Imprensa leviana: (Des)informação fatal
Em março de 1994, os meios de comunicação publicaram reportagens sobre pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças, alunas da Escola Base, localizada no bairro da Aclimação, na capital paulista. Jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV basearam-se em supostas fontes, laudos médicos e em depoimentos de pais de alunos.
Apressaram-se em veicular o “espetáculo da informação” como garantia de audiência fácil e maior vendagem de jornais e revistas. Quando o erro foi descoberto, a escola já havia sido depredada, os donos estavam falidos e eram ameaçados de morte em telefonemas anônimos.
Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, donos da Escola Base, e Maurício Monteiro de Alvarenga, motorista da perua escolar, tiveram suas vidas devassadas. Foram julgados e condenados pela mídia sem o legítimo direito de defesa. Linchamento moral público.
Comprovada a inocência dos acusados, ninguém viu, ouviu ou leu, com o mesmo destaque, nada sobre a leviandade cometida pelos meios de comunicação. Silenciaram, não reconheceram o erro, mas as vidas dessas pessoas já estavam destruídas. Restava a alternativa de recorrer à Justiça para exigir reparos pelos danos causados.
Ao longo desses 12 anos várias sentenças judiciais condenaram jornais, revistas emissoras de rádio e TV a pagar indenizações a Icushiro Shimada e suas esposa, Maria Aparecida Shimada, e ao motorista Maurício Monteiro de Alvarenga. Os donos dos meios de comunicação recorrem. Não têm a dignidade de reconhecer o erro publicamente e ainda protelam ao máximo o pagamento pelos prejuízos morais e profissionais que causaram a essas pessoas.
As revistas Veja e Istoé foram condenadas a pagar R$ 750 mil e R$ 200 mil, respectivamente. Valor igual de indenização (R$ 250 mil) foi determinado para os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Já para as emissoras de TV, Globo e SBT, as indenizações foram estipuladas em R$ 1,35 milhão e R$ 900 mil.
Vale a pena ler
No livro “Showrnalismo – a notícia como espetáculo” o jornalista José Arbex Júnior, seu autor, observa que “na ‘sociedade da informação’, o jornalismo é orientado pelo signo da velocidade e da renovação incessante das notícias… Isso poderia dar a impressão de que a sociedade é beneficiada por uma pluralidade imensa de pontos de vista distintos, possibilitados pela disputa entre as empresas de mídia pela originalidade da notícia. Mas as coisas não acontecem assim: a sensação de `falta de tempo’ para entender a fundo os fatos estimula o recurso ao clichê, ao preconceito, à reiteração de concepções já formadas”.