corruptos do PMDB, e essa arraia de miolos chochos que são as legendas comerciais do Congresso.
Enganam-se os que pensam que a oposição ao governo Lula é mobilizada pelo combate à corrupção.
Só os parvos não sabem que tais expedientes são tão antigos no Brasil, quanto a própria política. No Império já havia a compra de jornalistas e a ajuda aos parlamentares quebrados. Homens como Justiniano José da Rocha, de resto um excelente analista dos fatos políticos, chegou a confessar, com lágrima nos olhos, se ter valido de recursos do Tesouro a ele repassados por um ministro generoso.
Ao longo da História homens qualificados como virtuosos, como é o caso de Francis Bacon, o grande pensador e homem de Estado do século 17, que confessou haver recebido suborno, depois de acusado pelo seu grande rival, George Villers, duque de Buckingham (muitíssimo mais corrupto do que o filósofo e assassinado quando tentava fugir da Inglaterra). Era uma intriga da corte, tal como as que estamos assistindo agora, e com relação à medíocre corte da prefeitura de Ribeirão Preto.
Não é a corrupção que incomoda os varões do PFL e os intelectuais do PSDB. Eles sabem que se o assunto for levado a fundo, estarão falando de corda em casa de enforcados. Ainda que os petistas fossem os mais honrados homens do mundo, haveria neles o pecado capital, o de, em sua maioria, virem das camadas do povo. O que incomoda é a química do suor dos proletários, ainda que o governo, hoje, esteja mais próximo dos banqueiros do que dos trabalhadores. Mas – e esta é a razão da elevação febril da oposição – o povo está começando a pensar, e quando o povo começa a pensar, as coisas podem mudar.
O tempo parece curto para recuperar a imagem dos príncipes da sociologia e da economia paulista, a tempo de ganhar as eleições do ano que vem. É preciso jogar tudo, agora. Preparemo-nos. Depois dos dólares cubanos, provavelmente virão os euros de Chávez, a coca de Morales, os mísseis da Ucrânia e os isótopos da Coréia. Isso sem falar, é claro, nos exemplares do Alcorão, que, de acordo com tais xerloques da mídia, já devem estar sendo distribuídos nos acampamentos do MST, juntamente com as cartilhas da Teologia da Libertação e o manual dos terroristas suicidas do Islã.
Ao contrário do axioma famoso, não é Deus que enlouquece os homens, quando os quer perder; é o diabo que os alucina, quando os quer ganhar.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil. Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
Artigo publicado no site da Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br)